Naquela terrível tarde de quinze de julho de dois mil e noventa uma escuridão total cobriu o planeta terra. No mesmo instante emergiram de bueiros e templos religiosos trilhões de espécimes do animalis ignorare, espalhando entre os humanos o vírus da superstição retroativa ao tempo das cavernas e da letal bactéria do ouvidizereacrediteisempestanejar. Foi assim meus queridos que em poucas horas a humanidade regrediu cem mil anos. E agora estamos todos aqui ao redor do fogo nos aquecendo. Ainda bem que sobraram alguns fósforos.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
REGRESSÃO
Naquela terrível tarde de quinze de julho de dois mil e noventa uma escuridão total cobriu o planeta terra. No mesmo instante emergiram de bueiros e templos religiosos trilhões de espécimes do animalis ignorare, espalhando entre os humanos o vírus da superstição retroativa ao tempo das cavernas e da letal bactéria do ouvidizereacrediteisempestanejar. Foi assim meus queridos que em poucas horas a humanidade regrediu cem mil anos. E agora estamos todos aqui ao redor do fogo nos aquecendo. Ainda bem que sobraram alguns fósforos.
SEM SOMBRA
Ele tinha certa dificuldade em fazer amigos. Para dizer a verdade não tinha nenhuma facilidade em se aproximar de alguém. Para uns era um grande chato, para outros apenas um jovem profundamente melancólico. Algo que Joel não sabia era sorrir, sempre taciturno, vivia para si. Naquela cidade não havia por certo pessoa mais solitária e triste, sua única amiga era uma televisão de 20 polegadas que dele não podia fugir. Do trabalho no banco para casa e nada mais. Não tinha empregada em casa nem bichos para cuidar. Pensou num cachorro, mas logo desistiu, não queria ter o trabalho de limpar sua sujeira. Teve sua tragédia pessoal quando sua noiva o trocou por outra. Não reagiu, não lutou nem um pouquinho para sair da tristeza, apenas entrou no baú dos solitários. E foi assim que um dia sua própria sombra resolveu deixá-lo, abandonando um corpo quase já sem vida. E quando o sol mostrava seu brilho e calor Joel caminhava pelas ruas sem ter sequer a própria sombra por companhia.
ROSE A E PERERECA MAGICA
Era uma vez uma moça chamada Rose que sonhava com o luxo e viajar pelo mundo. Mas Rose não tinha condições, era pobre, seu salário não alcançava voos maiores. Um dia Rose teve a visita de uma fada madrinha. A boa fada lhe presenteou com uma perereca mágica. De posse de tal poder, Rose abriu portas rentáveis e viajou pelo mundo. Até namorou um sapo barbudo, depois príncipe. E com esse príncipe conheceu reinos distantes mundo afora. O azar de Rose foi que o príncipe viajava por conta do tesouro, os escribas descobriram e a perereca mágica perdeu seu encanto e foi banida do reino.
A DONA DA CASA
Lá fora o sol. Pela janela basculante do banheiro a mosca entrou na casa faceira assoviando Tico-Tico no Fubá, pousando sobre tudo, livre e feliz, ninguém para persegui-la. Passeou pelos quartos, sala, cozinha, varanda e despensa. Andou até pela casinha do Felpudo. Soltou vivas quando encontrou um prato descoberto com restos de comida. Sentiu-se uma rainha do lar, dona única do campinho, uma Cleópatra com asas. Abusada, tirou até uma soneca na cama do casal. E assim foi passeando sem preocupação até que vapt! Foi engolida! A mosca jamais imaginou que naquela casa tão hospitaleira havia um sapinho de estimação.
PUGGINA
"Vencer ou convencer a qualquer custo é regra velhaca para serviço dos patifes. Situa-se a menos de um passo da porta do cofre." (Percival Puggina)
LUCRÉCIO
“Nenhuma desgraça pode atingir aquele que deixou de ser; em nada ele difere do que seria se jamais tivesse nascido, pois a sua vida mortal foi-lhe arrebatada por uma morte imortal.” (Lucrécio)
LUCRÉCIO
“Na verdade, aqueles suplícios que dizem existir no profundo Inferno, estão todos aqui, nas nossas vidas.” (Lucrécio)
ALAIN RATON
Meu nome é Alain Raton. Digo que é muito duro não saber ler, posso dizer que é mortal. Sou um rato não alfabetizado, entregue aos perigos do mundo. Agora estou morrendo; comi uns grãos de raticida crendo tratar-se de salgadinhos da Elma Chips. Estou indo, deu , fui. Será que existe outra vida?
O VELHO INÁCIO E O DIABO
O VELHO INÁCIO E O DIABO
Noite
escura e temporal daqueles, luzes piscando e o vento zunindo. O velho Inácio
está sozinho em casa. Batem. Ele atende, na porta está um sujeito vermelho, com
chifres e rabo.
-Inácio
Brandão?
-Sim.
-Sou
o diabo, vim para levá-lo.
-Você
disse quiabo? Que nome estranho!
-Não
é quiabo, é diabo!
-Pois
é o que estou dizendo, quiabo! Mas que tipo de quiabo?
-Você
não vê que sou vermelho, tenho chifres e rabo pontudo?
-É
fantasia? Muito bem feita.
-Velho
tonto, eu venho do inferno, o reino do fogo eterno.
-Entendo
que o senhor vem do inverno, e inverno é fogo mesmo. São Joaquim?
-Duro
de entender, não é?
-O
quê?
-Que
sou satã.
-Maçã?
São Joaquim terra da maça? É isso? Mas o que é que o senhor quer aqui em São
Paulo? Está vendendo maçã?
-Deixa
para lá. Vai para o céu seu velho filho da puta!
E o
diabo se mandou enquanto grossa chuva caía.
LEOCÁDIO
Salta! Pula! A multidão reunida no centro da cidade ansiosa aguardava lá embaixo pelo último ato do suicida. Finalmente ele se jogou do telhado. Os mais sensíveis fecharam os olhos antes do choque fatal. Então antes de espatifar-se no chão Leocádio abriu suas belas asas e alçou voo para navegar sob o resplandecente azul do céu. Antes contornou e fez um rasante mostrando a língua para os abutres que pediam por sangue.
NA FRUTEIRA
NA
FRUTEIRA
-Você é um mamão?
-Não,
não sou mamão.
-Não
é mamão?
-Não.
Sou melão.
-Nunca
ouvi falar.
-E
você o que é?
-Banana
caturra.
-Nunca
ouvi falar.
-Sou
artista, eu canto.
-Eu
também. Canto até em espanhol.
-El
dia que me quieras?
-Sim.
-Vamos
cantar em dupla?
-Vamos!...
Acaricia
mi ensueño
El
suave murmullo
De
tu suspirar.
Como
ríe la vida...
Nisso
se intromete na conversa o abacate.
-Vocês
podem ficar quietos, estou tentando dormir.
-Dormir
agora durante o dia?- pergunta o melão.
-Sim,
ainda estou verde, preciso amadurecer.
Nisso
uma distinta senhora passa pela fruteira e leva os dois artistas para sua casa,
alegrando por hora o verde abacate que cochila entre macias palhas.
SUSPEITO
SUSPEITO
O
jornal diz
Que
o suspeito matou a vítima com seis tiros
Diante
de vinte e cinco testemunhas
Gravação
em vídeo
Pego
ainda com a arma na mão
Mas
o jornal repete que o elemento é apenas suspeito
Diante
de tanto absurdo
Digo
que suspeito mesmo é o jornal.
É PRECISO SONHAR
É PRECISO SONHAR
Acordar por acordar
Comer para viver
Isso todo animal faz
Agora pergunto
Para um racional
Com que sonhas tu?
AVÓ NOVELEIRA
“Vó, a
senhora já ouviu falar em algoritmo?”
“Aldo Ritmo?
Tive um vizinho que se chamado Aldo, mas o sobrenome era outro.”
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“Eu também só uso os famosos produtos de beleza da Helena Frankenstein. ” (Assombração)
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“Vó, a senhora já ouviu falar em algoritmo?” “Aldo Ritmo? Tive um vizinho que se chamado Aldo, mas o sobrenome era outro.”
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BABY LAMPADA Coisa própria da juventude; o afobamento, o medo do futuro, não ter o apoio da família; tudo isso faz do ser inexperiente ...