quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
O RACISTA
O italiano Benito era podre de racista. Empresário bem-sucedido não empregava negros em sua empresa. Não frequentava lugares que havia negros. Nem roupa preta ele usava. Um dia Benito morreu. Chegou ao céu e foi encaminhado até a sala de espera onde seria entrevistado por São Pedro para encaminhar seu destino final.
Impaciente como ele só ficou caminhando pra lá e pra cá. Espichou o pescoço e viu lá dentro do paraíso uma sala gigantesca, com uma enorme mesa. Atrás da mesa estavam dois negros conversando. Perguntou à secretária:
- Quem são os negrões atrás daquela mesa?
- O mais jovem é Jesus. O outro parecido com Morgan Freeman é Deus.
OS RATOS
Os ratos foram aos poucos chegando, conhecendo o terreno e invadindo a casa vazia. Magrelos, vinham da casa de um aposentado da iniciativa privada. Encontraram as prateleiras da despensa abarrotadas de queijos e outras guloseimas. Quando viram àquela abundância chamaram também os tios e primos que estavam nos arredores. O proprietário fora generoso: havia saído de férias, mas deixou um bom rancho para eles. Naquele mês os ratinhos encheram seus buchinhos e ficaram gordos como patos. Também pudera, festança todos os dias, alegria geral. Quando o dono da casa retornou seu gato ficou encantado com tantos ratos fofinhos. Em todos os cantos da casa estavam eles arrotando sem cerimônia. Os roedores de tão obesos não conseguiam mais correr e o bichano foi então papando todos com paciência. Eram tantos que até reservou alguns para comer no natal.
Moral da história: Quem precisa correr para sobreviver não deve engordar.
Moral da história: Quem precisa correr para sobreviver não deve engordar.
O PIOR DA TEMPESTADE ESTAVA POR VIR
O céu ficou escuro e houve uma sensação de pânico geral. As nuvens ruidosas pareciam cair sobre as casas. Ventos enfurecidos revoltavam as melenas cobertas de poeira e faziam arder os olhos. Pequenos galhos e folhas já corriam pelas ruas sem lugar para ficar. Placas publicitárias de pernas fortes voavam como penas. As gentes fechavam suas casas, cães e gatos eram recolhidos para lugares abrigados. Apressei o passo para chegar logo em casa e fugir das nuvens ameaçadoras. Algumas lesmas pegaram carona em pneus de bicicletas, enquanto outras eram rápidas em seus patinetes. Entrei em casa a tempo de observar pela janela o mandatário- mor da cidade passar voando em sua cadeira de trabalho. A secretária sentada em seu colo fazia anotações e ajeitava os cabelos negros. Não muito distante dali a primeira-dama já sabendo do fato, visto por centenas de olhos comunitários, tirava do baú um chicote de três tentos e dava um lustro num cassetete de aroeira.
PÓ
Noite. Uma rua solitária na periferia. Um gato malhado salta entre os telhados enquanto cães ladram ao vento. O excesso de lixo saltou para fora das latas e escorreu pelo chão de terra. Baratas passeiam fugindo dos pés dos meninos que brincam de bola na via. Mães e irmãs mais velhas chamam para dentro os garotos de pés encardidos. É hora do banho e do jantar. Crianças recolhidas, já é tarde, agora chegam automóveis com ocupantes que procuram nas esquinas pelos empresários do pó. A lua e as estrelas observam o movimento. Dinheiro para cá, pó para lá. Negócio feito lá e vão os loucos em busca de alucinações, enquanto os empresários da farinha perigosa contam as notas. O inferno para ambos os lados é logo ali.
A CIRURGIA
Depois da cirurgia cerebral ele se encontra deitado na cama de ferro, imóvel sobre alvos lençóis. De hora em hora uma enfermeira vem para ver como ele se encontra. Observa sua pressão e sai. Na parede um quadro solitário da Santa Ceia faz companhia ao homem que dorme sedado. Sobre o criado mudo não há nada, nem mesmo um copo ou uma revista qualquer. O soro desce em lentas gotas e o rosto do enfermo aos poucos ganha cor. Lá fora, entre nuvens, aparecem pedaços do azul do céu. No canto esquerdo do quatro está largado um pequeno sofá marrom que aguarda para acolher uma visita qualquer. Já faz quatro horas que a operação foi realizada. O homem abre os olhos e se mexe um pouco. A enfermeira chega, ele pede: “Onde estou?” Ela fazendo um olhar de mãe diz que ele está no Hospital Samaritano, sofreu uma cirurgia para extirpar um pequeno tumor no cérebro e que correu tudo bem. “Tudo bem nada” diz ele .-“Sou o encanador, vim até aqui apenas para consertar um vazamento e acabei caindo no banheiro. E agora me acontece isso?”
QUEM ROUBOU?
Leonardo Andrade guardou seu milhão de dólares num cofre seguro. Quando após um mês abriu o cofre para verificar não havia mais dinheiro. Roubo? Quem roubou e como? Ninguém mais entrou na casa, somente ele sabia a combinação. Vieram os peritos e não conseguiram uma explicação. Chamaram então o professor Luxemburgo que tinha explicação para tudo. Então examinando o interior com sua lupa ele descobriu num cantinho escuro do cofre o bichinho comedor de dinheiro de barriguinha estufada arrotando verdinhas.
MIM
“As minhas virtudes consigo contar nos dedos. Já os defeitos
dependem do Excel.” (Mim)
“Depois do governo paralelo Nicolás Maburro vai implantar na
Venezuela o papel higiênico virtual.” (Mim)
"Desperdício de tempo é ouvir lorotas da Dilma e fazer
vento em defunto." (Mim)
“Devemos amar o próximo sim, desde que ele não nos encha de
socos.” (Mim)
“É uma pena que os loucos não possam votar no lugar dos
burros.” (Mim)
“Lula conseguiu acabar com todos os pobres do Brasil. Seus
parentes, ponto.” (Mim)
LIMÃO
“Sou um
sujeito meio azarado. Certo dia ganhei um pufe numa rifa. Era um pufe de
cactos.” (Limão)
”Não rio
fácil. Temo que me caiam dos dentes.” (Limão)
“Não sei de
onde vem o meu azedume, mas desconfio; meu pai era fã do Leonel Brizola.”
(Limão)
“A minha
mãe era católica e carregava o peso dos males do mundo nas costas. Ia a três
missas diárias. Na sua vida gastou as contas de mais de quatrocentos rosários.”
(Limão)
“Coisa
horrível. Minha avó nunca gostou de tomar banho. Viveu 93 anos e último banho
completo que tomou aconteceu quando completou
50 anos.” (Limão)
ERIATLOV
“Se Lula da Silva fosse
colocado numa panela para ser reduzido após horas de cozimento sobraria
no utensílio uma enorme língua sem serventia.” (Eriatlov)
“Lenda na Correia do Norte é um norte-coreano comum que não esteja passando fome.” (Eriatlov)
“Chevara , o tal ícone da esquerda festiva, assassina e mão
grande se achava acima da lei. Matava
sem julgamento. Um torpe.” (Eriatlov)
“Guevara queria lavar a América de sangue. Conseguiu na
Bolívia uns buracos de bala no peito.” (Eriatlov)
“Querer tutelar o semelhante e impor seu modo de vida é
coisa de crente fanático e comunista. Liberdade, respeitando o direito alheio,
consciência, dever e ação responsável.“ (Eriatlov)
“Muitos quiseram implantar no planeta um paraíso segundo sua
ótica, mas no fim acabaram se tornando monstros sem limites.” (Mim)
“Os urubus quando leem sobre o poder no Brasil usam
máscaras. Nem eles suportam o fedor.” (Eriatlov)
“O mal do Brasil é ter homens públicos com sobrecarga de
interesses particulares. “ (Eriatlov)
FILOSOFENO
“Quem não pensa carrega os arreios.”
(Filosofeno)
“Você muge ou ruge?”(Filosofeno)
“Os maiores exploradores da ignorância
estão nos púlpitos e nos partidos políticos. Às vezes estão juntos.”
(Filosofeno)
"Quem
segue um líder cegamente, sem deixar para si o direito da dúvida, não passa de
um grande tolo.” (Filosofeno)
“O inconformismo com a morte fez surgir
os exploradores do medo.” (Filosofeno)
“Entram reais no bolso e a empáfia
assume o ser. Assim é o comum.” (Filosofeno)
“A loucura é uma fatalidade. Já ser
imbecil é uma escolha.” (Filosofeno)
“O ser que espera suas graças apenas do
céu sem dispender trabalho ao pensar e também não agir para mudar algo que não
lhe agrada, receberá do céu diretamente na sua caixa craniana o diploma de
tonto.” (Filosofeno)
DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, agosto 31, 2008 POR QUE LEMOS?
Em artigo para El País, o escritor espanhol Luisgé Martín propõe uma questão curiosa: ler serve para algo bom? São menos corruptos, despóticos, coléricos ou violentos aqueles que lêem? Segundo o autor, a leitura tem uma utilidade sensorial e uma utilidade prática, mas talvez não tenha nenhuma utilidade ética, que é a que mais se apregoa. “No setor editorial e no mundo literário – um castelo de homens cultos, de cultivadores desse grande bem espiritual que é a leitura – se encontraria a maior concentração de indivíduos biliosos, astuciosos, hipócritas, vaidosos, desequilibrados e tortuosos que conheço. Inclusive, é claro, eu mesmo”.
O escritor faz algumas perguntas: são menos corruptos os que lêem? São menos despóticos em seus trabalhos ou em suas casas? Respeitam mais os sinais de tráfico? Sentem menos cólera, sabem dominá-la melhor? Têm maior clarividência política? São menos violentos? E conclui que ler nem sempre traz proveito.
Sou leitor compulsivo, daqueles que andam sempre munidos de um livro ou jornal. Sofro de uma enfermidade que certos criadores de palavras chamam de biblioagorafobia, ou seja, medo de estar em um espaço público sem um livro na mão. Certa vez, ao revisitar meus pagos, um pedritense que eu não via há décadas, comentou: “me lembro de ti. Quando guri, sempre andavas com um livro debaixo do braço”. Até hoje ando. Há quem pense que estou sozinho quando estou sozinho em um bar. Nada disso. Estou sempre bem acompanhado, seja com um autor, seja com vários. Assim, na condição de leitor compulsivo, me reservo o direito a algumas considerações.
Por que lemos? Meu estímulo inicial foi o fascínio de conseguir decifrar aqueles sinaisinhos. Eu devorava o que me caísse nas mãos, fosse jornal, revista em quadrinhos ou bula de remédio. Li muito a Reader’s Digest em meus dias de campo. A revista, se alguém dela lembra, tinha artigos em seis colunas. Bom, eu lia na reta, seguindo sempre a mesma linha de uma coluna a outra. Não era fácil entender o texto com este método. Enfim, ao final da página eu acabava pondo ordem no relato. Lia muito rápido e misturava sílabas. Durante muito tempo, contei histórias de fábulos. Só bem mais tarde, me dei conta que eram búfalos.
Até aí, o encantamento pela decifração. À medida que lia, o interesse passava a ter outro foco. A leitura, fosse ficção, fosse jornalismo, me trazia notícias de mundos distantes. Ou de épocas distantes. Aos quinze anos, já estava lendo Platão e o Quixote. Sem sair de casa, eu tinha noções da Grécia de antes de Cristo e da Espanha cervantina. Nunca me ocorreu ler tendo como objetivo o aprimoramento moral. Lia para conhecer o mundo e tentar entendê-lo. Foi graças à leitura que consegui libertar-me do jugo da religião, que me fora enfiada goela abaixo quando adolescente.
Lia muito Tarzan na época. Não apenas a revista em quadrinhos, mas também os livros de Edgar Rice Burroughs. Tarzan, em meio à selva, aprendera a ler sozinho. Descobrira livros em uma casa abandonada na floresta e tentou decifrar aqueles sinais. Dava a cada letra um valor fonético, criando assim um idioma próprio. God, para Tarzan, era Bulutumanu. Como chegou lá, não me lembro. Mas sempre me tocou este gesto, de alguém que consegue aprender a ler sem professor.
No ginásio, líamos muito, eu e um pequeno grupo de alunos. Para desconforto dos padres que eram nossos professores. Se hoje há professores que lamentam que os alunos não lêem, naqueles dias nossos professores preferiam que não lêssemos tanto.
Hoje, sexagenário, continuo lendo, talvez com mais sofreguidão do que quando jovem. Durante muito tempo li ficções. Não só li, como traduzi. As ficções me traziam construções intelectuais que propunham mundos imaginários, mas factíveis. Um belo dia, concluí que as ficções não passavam de contos de fada para adultos. E deixei-as de lado. Claro que sempre vou revisitar o Quixote, Viagens de Gulliver ou 1984. Mas as ficções contemporâneas, nunca mais. Tenho me dedicado atualmente à leitura de ensaios, particularmente sobre história e religiões. São para mim muito mais envolventes que histórias inventadas.
E não estou conseguindo dar conta destas leituras. Deve ter uma boa meia centena de livros em minha cabeceira. Ainda não dei cabo de livros da antepenúltima viagem. Talvez nem os leia. Nas viagens seguintes, encontrei títulos que me atraíram mais. Um livro acaba relegando outro à estante dos não-lidos. Uma das coisas que certamente lamentarei em minha viagem rumo ao Grande Nada, será não ter lido o que me propus ler.
Volto à questão proposta por Luisgé Martín. O articulista não vê a leitura como algo que conduza necessariamente a um patamar mais nobre em nossa existência. Eu também não vejo, nem creio que uma pessoa leia para se tornar mais sublime. O mundo está cheio de canalhas esclarecidos, de pessoas que lêem muito para melhor enganar seus semelhantes. Por exemplo, os padres. Ou os psicanalistas. Mesmo os marxistas. A seu modo, como os judeus, os marxistas eram também homens do Livro. A leitura pode libertar. Mas pode também ser um tóxico poderoso. É faca de dois legumes, como diria Lula.
Pelo menos no que a mim diz respeito, leio para entender o mundo e a mim mesmo. Leio também para curtir a beleza. Um poema de Pessoa ou Hernández, um libreto de Da Ponte, são vinhos que nos inebriam a alma.
Livros aproximam pessoas. Certa vez, em Paris, sentei em um café com Sobre Heroes y Tumbas em punho. Já o havia lido há muito, mas dava mais uma olhadela em Sábato para montar minha tese. A meu lado, sentou-se uma menina com El Túnel. O namoro começou ali mesmo. Martín Fierro é outro ponto de encontro. Fiz grandes amizades mundo afora em torno a José Hernández. Um leitor de Fierro sempre adora conversar com outro leitor de Fierro.
Ainda em Paris, ao sentar-me no Deux Magots, um garçom me abordou:
- C’est vrai, Monsieur. Qu’est ce que vous désirez?
Cerveja, é claro. Mas não entendi bem a abordagem. Só fui dar-me conta quando voltei ao livro. Eu estava lendo Les Hommes ont soif, de Arthur Koestler.
Há leituras e leituras, é claro. Nesta minha última viagem, navegando pela costa norueguesa, fiquei contente em ver pessoas munidas de livros, alguns com calhamaços com cerca de mil páginas. Povo culto, pensei. Ledo engano. Sempre que vejo alguém lendo algo, tento ver o título. Tentei e vi. Melhor não tivesse tentado. Profunda decepção com a Noruega. Não encontrei um título decente. Havia muita gente lendo Paulo Coelho - em norueguês -, outros tantos Harry Potter ou o Código da Vinci. Isso sem falar naqueles best-sellers ianques, de autores que vendem milhões mas de cujo nome nem lembro.
Ou seja: ler pode significar muita coisa. Ou coisa nenhuma.
O escritor faz algumas perguntas: são menos corruptos os que lêem? São menos despóticos em seus trabalhos ou em suas casas? Respeitam mais os sinais de tráfico? Sentem menos cólera, sabem dominá-la melhor? Têm maior clarividência política? São menos violentos? E conclui que ler nem sempre traz proveito.
Sou leitor compulsivo, daqueles que andam sempre munidos de um livro ou jornal. Sofro de uma enfermidade que certos criadores de palavras chamam de biblioagorafobia, ou seja, medo de estar em um espaço público sem um livro na mão. Certa vez, ao revisitar meus pagos, um pedritense que eu não via há décadas, comentou: “me lembro de ti. Quando guri, sempre andavas com um livro debaixo do braço”. Até hoje ando. Há quem pense que estou sozinho quando estou sozinho em um bar. Nada disso. Estou sempre bem acompanhado, seja com um autor, seja com vários. Assim, na condição de leitor compulsivo, me reservo o direito a algumas considerações.
Por que lemos? Meu estímulo inicial foi o fascínio de conseguir decifrar aqueles sinaisinhos. Eu devorava o que me caísse nas mãos, fosse jornal, revista em quadrinhos ou bula de remédio. Li muito a Reader’s Digest em meus dias de campo. A revista, se alguém dela lembra, tinha artigos em seis colunas. Bom, eu lia na reta, seguindo sempre a mesma linha de uma coluna a outra. Não era fácil entender o texto com este método. Enfim, ao final da página eu acabava pondo ordem no relato. Lia muito rápido e misturava sílabas. Durante muito tempo, contei histórias de fábulos. Só bem mais tarde, me dei conta que eram búfalos.
Até aí, o encantamento pela decifração. À medida que lia, o interesse passava a ter outro foco. A leitura, fosse ficção, fosse jornalismo, me trazia notícias de mundos distantes. Ou de épocas distantes. Aos quinze anos, já estava lendo Platão e o Quixote. Sem sair de casa, eu tinha noções da Grécia de antes de Cristo e da Espanha cervantina. Nunca me ocorreu ler tendo como objetivo o aprimoramento moral. Lia para conhecer o mundo e tentar entendê-lo. Foi graças à leitura que consegui libertar-me do jugo da religião, que me fora enfiada goela abaixo quando adolescente.
Lia muito Tarzan na época. Não apenas a revista em quadrinhos, mas também os livros de Edgar Rice Burroughs. Tarzan, em meio à selva, aprendera a ler sozinho. Descobrira livros em uma casa abandonada na floresta e tentou decifrar aqueles sinais. Dava a cada letra um valor fonético, criando assim um idioma próprio. God, para Tarzan, era Bulutumanu. Como chegou lá, não me lembro. Mas sempre me tocou este gesto, de alguém que consegue aprender a ler sem professor.
No ginásio, líamos muito, eu e um pequeno grupo de alunos. Para desconforto dos padres que eram nossos professores. Se hoje há professores que lamentam que os alunos não lêem, naqueles dias nossos professores preferiam que não lêssemos tanto.
Hoje, sexagenário, continuo lendo, talvez com mais sofreguidão do que quando jovem. Durante muito tempo li ficções. Não só li, como traduzi. As ficções me traziam construções intelectuais que propunham mundos imaginários, mas factíveis. Um belo dia, concluí que as ficções não passavam de contos de fada para adultos. E deixei-as de lado. Claro que sempre vou revisitar o Quixote, Viagens de Gulliver ou 1984. Mas as ficções contemporâneas, nunca mais. Tenho me dedicado atualmente à leitura de ensaios, particularmente sobre história e religiões. São para mim muito mais envolventes que histórias inventadas.
E não estou conseguindo dar conta destas leituras. Deve ter uma boa meia centena de livros em minha cabeceira. Ainda não dei cabo de livros da antepenúltima viagem. Talvez nem os leia. Nas viagens seguintes, encontrei títulos que me atraíram mais. Um livro acaba relegando outro à estante dos não-lidos. Uma das coisas que certamente lamentarei em minha viagem rumo ao Grande Nada, será não ter lido o que me propus ler.
Volto à questão proposta por Luisgé Martín. O articulista não vê a leitura como algo que conduza necessariamente a um patamar mais nobre em nossa existência. Eu também não vejo, nem creio que uma pessoa leia para se tornar mais sublime. O mundo está cheio de canalhas esclarecidos, de pessoas que lêem muito para melhor enganar seus semelhantes. Por exemplo, os padres. Ou os psicanalistas. Mesmo os marxistas. A seu modo, como os judeus, os marxistas eram também homens do Livro. A leitura pode libertar. Mas pode também ser um tóxico poderoso. É faca de dois legumes, como diria Lula.
Pelo menos no que a mim diz respeito, leio para entender o mundo e a mim mesmo. Leio também para curtir a beleza. Um poema de Pessoa ou Hernández, um libreto de Da Ponte, são vinhos que nos inebriam a alma.
Livros aproximam pessoas. Certa vez, em Paris, sentei em um café com Sobre Heroes y Tumbas em punho. Já o havia lido há muito, mas dava mais uma olhadela em Sábato para montar minha tese. A meu lado, sentou-se uma menina com El Túnel. O namoro começou ali mesmo. Martín Fierro é outro ponto de encontro. Fiz grandes amizades mundo afora em torno a José Hernández. Um leitor de Fierro sempre adora conversar com outro leitor de Fierro.
Ainda em Paris, ao sentar-me no Deux Magots, um garçom me abordou:
- C’est vrai, Monsieur. Qu’est ce que vous désirez?
Cerveja, é claro. Mas não entendi bem a abordagem. Só fui dar-me conta quando voltei ao livro. Eu estava lendo Les Hommes ont soif, de Arthur Koestler.
Há leituras e leituras, é claro. Nesta minha última viagem, navegando pela costa norueguesa, fiquei contente em ver pessoas munidas de livros, alguns com calhamaços com cerca de mil páginas. Povo culto, pensei. Ledo engano. Sempre que vejo alguém lendo algo, tento ver o título. Tentei e vi. Melhor não tivesse tentado. Profunda decepção com a Noruega. Não encontrei um título decente. Havia muita gente lendo Paulo Coelho - em norueguês -, outros tantos Harry Potter ou o Código da Vinci. Isso sem falar naqueles best-sellers ianques, de autores que vendem milhões mas de cujo nome nem lembro.
Ou seja: ler pode significar muita coisa. Ou coisa nenhuma.
OS CÃES
Ouve um tempo na Grécia que os cães evoluíram, passaram a raciocinar, ler, escrever e tomar consciência de si. O líder marcou um evento os seriam lançadas as bases na nova civilização, baseada nos princípios caninos e não mais humanos. O salão estava lotado, centenas e centenas de cães presentes ouvindo os grandes oradores demonstrando como seria o novo mundo. Porém dois gatos distraídos entraram no salão e aconteceu a grande debandada de cães correndo atrás dos bichanos. Muitos morreram pisoteados, outros sufocados na ânsia de pegar os gatos. O líder olhou para um dos oradores e disse: “É, não estamos prontos à civilização.” Isso dito voltou a latir enquanto procurava um arbusto para urinar.
AH, O TESTAMENTO
O defunto
no caixão sendo velado. Estavam ao lado do esquife a viúva e outras seis
ex-amantes chorosas. Foi corno de todas, inclusive da viúva, e bem corno, mas
todas estavam ali derramando lágrimas e
demonstrando sentimento esperando constar no graúdo testamento do
Elmerenciano, certas do bom coração do falecido e de que chifres não guardam
memórias.
BRONCOS SEM PEJO
Alardeiam tanto estes broncos sem pejo
Em defesa do grupo espúrio vermelho
Que espanto nenhum haveria
Se contrariando tudo àquilo que a observação ensina
Diriam que as estrelas estão no chão
E que os rios correm para cima.
O CAPETA
Por anos
sem parar
Andou o
capeta fungando no meu cangote
Injetado
pela católica
No cérebro
menino de um matutinho
Causou
dores sem conta
Remorsos e
pecados que o tornaram insone
Porém tempo
e conhecimento
Curaram os
males da ignorância
E hoje
livre deste mal
Penso nos
homens que vivem na ilusão
Das coisas
do sobrenatural
Beijando a
mão de suja de manipuladores religiosos
E
sustentando a vida mansa clerical.
TERNEIROS
“A teta do estado não dá mais conta de dar leite para tantos terneiros. E a fila dos que estão de beiço pronto para entrar é grande.” (Eriatlov)
SOCIEDADE
“Não sou muita estimada na sociedade porque me casei por dinheiro, tudo bem. Mas e as outras?” (Eulália)
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