Moisés, podemos dizer, nasceu ladrão. Não tinha
sete anos e já roubava bolas de gude, figurinhas e gibis dos amiguinhos.
Adolescente, cigarros e bebidas. Um dia seu pai cansado de tudo, pois era um
homem de bem, cortou fora suas mãos para que parasse com as gatunagens. Não adiantou.
Moisés passou a roubar com os pés.
domingo, 6 de maio de 2018
NA LOJA DE BEBIDAS
Um
uísque Passport puxa conversa com uma Caninha 51.
-E aí
irmã, quente não?
-Não
sou sua irmã!
-Como
não?
-Você
é uísque, eu sou cachaça.
-Então
não somos irmãos?
-Não.
-Melhor
assim.
-Melhor
por quê?
-Não
sendo irmãos podemos namorar.
-Sai
fora,! Não gosto de estrangeiros. Ainda
mais se vier com gelo.
-Preconceituosa
então, só me faltava essa.
-Sou
mesmo assim.
-Nem
uma bitoquinha?
-Sem
chance.
-Magoei.
Tomara que você caia dessa prateleira e se quebre toda!
-É
praga é? Então tomara que gelem você com gelo de xixi.
E
daquele dia em diante não mais se falaram. Ela não caiu da prateleira e foi
vendida para um churrasqueiro. Ele foi gelado com cubos de água de coco e
desapareceu feliz.
NA DESPENSA
Um pedaço de queijo dando sopa na despensa. Dois ratos
estranhos entram no local ao mesmo tempo. Olham um para o outro e hesitam em
avançar sobre o alimento.
-Acho que cheguei primeiro, não?
-Creio que não. Chegamos juntos.
-Temos um impasse. Que faremos? Na sorte?
- Pode ser. Tem aí uma moeda?
-Não.
-Então penso que teremos que decidir no dente?
-Vai ter que ser.
- Antes pense bem, sou mais dentuço.
-Até parece.
-Quer fazer um último pedido? Uma cartinha de
despedida?
-Quem deve fazer é você. Tem família?
-Tenho. Cento e cinquenta filhos.
-Família pequena.
-E você?
-Um pouco menor que a sua.
-Deixou testamento?
-Deixei. E...
-Também deixei.
Nisso ouviram uma voz:
-Por que vocês palhaços dois não dividem o pedaço
de queijo?
Enquanto pensavam se dividiriam em partes iguais ou
não o gato que havia dado a ideia comeu os dois.
NA LUA
ANO DE 2200, fábrica de componentes eletrônicos na
Lua. O diretor cansado de tantos erros cometidos por distrações manda um recado
para todos os funcionários:
“Senhores, peço encarecidamente pelo bem da empresa
e dos vossos empregos que mantenham suas cabeças no mundo da lua.”
O REI PAVÃO
No
Reino das Penosas, o Rei Pavão
discursava.
“Eu
sou o mais belo, o mais inteligente, o mais feroz, o mais iluminado, o mais
honesto dos seres do planeta...”
“...peraí,
falou uma codorna o meio da multidão, cortando o discurso do rei.”
O Rei
Pavão perguntou- “Alguma objeção pequena e feia ave?”
A
codorna- “Mais honesto sei não, lá no Brasil tem um tal de Lula.”
Era
uma vez uma codorna...
PAPO NO TONEL
Tempestade, sem luz, escuridão total, os dois
dentro de um tonel.
-E aí? Cão?
-Cão. E aí?
-Cão também.
-Macho?
-Macho.
-Desculpe por perguntar, estamos molhados, não
consigo cheirar direito.
-Sem problemas.
-Tem casa?
-Não. E você?
-Estou na rua faz um bom tempo.
-Vida de cachorro
das antigas, não é?
-Se é.
Alguns nascem de bunda pra lua, tudo de bom; teto, comida e cama quente.
Outros...
-Depois da tempestade vai fazer o quê?
-Acho que vou revirar uns lixos. Preciso comer.
-Posso ir junto? Tive casa até ontem, não tenho
muita prática em revirar lixeiras.
-Sem problemas. Mas você não é enjoado, é?
-Não, como de tudo.
-Então tá, dupla formada.
A GELADEIRA
Manuel trabalha num frigorífico como magarefe. Faz
extra e bicos também, mas o grande desejo da mulher ele não consegue realizar.
Todo santo pagamento ele chega em casa e sua mulher ainda na porta berra:
-Comprou a geladeira nova, Manuel?
E lá vai o Manuel todos os meses dar explicações
sobre a impossibilidade momentânea da aquisição por ela pretendida. E tome xingamentos
e menosprezo!
Porém no mês passado Manuel saiu do sério. Atacado
que estava da dor ciática, chegou em casa e a mulher estrilando:
“Comprou minha geladeira, Manuel, comprou?”
“Comprei mulher, comprei”!...
“De que cor você comprou a minha geladeira meu
bem?”
“Comprei da cor do teu rabo!”
“Mas meu amor, você bem sabe que eu detesto roxinho
claro!”
UMA NOVA VIDA
Naquele dia Arnaldo estava um traste. O céu era
marrom, a saliva tinha fel. Queria um abismo só para chamar de seu. Chegou em
casa e foi direto para o canil. Mandou o Duque para dentro da residência e se
deitou na casinha do cão. Espreguiçou-se, lambeu os beiços e passou a roer um
osso. Antes da meia-noite já estava latindo para os passantes.
POR LIVRE OBRIGAÇÃO
Paulino corria pelo campo aberto e de vez em quando
olhava para trás. O suor descia pelo rosto, os pés doíam, os dedos faziam força
para fugir dos sapatos. O sol ardia na pele e as bochechas estavam em brasas.
Uma pequena brisa amainava um pouco o mal-estar do calor. Quando subia uma
pequena elevação pedregosa teve que esquivar-se de uma cobra cascavel. Adiante
se deparou com um encontro de escorpiões, tendo que dar saltos acrobáticos para
escapar ileso. Passou por uma cerca de fazenda e foi recebido a tiros pelos
peões. Vomitou de medo e cansaço. Depois atravessando um milharal foi corrido
por porcos do mato. Olhou para trás e viu à distância homens montados em
velozes cavalos vindos em sua direção. Não demorou muito para desmaiar diante
de um muro de pedra. Foi logo alcançado pelos cavaleiros, medicado e levado de
volta à cidade. Após ser lavado, vestido e perfumado, foi entregue à noiva na
porta da igreja.
A TRANSFORMAÇÃO
Não importava o sol abrasador que torrava os
miolos. Não importava o odor terrível que emanava daqueles latões de lixo,
tanto que até urubus passavam por perto usando máscaras. Mas Demétrio não se
importava; lá estava ele todos os dias mexendo em tudo, fedendo ele próprio
mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há anos não sabia o que era
uma carícia das águas que não fosse da chuva. Carregava moscas pelo rosto todos
os dias, como se fosse um lotação de insetos, sendo algumas também embarcadas
nas orelhas. Vivia, comia e dormia na imundície, lugar mais sujo impossível. O
corpo adornado de perebas já nem se importava mais. Assim foi por muitos e muitos
anos. Porém um dia acordou sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para
algumas ratazanas com segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora
os gostos de um rato, bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim,
transformara-se num rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de
Kafka, o Demétrio rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns
dias até ser comido por um gato esfomeado.
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