terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

ALEXANDRE GARCIA- O PESO DA TOGA

Na sexta-feira antes do Carnaval, a chefe do Poder Judiciário, ministra Cármen Lúcia, disse que “o cidadão brasileiro está cansado da ineficiência de todos nós e cansado inclusive de nosso Sistema Judiciário - temos um débito enorme.” Pois entrou o Carnaval e uma entrevista do diretor da Polícia Federal, mal traduzida pela agência Reuters, provocou de um ministro da Suprema corte, Luís Roberto Barroso, a reação apressada de intimar o diretor Fernando Segóvia a prestar esclarecimentos sobre o que teria afirmado. A Reuters em seguida corrigiu a entrevista, atenuando os termos dela e o Ministro Barroso foi alvo de chacotas nas redes, como a de que queria concorrer com as gêmeas de Ivete Sangallo no raro noticiário extra-carnaval. Ainda nessa mesma safra, o novo presidente da Justiça Eleitoral, Luís Fux, conversando com jornalistas, deu a entender que pedido de registro de candidato condenado em segunda instância nem seria atendido.

O “cidadão cansado” fica com vontade de lembrar que nem Barroso, nem Fux, nem Lula estão acima da lei. Não custa lembrar o óbvio dito por um juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos: lei é o que está na lei e não na cabeça de juiz. Domingo, à saída do Mosteiro de São Bento, o jurista Pedro Gordilho, ex-ministro do TSE e talentoso pianista e frasista, deixou em meus ouvidos: “Temos onze constituições” - uma para cada cabeça do Supremo. Em democracia, como se sabe, a origem das leis é o Povo. Que elege seus representantes para fazerem as leis ou a Constituição. Juízes não são eleitos para isso. Juízes são escolhidos, conforme determina a Constituição, para julgar a aplicação das leis. Sei que é óbvio, mas não custa repetir, porque, com as luzes da TV Justiça, aparecem cada vez mais refundadores da República e revisores da Constituição. Ah, o pecado favorito do diabo... vanitas, vanitatum...

O “cidadão cansado” de esperar pela Justiça acaba querendo linchamento e aí vaia em avião juiz do Supremo legalista que aplica a lei que os representantes dos cidadãos cansados fizeram. Se não está condenado e se não oferece perigo, está preso por quê? Juízes que soltam assaltantes na audiência de custódia estão cumprindo as leis que os representantes dos cidadãos cansados fizeram. Então, a solução para a sede de justiça dos cidadãos cansados é elegerem quem não transija com o crime nem com o criminoso, esteja o bandido de chinelo ou de gravata.

E como se não bastasse estar o “cidadão cansado de todos nós”, nós ainda desfrutamos do auxílio moradia como salário adicional, já que não corrigiram os salários pela inflação. Ainda nessa safra carnavalesca apareceu a cota de 51.600,00 reais por ano para cada um dos onze do Supremo usar em passagem aérea. Segundo o Estadão, os ministros Cármen Lúcia, Celso de Mello e Marco Aurélio nada gastaram, enquanto o ministro Luís Fux foi o que mais usou essa verba para ir ao Rio de Janeiro, onde ficou sua família. Não teriam que ser espartanos, como os militares, para serem exemplos? Também usam a espada. A espada da Justiça é a lei, onde pende a balança com os pratos da culpa e da inocência. No topo do serviço público, com salário que é limite máximo para todo servidor do Brasil, está, em conseqüência, também o maior ônus, o peso imensurável da toga.

SÓ NOTÍCIAS

MOISÉS


Moisés, podemos dizer, nasceu ladrão. Não tinha sete anos e já roubava bolas de gude, figurinhas e gibis dos amiguinhos. Adolescente, cigarros e bebidas. Um dia seu pai cansado de tudo, pois era um homem de bem, cortou fora suas mãos para que parasse com as gatunagens. Não adiantou. Moisés passou a roubar com os pés.

SAUDADE DE MAMÃE


Meu pai sempre me quis na linha e minha mãe sempre falou para eu estudar e trabalhar, ser um menino do bem, porém eu fui atrás do ganho fácil e aqui estou dentro dessa cela num ambiente hostil, dormindo quase dentro de uma privada com ratos pulgas e baratas na cama e arriscando tomar um golpe de estilete além das surras. Isso não é vida é um inferno em terra e lamento e choro a falta da boa comida, de lençóis limpos e banho quente, carinho e amor, tudo o que eu tinha e desprezei achando que era muito pouco, queria andar de carrão, roupas de grife muitas mulheres ao meu lado, tudo isso sem esforço e disciplina, só na base do pó. E o que ganhei foi ficar anos aqui chaveado e entreverado com a bandidagem de primeira linha e ficar até feliz que ninguém ainda quis pegar a minha bunda. Todos os dias chega gente nova um mais mau do que o outro, não dá para encarar sem correr risco. Espero os anos voem para que possa sair daqui.

PACIÊNCIA ESGOTADA


Dentro do supermercado um menino de aproximadamente cinco anos esperneava, gritava e chorava em altos brados sob o olhar complacente da mãe. Já havia ingerido algumas guloseimas e estragados outras, mas não estava satisfeito. A mãe dizia algumas palavras mornas e o pestinha só fazia espernear ainda mais. Alguns clientes já estavam ficando incomodados outros agoniados com a falta de atitude de quem deveria zelar pelo pequeno. Os minutos transcorriam em balbúrdia e irritação. Nisso veio pelo corredor um senhor bem idoso, vestido de maneira simples, tirou o cinto e deu três pegadas firmes nas pernas do moleque que aí sim berrou com vontade. Foi para cima da mãe do garoto e mandou o cinto no lombo dela por mais de oito vezes. O idoso era bem forte, ela ficou imobilizada. Ninguém interveio. Vendo a mãe apanhar o menino parou de chorar e começou a rir. O idoso pensou consigo: “deve ser coisa da educação moderna.” Saiu do estabelecimento aplaudido.

ASSOMBRAÇÃO


“A desgraça de um ser é morrer ainda estando vivo. Findo os sonhos só resta passar os dias olhando para o relógio.” (Assombração)


AVÓ NOVELEIRA



“Ópera? Não conheço nada de ópera. Só ouvi falar de um tal Babeiro de Sevilha, também chamado de Fígado.”


SUSPEITO


O jornal diz
Que o suspeito matou a vítima com seis tiros
Diante de vinte e cinco testemunhas
Gravação em vídeo
Pego ainda com a arma na mão
Mas o jornal repete que o elemento é apenas suspeito
Diante de tanto absurdo
Digo que suspeito mesmo é o jornal.

INDO


Muito cansado
Da hipocrisia dos vermelhos
Apanho meu tapete voador
E parto para o fim do mundo
Onde a voz estridente da canalha
Não se faz ouvir.

NATURAL


Mais de cem bilhões já passaram pelo planeta
Destes nenhum retornou
Então nascer
Crescer
Morrer
Tudo tão natural
Mas já na infância
Fomos acostumados pelos adultos
A ter medo do inevitável.

LOBO


Muitas vezes o mal se maquia
O lobo se torna ovelha
E através de manipulações e língua ferina
Tenta fazer da verdadeira ovelha
O ser que na verdade ele é.


SERVENTIA


Labutar num escritório
Nem pensar pelo tédio
Trabalho braçal
Achava pesado
Tentou ser cantor
Mas não tinha voz
Tentou ser ator
Porém não tinha talento
Então resolveu ser chupim de político
Trabalho que serve para qualquer jumento.

ENTROU? DURO É ACHAR A SAÍDA


Lá vai o pó pedido passagem pelas cavidades nasais
Entra o líquido para navegar pelas veias
É fumaça subindo ao céu
E seres descendo ao trágico
É relaxamento
Cores
Alucinações
Euforia
Tudo tem seu preço
Duras são as consequências
Dos momentos festivos
Pois quando o pobre dentro do inferno
O capeta fecha a porta e esconde a chave
Que poucos depois conseguem encontrar.

COM QUE SONHAS?


Acordar por acordar
Comer para viver
Isso todo animal faz
Agora pergunto
Para um racional
Com que sonhas tu?

MESTRE YOKI


“Mestre, quem ganha mantendo o povo ignorante e dependente?”
“Igrejas e políticos.”

MESTRE YOKI


“Mestre, o senhor já foi de esquerda?”
“Sim meu pequeno grilo falante, mas ninguém é obrigado a ficar burro para sempre.”


MESTRE YOKI, O BREVE


“Mestre, quando conseguiremos moralizar o poder no Brasil?”
“Quando do retorno dos dinossauros. Espero que eles comam todos.”