quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Todo dia é dia de prêmio

TODO DIA É DIA DE PRÊMIO

Bem me quer
Mal me quer
Uma folha para lá
Outra folha para cá
Um
Dois
Três
Três é o número sorteado
Pois todo dia na família do senhor Óleo é dia de prêmio.


Em passo de tartaruga- Yoani Sánchez

Em passo de tartaruga

Humor Gráfico de Santana
Tudo se move lentamente, pesado. Até o sol parece demorar mais do que o normal lá em cima. O relógio não entende exatidão e o ponteiro pequeno atrasa. Marcar um compromisso com exatidão de três e quinze ou de dez e quarenta se torna puro pedantismo de apressados. O tempo é denso como uma goiabada com muito açúcar.
“Se estás apressado tens um problema dobrado” a empregada adverte um cliente pressionado a chegar cedo a casa. O homem sua tamborilando os dedos enquanto corta suas longas unhas antes de sequer teclar um número na máquina registradora. Ele também olha para a fila atrás com zombaria; “outro que dá uma de acelerado” chega a dizer, aborrecida, uma senhora.
Habitamos um país aonde a diligência chega a ser interpretada como grosseria e ser pontual como uma petulância próxima da superioridade. Uma Ilha em câmera lenta que tem que pedir permissão a um braço para mover o outro. Um longo crocodilo que boceja e boceja nas águas do Caribe.
Aquele que numa jornada consegue concluir duas atividades poderá sentir-se um afortunado. O comum é não poder concluir sequer uma. A cada passo sobrevém um tropeço, um cartaz de “hoje estamos fechados para dedetização”, “nas sextas não atendemos o público” ou a frase raulista “sem pressa, porém sem pausa”. Demorar, postergar, suspender, cancelar… Os verbos mais conjugados quando se trata de burocracia.
O passo de tartaruga é visto por todos os lados. Dos escritórios burocráticos e paradas de ônibus aos centros recreativos e de serviços. Porém o grande ganhador do galardão: “xarope no sangue” é o próprio governo. Três anos depois de estar conectado ao cabo de fibra óptica entre Cuba e Venezuela ainda não é possível contratar uma conexão doméstica de Internet.
Duas décadas de dualidade monetária e, contudo não se publicou um cronograma para a eliminação desta esquizofrenia econômica. Cinquenta e quatro anos de partido único e não se vislumbra o dia em que poderemos nos associar livremente. Meio século de coices e erros governamentais e nem sequer começaram a esboçar uma desculpa.
Neste ritmo um dia se rebatizará a Ilha como o país do “nunca – jamais”, onde os relógios e os calendários serão proibidos.
Tradução por Humberto Sisley

Dias para se ter a televisão desligada- Yoani Sánchez

Dias para se ter a televisão desligada

La Habana | 29/07/2014
Una mujer delante del televisor. (14ymedio)
Certos dias é melhor não ligar a televisão. Agora mesmo, só de apertar um botão, uma avalanche de propaganda oficial pelos aniversários de Hugo Chávez e Fidel Castro nos cai encima. Desde 28 de julho e até o próximo 13 de agosto, a chata programação nacional carregará a mão no culto a personalidade, o kitsch ideológico e o sentimentalismo político. Coros de crianças cantando ao “Comandante eterno”, piadas de gente vista apenas passando por uma rodovia e intermináveis ambientações biográficas nos cercam por todos os lados.
“O noticiário já não tem notícias”, queixava-se ontem um vizinho que queria se inteirar do que passa no mundo e só conseguia ver uma parada de uniformes vermelhos e verde-oliva. Nesta manhã aconteceu-me o mesmo com o primeiro informativo do dia. Uma hora depois de começar não havia podido tirar a mínima informação nacional ou internacional, só loas ao “imortal guerreiro da estirpe de Bolívar” e ao “sábio guerrilheiro que o quis como a um filho”. Tendo a ser impaciente com essas superdoses lisonjeiras, desse modo desliguei a tv e comecei a chamar vários amigos para que me contassem o que estava acontecendo aqui e acolá. Ao menos nos resta a Rádio Bemba!
O oficialismo continua enfrentando a distribuição alternativa de informação, seriados e filmes nos chamados combos ou pacotes. Entretanto não faz mudanças verdadeiras em sua programação televisiva para atrair os mais jovens. Ao invés disso converte a telinha num alto-falante de palavras de ordem  e numa sequencia de materiais enfadonhos que criam repúdio e chateiam os telespectadores. Assim jamais poderão recuperar o terreno que perderam ante a antena parabólica ilegal, os conteúdos copiados em memórias USB e os discos rígidos repletos de documentários. Se continuarem os excessos ideológicos destes dias a televisão oficial se converterá – num curto prazo – num monólogo escutado por poucos.
Tradução por Humberto Sisley

“Se todos os terneiros do rebanho quiserem mamar na mesma vaca ela morrerá de fraqueza. E assim acontecerá com o Brasil se não passarem cola no bico dessa terneirada comunista que se apossou do nosso país.” (Mim)

Don Ignácio I- Ele fez, ele tudo sabe, sobre tudo opina, só não sabe nada dos ladrões da casa. Não os conhece, nunca os viu.

Caio Blinder- Por que mataram judeus em uma sinagoga de Jerusalém?



A cena do crime
A cena do crime
Atacar um templo é assaltar o endereço de uma religião, a sua identidade. Como a mesquita no caso dos muçulmanos, a sinagoga é o coração de qualquer comunidade judaica. Assim, o atentado terrorista de terça-feira em ums sinagoga de Jerusalém, no qual morreram cinco pessoas, entre elas quatro rabinos, é um atentado contra o judaísmo. Mais do que incitamento e barbárie contra Israel, existe incitamento e barbárie contra judeus.
Este é o cenário de uma horrorosa espiral de violência no crônico conflito entre Israel e palestinos e, sendo mais preciso, entre judeus e muçulmanos. Um conflito nacionalista e imobiliário tem cada vez mais uma explosiva vertente religiosa. O pano de fundo é a controvérsia sobre o acesso a lugares santos em Jerusalém. Fervor é inevitável em religião e extrapola quando há mentiras e manipulação política.
Parentes dos dois primos palestinos que realizaram o bárbaro ataque à sinagoga disseram que ambos acreditavam que judeus terão permissão para rezar e não apenas visitar o lado de fora do complexo onde está a mesquita Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, e que os judeus chamam de Montanha do Templo. E as mentiras pipocam mesmo com as repetidas garantias do governo de Israel de que não haverá mudanças na política, apesar da pressão de extremistas judeus.
Há gente terrível e intolerante em qualquer país, em qualquer religião, em qualquer esquina. No entanto, vamos direto ao ponto: no dia em que terroristas palestinos decidem alvejar e massacrar judeus durante a reza em uma sinagoga fica patente a noção de que os judeus não têm direito a uma conexão com seu lugar mais sagrado, a Montanha do Templo, e por extensão a Jerusalém e a Israel.
Existem muitos fatores para explicar a nova espiral de violência. Vamos destacar dois: 1) não existe um horizonte diplomático no conflito israelo/palestino e 2): o Hamas e grupelhos similares. O Hamas, que controla Gaza, semeia ventos (foguetes e incitamento ao terror) e está ansioso para colher tempestades. Para o Hamas, quanto mais represália israelense, melhor. Quando mais martírio, melhor.
Outros atores palestinos e também israelenses têm culpa no cartório, mas a maior culpabilidade é do Hamas, E aqui está o paradoxo. O Hamas vai continuar a encorajar ataques terroristas enquanto Israel evitar outra grande reação. E Israel, apesar de carecer de um genuíno ímpeto diplomático, vai evitar ao máximo um confronto com o Hamas.
Políticos têm dupla linguagem. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu faz média com a extrema-direita israelense e pede calma. O líder moderado palestino Mahamoud Abbas fala em “contaminação” judaica nos lugares santos de Jerusalém e pede calma. Nada que se compare ao Hamas, que não pede calma. O grupo endossa o terror no atacado e celebra a morte de civis mortos em atentados. Jeffrey Goldberg, guru desta coluna, diz que o Hamas deve ser visto pelo o que é: um grupo com genuínas intenções genocidas.
O Hamas qualificou o massacre de judeus que rezavam em uma sinagoga como uma “reação natural e heróica”. Há 20 anos, um judeu fanático, Baruch Goldstein, assassinou 29 fiéis palestinos que rezavam em Hebron. Na ocasião, o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, assassinado no ano seguinte por um judeu fanático, disse sobre Goldstein: “Você não é parte da comunidade de Israel. Você é uma erva daninha”. O Hamas cultiva as ervas daninhas. O endosso da morte de judeus rezando na sua cidade santa confirma que seu objetivo é a erradicação de Israel e dos judeus.
Como arremata Jeffrey Goldberg, a raiz do conflito continua sendo a indisposição de muitos muçulmanos palestinos para aceitarem a ideia de que os judeus têm direitos na terra dos seus ancestrais. E no caso do Hamas e de grupos similares, que os judeus têm o direito de viver.
***

Ambição e Poder- Emil Cioran

Ambição e Poder
Examinemo-nos no momento em que a ambição nos trabalha, em que lhe sofremos a febre; dissequemos em seguida os nossos «acessos». Verificaremos que estes são precedidos de sintomas curiosos, de um calor especial, que não deixa nem de nos arrastar nem de nos alarmar. Intoxicados de porvir por abuso de esperança, sentimo-nos de súbito responsáveis pelo presente e pelo futuro, no núcleo da duração, carregada esta dos nossos frêmitos, com a qual, agentes de uma anarquia universal, sonhamos explodir.

Atentos aos acontecimentos que se passam no nosso cérebro e às vicissitudes do nosso sangue, virados para o que nos altera, espiamos-lhe e acarinhamos-lhe os sinais. Fonte de perturbações, de transtornos ímpares, a loucura política, se afoga a inteligência, favorece em contrapartida os instintos e mergulha-os num caos salutar. A ideia do bem e sobretudo do mal que imaginamos ser capazes de cumprir regozijar-nos-á e exaltar-nos-á; e o feito das nossas enfermidades, o seu prodígio, será tal que elas nos instituirão senhores de todos e de tudo.

À nossa volta, observaremos uma alteração análoga naqueles que a mesma paixão corrói. Enquanto sofrerem o seu império, serão irreconhecíves, presas de uma embriaguez diferente de todas as outras. Tudo mudará neles, até o timbre da voz. A ambição é uma droga que faz um demente em potência daquele que se lhe entrega. Esses estigmas, esse ar de fera desvairada, essas linhas inquietas, e como que animadas por um êxtase sórdido, quem não os tiver observado nem em si próprio nem em outrem permanecerá estranho aos malefícios e aos benefícios do Poder, inferno tónico, síntese de veneno e de panaceia.

Fonte- Citador


Emil Cioran, in 'História e Utopia'

IMB-A economia é a filosofia da tolerância

O mundo é repleto de esnobes. Há o esnobe da música, que é aquela pessoa que reclama que a maioria das pessoas prefere Lady Gaga a Stravinsky. Há o esnobe do cinema, que reclama que a maioria das pessoas prefere filmes de ação a filmes de arte. Há o esnobe da literatura, que reclama que a maioria das pessoas prefere 50 Tons de Cinza a Schopenhauer. E há o esnobe da culinária, que reclama que a maioria das pessoas prefere pizza a um fino sashimi.

Ou seja, qualquer que seja o assunto debatido, é tentador fazer um julgamento crítico sobre a preferência dos outros.

O bom economista, ao aprender economia e ao absorver suas lições, aprende a ser menos esnobe. Sua análise econômica sempre parte do princípio de que as preferências das pessoas já estão por elas determinadas, e que ele nada pode fazer quanto a isso. O bom economista, ao testemunhar uma pessoa pedindo pizza em vez de sashimi, vê apenas uma pessoa agindo com o intuito de alcançar um objetivo que ela, subjetivamente, considera ser o melhor. O bom economista é aquele que sabe deixar de lado suas preferências pessoais e suas eventuais propensões à soberba para fazer uma análise sem juízo de valor.

Mesmo termos corriqueiros como "responsável" ou "irresponsável" estão carregados de juízo de valor. Atividades que reconhecemos como responsáveis, tais como poupar para a aposentadoria, evitar riscos para a vida ou para os membros do corpo, e ter um estilo de vida saudável são comportamentos consistentes com um arranjo específico de preferências. Uma pessoa que dê mais valor ao futuro do que ao presente (em termos mais economicistas, alguém que possui uma baixa preferência temporal) irá preferir todos esses comportamentos.

Já atividades que reconhecemos como irresponsáveis, tais como gastar perdulária e depravadamente, correr risco de morte desnecessariamente, comer porcarias e utilizar drogas também são comportamentos consistentes com um arranjo específico de preferências. Uma pessoa que pensa mais no presente e pouco se importa com o futuro (em termos mais economicistas, alguém que possui uma alta preferência temporal) será atraída por algumas dessas atividades.

A ciência econômica nos permite entender essas diferentes preferências e suas consequências; mas, por si só, ela não nos permite fazer juízo de valor; ela não nos permite determinar se um determinado arranjo de preferências é superior a outro.

A ciência econômica não faz juízo de valor. Seu objetivo é explicar fenômenos, suas causas e consequências. E só. Juízo de valor é tarefa para a filosofia.

É bastante comum vermos um profissional bem-sucedido fazer um juízo crítico a respeito de familiares ou amigos que preferiram fazer farra em vez estudar e que por isso hoje ganham menos do que ele. Porém, ao fazer tal juízo, esse profissional está cometendo o erro de interpretar as ações dessas pessoas tomando por base suas próprias preferências. Fazer farra certamente seria um meio ruim para se alcançar o almejado objetivo do sucesso profissional, mas isso não significa que fazer farra foi a escolha errada para aqueles que optaram por isso.

Com efeito, dado que cada indivíduo está mais bem informado sobre seus próprios gostos e interesses do que terceiros, é perfeitamente factível crer que alguém que escolha a farra está agindo com a intenção de satisfazer da melhor maneira possível seus fins.

O bom economista, ao estar treinado para observar as ações de terceiros sem fazer juízos de valor, acaba sendo mais tolerante em sua vida pessoas. Recentemente, o economista Russ Roberts disse gostar de "dar dinheiro para os miseráveis principalmente quando sabe que eles irão gastar esse dinheiro com drogas e álcool. Afinal, quando você está desesperadoramente miserável, drogas e álcool podem ser exatamente aquilo que você mais quer". Creio ser seguro presumir que Roberts, um economista com Ph.D., jamais esteve em um situação tão desesperadora quanto essa. E, ainda assim, ele demonstra seu respeito pela autonomia dessas pessoas e também pela capacidade delas de escolher por si próprias. Ao agir assim, ele demonstra não se preocupar com o conteúdo das escolhas dessas pessoas. O que ele realmente não está fazendo é projetar sobre elas suas próprias preferências.

Há uma corrente da economia moderna que quer reintroduzir o juízo de valor a respeito das preferências de terceiros. Essa corrente é derivada da economia behaviorista, a qual tem o objetivo de mostrar que as pessoas não se comportam "racionalmente" (no sentido neoclássico) ao buscarem seus objetivos. Segundo essa corrente, as pessoas são impulsionadas por vários erros, influências e propensões.

Armado com as ferramentas de economia behaviorista, aquele nosso profissional bem-sucedido poderia alegar que seus amigos e familiares menos responsáveis foram, na realidade, vítimas de influências. Ou seja, quando eles optaram por farrear em vez de estudar, eles não estavam verdadeiramente agindo com o intuito de alcançar, da melhor maneira possível, seus objetivos. Eles estavam agindo de uma maneira consistente com suas preferências daquele momento, mas não estavam atuando de maneira consistente com sua "verdadeira" preferência, que seria aquela que os intelectuais seguidores da economia behaviorista estipularam ser a melhor.

O erro fundamental desse raciocínio behaviorista é fácil de ser percebido, mas só é percebido pelo economista bem treinado: não há nenhuma base teórica para definir qual comportamento representa os 'verdadeiros' melhores interesses de cada indivíduo.

Se um indivíduo possui vários arranjos de preferências inconsistentes, como seria possível afirmar que um arranjo específico é o "verdadeiro" e que todos os outros são "falsos"? É fácil deixar que nossas preferências influenciem nosso julgamento. O profissional bem-sucedido acredita que estudar em vez de farrear seria a preferência verdadeira simplesmente porque ele prefere estudar a farrear. O intelectual que preza a saúde acredita que sua preferência por salada em vez de batatas chips é a preferência verdadeira, e por isso ele faz campanha para que as pessoas comam menos batata chips e mais saladas.

O bom economista deve saber resistir à tentação de inserir suas propensões e preferências em suas análises econômicas. A tolerância criada por essa maneira de pensar é um valioso efeito colateral do estudo da ciência econômica. Ela anda de mãos dadas com a noção de que o economista é um tanto um estudioso quanto um observador neutro da sociedade, e não um mecânico ou médico. É agindo assim que os bons economistas poderão, um dia, neutralizar aqueles totalitários que querem dominar e impor sua visão de mundo sobre todas as outras pessoas.



Garrett Petersen está concluindo seu Ph.D. na Simon Fraser University. Ele possui mestrado em economia pela Queen's University e é bacharel em matemática pela University of Victoria. Descobriu a Escola Austríaca ao ler Ação Humana, de Mises.

Portal Libertarianismo- Porque os economistas amam a manipulação de preços e porque ela é tão rara

[N.T.] Este artigo foi escrito durante a passagem do Ciclone tropical Sandy pela cidade de Nova York, nos EUA.

 Eu estou entocado no meu apartamento no Brooklyn agora com minha esposa e nossas filhas pequenas. Mesmo se perdêssemos a energia e ficássemos trancados aqui por alguns dias, nós ficaremos bem; como milhões de outras pessoas ao longo da Costa Leste, nesse final de semana, nós estocamos manteiga de amendoim, biscoitos, leite em pó, água engarrafada, e feijão, tomates e atum enlatados. Os preços de todas essas coisas foram os mesmos de sempre.

Mas se o mercado tivesse dobrado ou mesmo triplicado os preços normais como resposta ao tumulto pré-furacão, nós teríamos comprado a comida da mesma forma, dado que não tínhamos tempo para comparar preços. No que concerne à maioria dos economistas, seria totalmente razoável para um mercado aumentar os preços no dia anterior ao furacão. Na verdade, isso que supostamente deve acontecer.

Se os preços não subirem quando a demanda aumentar, haverá escassez. Para um economista, prateleiras vazias num mercado são evidências que os preços estão muito baixos. Em um famoso estudo, o Prêmio Nobel Daniel Kahneman e seus coautores fizeram diversas perguntas a pessoas normais sobre precificação e justiça. Uma questão descreveu uma loja de ferragens que aumenta o preço de pás de neve de US$ 15 a US$ 20 na manhã posterior a uma nevasca.

 O preço mais alto envia um sinal ao mundo que diz: necessito de mais pás! Alguém que administra uma loja de ferragens a uma hora de distância poderia inspirar-se a colocar algumas pás no porta malas de um camionete, levando-as à cidade, reduzindo a possibilidade de escassez e, talvez, diminuindo os preços. Contudo, não é de se admirar, 80% das pessoas entrevistadas disseram que o aumento do preço das pás depois da nevada seria injusto. Presumivelmente, aquelas pessoas também diriam que é injusto que uma loja duplica os preços de comidas enlatadas no dia anterior ao furacão.

 As pessoas levam tão a sério tal fato que aprovaram leis de controle e manipulação de preços em diversos estados, impedindo comerciantes de aumentar preços durante furacões e outros desastres naturais. Hoje, governadores e outros oficiais estão advertindo os comerciantes contra o controle de preços; depois que a tormenta passar, existe boa chance que ouviremos algo sobre uma pessoa que foi presa por vender geradores ou água engarrafada ou comida enlatada a preços inflacionados.

 Mas essa história será a exceção. Mesmo em estados sem controle de preços, a maioria das lojas não aumentará preços por geradores ou água engarrafada ou comida enlatada. O que levanta uma questão: Por quê? Por que o preço não sobe quando a demanda aumenta? Por que não vemos mais o controle de preços? As pessoas que Kahneman entrevistou disseram que iriam punir os negócios que aumentassem os preços de forma que parecessem injustas.

Enquanto eu teria pago duas vezes o preço normal pelos alimentos ontem, eu teria me sentido roubado. Depois que a tormenta passasse, eu poderia ter começado a comprar alimentos em outro lugar. Os negócios sabem disso. E, Kahneman argumenta, quando a teoria econômica básica entra em conflito com a percepção de justiça das pessoas, é no melhor interesse de longo prazo da empresa comportar-se de uma forma que as pessoas considerem justa. Então quando uma loja de departamento reabre depois de um furacão, o preço do feijão enlatado irá provavelmente ser o mesmo que foi na semana passada, mesmo se existir uma fila fora da porta e prateleiras vazias dentro.


 // Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Adriel Santana | Artigo original.
Autor- Jacob Goldstein

“Quem sonha sonha, quem não sonha pode deitar no caixão e chamar o coveiro.” (Mim)

Alexandre Garcia- Pra que futuro ?

O que é mais escandaloso: a privatização ilegal da Petrobras pelo PT; a reação do governo em relação a isso; ou a postura dos eleitores em relação à corrupção? É óbvio que tudo é escandaloso mas uns são piores que os outros. O uso da Petrobras pelo PT não é diferente ao uso que o partido faz dos Correios e dos bancos estatais. Como se esse patrimônio não fosse do povo brasileiro, mas do partido no poder. Como os fins justificam os meios, segundo o princípio da ausência de ética, já que o dinheiro vai para a campanha eleitoral que, por sua vez, serve para permanecer no poder, isso é considerado normal. Afinal, o povo está distante dessas questões e perto do bolsa-família. 

A reação do governo tem sido baseada no princípio acima, de que o povo está distante dessas questões. O governo finge uma coisa e faz outra. Enquanto se mobiliza para blindar o delator premiado na CPI e enquanto esvazia a investigação parlamentar sobre Petrobras; enquanto procura intimidar os delegados federais da operação lava-jato, a Presidente e seu Ministro da Justiça falam em ter dado ordens à Polícia para ser firme. Ora, os dois sabem que a Polícia Federal é orgão do estado brasileiro, não do governo, assim como o Ministério Público e o Judiciário. 

Aliás, ainda há juízes no Brasil. Se quisesse mesmo investigar, a Presidente teria há muito mobilizado a Corregedoria Geral da União e os órgãos de controle interno da Petrobras. Só estão fazendo isso agora, para efeito de vitrine. E da Austrália a Presidente ainda deu sinais que não quer a revisão de todos os contratos com as empreiteiras envolvidas, como quer o TCU. Como assim? Elas não são suspeitas? A Presidente deve saber. Afinal, ela foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras enquanto as propinas corriam soltas. 

O então presidente Lula, que nada sabia do Mensalão, obviamente nada sabia sobre o propinoduto da Petrobras. Casos óbvios de autismo. Agora o Conselho da Petrobrás quer ação civil contra o então presidente Gabrielli, pela compra desastrada de Pasadena. Para afastar as cobranças da então presidente do Conselho, Ministra Dilma. O pior fica para o fim: a reação dos eleitores. A operação lava-jato veio a público em março. Desde então, o país inteiro sabe o que se passou na Petrobras. Também sabe, pela TV, rádio, jornais, do afundamento da economia brasileira por desastres administrativos do governo. 

Corrupção e incompetência têm sido o binômio dos noticiários por meses, com situação cada vez pior. Preços sobem, endividamento familiar piora, juros se elevam, a atividade econômica encolhe levando os empregos, mas 53 milhões de eleitores aprovam tudo e 39 milhões lavam as mãos como Pilatos e não votam. Devem estar gostando. Gente indignada marca manifestações contra a corrupção e aparecem uns poucos milhares; multidões incomparavelmente maiores prestigiam parada gay ou partidas de futebol. A maioria não liga mesmo para seu próprio futuro ou de seus filhos. Mas prá que futuro, se têm bolsa de presente? -

“Não que eu seja culto, mas busco entender o mundo em que vivo. Porém quem observa à média geral vê que é sofrível. Filosofia de boteco, nada mais.” (Filosofeno)

A ilha do dr. Moreau


A ilha do dr. Moreau

O clássico da literatura A ilha do dr. Moreau, de H.G. Wells, que já inspirou mais de um filme, pode ser interpretado de diversas formas diferentes. Uma história sobre o darwinismo, um ataque à religião, uma ácida crítica social, um combate à noção de que o colonialismo poderia aperfeiçoar os “povos primitivos”, um alerta contra a arrogância científica, uma lembrança da plasticidade humana, etc. Minha preferida, sem dúvida, é a critica social, lembrando do lado bestial presente em todos nós – em uns mais do que em outros.
Recapitulando: Edward Prendick é um náufrago, e vai parar numa ilha vulcânica habitada por estranhas criaturas. Descobre se tratarem de criações do dr. Moreau, que transformava, à base de muita dor e sofrimento, animais em seres humanos, ou parcialmente humanos. Misturas bizarras, que amedrontavam o novo visitante. Seu relato da aventura foi encontrado por seu sobrinho Charles, e chegou a nós.
Ficção científica que serve para ilustrar a visão um tanto pessimista do autor em relação aos seus vizinhos. Se Wells podia falar assim de seus compatriotas da ilha britânica, escusado estou de estender suas críticas aos dias de hoje, em terras mais tropicais. Às vezes, confesso, sinto-me como Prendick preso na ilha do dr. Moreau. Seguem algumas passagens de seu relato:
Esses animais sem coragem, essas pobres coisas movidas apenas pelo medo e pela dor, sem uma faísca de bravura que as ajude a suportar um tormento… não, dessas não se pode construir um homem.
O fato de que aquelas criaturas de aparência humana não passavam de monstros bestiais, grotescos arremedos de gente, produzia em mim uma vaga incerteza sobre o que eram capazes de fazer, algo muito pior do que um medo específico.
Eles tinham sido hipnotizados, tinham aprendido que certas coisas eram impossíveis, e certas outras coisas não deviam ser praticadas, e tais proibições estavam impregnadas em suas mentes além de qualquer possibilidade de desobediência ou contestação. Ainda assim, havia algumas áreas em que o antigo instinto se chocava com as convenções impostas por Moreau, o que gerava uma situação mais instável. A série de proibições chamada A Lei – que eu os vira recitando – lutava em suas mentes contra os impulsos selvagens profundamente arraigados em sua natureza. Vim a saber que eles passavam o tempo inteiro a repetir a Lei – e a desobedecê-la.
Vendo o modo como se encolhiam, e o terror furtivo em seus olhos brilhantes, admirei-me de ter considerado em algum momento que fossem homens.
[...] como uma onda que de súbito invadisse minha mente, tive a percepção da indizível falta de sentido de tudo naquela ilha.
Devo confessar que perdi minha fé na sanidade do mundo, quando vi o sofrimento desordenado que reinava naquela ilha.
Acho que havia em sua mente a noção de que dizer palavras sem significado era usar corretamente a linguagem. Ele chamava a isso “o grande pensar”, para distingui-lo do “pequeno pensar” – os pequenos interesses comuns da vida diária. Sempre que eu fazia alguma observação que ele não compreendia, ele a elogiava bastante, pedia-me para repetir, decorava-a, e saía repetindo-a por toda parte, errando uma palavra aqui e ali, para os Homens-Animais mais pacíficos. Não dava muita importância ao que era direto e compreensível. Acabei inventando alguns “grandes pensares” bem curiosos para seu uso pessoal. Penso hoje que ele era a criatura mais estúpida que já conheci: tinha desenvolvido, do modo mais espantoso, a estupidez própria de um ser humano sem por isso perder a estupidez natural do macaco.
Vocês são capazes de imaginar a linguagem, que era nítida e exata, sofrendo um enfraquecimento, desmanchando-se, perdendo forma e sentido, voltando a ser uma mera sucessão de sons?
Percebi com mais clareza do que nunca o que Moreau quisera dizer ao se referir à “animalidade obstinada”. Estavam regredindo, e regredindo bem depressa.
Vivíamos naquele estado de equilíbrio de animais amestrados vivendo juntos na mesma jaula, caso o domador os abandonasse ali e fosse embora.
Não consigo persuadir a mim mesmo de que os humanos a quem encontro não são também parte de outro Povo Animal, ainda passavelmente humanos, mas em todo caso animais incompletamente forjados à semelhança de almas humanas; e que a qualquer instante eles também podem começar a regredir, a exibir primeiro este traço de bestialidade, depois outro e mais outro.
Vejo rostos que são perspicazes e cheios de energia; outros que são apáticos e ameaçadores; outros desequilibrados, insinceros; nenhum deles exibe a calma autoridade de uma alma impregnada de razão. Sinto como se o animal estivesse querendo brotar dentro deles; e que a qualquer momento a regressão que testemunhei nos ilhéus se reproduzirá aqui, numa escala muitíssimo maior. 
E às vezes me parecia que nem eu mesmo era uma criatura racional, mas apenas um animal a mais, atormentado por alguma estranha desordem no cérebro que o impelia a vaguear sozinho, como uma ovelha doente.
Tenho esperança, porque sem ela não conseguiria viver. E assim, entre a esperança e a solidão, dou por encerrada a minha história.
Rodrigo Constantino

“Preciso me controlar. Já estou maior que os espelhos lá de casa.” (Fofucho)

“Sogra que não cozinha bem é descartável.” (Fofucho)

“Alguns não vivem sem rádio. Outros não vivem sem um carnezinho do Magazine Luiza ou das Casas Bahia.” (Mim)

“Tenho muito para dizer... Esqueci!” (Pócrates)