domingo, 17 de setembro de 2017

HUGO

Hugo é um paraibano de trinta e seis anos, natural de João Pessoa e que nasceu com sete dedos na mão direita. Tem dois filhos pequenos e trabalha na construção civil como pedreiro. No momento está construindo sua própria casa nas horas de folga. Hugo é um exemplo de boa gente e trabalhador. Não vive de favores de compadres e escumalha, é honesto com seus sete dedos e ao contrário de certos tipos que mesmo tendo apenas quatro dedos numa das mãos se locupletam fartamente com dinheiro público sem ficar rubros.

ISCA

Bernardo, trinta anos, sempre foi um sujeito azarado. Certo dia de sua podre existência foi dormir como homem e quando acordou estava transformado numa minúscula e feia minhoca. Resignado com sua nova forma enterrou-se numa terra úmida para cumprir sua jornada. Pois não demorou dois dias quando arrancaram ele de onde estava para servir de isca na pesca de jundiás.

PAPO DE TONEL

PAPO DE TONEL

Tempestade, sem luz, escuridão total, os dois dentro de um tonel.
-E aí? Cão?
-Cão. E aí?
-Cão também.
-Macho?
-Macho.
-Desculpe por perguntar, estamos molhados, não consigo cheirar direito.
-Sem problemas.
-Tem casa?
-Não. E você?
-Estou na rua faz um bom tempo.
-Vida de cachorro  das antigas, não é?
-Se é.  Alguns nascem de bunda pra lua, tudo de bom; teto, comida e cama quente. Outros...
-Depois da tempestade vai fazer o quê?
-Acho que vou revirar uns lixos. Preciso comer.
-Posso ir junto? Tive casa até ontem, não tenho muita prática em revirar lixeiras.
-Sem problemas. Mas você não é enjoado, é?
-Não, como de tudo.
-Então tá, dupla formada.

“A última vez que vi Deus ele estava escondido dentro do Valdemiro Santiago.” (Mim)


“Não existe patudo maior que um ser que não responde a um cumprimento. Sirva o milho.” (Mim)

DOMINAÇÃO

Dominação não é amor
É dor
Ato que subtrai do ser
O direito de escolha
E atropela a dignidade.

IMPOSTOS

Fosse feito bom uso dos impostos que pago
Pouca reclamação faria
Mas sinto que me roubam todos os dias
No país da impostolatria
E não se ouve um murmúrio
De que irão acabar com esta farra
Entra um sai dois
Na aldeia e na federal
E digo que é preciso muita cara-de-pau
Para se dizer feliz sendo governado por este bando de lalaus.
“Ave César e  Brutus de estilingue.” (Mim)
“A felicidade é um troféu que troca de mãos.” (Filosofeno)


“Nada mais deprimente do que ver um ignorante conformado.” (Filosofeno)
“A feiura tem encantos que a beleza desconhece.” (Filosofeno)
“O tempo é um grande apagador. Um dia seremos todos esquecidos.” (Filosofeno) 
“Um homem com etiqueta de preço é falso.” (Filosofeno)
“A besta, quanto mais besta, mais arrogante.” (Filosofeno)
“A morte. Tão natural e tanto mistificada.” (Filosofeno)
“A mãe de Hitler achava ele um anjinho. O certo é que mães também se equivocam.” (Filosofeno)
“A sorte não agracia fulano ou beltrano por merecimento. A sorte cavalga no vento, e sem escolher cai às vezes no colo de um imprestável.” (Filosofeno)
“Antes sofrer por compreender que ser um feliz enganado.” (Filosofeno)

Cada Crime Com Seu Nome. Coluna Carlos Brickmann

Vamos falar claro: nenhum empresário deu propina a políticos, nenhum político recebeu propina. A palavra propina é sinônimo de “gratificação”, ou “gorjeta”, agradecimento livre e espontâneo pela prestação de bons serviços. Não é crime. “Gorjeta” deriva de “gorja”, garganta – algo como “tome uma dose”. Equivale ao francês “pour boire” – para beber. O que esses empresários fizeram foi “suborno”; Suas Excelências foram “subornados”. Todos os envolvidos no suborno cometeram crime. Os “malfeitos” de que falava Dilma chamam-se crimes. A delação premiada foi essencial para desmascarar esse tipo de práticas. Mas deixemos de lado os eufemismos: aproveitemos as revelações da delação e desprezemos os delatores. São “caguetas”, “dedos-duros”, “alcaguetes”, “X9” – seres desprezíveis, que jogam cúmplices no fogo para salvar os próprios rabos sujos. Seres que não se envergonham de ostentar, perante filhos e família, a pena reduzida, o símbolo da traição. Visitar o cúmplice para gravá-lo? São traidores. Que tenham tido tantos privilégios para fazer coisas tão feias mostra o nível de bandalheira a que chegou a moral do país. Na zona não há santos. Os ingleses diziam que um cavalheiro não ouve a conversa dos outros (diziam, mas ouvem; dizer era a homenagem que o vício presta à virtude). No Brasil do vale-tudo, em que milícias de policiais disputam com bandidos o controle da bandidagem, nem se faz, nem se diz. 

A novilíngua 

 Todo esse esforço para amenizar o nome tradicional dos crimes lembra um romance clássico de George Orwell, 1984. Num Estado totalitário, em que os habitantes são permanentemente monitorados por câmeras, em que até o sexo tem de ser autorizado, tenta-se mudar o idioma para uma tal Novilíngua, em que certos conceitos desapareceriam, na falta de palavras para designá-los. “Liberdade”, por exemplo, era uma palavra politicamente incorreta. Aqui, em vez de cuidar da urbanização, saneamento, transporte, passa-se a chamar favela de “comunidade”, como se isso mudasse alguma coisa. A máfia de larápios que se entupiu de dinheiro para trair eleitores vira um grupo que “recebeu propina”. Queremos clareza: ladrão é ladrão. 

E, veja, é médico! 

 Muita gente aqui tem amigos que de vez em quando viram inimigos mas logo voltam a ser amigos. Lula sempre tratou Antônio Palocci, coordenador de sua campanha vitoriosa à Presidência, seu ministro da Fazenda, indicado por ele para coordenar a campanha de Dilma, imposto por ele para a Casa Civil da nova presidente, como amigo de fé e irmão camarada, daqueles de se guardar do lado esquerdo do peito (lado do coração e da carteira). Agora, caguetado, eis o que disse do amigo Palocci, que pelo jeito agora é inimigo, para Sérgio Moro: “É médico, frio, calculista, simulador”. Que é que significa, na frase, “médico?” Um dia Lula diz “Conheço o Palocci bem. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade”. “Ele espertamente diz ‘não é que sou santo’, e pau no Lula”.

 Amigos, amigos… 

 Do lado do procurador-geral Rodrigo Janot, a surpresa veio de onde ele menos esperava: de seu colega mais próximo, o procurador Marcelo Miller. Miller, um dos coordenadores da caguetagem dos dois Batista, demitiu-se da Procuradoria e começou a trabalhar no escritório de advocacia que defende os irmãos que dedaram Michel Temer. Não é comum, mas a lei permite – só que surgiram suspeitas de que Miller já orientava a defesa dos dois alcaguetes enquanto estava na Procuradoria. A Polícia Federal tem certeza de que as suspeitas são verdadeiras. Janot obteve a prisão de Miller.  

…negócios à parte 

 Enquanto cuida da frente interna, Janot aproveitou seus últimos dias como procurador-geral (a partir desta semana, o cargo é de Raquel Dodge) para apresentar nova denúncia ao Supremo contra o presidente Michel Temer e o Quadrilhão do PMDB; Segundo a denúncia, o grupo, chefiado por Temer, incluía os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, mais Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo Alves – estes quatro já presos. As fraudes em contratos da Caixa, Furnas, Petrobras, ministérios da Agricultura e da Integração, Secretaria da Aviação Civil e Câmara dos Deputados atingiriam R$ 587 milhões. 

 Calma no Brasil 

 A denúncia será agora examinada no Supremo. Se aceita, vai à Câmara, que terá de autorizar a abertura de inquérito. Não é fácil: se 172 deputados votarem contra, ou simplesmente não aparecerem, o pedido é rejeitado. 

 A festa do caqui 

 Joesley foi preso com um terço nas mãos (os outros dois terços não apareceram). Geddel chorou (e explicou: teme ser estuprado). Wesley, irmão de Joesley, diz que seu crime foi virar delator. Foi mesmo. Feio, né?
“Os homens procuram matar o silêncio. Deve ser por este motivo que é tão difícil encontrá-lo.” (Filosofeno)
“É necessário filtrar informações para preservar o próprio bem-estar. Notícias de sangue são irrelevantes.” (Filosofeno)


“A impunidade é o sêmen que fecunda dentro da sociedade os maus.” (Filosofeno)
“A maldade sempre encontra seguidores; às vezes por conveniência, às vezes por gosto próprio.” (Filosofeno)
“A cada dia novas esperanças. Mudar o que pode ser mudado e resignar-se com o que não pode e seguir em frente.” (Filosofeno)
“O melhor amigo do homem é a ocupação.” (Filosofeno)
“Lula é apenas um imbecil que é bajulado. Tem o dom da oratória que inflama os idiotas.” (Filosofeno)

O GATO JOEL

O gato Joel era supersticioso. Lia o horóscopo antes de sair de casa; de maneira alguma passava sob escadas. Andava pelas ruas arrastando trinta e quatro amuletos da sorte, entre eles uma pata de coelho. Em frente de cemitérios e igrejas fazia o sinal da cruz três vezes. Mesmo com todas essas garantias teve vida curta o nosso querido Joel. Ao desviar de uma escada encostada num obra em construção deu de cara com um Pitbull nervoso e adeus tia Chica.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- quarta-feira, agosto 30, 2006 REMEMBER KRAVCHENKO

Há personagens poucos conhecidos entre nós, e no entanto fundamentais para a compreensão do século passado. Um deles é Victor Andreïevitch Kravchenko. Pergunte a um universitário de nossos dias quem é Kravchenko. Só por milagre ele saberá de quem se trata.

Há uns quatro ou cinco anos, escrevi sobre o homem. Alto funcionário soviético que havia trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista. Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, esposa do dirigente comunistas alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.

A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo.

Estou lendo um belo regalo de um bom amigo, o Diogo Chiuso, L'Affaire Kravchenko, de Nina Berberova, escritora russa que estava em Paris durante o processo. É uma cobertura, dia a dia, dos depoimentos de Kravchenko, de seus opositores e de suas testemunhas. As mentiras dos comunistas franceses de então só encontram paralelo nas mentiras dos petistas de hoje. Edição Actes Sud, 1990. Outro relato excelente tem o mesmo título - L'Affaire Kravchenko - e é assinado por Guillaume Malaurie (Robert Laffont,1982). Quanto ao livro mesmo de Kravchenko, em sua edição francesa - J'ai choisi la liberté - só nalgum sebo parisiense, Éditions Self, 1947. Ouvi falar de uma edição brasileira, mas não tenho certeza de que exista.

Se você lê inglês, pode comprar a versão original - I chose freedom - em http://www.antiqbook.com/boox/srd/21584.shtml. Com paciência, encontra até uma versão para download grátis.

ZENEIDE

Zeneide em altas chamas esperava na janela por um marido. Após vinte e cinco anos no aguardo ele apareceu todo disposto e sorridente. Ela então montou nele e foram felizes para sempre.

PUTA QUE PARIU

Ontem à tarde estava eu numa estrada poeirenta no interior de Arapiraca, sujo e irritado com o calor, encostado num poste aguardando pelo ônibus quando pousou na estrada um objeto voador e dele saiu um ser estranho que perguntou se eu queria ir para algum lugar específico que eles me dariam carona. Respondi que desejava ir para a casa do diabo lá na puta que pariu. Então ele me respondeu que a Venezuela estava fora do itinerário. Foi então embora e sumiu entre as nuvens.

ANA ANDROPOVA E ALEXEI ROMANOV

Moscou. Ana Andropova, 40 anos, dona de casa, cinco casamentos, sem filhos, cinco vezes viúva, todos de morte natural. Alexei Romanov, agricultor, um homem bom, 42 anos, se achava também um homem de muita sorte e propôs casamento a Ana Andropova; não temia morrer cedo. Acontecido o entendimento sentimental e financeiro entres as partes, casamento realizado. Foram morar no campo e viveram felizes por mais de quarenta anos. Não tiveram rebentos. Morreram de infarto no mesmo dia e hora, sem sofrimento. Ao limparem os corpos descobriram que os dois tinham um trevo de quatro folhas vivo e crescido no ouvido esquerdo.

PELANCAS

A beleza sofre a ação do tempo
E é saudável aceitar esta verdade
Pois apesar dos esforços da medicina estética
Um dia as pelancas vencem.