Domingo,
igreja lotada. No meio do sermão do padre a estátua de Santo Antônio que
estava sobre o pedestal ganha vida e
grita: ”Tirem-me daqui! Tirem-me daqui!” Um fiel diz: “O senhor tem poder, o
senhor é santo, saia daí!” Retruca o santo: “Não posso, não posso, tenho os pés
de barro!”
sábado, 8 de julho de 2017
BEN E O CAVALO DE SÃO JORGE
Ben era um
produtor rural que plantava tomates. Não contente em plantar tomates desmontou
uma velha bicicleta, comprou fios e pilhas novas, construiu um nave espacial e
foi à Lua para entrevistar o cavalo de São Jorge que segundo diziam falava doze
idiomas e rezava o pai nosso em oitenta e duas línguas. Na lua não encontrou o
cavalo e nem sinal de São Jorge, na verdade não viu e nem conversou com
ninguém, uma solidão que só. Decepcionado voltou à terra, voltou a plantar
tomates e se tornou um cético até o fim dos seus dias.
ESTRESSADO
O guarda
rodoviário Nestor não estava num bom dia. Talvez fosse pelas noites mal
dormidas, pelos problemas com a mulher, ou pela insatisfação salarial. Há meses
que suas noites eram atormentadas pela insônia, nem mesmo os medicamentos o
ajudavam. Já havia devastado um campo de futebol em erva-cidreira e nada de
melhorar. O resultado era preocupações demais, sono de menos, uma insônia
diabólica.
As horas se
passavam pesadas e cansativas naquele dia cinzento que anunciava chuva. Quando
teve que parar um motorista que voava baixo pelo asfalto, Nestor não pensou
duas vezes antes de agir. Aproximou-se e tirou o sujeito do automóvel pelas
orelhas, aplicou-lhe uns a tapas, o
chamou de corno, veado, filho da puta e ainda o fez correr nu pela estrada, não
sem antes pintar de vermelho suas nádegas. Depois disso atirou nos pneus do
veículo e foi para casa bocejando. Abriu a porta de casa e deu de cara com o
Ricardão sentado no sofá, nu em pelo e tomando a sua cerveja. O sangue aqueceu,
a pressão que já fazia montanha russa fazia tempo acelerou e o coração fez bum!
No outro dia
o descarado sócio ajudava carregar o caixão com a cara mais triste desse mundo.
GLÓRIA VÃ
Nino, 12
anos, era um menino mirado, com os ossos gritando para fora da pele. Sua tez
amarelada denunciava um corpo doente.
Naquela tarde de muito sol Nino, que
morava no interior do interior saiu com outros meninos para pescar no riacho
das pedras. Meteu a minhoca no anzol e
apontou o caniço pra corredeira. Nem bem a minhoca havia se molhado um jundiá
puxou com gosto e Nino, firme como prego em polenta foi para dentro do rio
agarrado no seu caniço. Afundou, voltou e bateu-se em pedras. Os companheiros ficaram apavorados sem saber
o que fazer. Todos sabiam nadar; o certo é que nenhum deles tinha força
suficiente para salvar um corpo que estava em apuros. A boa sorte foi que o
mirrado alguns metros abaixo conseguiu subir numa pedra sem largar a vara
e também o jundiá. Ergueu os braços mostrando o troféu. Teve mais sorte que
juízo. Foi festejado pelos colegas e voltou para casa com um peixe de quilo
para presentear sua mãe. Tentou e não conseguiu esconder os hematomas. O jundiá
foi pra frigideira e Nino para o castigo. E ficou sem comer o peixe.
DONA EUFRÁSIA
Já viúva,
Dona Eufrásia (62) não era mole. Dava laço e tiro em qualquer marmanjo, não
tinha medo de tamanho e nem de cara feia. Atirava também como poucas. Quando Neco engravidou a filha Jurema e não
quis casar Eufrásia deu um jeito. Quebrou ele a pau e fez o bonito se casar com
ela, a sogra. Criaram o menino na mesma casa , porém o assanhado só se deitava
com a velha. Mais tarde Jurema arrumou
um marido e trouxe-o para morar sob o mesmo teto. Pois Neco teve que aturar a
sogra até ela morrer aos oitenta e cinco anos. Longa pena. Isso sem contar que
a cada trimestre tomava uma tunda da velha para bem se lembrar da
sem-vergonhice.
TONTO
Ernesto
chegou à porta, era madrugada, observou em volta e só então apertou a
campainha. Ninguém apareceu. Olhou pela janela e não viu nenhum movimento.
Bateu palmas, nada. Bateu na madeira, nada. Chamo e nada. Cansado de esperar
encostou o litro de uísque na parede, ergueu o vaso e por sorte lá estava a
chave reserva. Entrou. Ficou aliviado ao ver que finalmente estava em casa
apesar do grande pileque. Nem percebeu quando o vizinho saiu pé por pé e nu
pela porta dos fundos.
O VELHO JOSÉ
O velho José
já na casa dos setenta ficava em frente da casa vendo o movimento da rua. Viúvo
e sem filhos, ali ficava para passar o tempo. E os dias foram se passando, os
meses, os anos, e o velho José ali olhando o movimento sentado na sua cadeira
de palha. Os vizinhos foram morrendo de velhice, casas demolidas e o seu José
por ali observando o movimento. Com os anos chegaram os edifícios e novos
vizinhos que desconheciam o idoso seu José, coisa de cidade grande e correria.
Talvez por isso foi que demorou alguns anos
para descobrirem o esqueleto do seu José sentado na sua cadeira, cigarro entre os dentes de sua
caveira, ainda contando os automóveis que passavam pela rua.
A VISITA DO FANTASMA
Faz vinte
anos que sou um fantasma. Hoje resolvi visitar meu túmulo, matar saudade da
última morada do velho corpo. Encontrei vasos quebrados e intacto ainda um
vidro de Nescafé que outrora carregava flores. O reboco se deteriora, porém
ainda se lê ‘Ana esteve aqui’, isso escrito com carvão. Não sei quem é Ana, talvez uma que namorou
sobre o meu túmulo. Gramíneas e outras ervas nascem ao redor, uma borboleta
amarela pousa e sai rapidamente, pois formigas não dão folga. As letras de
bronze que diziam quem eu era foram roubadas. Bem, a verdade é que há anos não
recebo visita. Não adianta reclamar do abandono, assim é, o tempo passa, todos
morrem e chega o dia em que somos completamente esquecidos.
SUICIDA
Desgostoso
da vida Amauri não queria mais viver. Decidiu dar um fim à sua existência que
achava totalmente sem graça. A forca foi o meio escolhido. Mas ele tinha um
desejo: queria se enforcar com uma corda verde-limão. Saiu pela cidade à
procura de tal corda. Procura daqui, procura dali e nada. Passou dois dias
procurando nas lojas do ramo e não conseguiu encontrar. Pesquisou na internet
mundo afora. Procurou por ainda vinte e oito dias. Por fim resolveu enforcar-se
com uma corda rosa-pink. Enforcou-se.
No
fim ficou um enforcado bonito, mas meio fresco.
O RETORNO DOS ESPELHOS
Anilda, 26 anos, morena, não que fosse feia, mas se achava. Sempre
se punha defeitos. Por este motivo certo dia mandou retirar todos os espelhos
da casa e pôs óculos escuros no marido. Só saía à rua disfarçada de homem, até
bigodes usava. Não tinha amigas, vivia reclusa por não ter autoestima. Na sua
cabecinha era a mulher mais feia do planeta. Passava os dias numa tristeza só.
Nem fazer compras lhe dava ânimo, coisa difícil de ser ver numa mulher. Porém
um fato ocasionou uma mudança radical na sua maneira de agir. Anilda tomava
banho numa tarde de maio quando o telhado do banheiro desabou, e junto dele
veio Amauri, o filho do vizinho de 15 anos. Com ela pelada na sua frente, ainda
assustado, ele confessou ser seu admirador, e que diariamente a espionava no
banho fazendo certos maroteamentos. Anilda ficou tão lisonjeada que nem mesmo
brigou com o menino, deu-lhe sim uma beijoca e o mandou para casa. Sentiu-se
uma gata, o sol voltou a brilhar no seu mundo. No mesmo dia mandou comprar
espelhos novos.
PÓ
Noite. Uma
rua solitária na periferia. Um gato malhado salta entre os telhados enquanto
cães ladram ao vento. O excesso de lixo caiu fora das latas e escorre pelo chão
de terra. Baratas passeiam fugindo dos pés dos meninos que brincam de bola na
via. Mães e irmãs mais velhas chamam para dentro os garotos de pés encardidos.
É hora do banho e do jantar. Crianças recolhidas, já é tarde, agora chegam
automóveis com ocupantes que procuram nas esquinas pelos empresários do pó. A
lua e as estrelas observam o movimento. Dinheiro para cá, pó para lá. Negócio
feito lá e vão os loucos em busca de alucinações, enquanto os empresários da
farinha perigosa contam as notas. O inferno para ambos os lados é logo ali.
UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS
-Pai!
-O que foi filho.
-Decidi que quero ser sindicalista.
-Ainda bem! Tive receio que você fosse querer trabalhar!
UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS
-Filho, estou
muito feliz. Acho que vamos nos safar.
-E o STF?
-Penso que está tudo dominado. A catrefa é coisa nossa!
BILU CÃO
“Minha
patroa anda falando em comprar um rottweiler. Já estou até planejando minha
fuga, pois não nasci para ser lanchinho.” (Bilu Cão)
NOSSA VIDA
Num dia
chovem rosas
Noutro
cadáveres
O bem e o mal
são finitos
Para nossa
alegria ou tristeza
Depende
apenas do momento que vivemos.
APROVEITAR O TEMPO
O
nosso tempo escorre pela existência
Precisa
ter o seu devido valor
Porém
muitos desencontrados na vida
Perdidos
num mar de futilidades
Confundem
estar vivo
Com
viver.
QUEM JÁ PARTIU NÃO SENTE O PERFUME
O morto aí
está
Mudo como
todo defunto
Não sentindo
mais a vibração da vida em suas veias
Hoje você
trouxe flores para o velório
Belas flores
por sinal
Mas agora
fica uma pergunta:
Quando ele
estava entre nós
Você também
lhe dava flores?
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