Política externa é periférica na corrida eleitoral brasileira, mas quem sabe agora na campanha do segundo turno e nos debates tenhamos algumas referências ao relacionamento do Brasil com regimes delinquentes na América Latina. Li no Radar, de VEJA.com, que a líder oposicionista venezuelana Maria Corina Machado, cujo mandato de deputada foi cassado pelo chavismo, se posicionou a favor de Aécio Neves. Como se dizia antigamente, notícia alvissareira.
Agora, vamos a algumas más notícias sobre regimes delinquentes na América Latina. A Comissão Cubana de Direitos Humanos documentou 411 prisões políticas pelo regime Castro apenas no mês de setembro. Com isto, o número total de prisões políticas nos primeiros nove meses de 2014 chegou a 7.599, superando de longe o total para os anos de 2010 (2.074), 2011 (4.123), 2012 (6.602) e 2013 (6.424).
Cuba por si é má notícia. E a Venezuela, que foi do podre Chávez para Maduro, também. O ex-embaixador da Venezuela nas Nações Unidas, Diego Arria, escreveu no Miami Herald ser uma vergonha, uma irresponsabilidade, que as democracias da América Latina e do Caribe estejam apoiando a meta da Venezuela por um assento rotativo no Conselho de Seguran ça em 2015-16.
Como escreve Arria, estes governos estão plenamente cientes do “infame prontuário” da Venezuela em direitos humanos. E estes governos também sabem que o “regime da Venezuela está sob a influência do governo cubano, o que significa que, dando à Venezuela a oportunidade de servir em seu nome, eles estão permitindo que Cuba tenha representação de facto no Conselho de Segurança”.
Arria questiona os motivos deste endosso latino-americano e caribenho ao delinquente regime chavista. E responde que alguns países estão pagando favores no esquema da petrodiplomacia venezuelana. Outros fazem média com grupos esquerdistas locais e há ainda aqueles que simplesmente querem desferir golpes contra os EUA no Conselho de Segurança através da Venezuela.
Arria considera dois casos bem ilustrativos: o governo conservador na Colômbia, de Juan Manuel Santos, que conhece muito bem as conexões do chavismo com o narcotráfico das FARC, e o governo esquerdista de Michelle Bachelet, no Chile, que embarcou na onda, embora muitos dos seus integrantes tenham sido resgatados da ditadura Pinochet por governos democráticos venezuelanos.
Arria lembra que a Venezuela já teve quatro vezes assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas. E ele foi o seu representante no último mandato, em 1992-93, nos tempos em que o país “se distinguia por ser um membro de confiança da comunidade internacional e um ativo promotor e defensor dos direitos humanos e do respeito à lei internacional”.
Que haja algum espaço para o debate dos temas alinhados acima na campanha eleitoral brasileira. Vamos debater menos médicos cubanos no Brasil e mais direitos humanos na ilha castrista; vamos debater os rolos do chavismo e a falta de papel higiênico naquele país; e vamos debater a necessidade de uma liderança diplomática do Brasil na América Latina com mais compasso moral e menos compasso de espera diante de barbaridades cometidas no mundo.
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