Um sítio no
estado de Minas Gerais. Dentro da casa, sobre a mesa protegida por óleo de
peroba havia uma cesta. Dentro da cesta, papéis macios. Sobre os papéis, um
ovo. Dentro do ovo, um pinto. Dentro do estomago do pinto um petista
envergonhado por ter berrado por meses “Lula Livre! ”.
sábado, 11 de janeiro de 2020
RESERVA
“Tem
gente que tem medo de viajar de avião. Eu tenho medo de que médicos mexam na
minha área de lazer. Pinto e mãe não têm reserva. ” (Climério)
MINICONTO-BRINCADEIRA ANTIGA
Há
sombras rondando a minha nova morada. Elas vêm todos os dias, sem hora
determinada. São sombras silenciosas e rápidas, num piscar de olhos elas somem.
Não tenho por elas nenhum sentimento, nem medo, nem amor. Saio do meu caixão,
subo e me sento sobre um grande mármore escuro. O céu está limpo, consigo ver o
sol, mas não o sinto. Vejo as sombras escondidas detrás de um jazigo. Grito
para elas:
-Basta!
Vocês já não me assustam mais! Agora sou apenas um fantasma como vocês!
Elas
chegam até mim, se apresentam sorridentes e me contam como é a antiga
brincadeira de assustar novos mortos. Digo, "estou dentro".
MINICONTO- VILA TRISTEZA
Na terra de gente triste, tristeza é o
material que não falta. Pelas ruas de Vila Tristeza não se ouve sorrisos de
crianças e o cantar dos passarinhos. Música é algo que não se escuta. Não se
ouve também a bola quicar nos campinhos de terra e o alegre tagarelar das
comadres no final de uma tarde de verão. Andorinhas não voam perto dela,
temendo perder seu trinar. Na Vila Tristeza como o nome já diz, uma tristeza
chorosa tomou conta de todos; até as flores são aborrecidas e sem cores. Um
viajante que por ali passe, não receberá por certo um comprimento de bom dia ou
um sorriso amável; apenas o frio distanciamento de seres que vivem num mundo
estranho e sem nenhum calor humano. Quando a noite chega, todas as janelas e
portas se fecham, o mundo coletivo que pouco existe durante o calor do sol
deixa de existir por completo, é cada um por si. Na pequena vila impera o
orgulho e todos são donos da verdade.
MINICONTO- POR LIVRE OBRIGAÇÃO
Paulino
corria pelo campo aberto e de vez em quando olhava para trás. O suor descia
pelo rosto, os pés doíam, os dedos faziam força para fugir dos sapatos. O sol
ardia na pele, as bochechas estavam em brasas. Uma pequena brisa amainava um
pouco o mal-estar do calor. Quando subia uma pequena elevação pedregosa teve
que esquivar-se de uma cobra cascavel. Adiante se deparou com um encontro de
escorpiões, tendo que dar saltos acrobáticos para escapar ileso. Passou por uma
cerca de fazenda e foi recebido a tiros pelos peões. Vomitou de medo e cansaço.
Depois atravessando um milharal foi corrido por porcos do mato. Olhou para trás
e viu à distância homens montados em velozes cavalos vindos em sua direção. Não
demorou muito para desmaiar diante de um muro de pedra. Foi logo alcançado
pelos cavaleiros, medicado e levado de volta à cidade. Após ser lavado, vestido
e perfumado, foi entregue à noiva na porta da igreja.
MINICONTO- CANÁRIO DE ESTIMAÇÃO
Seu João
Maria tinha um canário, o Dodô, que trinava maravilhosamente, era a mais pura
alegria da casa, podíamos dizer que pertencia à família. Num domingo em que João Maria foi à igreja,
Renan o gato da mulher deu um jeito e pegou o Dodô. Penas, sobraram penas e
nada mais. Seu João até pensou em matar o gato, mas não. Fechou ele na gaiola e
disse:
- Agora canta
desgraçado! Você só irá sair daí quando cantar igual ao meu amado canarinho.
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