sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

O Brasil é um monstro que nos engole todos os dias

Por Mario Sabino*

Dois turistas italianos entraram numa favela carioca e um deles foi executado por traficantes. Levou um tiro na cabeça e outro no braço. Ambos viajavam de motocicleta pela América do Sul. Ainda está nebuloso se foram parar na favela por engano, guiados pelo aplicativo Waze, ou se à procura de uma peça de moto. Não importa.

Recentemente, Marcelo Crivella, prefeito eleito do Rio de Janeiro, disse que pretendia ressarcir turistas roubados na cidade. Pode-se ressarcir alguém por um celular, uma carteira, uma bolsa — mas como ressarcir por uma vida?

A vida é um valor inestimável, sim, mas no Brasil não tem valor nenhum. Seja a de brasileiros ou estrangeiros. Repiso que somos o líder mundial em homicídios. São quase 60 mil por ano. Você talvez tenha mais chance de escapar da ferocidade nacional se for um mico-leão-dourado, uma ararinha-azul ou uma baleia jubarte.

Nada contra os bichos. O Brasil, contudo, precisa criar também a proteção ecológica de seres humanos decentes. Os únicos da espécie que contam com medidas protetivas eficazes, de vida e patrimônio, são os bandidos de colarinho branco.

Ao escrever “seres humanos”, veio-me à cabeça um texto de Paulo Mendes Campos, de quem tive a honra de ser amigo, ainda que no finalzinho da sua vida. Em1969, ele escreveu:

“Imaginemos um ser humano monstruoso que tivesse a metade da cabeça tomada por um tumor, mas o cérebro funcionando bem; um pulmão sadio, o outro comido pela tísica; um braço ressequido, o outro vigoroso; uma orelha lesada, a outra perfeita; o estômago em ótimas condições, o intestino carcomido de vermes… Esse monstro é o Brasil."

Os turistas italianos foram engolidos por esse monstro. Nós somos engolidos por esse monstro todos os dias.

É DA VIDA!

Finados. Florisvaldo entrou no cemitério e na fria lápide do amigo Norberto depositou flores. Ainda com um pouco de remorso agradeceu pela viúva fresca que ele havia deixado e que Florisvaldo tinha assumido. Se não fosse ele seria outro, assim é a vida, um vai outro vem, ninguém fica para semente. Olhou mais uma vez a foto do amigo rindo junto da esposa e desejou também ser feliz junto dela assim como ele fora até então. Nossa existência é mesmo engraçada pensou alto, enquanto Norberto repousa na laje gelada eu vou onde me aguarda uma cama fofa e um corpo em brasa. É da vida!

RACIOCINE

Busque a clareza no pensar
Porque não há fantasmas na estrada
Tampouco existem demônios nela
Salvo aqueles que estão nos púlpitos
Lavando mentes
Prometendo que dor e miséria garantem o paraíso
Ou que o mal ronda quem fechar a mão para o dízimo.

MANUEL

Que coisa! Manuel sempre fora um homem que não levantava qualquer suspeita. Isso foi até o dia que tomou purgante pela primeira vez e aí descobriram que ele tinha outro por dentro.

NERVOS


Nervos explodem
Coração se agita
A pressão sobe
O querer é fugir
Mesmo não sabendo para onde ir
Causa desgraça e dor sim
Um sistema nervoso
Sem controle do tamanho da sua fúria
E por causa dele é saudável contar muitos múltiplos de cem
Como também embebedar-se de chá de erva cidreira.

NA SAVANA

Marcio estava caçando leões na savana africana. Separou-se do grupo, foi em frente sem temer o pior. Depois de caminhar por meia hora deu de cara com um leão de juba enorme, não mais que vinte metros distante dele. Preparou a arma e disparou ‘clack’ falhou. O leão quieto olhando para ele. Disparou de novo ‘clack’, nada. O peludo não se conteve, ficou de barriga para cima rindo debochadamente do caçador. Quando Marcio estava se preparando para correr o leão disse: Alto lá! Não vá embora antes de fazermos uma foto com sua cabeça dentro da minha boca! Marcio voltou ao Brasil antes dos companheiros. Segundo se soube veio a nado.

GALO

Um galo pomposo
Chegou ao galinheiro
Para orgulho do seu dono bravão
Porém foi só cantar
Duas noites em hora errada
Para fazer parte do sopão.


FALSO

O abraço do falso
Não vem montado numa carranca
É todo riso e amabilidade
Inspira o amigo de fé para que distenda os músculos
Para que possam os punhais do crápula
Penetrar  a carne sem muito esforço.

ENTROU? O DURO É ACHAR A SAÍDA


Lá vai o pó pedido passagem pelas cavidades nasais
Entra o líquido para navegar pelas veias
É fumaça subindo ao céu
E seres descendo ao trágico
É relaxamento
Cores
Alucinações
Euforia
Tudo tem seu preço
Duras são as consequências
Dos momentos festivos
Pois quando o pobre dentro do inferno
O capeta fecha a porta e esconde a chave
Que poucos depois conseguem encontrar.

DONO DO TEMPO

Ano 3.050. João saiu para o quintal e observou nuvens carregadas, céu escuro, prenúncio de fortes chuvas. Foi até a máquina na sala e contrariado viu que estava programada para ambiente de chuvas torrenciais. Trocou para o canal tempo bom e um límpido céu azul surgiu sobre a residência. Gritou ”crianças, podem brincar no quintal, não irá chover! Troquei de canal!

VENTO

Vento que corre o mundo
Que derruba fruta e chapéu
É o mesmo vento que baila em redemoinho
Levando folhas caídas para o céu.

ANTES GATO

Quando jovens temos a ilusão
De que  o tempo não passará
E que a juventude não fugirá como as corredeiras de um rio
Porém a realidade bate
Quando as garotas que antes te chamavam de gato
Agora te chamam de tio.
“Quando os cadafalsos estiverem prontos será que os omissos perguntarão qual é a finalidade deles?” (Eriatlov)
“Caminho sobre brasas. Como fogo e pó de vidro. Fico dentro de uma trincheira por 48 horas com um cachorro morto apodrecendo. Tomo sopa de cobra e degusto porções de aranhas fritas. Nada me repugna. Só não me peçam para ser socialista. ” (Eriatlov)
“Do PT nada se perde, tudo se transforma em coisa pior.” (Eriatlov)
“O bom perdoa; o mau executa o bom; o justo impede o mau de agir usando a força necessária.” (Eriatlov)
“Grandes homens nascem em todos os países, sem distinção. E podemos afirmar que belas porcarias também.” (Eriatlov)
“Os medíocres para encontrar um caminho na vida precisam de luz alheia.” (Eriatlov)

FOLHA CORRIDA- FAMÍLIA

Tive pai e mãe até o dia em que minha mãe fugiu com o vizinho quando eu tinha doze anos o meu pai ficou com a vizinha por raiva e por que já não tinha mais nada para fazer além de juntar os seus quatro filhos com os sete filhos dela o que acabou fazendo da nossa casa um albergue dos diabos com colchonetes até no banheiro e uma falta de tudo até mesmo do sempre abundante pão com bananas que verdade seja dita era o cardápio dos dias de semana e também aos domingos mas nada disso é tão importante como o fato da mulher gritar mais que pastor em culto de arrecadação e não dar sossego e nomes aos filhos dela pois meu pai que sabia dar nome aos filhos pois João Paulo André Rodrigo são nomes comuns já os irmãos ganhos na roleta russa da vida se chamavam Werlilaine Wermenton Wirton Wurtenson Wesllei Wasvanesca Wislon que é diabo a carregue com tanto W o caso que ninguém mais conseguia ler ouvir rádio ou assistir tv gato tamanho era o amontoado de gente naquele casebre de quatro por nada pois até o gato e os cachorros fugiram para o bairro vizinho nem eles suportaram o inferno em que estávamos todos metidos brigas para poder comer tomar banho no tanque pois não havia chuveiro lavar o rabo e tudo mais era difícil foi o que me fez fugir de casa com treze anos para nunca mais voltar que foi a minha sorte pois soube que meu pai teve mais três filhos com a louca adoradora de w embora o Wirton tenha morrido pobre diabo de pneumonia dupla sei lá o que seja isso o caso é que nem posso aqui do norte imaginar a dificuldade de convivência naquele pequeno universo de barrigudos verminados e mais feios que temporal em alto mar.

NOÉ

Noé construiu uma arca. Ele carregou os bichos. Choveu pra mais de metro e o grande barco navegou. Noé naquela ociosidade chuvosa tinha que fazer algo. Noé então inventou os Jogos dos Bichos para passar o tempo e faturar algum. Quando as águas baixaram a Arca de Noé estava no Rio de Janeiro. E deu.

TEMPESTADE

O manto da noite cobriu a cidade dos que não voltam e trouxe junto vento, chuva e granizo. Flores mortas que cobriam as casas seguiram o vento; as que ficaram foram despedaçadas. Depois a lua surgiu e iluminou os destroços de metal, plástico, madeira e cimento espalhados pelos estreitos corredores e becos. Um pássaro tardio na fuga jazia sobre o brilho do mármore no berço de um ilustre filho da terra. A cruz mestre tombou sobre velas apagadas e pequenos vasos que estavam sob seus pés. Sobrou apenas um miseravelzinho do qual o limo já tomava conta. Dois mendigos que dormiam num jazigo-hotel conseguiram sair ilesos, pois o dito fora construído com material de primeira e obrado por mãos de quem sabia o que estava fazendo, sendo que não havia goteiras tampouco corrente de vento. Estiveram bem seguros durante o evento da tempestade. Já pequenas árvores também foram vítimas e se deitaram sobre túmulos com que num abraço. Logo ao lado na cidade vida, na cidade barulho, na cidade luz, nada, nem mesmo um ventinho soprou naquela noite. Muitos tentaram explicar, mas ninguém convenceu. Alguns mentirosos criativos dizem ter visto a figura do demônio soprando sobre o cemitério as nuvens da tempestade. Dizem...

LEI ROUANET RENDEU R$1 BILHÃO A DEZ EMPRESAS

 Dez empresas podem ter faturado mais de R$1 bilhão utilizando-se dos benefícios da Lei Rouanet, de incentivo à cultura somente entre os anos de 2010 a 2015. Os “maiores proponentes” de recursos públicos por meio do Ministério da Cultura foram compilados pelo deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos mais ativos da CPI da Lei Rouanet, que afirma sua disposição de passar o escândalo a limpo. 

 BOLSO CHEIO 

O Itaú Cultural, que certamente não tem problemas de caixa, obteve R$131,73 milhões com base nos “incentivos” da Lei Rouanet. 

 CARTÃO DE VISITA 

Somente em 2011, primeiro ano da era Dilma Rousseff, artistas “amigos” (sobretudo da Lei Rouanet) faturaram R$182,84 milhões. 

 VACAS OBESAS 

Em 2010, último ano do governo Lula, o total de recursos arrancados dos cofres públicos com a lei de incentivo totalizou R$137,43 milhões.

 CAIXINHA  

A Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira recebeu R$99,1 milhões e a Fundação Bienal, R$93,2 milhões.

Cláudio Humberto

SPONHOLZ

SPONHOLZ

“Um bom pai deve incutir em suas filhas o desejo de ser independente para que não sejam objetos de uso para brutos e covardes.” (Mim)
“A única coisa ainda transparente em algumas prefeituras é a calcinha da secretária do prefeito.” (Mim)
“A CNBB é um bando de comunistas de batina. Lavadores de mentes ingênuas.” (Mim)
“O lado bom do PT você ainda não viu e nem vai ver, pois ele não existe.” (Mim)
“Nada é o que se parece. Nem o nada.” (Mim)
“Muitos seres que possuem asas não tentam voar por medo de fracassar.” (Mim)

DE CABO A RABO

Queria um país de dirigentes austeros
Severos
Mas o que temos?
Meros gastadores
Descomprometidos
Vivendo o faz de conta da responsabilidade
Num país pra lá de falido
Corrompido até o último fio de cabelo.

PREGUIÇA

Acordando hoje com dois quatis nas costas
Exaltando a siesta mexicana
Lembrei-me da história do sujeito
Que de preguiça morria de fome na cama

Foi então que alma boa
Ofereceu-lhe vida afora
Arroz com casca em qualquer demanda
Para aplacar sua fome a qualquer hora

Sabendo disso o sujeito
Do arroz com casca e não cozido
Agradeceu do vivente a nobre  fidalguia
Mas que ante o trabalho da descasca
A boa morte preferia.

PRIMO

Ernesto  homem de boa fé
Abiu o armário e nele encontrou um esqueleto
Sem roupas e com a óssea mão direita sobre a boca
E na óssea mão  esquerda um preservativo
Por ser um homem bom
Não fez nenhuma objeção
Quando a mulher contou-lhe a história
De um primo dela distante
Que entrou no armário para pregar-lhe um susto quando chegasse
E que acabou esquecido.

MUI CORDIAL

O grande animal corre pela estrada
Na curva difícil tomba
O motorista jaz
A carga se dilacera
O povo cordial saqueia.

GARIMPEIRO URBANO

Ainda o sol não nasceu
Sopra um vento gelado pelas ruas da cidade vazia
Um solitário de casaco puído e sujo caminha de olhos  no chão
Mãos trêmulas nos bolsos
Lábios rachados e  boca seca
Procurando pequenos alentos nas calçadas e sarjetas
Pois é um garimpeiro urbano
Um garimpeiro de moedas perdidas.