segunda-feira, 12 de junho de 2017

“Amigo de boteco é o último que chega ao velório, mas é o primeiro que visita à viúva.”

(Limão)

CONSAGRADO

“A turma do santo boteco de todos os dias leva para dentro de suas casas o maravilhoso bafo consagrado.” (Limão)
“Um filho sempre imita o pai no que ele tem de pior.” (Limão)


A MANEIRA RUSSA DE MENTIR por Roger Scruton. Artigo publicado em 12.06.2017



(Publicado originalmente no www.midiasemmascara.org)

De 1918 a 1991, o Pravda (em russo, “verdade”) foi o principal jornal da União Soviética e órgão oficial do Comitê Central do PCUS, Partido Comunista da URSS.

Talvez o paradoxo mais famoso descoberto pelos filósofos gregos seja o do “mentiroso”. Um cretense diz que todos os cretenses são mentirosos: se o que ele diz é verdadeiro, então é falso. Simplificando, considere: “Esta frase é falsa.” Se for verdadeira é falsa, se falsa, verdadeira. Os antigos levavam a sério esse paradoxo, pois se o conceito de verdade é intrinsecamente contraditório, como o paradoxo implica, então todo o discurso, todo o argumento, toda a tomada de decisão racional ocorre em um vazio. Um filósofo antigo, Filitas de Cos, em seu desespero na busca de uma solução, cometeu suicídio. Mais recentemente, o grande lógico Alfred Tarski usou o paradoxo para argumentar que a verdade pode ser definida em uma linguagem somente através de uma “meta-linguagem” com um ponto de vista externo. Na visão de Tarski “Esta frase é falsa” não é uma frase possível. Mas eu acabei de escrevê-la!

Um filósofo sobressai-se como um traidor da tradição, Nietzsche, com a famosa declaração que não há verdades, apenas interpretações. A declaração de Nietzsche, se verdadeira, é falsa. Nietzsche, que era mais poeta do que filósofo, não era dissuadido por contradições: era mais importante em sua visão destruir o discurso ordinário do que resgatá-lo. Em seu rastro vieram as tropas de desconstrucionistas, pós-modernistas e relativistas, todos encantados com a idéia de que não há verdade. Que o que eu penso é tão bom quanto o que você pensa – de fato melhor, porque sou “eu” pensando. Se você me oferecer um cargo de professor apesar do fato de que minhas publicações não conterem nada que você reconheceria como verdadeiro ou significativo, então isso mostra que você é tão descolado quanto eu.

Não devemos nos surpreender assim se os nossos departamentos de humanas são agora preenchidos por “professores de pós-verdade”, que devem seu status intelectual às suas provas de que não há status intelectual a ser alcançado.

Tudo isso vem à mente ao refletir sobre o papel da verdade na diplomacia russa. A ideologia comunista descartou a idéia de verdade como se fosse uma construção burguesa. O que importava era poder — e você batizou como verdade aquelas doutrinas que o fornecem. Essa maneira invencível de marginalizar a realidade foi exposta para todos por Orwell, Koestler, Solzhenitsyn e, mais recentemente, Havel. Somente a educação em uma universidade moderna, com doses repetidas de Foucault, Deleuze e Vattimo, pode cegar para os perigos de uma filosofia que vê o poder como o verdadeiro objetivo do discurso. Infelizmente, essa educação existe, e temos que viver com o resultado disso.

Todos os que encontraram a máquina comunista estavam familiarizados com a abolição da distinção entre verdade e poder, incluindo companheiros de viagem como Eric Hobsbawm e Ralph Miliband, que aprovaram isso. O que importava ao Partido Comunista era a meta: a instalação do controle comunista sobre o máximo possível do mundo civilizado. O mito do “cerco capitalista” — a descrição da expansão militar soviética como uma “ofensiva de paz”, as invasões da Hungria, da Tchecoslováquia e do Afeganistão como “assistência fraterna”: tudo parte da diplomacia da pós-verdade. A falsificação do discurso político estendia-se às minúcias. Os judeus eram perseguidos não como judeus, mas como parte da conspiração burguesa-sionista-capitalista. Os católicos foram presos por “subversão da república em colaboração com uma potência estrangeira”. As tentativas da OTAN de instalar defesas antimísseis tornaram-se “atos de agressão que desestabilizavam a Europa”. E assim por diante. O resultado era uma espécie de discurso paranóico que não podia ser respondido com argumento racional, já que cada argumento era mais uma prova de que todos os que denunciavam as mentiras também as diziam. A máquina de propaganda soviética enfrentava todos os fatos gritando a plenos pulmões “mentiras!”, como um lógico louco que grita “essa frase é falsa!”

A paranóia institucionalizada não desapareceu com o colapso do comunismo. Poderá ser superada, mas apenas por uma imprensa livre, instituições livres e universidades que protegem a liberdade de expressão: coisas que estão sob ameaça em todo o mundo pós-verdade e que não existem na Rússia há cem anos. Quando foi mostrado que os mísseis russos derrubaram um avião civil malaio sobre a Ucrânia a resposta era outra vez “mentiras!” As acusações de doping de atletas russos, invasão de contas de e-mails dos EUA, mobilização de tropas na fronteira com a Polônia, movimentos de armamento para o enclave de Kaliningrado, constante violação do espaço aéreo da Suécia — todos encontraram a mesma resposta. A premissa da diplomacia russa é: “Não há verdade e portanto tudo o que você diz é uma mentira.” O que, se verdadeiro, é falso. Como foi demonstrado.


Roger Scruton, “The Russian way of lying”, The Spectator, 23 de Março de 2017.

Tradução: Guilherme Pradi Adam
Revisão: Rodrigo Carmo
http://tradutoresdedireita.org

COMPROMISSO COM OS PROBLEMAS por Percival Puggina. Artigo publicado em 12.06.2017



No Brasil, infelizmente, certas desgraças vêm para ficar, fazem ninho, dão cria e são zelosamente nutridas; algumas têm fã clube e vivem sob a proteção da tesouraria. ”E as soluções?”, perguntará o leitor mais proativo. Pois é, meu caro, aí é que está. Nosso país não tem compromisso com soluções, mas com problemas. Quanto maior for a encrenca, mais sólida será a adesão nacional àquilo que lhe dá causa.


A alavanca com a qual Arquimedes afirmou que poderia mover a Terra se lhe dessem um ponto de apoio não serve para o Brasil. Parece não haver braço de alavanca nem ponto de apoio capazes de abalar a inércia nacional em relação a suas principais dificuldades. Em compensação, por aqui, nada é mais sólido do que uma boa conversa mole, que se resume em encontrar razões para deixar tudo como está. Os acontecimentos – sim, há fatos acontecendo – terríveis, assustadores, vexatórios, em nada alteram a alma do país. O poder público continua escrevendo o roteiro, dirigindo a peça, escolhendo os atores. E embolsando a bilheteria. Lê-se em toda parte que o Brasil tomará jeito quando os brasileiros aprenderem a votar, o padrão cultural e socioeconômico da sociedade avançar, houver menos pobres. Verdadeira mixórdia de causas e efeitos que transforma a borda do poço em opressivo horizonte.


Tome, por exemplo, a questão da insegurança pública. Apenas uma corrente de opinião muito minoritária, minúscula, é contra legislação penal mais rígida e penas que desestimulem a atividade criminosa. No entanto, o que está em vigor é o desencarceramento e a total leniência, inclusive para com crimes de maior potencial ofensivo. Por quê? “Porque só prender não resolve”, respondem, como se tal frase contivesse um argumento e refutasse a verdade esférica de que bandido preso perturba menos do que bandido solto.


O mesmo tipo de raciocínio, que quebra, na prática, a alavanca de Arquimedes, é usado quando se apresenta o parlamentarismo como ponto de apoio para resolver o problema institucional no Brasil. “Só isso não resolve”, repetem. Claro que só isso não resolve! Precisamos, também, de alguma forma de voto distrital, de cláusula de barreira que reduza o número de partidos, de uma justiça mais disposta a julgar casos de corrupção e mau uso dos mandatos eletivo e de tudo, absolutamente tudo mais que a divergência queira incluir. Mas não bastará! Insatisfeitos, retornarão em ares de xeque mate: “No parlamentarismo, com esse Congresso, o chefe do governo vai ser alguém tipo Renan Calheiros ou Rodrigo Maia”.


Desculpem-me os eleitores de uns e de outros, mas não parece justa essa restrição num país que, por conta própria, elegeu Collor, reelegeu FHC, deu dois mandatos para Lula e outros dois para Dilma. Se é para usarmos o instituto da eleição direta para produzir resultados assim, continuo preferindo o parlamentarismo, no qual o eleito por via direta será apenas chefe de Estado e não exercerá, simultaneamente, a chefia de governo. No presidencialismo, “the winner takes it all”, como cantou Meryl Streep. O vencedor leva tudo; e leva mesmo.


O que nosso presidencialismo chama de “instituições funcionando” é isso que você vê. É assim que elas “funcionam”, gerando crises sem solução, criando instabilidade política, retração das atividades econômicas, desconfiança externa e interna, e sérios danos à vida de todos. No parlamentarismo também existem conflitos e disputas, mas a facilidade com que os governos são substituídos estabiliza a democracia e produz uma vida política sem sobressaltos. (Leia a íntegra do artigo em zhora.co/percivalpuggina).

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- domingo, fevereiro 27, 2011 RELIGIÕES E CHOCOLATES

Ateu, sou um estudioso de religiões. Penso que jamais entenderemos o mundo se não entendermos as religiões. Os homens morrem e têm medo da morte. Apelam então a ilusões para combater a intempérie metafísica. Karen Armstrong é minha historiadora das religiões predileta. Conhece os textos religiosos como poucos. Muito aprendi com ela, tanto em Uma História de Deus como em A Bíblia. Comecei há pouco a leitura de Em Defesa de Deus. (Voltarei ao livro, quando chegar ao ponto final).

Já na introdução, a autora escreve: "não praticamos e, por isso, perdemos a aptidão para a religião". Como a natação, religião exigiria um aprendizado e uma prática. Ora, não vejo a coisa por esse lado. Assumir uma religião implica crer em um deus. Existe ou não existe? Se não existe, de nada adianta nadar. A proximidade da morte mexe com os mortais. É espantoso ver como pessoas inteligentes apelam a acrobacias intelectuais para partir numa boa. Minha concepção de religião coincide com a de Fernando Pessoa, em "A Tabacaria":

Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.


Sou um estudioso de chocolates, portanto. Penso que o estudo desta peculiar chocolataria - ou chocolatria, como quisermos - deve interessar a todo homem culto. Leio na Folha de São Paulo que 98 mil colégios no Brasil, públicos ou privados, oferecem esta disciplina, segundo censo da educação básica do MEC. "O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta uma professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"

Aqui começa a enganação. Só crianças, em sua insciência, conseguem engolir potocas, tipo o mito da criação do universo em sete dias, do pecado, Eva e a maçã, dilúvio universal, Moisés dividindo as águas do mar, Josué parando o sol, sem que a terra desse sequer um solavanco. Segundo Armstrong, na maioria das culturas pré-modernas havia duas formas de pensar, falar e adquirir conhecimento. Os gregos as chamavam de mythos e logos. Ambas eram essenciais e não se considerava uma superior à outra; elas não conflitavam, mas se complementavam.

Segundo a teóloga, o mito nunca pretendia ser o relato preciso de um acontecimento histórico. Era algo que, de algum modo, aconteceu. Mas acontece o tempo todo. “No entanto, para o mito ser eficaz, não bastava que se acreditasse nele. O mito era, essencialmente, um plano de ação. Podia colocar o indivíduo na postura espiritual ou psicológica correta, porém cabia a ele dar o passo seguinte e fazer da ‘verdade’ do mito uma realidade em sua vida”.

Armstrong, ex-freira, recidivou. Considera o mythos tão importante quanto o logos. Ora, mythos é a mentira institucionalizada. Aqui começa o problema do ensino de religiões nas escolas. Segundo a Folha, o fundamento deste ensino está na Constituição, que determina que a disciplina deve ser oferecida no horário normal da rede pública, embora seja opcional aos estudantes. Escolas particulares não precisam oferecê-la, mas, se assim decidirem, podem obrigar os alunos a assistirem às aulas. No entanto, a lei proíbe que seja feita propaganda religiosa e as queixas devem ser feitas aos conselhos de educação.

Sempre defendi o ensino de história das religiões na escola. Mas atenção: de história das religiões e não de religião. Quem impedirá, no entanto, um papista de ensinar o mythos e não o logos? Para ensinar religião, geralmente são chamados os padres católicos e estes, é claro, puxam brasa para seus assados. O professor mais adequado para falar de religiões seria, a meu ver, um ateu. Que expusesse com isenção as diferentes doutrinas e deixasse aos alunos o direito de optar por uma delas. Ou por nenhuma.

Um rabino diria: Deus é um só e fim de papo. Já o papista ajuntaria: Deus são três em um só, Cristo é o filho mas também o pai, isso sem falar no Espírito Santo. Ao impor a Igreja de Roma o dogma da Trindade, Constantino criou um problema póstumo para a Maria. Mãe de deus ou mãe de Jesus? Mãe de Jesus, disseram alguns. Mas Jesus é Deus. Então mãe de Deus. Mas Deus, o velho Jeová, precede Maria. Como pode ser a filha mãe do pai? É o velho problema da Teotokos – mãe de Deus – que tanto perturbou os teólogos do medievo.

Mas divago. Falava do ensino religioso. Leio na Folha que em 1997, meses antes da visita do papa João Paulo II ao Brasil, o governo federal retirou da lei dispositivo que proibia o Estado de gastar dinheiro público com o ensino religioso. Em 2008, nova polêmica surgiu quando o Brasil assinou com o Vaticano acordo que previa que "o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental".

A controvérsia teria sido a menção explícita ao catolicismo, vista por alguns como privilégio a uma única religião. Em verdade, quem domina o ensino religioso no Brasil é a Igreja de Roma. Que não vai admitir de bom grado que se ensine nas escolas outros mitos que não os seus. Sem falar que, fosse esta idéia aceita, o cerebrinho dos adolescentes viraria geléia. Imagine um aluno tendo de ouvir pregações de católicos, evangélicos, protestantes, espíritas ou umbandistas.

Ou talvez não. A existência de tantos deuses é a prova cabal de que nenhum existe.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- segunda-feira, fevereiro 28, 2011 20 ANOS ESTA NOITE: DO FÓSFORO VERDE AO IPAD

O primeiro computador a gente nunca esquece. O meu, comprei-o em 90, quando vivia em Curitiba. Era época em que os PCs eram caríssimos no Brasil. Telefonei para Asunción e pedi um. Qual você quer? Não sabia. Eu nem sabia muito bem para servia um computador. Intua que era algo útil para escrever. Quero o mais avançado, mais potente, respondi. Do outro lado da linha, apenas pediram meu endereço e disseram que eu receberia a máquina em dois dias.

No ano anterior, havia caído Alfredo Stroessner. Mas o Paraguai em nada mudara e continuava sendo uma solução para muitos brasileiros. Eu já descobrira, vários anos atrás, as conveniências do país vizinho. Quando comecei a viajar, nos anos 70, a Varig tinha o monopólio das linhas aéreas no Brasil e impunha preços leoninos. A solução eram as Líneas Aéreas Paraguayas, a LAP. Para felicidade geral dos brasileiros, a Varig acabou morrendo, morte que antecipei em 2004, na crônica “Morte à Varig”.

Desde os 70, eu viajava para o exterior, praticamente quase todos os anos, e sempre evitei a empresinha infame. Minhas primeiras viagens foram por mar, é verdade. Mas quando a falta de tempo me obrigou a voar, meu primeiro vôo foi pela LAP. Não lembro de tarifas nem da moeda da época - suponho que cruzeiros - mas o preço da passagem era um terço do preço praticado pela Varig. Havia um porém. A LAP não podia pegar passageiros no Brasil e levá-los diretamente à Europa. Tinha de voltar a Asunción e de lá repartir para a Europa.

Brasileiro pode ser besta, mas há uma considerável parcela que não o é. Esta parcela era mais que suficiente para lotar qualquer vôo da LAP. A empresa tinha de partir de território paraguaio, mas nada exigia que o avião aterrissasse em território paraguaio. Ora, aterrissar e decolar são operações que consomem não poucos dólares. Como não havia um só assento vazio no avião, este apenas sobrevoava Asunción e embicava rumo ao Norte. Várias vezes, sem querer, sobrevoei a capital paraguaia, sem jamais pôr os pés por lá. Voar pela Varig era rasgar dólares.

Na época, comprar computador no Brasil também. Meu PC do Paraguai custou-me quatro mil dólares, muito mais barato do que aqui. Chegou pontualmente dois dias após meu telefonema. Para comprar um, no Brasil, era necessário preencher um longo cadastro, com RG, CPF, endereço e sei lá mais o quê. Meu agente de operações internacionais não me pediu nada. Pegou os dólares – não aceitava moeda nacional – disse tchau e se foi.

O monitor era de fósforo verde. Mais ainda: era a época do DOS. Comprei livros para decifrar o sistema operacional e afixei na parede uma longa lista de comandos. As novas gerações certamente não conheceram isso. Disco rígido, 40 Mb. Atenção, eu disse megabytes. Outro dia, esteve aqui em casa um técnico e eu lhe falei de meu primeiro pendrive, 42 megabytes. Ele não acreditou. “Isso não existe”. Tive de furungar meus baús para provar-lhe que um dia havia existido. Maior que o HD de meu primeiro computador. Ano passado, comprei em Rivera um pendrive de 16 gigas, e não comprei maior porque não preciso. Por cerca de 200 reais. Uma memória 16 mil vezes maior que a de meu primeiro HD, por um preço, ao câmbio de hoje, 33 vezes menor.

Isto num espaço de vinte anos. É reconfortante. De lá para cá, tenho renovado meu PC a cada cinco anos, mais ou menos. Mas a indústria informática está exagerando. Ano passado, comprei um netbook Vaio, diminuto e extremamente portátil, a rigor cabia no bolso de minha parka. Eu tinha um notebook Itautec, que me servia mais como back up, recurso para eventuais panes no PC e talvez para viagens. Monitor 17 polegadas, o que se revelou incomodo e pesado na hora de viajar. Optei então pelo Vaiozinho. Que acabou sendo desconfortável na hora de digitar. Ao viajar, tenho preferido cybercafés. O Vaio ficou meio esquecido aqui em casa, em meio às tralhas eletrônicas que a gente junta.

Eis senão quando leio no New York Times: “Lembra-se da Última Grande Novidade na informática? Você estará perdoado se tiver esquecido que foi o netbook, um laptop pequeno nas dimensões e no preço, cerca de US$ 300. Hoje, a febre são os tablets como o iPad, da Apple, e seus concorrentes de marcas como Dell e Hewlett-Packard. Mas, em 2009, os netbooks eram vistos como a força que poderia alterar a economia do setor e abalar líderes como Intel e Microsoft”.

Em menos de um ano, obsolesci. O NYT continua: “As vendas de netbooks foram meteóricas em 2009, octuplicando nos EUA e chegando a 7,5 milhões, e triplicando no mundo para atingir 34 milhões. Os netbooks continuam bem em mercados mais preocupados com o preço, como os da China e América Latina, e nas vendas para escolas. Mas o crescimento estancou em 2010”.

Justo no ano em que comprei meu Vaio. Isso é o que dá viver em Terceiro Mundo. Acabamos comprando o que já se tornou obsoleto no Primeiro. Eu o comprei pensando em portatibilidade. Foi compra equivocada. Pode ser portatibilíssimo. Mas é uma tortura na hora de digitar. O top agora é o iPad. Mas já estou curtido. Em Londres, em dezembro passado, andei brincando com um iPad. Me pareceu uma bobagem, brinquedinho para exibir em bares. De digitação desconfortável, não é bom companheiro de viagem. Mas, pelo que leio, já está virando peça de museu.

Em abril, chega o iPad 2. Essa gente está exagerando. Um produto já não dura mais que um ano. Em verdade, exploram a excitação dos jovens ante as novidades. Juventude é imaturidade. Pessoa sensata não fica comprando tralhas só porque são novas. Talvez um dia eu chegue lá.

Mas vou esperar pelo iPad 10.

CÃES COM DONOS SEM EDUCAÇÃO

Sai de casa o rapagão a passear com o seu cão
Sai senhora com sua cadelinha
Saem de mãos vazias
Sem pás ou sacolinhas
Prontos para bostear o mundo
Nas calçadas
Nas esquinas
Nos gramados dos canteiros centrais
Fazendo pisar na bosta canina
Todo adepto de caminhada
Que se torna sem querer
Um feliz proprietário
De um calçado fedorento.

O TEMPO DA VERDADE CHEGARÁ

Podemos fugir por um tempo
Dar desculpas esfarrapadas
Mas do confronto interno
Não há como escapar
Chega o dia
De ouvir o nosso eu
Encarar as nossas falhas
E saber que justificativas talvez possam consolar
Mas não resolverão os nossos problemas.

BAFO

O ébrio de todo dia
Exala um vapor azedo
Que inibe o abraço afetuoso
E coloca nos lábios do bem o medo
De conceder um beijo molhado
Ou mesmo seco
Pois ninguém gosta de beijar carniça
Nem mesmo seu arremedo.

OBSERVANDO

O canteiro central
Dois bancos com os pés no barro sob árvore robusta
O negro asfalto riscado de faixas brancas
Na sarjeta um copo descartável
Uma carteira de cigarros vazia
O poste de metal sem pintura que suspende o semáforo
O amarelo
O verde
O vermelho
Uma moça fofa atravessa a faixa com uma pasta verde nas mãos
Atenta ao perigo dos doidos e distraídos
Tantas coisas para se observar
E sentir o todo vivo ou estático que compõe a paisagem do nosso lugar.

E AGORA?

Passava ele os dias brincando de estar vivo
Deixando o tempo correr solto
Porém desesperou-se diante do vazio futuro
Quando percebeu que o trem da vida já havia passado.

PODRES

O tempo passa
E os homens podres
Com o passar do tempo
Ficam cada vez mais podres.

PUTZ!

Deveríamos proibir em todo o território nacional
A conjugação do verbo roubar
Pois a sua prática contumaz nos altos círculos
Repulsa e nos faz vomitar.

“Diz minha mãe sobre um novo casamento: Nunca é tarde para se errar de novo.” (Climério)

“A minha mulher só não me abandona por medo de encontrar coisa pior.” (Climério)
“Cara feia não me amedronta. Se corro é só por garantia.” (Climério)
“Os poderes da república enojam mais que carniça de cachorro.” (Eriatlov)


QUEBRADO

“Ando tão quebrado que  meu banqueiro é um mendigo.” (Climério)


SOLIDÁRIOS

“A boa educação de um povo próspero e gentil é sem dúvida o que nos faz solidários no transporte de bosta de cachorro na sola dos pisantes.” (Climério

TEMOS QUE NOS UFANAR

“Temos mesmo que nos ufanar do Brasil. Estamos entre os primeiros do mundo em educação e o mais importante de tudo é de que aqui não tem ladrão.” (Climério) 

AVÓ NOVELEIRA

“Dilma é uma mulher desnutrida de inteligência.”


AVÓ NOVELEIRA



“Ópera? Não conheço nada de ópera. Só ouvi falar de um tal Babeiro de Sevilha, também chamado de Fígado.”