domingo, 28 de setembro de 2014
VOTANDO NOS CORTADORES DE ASAS
VOTANDO
NOS CORTADORES DE ASAS
Este povo
mente
Repetidamente
mente
Para
permanecer no poder
A moral
foi para o baú
O
importante é a permanência
Para garantir
à descendência
Banhos em
moedas d’ouro
Porém o
mais triste
É ver o
dito sabido e também o ignorante nato
Votando
nos seus algozes
Para no
amanhã se tornar capacho
Dos
vermelhos cortadores de asas.
‘O caráter fica’, de J.R. Guzzo
Publicado na edição impressa de VEJA
J.R. GUZZO
Uma das vantagens mais interessantes da hipocrisia, talvez o vício preferido das campanhas eleitorais, é seu baixo custo. A rigor, fazendo a conta na ponta do lápis, a hipocrisia não custa nada, quando se considera que o hipócrita jamais pretende cumprir suas promessas, nem se comportar com as virtudes que atribui a si mesmo diante do público — encerrada a disputa, volta a ser o que sempre foi, e dá por zeradas todas as dívidas que parecia estar contraindo quando tinha de pedir voto aos eleitores.
Disputas pela Presidência da República, é claro, não são a oportunidade mais adequada para o público assistir a exibições de boa conduta. Assim mesmo, a campanha eleitoral de 2014 parece superar tudo o que já foi feito neste país, até agora, em matéria de embuste; só deverá ser superada, talvez, pela próxima corrida, em 2018.
Não há inocentes nesta rixa de terceira classe, mesquinha, desonesta e sem o menor vestígio de vida inteligente; desde o primeiro dia de campanha, ainda não apareceu nada que pudesse ser descrito pela palavra “ideia”. Mas o pior desempenho, de longe, fica com a concorrente mais forte até agora, Dilma Rousseff, porque ela não é apenas a candidata oficial – antes disso, é a presidente da República, e esse cargo lhe impõe obrigações formais perante todos os brasileiros, sem exceções. A primeira delas é o respeito.
Dilma, pela posição que ocupa e pelo juramento que fez ao assumir a Presidência, não tem o direito de tratar os eleitores como uma manada de ignorantes que não dispõem da capacidade de pensar com um mínimo de independência — e por isso não precisam ouvir argumentos, explicações e raciocínios que façam nexo, ou respeitem fatos. Vale tudo aí. Se Dilma não for eleita, garante sua campanha, a comida vai sumir das mesas. As crianças passarão a receber livros em branco. Os banqueiros vão ordenar demissões em massa, fechar escolas e acabar com o Bolsa Família.
Por ser negra, magrinha e de origem paupérrima, ou por lembrar que passou fome na infância, a concorrente Marina Silva é acusada de ser uma “coitadinha” — e uma pobre-diaba como ela, segundo Dilma, não tem condições de ser presidente. Só Lula, o seu principal patrocinador, tem o direito de se apresentar como operário e receber diploma de herói. Marina é igual a Fernando Collor — embora a candidata oficial não explique por que isso seria tão ruim assim, já que o mesmo Collor é hoje um dos seus aliados mais valiosos. Só Deus sabe o que ainda vai dizer até o dia da eleição.
O resultado prático de toda essa insensatez é que a campanha eleitoral da suprema magistrada do Brasil, que deveria ser a mais sóbria e mais fiel à verdade dos fatos, acabou sendo a mais hipócrita de todas. Um cavalheiro, segundo o ensinamento de Oscar Wilde, nunca deve trapacear quando está com boas cartas na mão. Dilma tem um jogo lindo – até agora sempre esteve à frente nas pesquisas, tem seis vezes mais tempo que Marina na televisão e usa todos os dias a máquina do governo para caçar votos. Mas sua campanha tornou-se um monumento à trapaça.
Não existe nenhuma disputa de “classes” na eleição, como pretende a propaganda oficial, em que a opção seria escolher o lado dos pobres, o dela, contra o lado dos ricos, o dos outros. A única coisa realmente em jogo é o interesse material: mais de 20 000 cargos ocupados pelo PT e amigos, a manutenção de um convívio de doze anos com empreiteiras e as oportunidades de negócios junto a empreendedores como o homem atômico da Petrobras e atual presidiário Paulo Roberto Costa, o doleiro Youssef e por aí vai.
Não existe a mais remota sinceridade nos alertas de que um Banco Central independente vai tirar as grandes decisões financeiras “das mãos dos brasileiros” – como se no governo Dilma eles decidissem alguma coisa a respeito. Não existe motivo para acreditar nas promessas de “limpeza” na Petrobras, quando Lula diz que a empresa é vítima de “ataques” de tubarões imaginários — e não dos tubarões de carne e osso mantidos lá dentro durante todo o seu governo e o de Dilma.
A complicação que o Brasil vive hoje vai além da falta de decência, de lucidez e de bons modos da campanha. Campanhas eleitorais são transitórias, mas os seres humanos que participam delas são permanentes. É uma pena, mas Dilma não vai mudar de caráter quando a campanha acabar — continuará sendo exatamente a mesma. Se ganhar, não vai fazer um ato de contrição e se arrepender da hipocrisia de uma disputa deformada pela falsificação da realidade; não se transformará numa pessoa que nunca foi.
Coutinho nas amarelas da Veja: um conservador contra as utopias e o estado-babá
Excelente a entrevista nas páginas amarelas de Veja desta semana com João Pereira Coutinho. Duda Teixeira conseguiu extrair do entrevistado um ótimo resumo de qual a postura típica de um conservador “de boa estirpe”, aquela da linhagem britânica pela qual tenho profundo respeito e apreço.
Na primeira resposta, Coutinho reage com humor ao preconceito tão difundido contra o conservadorismo em nosso país:
E como não rir (para não chorar) dessa situação pitoresca, em que um comunista ainda pode se dizer comunista sem problemas, mesmo após tudo o que o comunismo fez, mas um conservador anda esgueirado pelos cantos, olhar atento, como se tivesse acabado de matar um pobre inocente em praça pública?
O conservador é, antes de tudo, um cético quando se trata da natureza humana. Condena a ideia de perfectibilidade de nossa espécie, e desconfia de todas as utopias redentoras. Justamente por saber que “somos todos macacos”, entende que o político também é um “macaco” e que, portanto, precisa ter o poder bastante limitado.
Coutinho chama a atenção para a esquizofrenia do povo brasileiro ao considerar a classe política em geral corrupta, enquanto defende mais estado como solução para todos os problemas, como se o estado fosse administrado por seres celestiais, e não pelos próprios políticos. Sobre nossa “presidenta” e o autoritarismo em geral, coloca o dedo na ferida ao constatar ser um caso de narcisismo infantil:
Um conservador compreende que do “pau torto” de que somos feitos, nada perfeito pode sair. Essa premissa é suficiente para enterrar muita ideologia com a pretensão de substituir as religiões, com a oferta de um paraíso terrestre. O que nos remete ao escandaloso estado-babá atual que temos mundo afora, com a promessa de cuidar de cada um de nós do berço ao túmulo. Diz Coutinho:
Para lutar contra as utopias, o estado-babá gigante, as revoluções narcisistas, o infantilismo moderno, nada como um bom e velho (ou tradicional) conservadorismo. Infelizmente, vários brasileiros escutam o termo e pensam logo em Sarney, regime militar ou Bolsonaro. Aí complica…
Rodrigo Constantino
Ler de novo não tem preço
“A verdade é que a Copa do Padilha começa agora”.
Lula, em 18 de julho, num comício em louvor de Alexandre Padilha no centro de São Paulo, sem imaginar que o duelo entre o candidato do PT e o governador tucano Geraldo Alckmin seria uma reprise piorada daqueles 7 a 1 do Brasil contra a Alemanha.
Augusto Nunes
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