quarta-feira, 26 de abril de 2017

JANER CRISTALDO- ONDE ME DESCOBRI TRADUTOR



A vida é uma caixinha de surpresas. Em meus dias de piá no Ponche Verde, jamais imaginaria que um dia seria tradutor. E muito menos que minha primeira tradução seria do sueco. (As traduções do francês e do espanhol viriam mais adiante). Aliás, naqueles dias, nem imaginava que a Suécia existia. E que iria me atrair poderosamente, a ponto de um outro dia, bem mais tarde, fazer minhas malas e ir morar no paraíso dos Sveas.

Só mesmo sendo jovem para fazer a loucura que fiz. Deixei em Madri, chorando, a mulher que adorava, e rumei ao norte. Ela, também chorando, rumava ao sul. Tenho certeza que hoje não teria forças para repetir tal insanidade. Eu conhecera Estocolmo há uns vinte dias. Caí lá em dezembro, em plena noite nórdica. Quatro horas da tarde, noite profunda. Me senti em Plutão e era em Plutão que queria aterrissar. Eu fugia do Brasil e do Terceiro Mundo, do carnaval e do futebol, da miséria e do subdesenvolvimento. Henry Miller dizia que os verdadeiros problemas humanos só surgem depois de resolvidos os problemas do estômago. Queria conhecer aquela sociedade onde os problemas do estômago já haviam sido resolvidos.

Fui para não voltar. Estava irritado com o Brasil e desejoso de paraíso. Não que pretendesse abandonar a mulher que adorava. Pensava em levá-la para lá mais tarde, onde viveríamos juntos os verdadeiros problemas da condição humana. Mal cheguei, minha primeira providência foi encontrar um curso de sueco. Verdade que todo sueco fala inglês. Mas meu inglês era escasso. E eu queria falar a língua local.

Mas as razões que nos impelem a viajar nem sempre são as que alegamos como motivo de partida. Conscientemente, eu fugia de um continente militarizado, do Brasil, do samba e da miséria. As gaúchas recém começavam a libertar-se dos preconceitos de Roma, e eu tinha pressa. Sem falar que, na época, o mito sexual por excelência eram as “adoráveis louras nórdicas”. Quando o sol cai por trás dos fiordes, dizia uma atriz, só nos resta ir para casa e fazer amor. É para lá que eu vou, pensou este ingênuo que vos escreve.

Sim, ingênuo. Pois as suecas eram bem mais inacessíveis do que insinuavam os pacotes turísticos. Tanto que minha primeira “sueca”, de sueca nada tinha. Era uma brava cidadã soviética, de Ashkhabad, no Turcomenistão.

Tinha pômulos asiáticos e deles muito se orgulhava. Como língua comum tínhamos o sueco, do qual conhecíamos umas dez palavras. “Jag, vacker” — me confessava Gysel, indicando seu rosto. “Eu, bonita”. Acontece que eu partira em busca das louras vikings. “Du vacker i Ashkhabad”, respondi. “Tu bonita em Ashkhabad”. “Jag, mycket exotisk”, insistia a camarada. “Eu, muito exótica”. Em suma, acabei partilhando do gosto dos Sveas — que assim se chama aquela tribo que erigiu a Suécia — pelos rostos orientais. Gysel casou-se com um sueco. Não que lhe agradassem os branquelas do Norte. Ocorre que faria qualquer sacrifício para jamais voltar a seu universo soviético.

A adorável loura nórdica surgiu bem mais tarde, afinal elas não dão em cachos à beira da estrada, como imaginam os latinos. Encontrei-a em uma festa, num daqueles verões em que o sol jamais se põe e os suecos correm desvairados pelos florestas. A noite não caía, o dia não amanhecia e o vinho jamais findava. Olhando de hoje, vejo tudo como sonho. Naquela noite, corri nu atrás de uma sueca nua, numa noite branca como o dia, pelos bosques dos hiperbóreos. Deve ter sido sonho mesmo. Ou não. Afinal a ela está dedicado este livro.

Se bem me lembro, naquela noite que não era noite, ensinei os nórdicos a dançar samba, logo eu que detesto samba, o que deve dar uma vaga idéia de meu estado etílico. Summa av kardemuma, como dizem os suecos: acabamos coincidindo na mesma cama. Amor? Nada disso, era puro porre. Em todo caso, daquela coincidência — como direi? — quase geográfica, resultou uma cálida amizade que embalou meus dias junto ao Ártico. Lena, a quem eu chamava de Lena Lena — lena significa doce em sueco — iniciou-me nos melhores autores suecos, e a ela devo minha descoberta de Karin Boye e a tradução de Kalocain ao brasileiro.

Há viagens e viagens. Conheço não pouca gente que gosta de conhecer culturas primitivas, bugres em estado selvagem. São em geral pessoas que vivem em países civilizados, ou que imitam as que vivem em países civilizados. De minha parte, prefiro a civilização. Não vejo maior encanto em tais viagens. Até já fiz uma. Em dezembro de 1975, estive no Saara argelino, mais precisamente em El Hoggar, onde vaguei por quinze dias pelo deserto, guiado por tuaregues e harratines.

Foi uma viagem fascinante, devo confessar. Nas noites ao relento nas montanhas, tomei um porre de estrelas e quase fiquei surdo com o zumbido estridente do silêncio. Ouvir os tuaregues contando histórias em torno à fogueira, em meio a uma noite gélida, é também algo que não se esquece. Diria que as viagens que mais me encantaram foram esta e mais duas navegando pelos fiordes noruegueses. Mas do Assekrem só me restaram o silêncio das noites geladas, os vultos embuçados dos tuaregues e as silhuetas das montanhas. Nada trouxe da cultura tuaregue, muito menos de sua língua, o tamahak, que já nem a falam.

Quando viajamos à civilização, o legado é outro. Da Suécia, junto om as paisagens nevadas e as noites brancas, trouxe uma língua, trouxe uma cultura distinta, mais um pouco da literatura dos Sveas. Lá, me descobri como escritor. Eu havia lido pelo menos uns quinze livros sobre o país antes de partir. Mal comecei a juntar palavra com palavra com palavra, fui descobrindo um país que não me fora mostrado pelos autores que havia lido.

São estranhos os fatores que nos levam para lá ou para cá. Meus desejos de deserto começaram lá perto do Círculo Polar Ártico. Em um exercício de vocabulário de uma aula de sueco, soube que tinha como colega uma författarina. Isto é, uma escritora. Era uma suissesse elegante e charmosa, e chamava-se Federica de Cesco. (Em 2008, saiu um filme sobre sua vida, Der rote Seidenschal). Quantos livros havia escrito? Ah — me respondeu com certo enfado — mais de cinqüenta.

Fiquei com um pé atrás. Era bastante jovem, mais de cinqüenta livros me parecia um exagero. Nunca havia visto uma författarina de perto, muito menos uma que tivesse escrito meia centena de livros. Passei no apartamento dela. Em uns dois metros de estante, ela tinha algumas das traduções de alguns de seus cinqüenta livros. Meu ceticismo caiu por terra. Perguntei qual considerava o mais importante deles.

— Ah! Só escrevo best-sellers. Nada de importante. Mas gosto muito deste aqui.

Passou-me um livro sobre El Hoggar, o país dos homens azuis. Falava da geografia dos tuaregues e harratines que habitam o extremo sul da Argélia. Havia na obra um certo deslumbramento de europeu em visita ao Terceiro Mundo. Mesmo assim, o livro incitava à viagem. O que me espantou naquele momento foi encontrar alguém que vivia de escrever, escrevia muito e não dava importância alguma ao que escrevia. Estava em Estocolmo paga por sua editora, para criar uma novela ambientada em aeroportos internacionais. Federica me deixava pasmo. A ela devo minha opção pela escritura. Se esta moça — pensei com meus botões — escreveu mais de cinqüenta livros e acha que só escreve bobagens, vou escrever pelo menos um, que não considero bobagem. Assim surgiu O Paraíso Sexual Democrata.

Assim surgiu também o tradutor. Para preservar — e testar — meu sueco, mergulhei na tradução de Kallocain, editada pela eBooksBrasil, do infatigável difusor da boa literatura, o Teotonio Simões. O livro havia sido publicado em papel em 74, no Rio de Janeiro, pela Cia. Editora Americana. Mas a edição esgotou rapidamente e hoje a obra de Boye só pode ser encontrada em sebos, e olhe lá! Naquela tarde em que me despedi de Lena Lena em Arlanda, mais uma vez chorando, ela nem desconfiava que estava exportando Karin Boye para o Brasil.

O Paraíso decorre de uma estada em Estocolmo nos anos 71 e 72. Ou seja: do alto deste livro, quatro décadas vos contemplam. A Suécia é um país pequeno, mas dinâmico. Muda rapidamente. Quando lá vivi, as prostitutas eram vistas como uma espécie de assistente social e beber álcool nos bares era proibido. Hoje, quem busca uma prostituta pode ser preso. E o álcool, embora permaneça proibido nos supermercados, é servido em qualquer bar. Estocolmo ficou mais alegre.

O Brasil também mudou. Naqueles anos, até livrinho sueco dava cana cá entre nós. Daí minha insistência em mostrar a pornografia, que era livre na Suécia, e a nonchalance com que os jornais tratavam a temática sexual. Hoje, nestes dias de Internet, até a pornografia decaiu no Brasil.

O livro envelheceu. Mas permanece como uma foto do passado daquela nação boreal.

Janer Cristaldo
Agosto, 2012

JANER CRISTALDO- BATALHA NO JARDIM DO REI

BATALHA NO JARDIM DO REI


Por si os álamos, Alex, são apenas álamos altos. — Paulo Bisol, Os Álamos

12 de maio de 1971 é uma data histórica para muitos stockholmare, de profunda significação democrática. Técnicos em urbanização tentaram executar naquele dia uma decisão tomada após meses de planejamento: serrar quatro olmos centenários do Kungsträdgården (Jardim do Rei) para construir uma estação de metrô. Mal chegaram os operários encarregados do trabalho na praça, alguns freqüentadores impediram o “ato criminoso” e reuniram imediatamente, através de contatos telefônicos, uma pequena multidão. A polícia tentou intervir, inutilmente. Os estocolmenses permaneceram alguns dias em vigília cívica, fizeram fogueiras e compuseram canções. A terminal de metrô foi esquecida, árvore alguma foi derrubada. A partir do incidente foi elaborada uma peça teatral, gravou-se um long-play e um jornal foi criado, Almbladet, A Folha de Olmo. Os contestatários insurgiam-se contra os “abusos da tirania”. Algumas frases de Almbladet:
“A luta pelos olmos é também uma luta por uma democracia mais autêntica.”
“Serrar os olmos teria sido democrático? A salvação dos olmos foi uma vitória da democracia.”
Telegramas de todo o país, brevemente endereçados a Bosque de Olmos, Kungsträdgården, Estocolmo, felicitavam os amigos dos olmos pela “vitória contra a burrice e o abuso de poder”, pelas “exigências do povo contra a linguagem do poder”, pelo “violento golpe desferido à burocracia”. Outros desejam “êxitos na democrática luta pelos olmos”. Até hoje, a então fundada Sociedade Amigos dos Olmos mantém-se vigilante para impedir qualquer atentado feito às árvores em questão. Membros são escalados para vigiá-las 24 horas por dia. Em caso de qualquer ameaça, uma cadeia telefônica é rapidamente acionada para salvar os olmos e a democracia.
A batalha dos olmos foi liderada pelo grupo Alternativ Stad (Cidade Alternativa) que pretende salvar Estocolmo da fúria dos planejadores do trânsito e da indústria imobiliária. Stockholm ska vara bilfri, Estocolmo deve ser livre de automóveis, é sua bandeira de lutas. Sua primeira preocupação: devido ao desenvolvimento urbano, a cidade — construída sobre 14 das 34.000 ilhas do arquipélago — dispõe de apenas 80 metros quadrados de área verde por habitante. (Porto Alegre, com a mesma população, dispõe escassamente de um metro quadrado por cabeça.) Em 24 de agosto de 69, organizou-se o Dia sem Automóveis. Milhares de estocolmenses deixaram seus carros na garagem e saíram a pé pelas ruas, gozando o silêncio e a pureza do ar. “365 dias por ano sem automóveis”, “carros ou homens”, diziam os cartazes. Mas como a manifestação prolongava-se além do horário permitido pelas autoridades e iniciava a atrapalhar o tráfego de curiosos que observavam, de seus carros, o protesto, a polícia expulsou com violência os pedestres das ruas que cercam Sergeltorget.
Enquanto Alternativ Stad e simpatizantes lançam-se contra o automóvel e protegem os olmos, os últimos vestígios de individualidade ainda existentes em Svensson vão sendo eliminados através de um planejamento urbano e arquitetura concebidos exatamente para isso. “Planejamento urbano, diz Ingrid Jussil, ideóloga social-democrata, precisa enfatizar o coletivo. Podemos conseguir isto forçando o povo ao contato um com outro. Desta forma, podemos, por exemplo, socializar a criança desde pequena. A sociedade tem que decidir como o povo deve viver.”
“Após a revolução de 17, os russos forçaram habitantes da cidade e do campo a viver em imensos blocos de apartamentos. Esta política não só facilitava a espionagem e controle como também encorajava um modo coletivo de pensar. As casas privadas foram banidas, pois poderiam encorajar o individualismo burguês.” (9) Da mesma forma, a casa é vista com maus olhos na Suécia. A municipalidade, através de legislações sucessivas, atribuiu-se a si o direito de aprovação e eventual alteração dos projetos de construção, como também a prerrogativa de decidir quem vai construir e o que será construído.
Segundo Lennart Holm, diretor-geral da Superintendência do Planejamento Nacional, “imóveis isolados são prejudiciais. Encorajam a estratificação social, e queremos evitar isso. Não podemos permitir que o povo preserve suas diferenças. O povo precisa renunciar ao direito de escolher seus próprios vizinhos.”
Os ideólogos social-democratas consideram a arquitetura e planejamento urbano como instrumentos para transformação da sociedade na direção estabelecida pelo partido. “Arquitetura — diz Huntford, com a anuência dos arquitetos — tornou-se um instrumento do Estado e agente de sua ideologia. A função do arquiteto é oficialmente definida como modificar a sociedade.”
Svensson é coagido — tanto através dos círculos de estudo da ABF como da política de concessão de créditos para construção da casa própria — a optar pelos centros de serviços coletivos. Tais centros são quarteirões autônomos com lojas, farmácias, restaurantes, cafés e uma praça central. Os edifícios possuem centros de lazer, creches, restaurantes e instalações para lavagem de roupas, de uso comum de seus moradores. “Nosso sistema educacional visa a socializar o povo em idade ainda tenra — diz o prof. Bror Rexed. — E aos jovens repugna a idéia de casas privadas longe do centro. Eles aprenderam que isolamento não é bom e querem transferir-se para o centro.”
Huntford relata uma conseqüência caricatural desta política. EmSvappvaara, já além do círculo polar Ártico, onde a densidade populacional é de um habitante por milha quadrada, foi criada uma cidade cujo centro é um comprido bloco de apartamentos de quatro andares e mais de 200 metros de ponta a ponta. Em 65, Svappvaara abrigava 600 pessoas. Espaço não faltava para casas, jardins e sítios. Mas, conforme declarações de um jovem arquiteto da Superintendência do Planejamento Nacional, “viver em casas separadas provoca isolamento e restringe os contatos. Eu estou interessado na vida coletiva e quero ver isso difundido. Removendo as facilidades do lar e transferindo-as para dependências coletivas, pode- se forçar o povo a viver em comunidade. Então eu quero ver mais restaurantes coletivos, onde todos comem juntos. Não existe nada tão isolante como a refeição familiar feita em conjunto, entre quatro paredes”.
Ainda segundo Huntford, o arquiteto sueco não é mais um artista, mas um sociólogo. A estética é sacrificada em favor da funcionalidade. “Uma arquitetura anônima deve ser a conseqüência lógica de um estilo anônimo de vida.” O jornalista sul-africano reforça sua tese citando o arquiteto T. Ahrbohm:
— Simpatizo com a arquitetura anônima e desaprovo construções que são monumentos a quem as concebe. Housing não é a expressão da personalidade de um arquiteto, mas um instrumento da sociedade. Deve promover mudanças.

 DA OBRA  O PARAÍSO SEXUAL DEMOCRATA-JANER CRISTALDO- 

H. L. MENCKEN - TIPOS DE HOMENS- O ROMÂNTICO

Há uma variedade enorme de homens cujo olho inevitavelmente exagera o que vê, cujo ouvido ouve mais do que a orquestra toca e cuja imaginação duplica ou triplica as informações captadas por seus cinco sentidos. É o entusiasta, o crédulo, o romântico. É o tipo do sujeito que, se fosse um bacteriologista, diria que uma mísera pulga é do tamanho de um cachorro São Bernardo, tão bela quanto a catedral de Beauvais e tão respeitável quanto um professor de Yale. 

1918

LAÇANDO O VENTO

Raimundo e Anselmo, por sinal mui valentões e corajosos, decidiram agora na sexta de carnaval que iriam laçar o vento. Foram ao campo nos pampas munidos do melhor em corda e laço, também reforços nos punhos. Pois quando o dito arreganhou-se foram para cima dele. Não deu outra: Raimundo foi encontrado congelado no Everest e Anselmo caminhando sem rumo na Nova Zelândia.

SETEMBRINO

Setembrino morreu no manicômio aos sessenta anos. Após sua morte os médicos especialistas o desmontaram para estudá-lo, mas não conseguiram juntá-lo novamente. Então ficou claro para todos que era verdade o que diziam dele: Setembrino tinha realmente um parafuso a menos.

TRAÇO

A traça solteira pegou uma caneta e fez um traço. Pronto, arranjou um marido.

SONHOS

Heraldo foi dormir cheio de sonhos. Acordou com a cama infestada de formigas.

NÃO SE META

A ponte, o rio veloz lá embaixo, a névoa e o desejo de saltar. O homem salta, bate n’água, um barco que passava salva o suicida. O homem balança a cabeça, xinga e quer bater no pescador que o salvara, fica fora de si ,queria morrer. O pescador não se faz de rogado; saca do revólver e o mata com dois tiros. Pegou quinze anos por matar um suicida.

PARDAL

Há um pardal na minha janela
Que não é o Professor Pardal.
Divirto-me com esse bichinho manso
Que me ensina coisas.
Mostrando-me, por exemplo,
O quanto pode ser belo na sua rotina
Esse animalzinho tão comum e singelo,
Que fica a ciscar aqui e ali
Para saciar seu estomagozinho.

NO PAÍS DOS OVOS VIRADOS

No país dos ovos virados
A chuva planeja sair da terra,
Os rios pensam em correr para cima,
Eleitores mais ou menos corruptos desejam continuar elegendo corruptos completos.
No país dos ovos virados,
O diploma universitário pela qualidade de tantas será papel de embrulho.
E só nos falta agora os filhos parirem os pais,
Bandidos serem os carcereiros de suas vítimas,
E policiais serem açoitados pela audácia suprema de prender e eliminar ladrões.

O SONO DO SONSO

O sono do eleitor sonso
É um sono pesado
E quase sempre quando o sonso acorda do seu sono
A vaca já foi para o brejo.

BAH!

Com sangue até nos ossos,
O assassino pago beija suas crianças,
Carrega compras de uma velhinha,
E dorme sem precisar contar carneirinhos.
Esse é o estágio que atingiram
Alguns seres racionais.

OS BICHOS

Na floresta disse bem o orador papagaio
Somos felizes vivendo como bichos livres
Não temos  governo
Não vivemos sob leis absurdas
Também não somos vítimas de impostos escorchantes
Que se danem os racionais!

SEM LEITE

“Sim, sou um azedo. A minha mãe não tinha leite, então enchia minha barriguinha de suco de limão.” (Limão)

REJEITADO

“Sou rejeitado por todos. Até mesmo pelo mosquito da dengue.” (Limão)

NA PRIVADA

“Pelo que vejo o meu lugar no mundo é na privada.” (Limão)

DIVERTIDA CIÊNCIA, A CONTEMPORÂNEA- JANER CRISTALDO- ABRIL 2012

Cientistas descobriram que as mulheres podem ter orgasmos apenas com relações sexuais, dispensando a estimulação do clitóris. E que estes dois orgasmos são totalmente diferentes. As informações são do jornal britânico Daily Mail. Mais um pouco os cientistas acabam descobrindo a América. Descobriram também que o ápice do prazer sexual da mulher acontece no cérebro, que transmite sensações no corpo. Mais um pouco e descobrirão que sem cérebro não há prazer sexual. O que me lembra uma antiga piada, a do cientista português. Cortou as pernas de uma pulga e mandou a pulga pular. A pulga não pulou. Conclusão óbvia: as pulgas têm os ouvidos nas pernas. As pesquisas científicas contemporâneas – ou ditas científicas – me divertem. 

Que se pesquise o desconhecido, entendo. Daí a pesquisar o óbvio, vai uma longa distância. Segundo o artigo, o primeiro anatomista a fazer referência a essa parte do corpo feminino foi Ronaldo Columbus, em 1559, quando o descreveu como a “cidade do amor”. Se assim foi, o Ocidente descobriu tarde a América. No Kama Sutra, escrito entre 100 e 400 d.C., Vatsyayana já conhecia esta cidade. Consta que o filósofo francês René Descartes, 100 anos depois de Columbus, achou que tivesse feito a descoberta. Não duvido. Para quem concluiu que só existia porque pensava, nada de espantar. Para ele, sem o prazer clitoriano, as mulheres não se submeteriam à maternidade. Ou seja, o pensador francês desconhecia aquele outro prazer, que alguns cientistas parecem ter redescoberto agora. 

Deve ter mantido uma respeitosa distância das mulheres em sua vida. Depois disso, o clitóris teria caído no esquecimento por muitos anos, até que em 1884, George Cobald publicou uma série de desenhos que não poderiam mais ser negligenciados pela ciência. Ora, desenho não prova nada. Fosse uma foto, vá lá. Posso muito bem desenhar um centauro. Ou um anjo. Melhor seria observar o fenômeno in loco. O que não parece ter ocorrido a Cobald. Mas deixemos a cidade do prazer em repouso. Os cientistas, infatigáveis, continuam afirmando bobagens. 

Leio no jornais de hoje que babuínos aprenderam a 'ler' em um experimento, isto é, conseguiram distinguir entre palavras verdadeiras e seqüências aleatórias de letras na tela do computador. Cientistas da universidade Aix-Marseille, na França, conseguiram treinar meia dúzia deles para que reconhecessem quando letras na tela de um computador formavam uma palavra de verdade e quando eram só sequência sem sentido. Os babuínos foram treinados para usar telas de computador sensíveis ao toque. Diante deles apareciam palavras sempre com quatro letras (por exemplo: “wasp”, vespa) ou então combinações artificiais de quatro letras que não eram palavras.

 Os macacos passavam por sessões de teste que incluíam 25 apresentações de uma nova palavra, 25 palavras já aprendidas e 50 pseudopalavras. Se acertassem uma palavra, recebiam uma recompensa de comida. Após o treino, os bichos alcançaram precisão em torno de 75% nos testes. Os babuínos, suponho que de boa cepa francesa, após treinamento de um mês e meio, receberam palavras em inglês, sendo algumas delas inexistentes. Surpreendentemente, os macacos souberam distinguir o que fazia ou não sentido. Os babuínos não estavam lendo, pois não sabiam o significado do que estava escrito. Mas os resultados mostram que eles dividem as palavras ao invés de apenas memorizar seu formato como um todo, explicou Grainger. 

Perguntinha de quem não entendeu bem o teste: que é uma falsa palavra? A meu ver, palavra nenhuma é falsa. É palavra ou não é palavra. Um conceito pode ser falso, uma definição também. Mas toda palavra, por estranha que soe, é uma palavra. Pode ser desconhecida para quem a lê. Mas continua sendo palavra. Na Folha de São Paulo, tivemos o caso célebre, não de um símio, mas de uma jornalista, que desconhecia a palavra soez, pronunciada por Fernando Henrique. Nem por isso a palavra deixava de existir. Jonathan Grainger, o principal autor do estudo, tenta estabelecer a principal diferença entre palavras e pseudopalavras. Reside no número de vezes que certas combinações de letras aparecem. Assim, por exemplo, a seqüência ‘wa’ pode ser vista mais várias vezes, em palavras como walk, ward e wall, diz o especialista. Já as seqüências ‘wr’ ou ‘wh’ são mais raras no inglês. 

Seriam então pseudopalavras? Ora, não queiram os cientistas me convencer de que os babuínos franceses eram poliglotas. Se até mesmo Monsieur Dupont desconhece palavras rudimentares do inglês, me permito duvidar que um símio as reconheça. E se na telinha estiverem reproduzidas palavras como struldbrugs, tramecksan, slamecksan ou houyhnhnms? Duvido que os macacos as reconheçam, já que certamente milhões de franceses as ignoram. E no entanto existem. Neste sentido, qualquer neologismo não seria palavra. Mas neologismo é palavra, ao mesmo título que as demais. Se um macaco reconhece uma seqüência de duas letras, isto não quer dizer que esteja reconhecendo uma palavra. Memorizou uma forma gráfica. 

Mais ou menos como mostrar círculos e quadrados e recompensar o reconhecimento de uma destas formas com alimento. Há um secreto desejo, entre os cientistas contemporâneos, de conferir alguma parcela de humanidade a animais, particularmente aos símios. (Já nem falo dos cães, que hoje gozam de mais estima entre os seres humanos que os próprios seres humanos). Há campanhas internacionais querendo conferir personalidade jurídica aos grandes primatas. Nos anos 70, não faltou uma antropóloga desvairada que pretendia conferir personalidade jurídica aos gorilas. A meu ver, os gorilas não foram consultados. 

Não sei se prefeririam submeter-se aos direitos e deveres que uma personalidade jurídica implica, tais como trabalhar para ter direito a um salário, suar o topete para garantir saúde e habitação, submeter-se às normas do Direito de Família para constituir prole e incomodações outras típicas do Homo sapiens. Sem ser gorila e portanto sem conseguir pensar como pensaria um gorila – se capaz de pensar fosse – intuo que aqueles primatas prefeririam continuar pastando tranqüilamente em suas selvas do que submeter-se à condição de um cidadão cercado por direitos, mas também por deveres. A moda, como todas as modas que vêm do Primeiro Mundo, contaminou este nosso Terceiro. Entre nós, um certo Dr. Alfredo Migliore quer que nossos juízes reconheçam que os grandes primatas têm direitos básicos de serem respeitados e que de uma vez por todas devemos aceitar que o ser humano não é o único dono deste universo. 

 Pode até não ser, mas é o único que entendeu suas leis e o domina. Ao descobrir a palavra, o Homo sapiens passou a designar – e a reconhecer – objetos. Daí ao sujeito, predicado e objeto foi um passo. Um dia descobriu o alfabeto. Foi um upgrade eficacíssimo, as palavras podiam então ser registradas, permaneciam no tempo, e a comunicação dispensava a voz. Os símios, por mais que pretendam os cientistas, não falam, não reconhecem palavras e continuam pendurados pelo rabo nas selvas, ou vivem de caridade pública nos zoológicos. Que tenham algumas habilidades, isto não se discute, todo animal tem seus instrumentos para sobreviver. Não se trata de negar inteligência aos animais. Mas é uma inteligência curta, pragmática, que serve para o comer e habitar. Em suma, para sobreviver. O homem vai mais longe. Quer arte, ciência, filosofia, tecnologia, conforto, gastronomia. Não pretendam os cientistas de Marselha que um símio leia francês e inglês. Conhecemos – e de perto - homens de Estado que não chegaram lá. Divertida ciência esta nossa, que descobriu que o prazer sexual não é apenas clitoridiano e que símios memorizam grafismos. Abril 13, 2012

COM O NADA

“O meu encontro com o nada resultou numa grande perda de tempo.” (Mim)

SOBRE VOTOS

“Se Roosevelt achar que converter-se ao canibalismo pode lhe render votos, mandará engordar um missionário no quintal da Casa Branca.” -H.L. MENCKEN

MESTRE YOKI

“Mestre, onde fica o inferno?” 
“Sobre o teu pescoço.”

ANDREA

"Escrevo para pensar de forma mais clara, não para convencer alguém do que quer que seja." (Andrea Faggion)

Professora Associada do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina.andreafaggion

MESTRE YOKI

“Mestre, por que os pardais são felizes?”
“São felizes por que não cantam bosta nenhuma e sua cor é sem graça. Caso fossem coloridos e canoros seriam perseguidos e encarcerados.”

QUE FIM LEVOU HUITZILOPOCHTLI?

Onde fica o cemitério dos deuses mortos? Algum enlutado ainda regará as flores de seus túmulos? Houve uma época em que Júpiter era o rei dos deuses, e qualquer homem que duvidasse de seu poder era ipso facto um bárbaro ou um quadrúpede. Haverá hoje um único homem no mundo que adore Júpiter? E que fim levou Huitzilopochtli? Em um só ano — e isto foi há apenas cerca de quinhentos anos — 50 mil rapazes e moças foram mortos em sacrifício a ele. Hoje, se alguém se lembra dele, só pode ser um selvagem errante perdido nos cafundós da floresta mexicana. Falando em Huitzilopochtli, logo vem à memória seu irmão Tezcatilpoca. Tezcatilpoca era quase tão poderoso: devorava 25 mil virgens por ano. Levem-me a seu túmulo: prometo chorar e depositar uma couronne des perles. Mas quem sabe onde fica? (…) Arianrod, Nuada, Argetlam, Morrigu, Tagd, Govannon, Goibniu, Gunfled, Odim, Dagda, Ogma, Ogurvan, Marzin, Dea Dia, Marte, Iuno Lucina, Diana de Éfeso, Saturno, Robigus, Furrina, Plutão, Cronos, Vesta, Engurra, Zer-panitu, Belus, Merodach, Ubililu, Elum, U-dimmer-an-kia, Marduk, U-sab-sib, Nin, U-Mersi, Perséfone, Tammuz, Istar, Vênus, Lagas , Belis, Nirig, Nusku, Nebo, Aa, En-Mersi, Sin, Assur, Apsu, Beltu, Elali, Kusky-banda, Mami, Nin-azu, Zaraqu, Qarradu, Zagaga, Ueras. Peça ao seu vigário que lhe empreste um bom livro sobre religião comparada: você encontrará todos eles devidamente listados. Todos foram deuses da mais alta dignidade — deuses de povos civilizados —, adorados e venerados por milhões. Todos eram onipotentes, oniscientes e imortais. E todos estão mortos. — H. L. Mencken

ESCULHAMBAÇÃO

“Governo bom, sério e equilibrado o Brasil nunca teve. Sempre houve um rodízio dos mais ou menos. Mas o PT resolveu esculhambar.” (Eriatlov)

“Lula guru? Será que mesmo os parvos ainda se refletem nesse espelho?” (Eriatlov)

INSOSSA

“Proibido o carboidrato; o açúcar; o sal; a gordura; a cerveja e o refrigerante. Pra serve estão esta merda de vida sem prazer? Para viver duzentos anos sem graça? Sou contra todo tipo de exagero, mas sem uns pecadinhos a vida se torna insossa.” (Eriatlov)

MÃO GRANDE

“Não conheço governo sábio e austero. Até o momento só conheci governo ladrão.” (Eriatlov)

SOFRÍVEL

“Dilma não foi, não é e nunca será alguém que mereça a minha sincera atenção. Seu intelecto é sofrível, só faz babar mesmo analfabetos funcionais.” (Eriatlov)

AZARADOS

“O povo vota, escolhe e tem os políticos que merece ou somos azarados?” (Eriatlov)

MAL-INFORMADO

“Sem dúvida o melhor noticiário para você ficar bem mal informado é o Jornal Nacional.” (Eriatlov)