sábado, 28 de abril de 2018

FRANCIS BACON


A compreensão humana não é um exame desinteressado, mas recebe infusões da vontade e dos afetos; disso se originam ciências que podem ser chamadas “ciências conforme a nossa vontade”. Pois um homem acredita mais facilmente no que gostaria que fosse verdade. Assim, ele rejeita coisas difíceis pela impaciência de pesquisar; coisas sensatas, porque diminuem a esperança; as coisas mais profundas da natureza, por superstição; a luz da experiência, por arrogância e orgulho; coisas que não são comumente aceitas, por deferência à opinião do vulgo. Em suma, inúmeras são as maneiras, e às vezes imperceptíveis, pelas quais os afetos colorem e contaminam o entendimento.

Francis Bacon

TOLOS

Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.
 Bertrand Russell

SÓCRATES


"Para encontrar a si mesmo, pense por si mesmo."  (Sócrates)

PREGUIÇA


Acordando hoje com dois quatis nas costas
Exaltando a siesta mexicana
Lembrei-me da história do sujeito
Que de preguiça morria de fome na cama

Foi então que alma boa
Ofereceu-lhe vida afora
Arroz com casca em qualquer demanda
Para aplacar sua fome a qualquer hora

Sabendo disso o sujeito
Do arroz com casca e não cozido
Agradeceu do vivente a nobre  fidalguia
Mas que ante o trabalho da descasca
A boa morte preferia.

DESGRAÇA


Sou da paz e graça
Não gosto de multidão que bagunça e arruaça
Náuseas me dá a trapaça
Então quando tenho que conviver por falta de opção
Com este governo desgraça
Chego a pensar até na cachaça
Que é desespero e não solução.



PRIMO DISTANTE


Ernesto homem de boa fé
Abiu o armário e nele encontrou um esqueleto
Sem roupas e com a óssea mão direita sobre a boca
E na óssea mão esquerda um preservativo
Por ser um homem bom
Não fez nenhuma objeção
Quando a mulher contou-lhe a história
De um primo dela distante
Que entrou no armário para pregar-lhe um susto quando chegasse
E que acabou esquecido.

BANANAS


Aconchegadas na fruteira
São elas irmãs verdes deitadas
Ouvindo as conversas da casa
Em absoluto silêncio
Enquanto esperam pelo amarelo doce do amadurecer.



URUBUS NA ÁRVORE


Há urubus na árvore seca
Mirando o meu corpo moribundo durante dias
Peço calma aos amigos
Que não tenham pressa
Pois sozinho neste sertão
Não terei coveiro
E sobrará para eles
O grande prazer
De dar fim às minhas carnes.

FIM


Apaga-se a vela
Não há mais volta
E no lugar do ente que exalava calor e brilho
Existe agora uma estátua de carne
Que o tempo tratará de dissipar.


ESPERANÇA


Pobres ou ricos
Feios ou bonitos
Todos com suas alegrias e dores
Não há quem escape desta 
A vida é uma carta fechada
Porque cada novo dia é uma incógnita
E assim sob sol ou chuva
Cada novo amanhecer é o renascer da esperança.


HUMANO


Diante de nós está
O céu
O sol
O horizonte sem fim
Mas por que nossos olhos
Preferem só visualizar os urubus?

NATURAL


Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Destes nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos acostumados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

DEPRIMENTE


“Nada mais deprimente do que ver um ignorante conformado.” (Filosofeno)


FALSO


“Um homem com etiqueta de preço é falso.” (Filosofeno)

ABRIR PORTAS


“A melhor coisa para se abrir portas ainda é ter a chave certa.” (Filosofeno, o filósofo que dorme sobre o capim)

BESTA


“A besta, quanto mais besta, mais arrogante.” (Filosofeno)

SOBRE O DESENCARNE DO PERFEITO AVARENTO


Há muitos anos uma carta anônima recebida pelo Promotor Público Roberval Sintra levantou suspeita de envenenamento na morte do senhor Demóstenes Sotero, fazendeiro mais conhecido na sua cidade como o “perfeito avarento”. Homem de muitas posses, sua viagem sem retorno seria interessante para muitos parentes, mas não foi. Esperavam pela herança que não veio. Fez doação de todos os seus bens para suas amantes. Aos parentes, nada. O juiz Carlos Raul então determinou que o corpo fosse desenterrado para nova perícia. Cidade pequena, grande assunto. O povo, sempre curioso, invadiu o cemitério. Até parecia quermesse paroquial.  Não faltaram vendedores de garapa, picolé e milho verde; moças de vestidos novos e lábios vermelhos. Quando foi aberto o caixão, surpresa para todos: O corpo estava deitado de lado, a língua de fora, como se estivesse assim para molhar os dedos e contar dinheiro. Em suas mãos havia milhares de reais em notas mofadas e puídas. Moedas de ouro pularam dos bolsos quando mexeram com ele. Alguns parentes, espichando os olhos, contavam com tristeza a pequena fortuna que poderia ser deles. Alguns até choraram. Porém nada foi constatado e o assunto foi encerrado. Passado alguns anos, os parentes em suas conversas reservadas lembram ainda com saudade doída daquelas notas, daquelas moedas...

O NOME QUE SALVA


Era madrugada, estava eu parado numa esquina central esperando por um táxi. O céu todo forrado de estrelas, noite fria e bela. Nisso dois sujeitos se aproximaram e anunciaram: É um assalto! Não reagi, entreguei a carteira com documentos e dinheiro. Eles conferiram por cima o montante e pernas em ação. Logo depois eles regressaram, devolveram tudo e ainda por cima pediram desculpas. Um deles disse: “Desculpe o malfeito seu Evandro, pois para nós o senhor é uma autoridade. Uma boa noite!”
Sem demora surgiu um táxi e fui para casa aliviado.
Em tempo, meu nome é Evandro Capeta.

O RETORNO DOS ESPELHOS


 Anilda, 26 anos, morena, não que fosse feia, mas se achava. Sempre se punha defeitos. Por este motivo certo dia mandou retirar todos os espelhos da casa e pôs óculos escuros no marido. Só saía à rua disfarçada de homem, até bigodes usava. Não tinha amigas, vivia reclusa por não ter autoestima. Na sua cabecinha era a mulher mais feia do planeta. Passava os dias numa tristeza só. Nem fazer compras lhe dava ânimo, coisa difícil de ser ver numa mulher. Porém um fato ocasionou uma mudança radical na sua maneira de agir. Anilda tomava banho numa tarde de maio quando o telhado do banheiro desabou, e junto dele veio Amauri, o filho do vizinho de 15 anos. Com ela pelada na sua frente, ainda assustado, ele confessou ser seu admirador, e que diariamente a espionava no banho fazendo certos maroteamentos. Anilda ficou tão lisonjeada que nem mesmo brigou com o menino, deu-lhe sim uma beijoca e o mandou para casa. Sentiu-se uma gata, o sol voltou a brilhar no seu mundo. No mesmo dia mandou comprar espelhos novos.