terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
MUNARO
Munaro era um homem pequeno que se tornou triste. Viúvo recente, não tinha mais prazer na vida. A depressão foi tomando conta do pequeno corpo dele; os remédios não o ajudaram. Por fim, no último domingo ele deu cabo da vida se enforcando num bonsai.
DEUS MILHO
O milharal se perdia no horizonte. Milho, deus do milho adorado, o amarelo milho da verdade infernal divino para tontos de todos os calibres. Os jovens adoradores saíram fazendo sacrifícios para o deus do milho que queria sangue para crescer. Sacrifícios foram feitos, a colheita foi boa e os seguidores saíram impunes. Mas o deus do milho não teve tanta sorte como os demais. Foi pego por uma máquina e virou fubá. Hoje pereceu como polenta na mesa de um italiano esfomeado, rodeado por queijos e salames.
A CABEÇA
Há gente
esquisita transitando por todos os lados. Estava no lotação quando entrou um sujeito
bem apessoado, cabelo aparado e barba feita. Sentou-se ao meu lado, ajeitou o
nó da gravata, pigarreou e tirou a própria cabeça colocando-a de lado. Não é
normal algo assim, porém somente alguns passageiros prestaram apenas atenção
momentânea ao fato e depois trataram de cuidar das suas vidas. Antes do meu
ponto ele desceu, porém deixando a cabeça no ônibus. Gritei para ele:
- Ei amigo,
sua cabeça!
Desceu sem
dar à mínima, vai ver que sem cabeça ficava surdo, algo lógico. A cabeça,
ouvindo o barulho, abriu seus olhos sonolentos.
-Não ligue, é
sempre assim, disse-me ela. Depois ele fica se perguntando onde estava com a
cabeça. Toda segunda-feira me procura nos Perdidos e Achados. Já estou
acostumada.
Bem, sendo
assim, fiquei tranquilo.
COM ELE OU SEM ELE
A mesa estava posta. Ela soube pela vizinha que o marido ficara no boteco jogando baralho e bebendo pinga. Debruçada na janela esperava por ele; já passava das oito e nem sinal do dito. Estava toda maquiada e perfumada, bem disposta para uns amassos. E o maridão lá no boteco pegando bafo, esquecido de casa. Esperou mais meia hora e como o especial não apareceu, abriu a porta do guarda-roupa e disse para o Deoclides sair: estava na hora do show.
CARECA NÃO!
Artur era
funcionário antigo do banco, mais de dez anos de casa. Ninguém jamais notara
algo diferente na sua aparência, foi uma surpresa. Pois boquiabertos seus colegas ficaram
quando ele chegou ao trabalho na manhã de segunda-feira completamente careca.
Ninguém sabia que usava peruca, escondia muito bem. Alguns engraçadinhos
fizeram piadas, mas Rosineide achou que ele ficou até mais bonito. Zenaide deu
até uma alisada de leve. Antes do meio- dia foi chamado pelo gerente e
informado que estava demitido, pois o banco não admitia funcionário careca.
Artur não ficou abalado, pois já estava de saco cheio daquela rotina, iria
inventar algo para fazer. Mas não podia antes de sair perder a oportunidade de
sacanear o gerente, extremoso bajulador de diretores:
“Funcionário
careca o banco não admite?”
“De jeito
nenhum!” – respondeu o gerente empinando o nariz e alisando o topete.
“E gerente
corno?”- Perguntou Artur enquanto saía rapidinho sem esperar pela resposta.
DESESPERADOS
Uma multidão corria pelas ruas em pranto. O desespero era visível nos olhos e expressões dos angustiados. Mulheres e homens se jogavam no chão asfáltico raspando os rostos no solo íngreme que causava ferimentos dolorosos. Meninotas e meninotes também faziam parte da turba de tresloucados. Muitos choravam de joelhos. Homens brigavam pelas ruas, cassetetes em punhos, armas brancas e soquetes. Bombas caseiras explodiam. Seria um povo fugindo da guerra? Não! Apenas sofrendo por uma derrota futebolística.
PEDRAS E OUTROS
“Acostume-se! Sempre haverá pedras, espinhos e falsos amigos em nosso caminho.” (Filosofeno)
Artigo, Denis Rosenfield, Zero Hora - Morte e política
Morte e política
Professor de Filosofia
Por: Denis Rosenfield
A morte é, normalmente, um assunto familiar, de cunho privado. Familiares e amigos reúnem-se para o derradeiro adeus, em clima de perda, dor e memória do(a) falecido(a). É, mesmo, um momento de culto religioso que aparece sob a forma de preces e rituais. O clima é de espiritualidade em que questões existenciais como as do sentido da vida e da condição humana são postas.
Por essas características, a morte não pertence à esfera da vida pública, da política. Evidentemente, quando personagens políticos morrem a política aí surge, porém deveria fazê-lo segundo as regras familiares da privacidade e do recolhimento. E não sob o modo da exploração propriamente política, sob os holofotes da mídia.
A morte da ex-primeira-dama Maria Letícia tornou-se um evento político, com os petistas a explorando ao máximo. As declarações foram no sentido de responsabilizar a Lava-Jato pelo seu óbito.
A falta de respeito com a falecida traduziu-se por uma falta de respeito com a operação que está limpando o Brasil, mostrando as ruínas que foram deixadas pelos governos Lula e Dilma. Procuram os petistas, de todas as maneiras, fugirem de suas responsabilidades, aproveitando-se, para tanto, de um ritual familiar e religioso.
Lula, evidentemente, colocou-se como um grande ator. Falou de que sua companheira teria morrido triste, mortificada pelas revelações realizadas por juízes, desembargadores, promotores e procuradores, amplamente divulgadas pelos jornais e pelos meios de comunicação em geral.
Sua falta de pudor foi total. Tristes estão os 12 milhões de desempregados. Tristes estão os que perderam a esperança. Tristes estão os que enfrentam todos os problemas da educação e da saúde públicas. Tristes estão os que acreditaram nas patranhas políticas dos petistas.
O despudor não conhece limites. A ex-primeira dama teria morrido das "maldades" e "canalhices" cometidas contra ela. A perversão é completa. O responsável mor — junto com a sua companheirada e discípula que teve de ser apeada do poder — das maldades que afligem os brasileiros procura, agora, transferir as suas próprias responsabilidades.
Como sempre, tenta convencer os incautos de que é vítima, quando, na verdade, é a grande causa do desmoronamento econômico, social e institucional do Brasil.
Em bem pouco tempo, deverá novamente prestar contas à Justiça quando forem tornadas públicas as delações da Odebrecht. Não restará pedra sobre pedra de sua imagem. Até os petistas honestos terão de lhe dizer adeus.
Professor de Filosofia
Por: Denis Rosenfield
A morte é, normalmente, um assunto familiar, de cunho privado. Familiares e amigos reúnem-se para o derradeiro adeus, em clima de perda, dor e memória do(a) falecido(a). É, mesmo, um momento de culto religioso que aparece sob a forma de preces e rituais. O clima é de espiritualidade em que questões existenciais como as do sentido da vida e da condição humana são postas.
Por essas características, a morte não pertence à esfera da vida pública, da política. Evidentemente, quando personagens políticos morrem a política aí surge, porém deveria fazê-lo segundo as regras familiares da privacidade e do recolhimento. E não sob o modo da exploração propriamente política, sob os holofotes da mídia.
A morte da ex-primeira-dama Maria Letícia tornou-se um evento político, com os petistas a explorando ao máximo. As declarações foram no sentido de responsabilizar a Lava-Jato pelo seu óbito.
A falta de respeito com a falecida traduziu-se por uma falta de respeito com a operação que está limpando o Brasil, mostrando as ruínas que foram deixadas pelos governos Lula e Dilma. Procuram os petistas, de todas as maneiras, fugirem de suas responsabilidades, aproveitando-se, para tanto, de um ritual familiar e religioso.
Lula, evidentemente, colocou-se como um grande ator. Falou de que sua companheira teria morrido triste, mortificada pelas revelações realizadas por juízes, desembargadores, promotores e procuradores, amplamente divulgadas pelos jornais e pelos meios de comunicação em geral.
Sua falta de pudor foi total. Tristes estão os 12 milhões de desempregados. Tristes estão os que perderam a esperança. Tristes estão os que enfrentam todos os problemas da educação e da saúde públicas. Tristes estão os que acreditaram nas patranhas políticas dos petistas.
O despudor não conhece limites. A ex-primeira dama teria morrido das "maldades" e "canalhices" cometidas contra ela. A perversão é completa. O responsável mor — junto com a sua companheirada e discípula que teve de ser apeada do poder — das maldades que afligem os brasileiros procura, agora, transferir as suas próprias responsabilidades.
Como sempre, tenta convencer os incautos de que é vítima, quando, na verdade, é a grande causa do desmoronamento econômico, social e institucional do Brasil.
Em bem pouco tempo, deverá novamente prestar contas à Justiça quando forem tornadas públicas as delações da Odebrecht. Não restará pedra sobre pedra de sua imagem. Até os petistas honestos terão de lhe dizer adeus.
Do blog do Políbio
Filme inspirado na Operação Lava Jato estreia em maio
Os protagonistas do filme “Polícia Federal – A lei é para todos”, do produtor Tomislav Blazic, se preparam para o ápice das gravações: a reconstituição da condução coercitiva do ex-presidente Lula.
A gravação, que acontecerá na véspera do Carnaval, será protagonizada pelo ator Ary Fontoura, que representa o ex-presidente.
A estreia nacional do longa-metragem está prevista para maio.
PB
A gravação, que acontecerá na véspera do Carnaval, será protagonizada pelo ator Ary Fontoura, que representa o ex-presidente.
A estreia nacional do longa-metragem está prevista para maio.
PB
ACONTECE
“Quando os que mandam perdem a vergonha os subordinados se acham no direito de trabalharem nus.” (Mim)
domingo, janeiro 22, 2006 BIÓLOGO MANIPULA PINGÜINS- DO BAÚ DO JANER CRISTALDO
Sou fascinado por tudo que diz respeito a gelo, neves, glaciares, fiordes, paisagens árticas ou antárticas. Já vi filmes absolutamente bobos, só porque se passavam em montanhas nevadas ou nos desertos polares. Desligava da história e curtia apenas a paisagem. Adoro documentários sobre estas regiões do planetinha e penso ainda, qualquer dia destes, rumar às neves de Svalbard. Conta-me uma amiga que, em Longyearbyen, capital do arquipélago, há um bar onde a gente pode deixar o fuzil na entrada, afinal não há ursos por perto. É para lá que quero ir. Claro que não me agradaria viver em meio àquelas solidões, mas visitá-las me faz bem. Não por acaso, viajo sempre rumo a invernos. Verão, deixo para turistas.
Assim sendo, foi com entusiasmo que li sobre o lançamento do filme A marcha do imperador, do cineasta e biólogo Luc Jacquet, anunciado como um documentário sobre a vida desta espécie de pingüins na Antártica. Como não vou ao cinema só para ver se o filme é bom, busquei informar-me um pouco sobre o documentário. Pelo que li, cheguei a algumas conclusões.
Para começar, o documentário é um bestseller, cuja bilheteria tem suplantado até mesmo filmes de ficção. Entre os créditos do filme consta este moderno atestado de valor estético: foi produzido com apenas US$ 8 milhões e teria arrecadado mais de US$ 75 milhões nos Estados Unidos, número extraordinário para um título estrangeiro. Minha primeira dúvida: nunca vi documentário vendendo mais que filmes de ficção. Esta foi logo esclarecida: A Marcha do Imperador é tão documentário quanto a ficção travestida de documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine. Segunda dúvida: se é bestseller, não pode ser filme inteligente. Jamais assisti a bestseller que preste. Tais filmes são feitos para agradar às massas. Massas, por definição, não primam pela inteligência.
Continuando, o filme agradou muito a fundamentalistas católicos americanos. E por que agradou? Porque seria um manifesto em defesa da família, da monogamia e contra o aborto. Não sei se Luc Jacquet assim o pretendeu, mas quem monta uma ficção sabe onde quer chegar. Terceira dúvida: filme que agrada a fundamentalistas católicos não pode prestar. Quarta dúvida: que têm a ver pingüins com monogamia e aborto? Só faltava os pingüins serem contra o sexo pré-matrimonial e votarem no Bush.
Li ainda que os pingüins têm voz, isto é, pensamentos, devidamente dublados. No Brasil, pelos abomináveis "globais" Antonio Fagundes e Patrícia Pillar. Quinta dúvida: pingüins pensam? O único pingüim pensante que conheço é aquele arqui-inimigo do Batman. Mas história em quadrinhos é coisa de criança. A menos que tenha virado lazer de adultos e não me avisaram. Sexta dúvida: serei capaz de assistir a um filme dublado? Conclui que não sou capaz de engolir o engodo de pingüins pensantes e, pior ainda, falando brasileiro, com o sotaque infame da rede Globo. Assim sendo, não fui nem vou ver o filme.
Sem tê-lo visto, posso deduzir que A marcha do imperador é embuste dos bons. Para começar, pertence a essa vigarice cada vez mais corriqueira de chamar ficção de documentário. Ora, documentário deveria documentar. Quando documenta pensamentos de pingüim, é claro que de documentário não se trata, mas da mais reles ficção.
Continuando, em nada difere dos desenhos animados de Disney, ficções sublimes que fazem apelo aos "nobres" sentimentos humanos, deixando de lado o inelutável fato de que o ser humano não é apenas nobre, mas também vil. Nos filmes e histórias em quadrinhos de Disney não há sequer uma pitada de sexo, essa vil necessidade - vil pelo menos para Disney - que, apesar de ser inerente à perpetuação da espécie, é vista como pecado por crentes de todas as latitudes. Passo a palavra a quem entende do assunto. Segundo o cientista Yvon le Maho, do Centro de Ecologia e Fisiologia Energética de Strasbourg, o filme "não é bem um documentário. É como se fosse Disney. É feito para chorar. A vontade de fazer o público chorar é tanta que eles mentem".
O filme pode comover pais fracassados, com complexo de culpa em relação a filhos, mais uma malta de mães chorosas ou candidatas à mãe, dessas que se comovem até com pingüins de geladeira. Só estes já são milhões. Mas a natureza é mais brutal que nossas ficções antropológicas. Assim como Disney omite a sexualidade de seus personagens, Jacquet esconde ao leitor certos fatos deste universo. Ainda segundo le Maho, os pingüins têm um mecanismo fisiológico que os alerta quando suas reservas energéticas chegam a um limite, que lhes permite andar ainda 180 quilômetros. "É quando partem para o mar e, se for o caso, deixam os filhotes abandonados à própria sorte". Além do mais, a suposta monogamia dos pingüins em geral dura apenas um ciclo reprodutivo, isto é, um ano. "A taxa de separação entre eles após um ano é de 85%". Claro que isto Luc Jacquet não conta. Seu filme deixaria de faturar bons milhões de dólares. O homem-massa gosta de fantasias e tem horror à realidade.
O filme é mais uma desastrada tentativa de antropomorfização da vida animal, esse detestável vício de não poucos documentaristas, que pretendem atribuir características humanas a seres irracionais. Mesmo que, por contingências biológicas, os pingüins tivessem de ser monógamos - o que está longe ser o caso - o homem nada tem a ver com isso. Nem com qualquer outro animal. Nosso antepassado simiesco, ao erguer-se apoiado nas patas traseiras e utilizar seu polegar preênsil para brandir um osso como arma, abandonou definitivamente seu destino de símio e adquiriu o status de Homo sapiens.
Por que escolher os castos pingüins como arquétipo de organização social? Se é para buscar padrões na vida animal, proponho os bonobos, que vivem em orgia perpétua e cujas fêmeas inclusive descobriram as delícias do lesbianismo, ou como quer que se chame a prática no universo dos símios. Diferentemente das demais espécies, as fêmeas bonobo não precisam estar no cio para entregar-se ao bom folgar. Ou seja, fogem à condição animal e assumem atitudes mais condizentes com a espécie humana. Monogamia, fidelidade ou aborto são opções que o ser humano se permite ou não se permite, não uma fatalidade da espécie. Só Estados totalitários ou com propensão ao totalitarismo as impõem ou proíbem. Deixem os pingüins em paz, senhores moralistas.
Filme que é anunciado como fenômeno mundial de público - vai por mim, leitor! - não pode prestar. O número de espectadores é inversamente proporcional à qualidade de um filme. Quando A Marcha do Imperador estiver em DVD, compro ou alugo um, retiro o som e me deleito com as paisagens nevadas que tanto me fascinam. Quem quiser aumentar as estatísticas maravilhosas de borderô do filme, que vá. Estou fora. Quando os jornais anunciarem os milhões de deslumbrados que viram o filme no Brasil, por favor, não me incluam nesse número.
Assim sendo, foi com entusiasmo que li sobre o lançamento do filme A marcha do imperador, do cineasta e biólogo Luc Jacquet, anunciado como um documentário sobre a vida desta espécie de pingüins na Antártica. Como não vou ao cinema só para ver se o filme é bom, busquei informar-me um pouco sobre o documentário. Pelo que li, cheguei a algumas conclusões.
Para começar, o documentário é um bestseller, cuja bilheteria tem suplantado até mesmo filmes de ficção. Entre os créditos do filme consta este moderno atestado de valor estético: foi produzido com apenas US$ 8 milhões e teria arrecadado mais de US$ 75 milhões nos Estados Unidos, número extraordinário para um título estrangeiro. Minha primeira dúvida: nunca vi documentário vendendo mais que filmes de ficção. Esta foi logo esclarecida: A Marcha do Imperador é tão documentário quanto a ficção travestida de documentário de Michael Moore, Tiros em Columbine. Segunda dúvida: se é bestseller, não pode ser filme inteligente. Jamais assisti a bestseller que preste. Tais filmes são feitos para agradar às massas. Massas, por definição, não primam pela inteligência.
Continuando, o filme agradou muito a fundamentalistas católicos americanos. E por que agradou? Porque seria um manifesto em defesa da família, da monogamia e contra o aborto. Não sei se Luc Jacquet assim o pretendeu, mas quem monta uma ficção sabe onde quer chegar. Terceira dúvida: filme que agrada a fundamentalistas católicos não pode prestar. Quarta dúvida: que têm a ver pingüins com monogamia e aborto? Só faltava os pingüins serem contra o sexo pré-matrimonial e votarem no Bush.
Li ainda que os pingüins têm voz, isto é, pensamentos, devidamente dublados. No Brasil, pelos abomináveis "globais" Antonio Fagundes e Patrícia Pillar. Quinta dúvida: pingüins pensam? O único pingüim pensante que conheço é aquele arqui-inimigo do Batman. Mas história em quadrinhos é coisa de criança. A menos que tenha virado lazer de adultos e não me avisaram. Sexta dúvida: serei capaz de assistir a um filme dublado? Conclui que não sou capaz de engolir o engodo de pingüins pensantes e, pior ainda, falando brasileiro, com o sotaque infame da rede Globo. Assim sendo, não fui nem vou ver o filme.
Sem tê-lo visto, posso deduzir que A marcha do imperador é embuste dos bons. Para começar, pertence a essa vigarice cada vez mais corriqueira de chamar ficção de documentário. Ora, documentário deveria documentar. Quando documenta pensamentos de pingüim, é claro que de documentário não se trata, mas da mais reles ficção.
Continuando, em nada difere dos desenhos animados de Disney, ficções sublimes que fazem apelo aos "nobres" sentimentos humanos, deixando de lado o inelutável fato de que o ser humano não é apenas nobre, mas também vil. Nos filmes e histórias em quadrinhos de Disney não há sequer uma pitada de sexo, essa vil necessidade - vil pelo menos para Disney - que, apesar de ser inerente à perpetuação da espécie, é vista como pecado por crentes de todas as latitudes. Passo a palavra a quem entende do assunto. Segundo o cientista Yvon le Maho, do Centro de Ecologia e Fisiologia Energética de Strasbourg, o filme "não é bem um documentário. É como se fosse Disney. É feito para chorar. A vontade de fazer o público chorar é tanta que eles mentem".
O filme pode comover pais fracassados, com complexo de culpa em relação a filhos, mais uma malta de mães chorosas ou candidatas à mãe, dessas que se comovem até com pingüins de geladeira. Só estes já são milhões. Mas a natureza é mais brutal que nossas ficções antropológicas. Assim como Disney omite a sexualidade de seus personagens, Jacquet esconde ao leitor certos fatos deste universo. Ainda segundo le Maho, os pingüins têm um mecanismo fisiológico que os alerta quando suas reservas energéticas chegam a um limite, que lhes permite andar ainda 180 quilômetros. "É quando partem para o mar e, se for o caso, deixam os filhotes abandonados à própria sorte". Além do mais, a suposta monogamia dos pingüins em geral dura apenas um ciclo reprodutivo, isto é, um ano. "A taxa de separação entre eles após um ano é de 85%". Claro que isto Luc Jacquet não conta. Seu filme deixaria de faturar bons milhões de dólares. O homem-massa gosta de fantasias e tem horror à realidade.
O filme é mais uma desastrada tentativa de antropomorfização da vida animal, esse detestável vício de não poucos documentaristas, que pretendem atribuir características humanas a seres irracionais. Mesmo que, por contingências biológicas, os pingüins tivessem de ser monógamos - o que está longe ser o caso - o homem nada tem a ver com isso. Nem com qualquer outro animal. Nosso antepassado simiesco, ao erguer-se apoiado nas patas traseiras e utilizar seu polegar preênsil para brandir um osso como arma, abandonou definitivamente seu destino de símio e adquiriu o status de Homo sapiens.
Por que escolher os castos pingüins como arquétipo de organização social? Se é para buscar padrões na vida animal, proponho os bonobos, que vivem em orgia perpétua e cujas fêmeas inclusive descobriram as delícias do lesbianismo, ou como quer que se chame a prática no universo dos símios. Diferentemente das demais espécies, as fêmeas bonobo não precisam estar no cio para entregar-se ao bom folgar. Ou seja, fogem à condição animal e assumem atitudes mais condizentes com a espécie humana. Monogamia, fidelidade ou aborto são opções que o ser humano se permite ou não se permite, não uma fatalidade da espécie. Só Estados totalitários ou com propensão ao totalitarismo as impõem ou proíbem. Deixem os pingüins em paz, senhores moralistas.
Filme que é anunciado como fenômeno mundial de público - vai por mim, leitor! - não pode prestar. O número de espectadores é inversamente proporcional à qualidade de um filme. Quando A Marcha do Imperador estiver em DVD, compro ou alugo um, retiro o som e me deleito com as paisagens nevadas que tanto me fascinam. Quem quiser aumentar as estatísticas maravilhosas de borderô do filme, que vá. Estou fora. Quando os jornais anunciarem os milhões de deslumbrados que viram o filme no Brasil, por favor, não me incluam nesse número.
UM DIA DE CÃO
Nilson acordou estranho naquele dia. Saiu da cama sem vontade de caminhar, preferiu andar de quatro. No lugar de ir ao banheiro foi para fora e fez xixi no canto da casa. Após comer a ração do Totó fez um montinho no gramado lateral. Depois correu pelas ruas próximas perseguindo automóveis. Quando voltou para seu quintal foi pego pela esposa roendo um osso sobre a calçada. Ela foi para dentro e voltou com uma coleira nas mãos. Colocou o marido preso próximo da casinha, pôs água limpa e ração nova. Recomendou que não latisse para não perturbar os vizinhos. Isto feito tomou banho e foi às compras.
TESTAMENTO
“Estou preparando o meu testamento. Para quem deixarei minhas sandálias havaianas?” (Climério)
DEFEITOS
“Tenho todos os defeitos do mundo. E não satisfeito ainda pego alguns dos vizinhos.” (Climério)
LINDO
“Minha mulher conta que sempre sonhou em ter um marido lindo. Disse para ela que pode procurar outro.” (Climério)
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