quarta-feira, 25 de junho de 2014

Alguns motoristas devem achar que dentro dos seus automóveis eles têm a proteção de todos os santos e da Liga Extraordinária. É muita insensatez!

Temos mais de 100 homicídios diariamente em nosso país. Imagine só se não fossemos cordiais como alguns apregoam.

VIDA EM CUBA- Yoani Sánchez- “Casting” para emprego

Eugenia perdeu seu emprego num escritório do Ministério do Transporte aos trinta anos. Ficou “disponível”, segundo seus chefes lhe esclareceram antes de lhe oferecerem um lugar como pedreira. Relutante em colocar ladrilhos e preparar misturas, lançou-se no mercado laboral privado para ver o que encontrava. Suas possibilidades eram poucas. Não fala outro idioma, jamais tocou num computador e não tem “a boa apresentação” da juventude.
Uma amiga inscreveu-a num sítio digital para procurar emprego. “Aqui não aceitamos gente com prótese dental”, disseram-lhe na primeira entrevista onde optava por um lugar de limpeza numa casa de aluguel para estrangeiros. A dona do lugar queria “uma mulher limpa, que fale pouco, não fume e forte”. Contratou outra e Eugenia decidiu investir no seu físico.
Conseguiu tingir seu cabelo, comprou uns sapatos novos e percorreu várias cafeterias e restaurantes de Centro Havana. Com mais de cinqüenta anos, em que quase todos os lugares que foi lhe responderam a mesma coisa: “já temos pessoal na cozinha e não nos serves para o serviço. Eugenia observou que atrás dos balcões dos novos lugares por conta própria ou servindo às mesas, quase sempre são mulheres jovens, delgadas e de busto proeminente.
“Você é de Havana, não é? Perguntaram-lhe num lugar onde contratavam pessoas para lavar e passar. Eugenia nasceu em Holguín e passou quase toda a sua vida na capital cubana, porém isto não foi suficiente para o dono da lavanderia. “Queremos gente havanera para que depois não ocorram problemas com parentes que venham e queiram entrar na casa.
Uma vizinha lhe avisou da outra possibilidade de cuidar de um ancião. Tratava-se de um militar reformado que dependia de cadeira de rodas. “Diante dele não se pode falar mal da Revolução”. Advertiram-lhe os filhos do velhinho a quem deveria alimentar trocar a roupa e ler o jornal Granma. No final Eugenia tampouco conseguiu o trabalho.
Conseguiu cuidar de um menino por uns dias, porém foi só por uma semana porque “se não podes cantar e não conheces algumas brincadeiras infantis, meu filho se enfada”, disse-lhe a mãe do pequeno. Eugenia só sabe encher planilhas, colocar selos e mover a cabeça afirmativamente durante as longas reuniões da que foi sua empresa. Não pode competir no mercado laboral atual.
Ontem lhe avisaram de uma oportunidade de limpeza num restaurante. “Não podes sair da cozinha durante o horário de trabalho”, esclareceu-lhe o cozinheiro. “É melhor que os clientes não a vejam”, concluiu antes de lhe confirmar que estava “de experiência”.
Tradução por Humberto Sisley

O ATAQUE DE SUÁCRULA, O VAMPIRO URUGUAIO


Alexandre Garcia- Alegria e felicidade

Autor: Alexandre Garcia

  

 
Fico imaginando o que pode acontecer se os brasileiros, estimulados pela Copa, voltarem a se mobilizar pelo Brasil real como fizeram na época em que foram  autores do “milagre econômico”. Naquele tempo, durante três anos, eu sou testemunha, o Brasil fez crescer seu PIB na média de 11,2% ao ano. Só para nos situarmos, neste ano o PIB pode ficar abaixo de 1%, agravado pela inatividade econômica em tempos de Copa. No início dos anos 70, o entusiasmo fez crescer. O presidente da época, Médici, quando era anunciado no Maracanã, era aplaudido, ao contrário do que acontece com a presidente de hoje. A seleção de futebol era campeã pela terceira vez, no México, e os jogadores se empenhavam pela camisa, não pelo dinheiro.
Talvez nos falte o patriotismo da época. Fico sonhando em ver, na Semana da Pátria deste ano, as bandeirinhas nos carros que vejo agora - embora poucas. Sonho em ver as ruas e lojas enfeitadas como hoje, com as cores nacionais. Pobre Brasil, as decepções resumiram o patriotismo numa equipe de futebol. Nos aleijam com excessivos impostos, a corrupção campeia, os políticos mentem e nos enrolam, e nós achamos muito bonito termos quase duas dúzias de jogadores de futebol que se enriquecem na Europa, a vir, por uns dias, jogar supostamente em defesa do país em que nasceram.
A responsabilidade não é só nossa. É da falta de educação que tivemos, em casa e na escola. Não entendemos  bem a diferença entre um país e um time de futebol - esse lucrativo ramo do show-business.  Evitar a politização para dominar as massas não é um truque novo; imperadores romanos enchiam os coliseus de gente que queria ver os gladiadores se matando. Tinha que entreter o povo acabaria para evitar fiscalização e cobrança aos governantes. Sem as luzes de casa e da escola, com o entretenimento substituindo o conhecimento, estamos no mesmo grau de cidadania que há 2 mil anos.
 Se só nos divertirmos com graça tropical, continuaremos a pagar o preço que pensamos ser gratuito. Quem é ignorante paga por isso sem saber. Quem não é, paga mesmo sem querer. E vamos em frente. Se nosso objetivo for bola na rede sem dar bola à nossa qualidade de vida no país real, a realidade do futebol pode colorir nossas vidas e nós ficamos alegres. E ficamos com a alegria que aliena, não transforma e não gera felicidade.
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QUESTÃO DE MEMÓRIA

Na campanha presidencial de 1960, Jânio Quadros, dono de memória prodigiosa, seguia com rigor uma espécie de script, que incluía os gestos teatrais. Repetia o mesmo discurso em cada cidade. Milton Campos, o vice, ao contrário, abordava temas diferentes. Certa noite, Jânio observou:
- Dr. Milton, que maravilha. Um discurso para cada comício! Que cultura!
- Não é cultura – respondeu Campos, gentil – é incapacidade de memorizar.
DP

Não faça do seu carro uma alma.

O PT me faz ser uma pessoa pior



No filme “Melhor É Impossível”, de 1997, há uma cena interessante em que a personagem de Helen Hunt pede ao personagem intragável de Jack Nicholson, misantropo que sofre de transtorno obsessivo-compulsivo, para que lhe faça um elogio, um só elogio. Após algum tempo pensando, ele diz: “Você me faz querer ser uma pessoa melhor”.
O PT tem o efeito contrário em mim. Se este é um dos mais belos elogios já feitos no cinema, então podemos concluir que a pior crítica é alguém nos fazer ser uma pior pessoa. Como diria Roberto Jefferson ao José Dirceu: “Vossa excelência provoca em mim os instintos mais primitivos”.
O cuidado que deve ter quem convive demais com o monstro, mesmo que para combatê-lo, é não se tornar um também. Policiais que combatem o crime e se infiltram no tráfico sabem bem disso. Como disse Nietzsche: “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”.
Pensei nisso ao ler a resposta que o humorista Marcelo Madureira deu aos petistas que tentam intimidar os formadores de opinião críticos ao governo. Disse ele: “Àqueles que querem nos amedrontar com ameaças e intimidações, continuaremos respondendo a cada dia, a cada hora, a cada minuto, com as nossas únicas e legítimas armas: as palavras, as ideias e os princípios”.
Eis o desafio de todos aqueles que não aguentam mais o PT disseminando ódio e mentiras pelo país, apelando para baixarias, golpes baixos: não responder na mesma moeda, com ódio; preservar nossos valores e princípios; insistir na construção de um Brasil realmente democrático, com respeito às diferenças (dentro dos limites da própria sobrevivência da tolerância), sempre de forma civilizada.
Entendo que nem sempre é fácil. O PT, como já disse, desperta em muitos os “instintos mais primitivos”, e nos leva muitas vezes a reagir com o fígado. Mas esse é o único caminho. Ao menos o único em que o PT não vence, pois se tivermos que jogar como ele, aceitar a premissa de que os fins nobres justificam quaisquer meios, então o país já perdeu.
Em época de Copa do Mundo, faço uma analogia com o futebol: há quem, aderindo à “ética da malandragem”, só se importa com a vitória, custe o que custar. Outros não. Outros não aceitam isso, acham que como se vence faz toda a diferença do mundo. Faço parte do segundo grupo. Defendo o “fair play”.
O PT seria, ao contrário, o time que não devolve a bola após ela ser colocada para fora de propósito para o atendimento de um jogador machucado. Seria o jogador que morde o adversário, ou que faz gol de mão, ou simula escancaradamente um pênalti. E faz tudo isso com o orgulho do “malandro”, com o regozijo do “esperto”, que sempre quer tirar vantagem em cima dos demais.
Os nervos de muitos brasileiros estão à flor da pele. Há risco concreto de caminharmos na direção bolivariana, como fizeram Venezuela e Argentina, cujos governos são camaradas do PT. Nesse quadro, é tentador partir para medidas desesperadas, ficar muito paranoico, agressivo. Tem gente clamando por intervenção militar já, o que seria a morte definitiva da nossa democracia.
É preciso resistir, lutar, mas dentro dos nossos valores, respeitando as regras do jogo. Se o outro lado chuta a canela o tempo todo e mete a mão na bola, não é por isso que vamos jogar da mesma forma. Um pacto mefistofélico desses, de aceitar o “vale tudo” em prol de uma meta louvável, é um caminho escorregadio sem volta. O abismo sorri de volta, e lá no fundo dá para ver o reflexo de um monstro.
Concluo de volta ao começo: o PT me faz ser uma pessoa pior muitas vezes, pois a raiva e o desprezo dificilmente são bons conselheiros. O segrego é tentar fazer do limão uma limonada: justamente por ser o PT assim, devemos lutar ainda mais para ser sempre alguém melhor e, com isso, ajudar a construir um país também melhor, contrário em todos os aspectos àquilo que o PT representa. Eis a reação mais admirável que se pode ter ao lulopetismo.
Rodrigo Constantino

Imagine você morrer e acordar no paraíso todo feliz. Logo depois descobre que os seus colegas de quarto são um padre da Teologia da Libertação, uma velha comunista e o Chávez. Você suporta ou pede uma vaga no inferno?

“O patrão da minha mulher deu para ela um automóvel de presente. Eu ainda não descobri o que ela deu para ele.” (Climério)

“Eu não me importo de limpar algum banheiro, desde que não seja com a língua.” (Mim)

Serão os pirilampos felizes com aquela luminosidade na bunda?

“Estive doente, mas estou melhorando, pois já resmungo sozinho.” (Limão)

“Fiz minhas escolhas. Portanto não posso pedir que outros chorem por mim.” (Pócrates)

"Não falo bem de nenhum governo. Para isso já existem os puxa-sacos remunerados."

"Tive sonhos eróticos. Acordei todo feliz, aí o papo que ouço na mesa do café é sobre a castração do cachorro do vizinho. Broxante, não?" (Bilu Cão)

Já não basta na TV o excesso de propaganda do governo federal. Agora o governo do vira casaca Raimundo Colombo resolve gastar os tubos para promover o seu governo. Que coisa!

A “elite branca” segundo os socialistas



A "ralé negra" que combate a "elite branca"
A “ralé negra” que combate a “elite branca”
O malabarismo semântico das esquerdas é realmente impressionante. Trata-se de um verdadeiro contorcionismo linguistico para justificar o injustificável. É o caso de Francisco Bosco em sua coluna de hoje no GLOBO. Bosco, não custa lembrar, é o mesmo que disse que “minoria” pode ser uma maioria numérica, pois seria uma “minoria social”. Desta vez o alvo foi o conceito de “elite branca”.
Abro um parêntese: há um método infalível de identificar um “petralha”. Basta verificar se ele se refere à presidente Dilma como “presidenta”, aderindo ao puxassaquismo oficial daqueles que preferem torturar nossa língua em vez de contrariar a Toda-Poderosa, que nunca foi uma boa “estudanta” (a menos que seja a fusão de estudante com anta). Bosco chama Dilma de “presidenta” logo no começo. Fecho o parêntese.
Volto ao conceito de “elite branca”. Segundo Bosco, pode despertar certa perplexidade em alguns o fato de muita gente branca e rica fazer coro na acusação contra a tal “elite branca”, puxada pelo ex-presidente Lula, ele mesmo um branco milionário. Marta Suplicy atacando a “elite branca”? Pode isso, Arnaldo? Sim, para Bosco é algo perfeitamente normal. Afinal, ela é petista…
Parece piada, e até é, mas de muito mau gosto. Após os truques rudimentares do colunista, descobrimos que tudo se resume ao seu discurso ideológico, à sua retórica política. É isso mesmo! Se você for podre de rico, juntar milhões de patrimônio de forma bem gananciosa, mantiver apartamentos luxuosos em Paris (alô, Chico Buarque!), morar em coberturas no Leblon (alô, Chico Buarque novamente!), mas defender a “justiça social”, assumir bandeiras “progressistas”, então você está livre da pecha de membro da sinistra (ou seria destra?) “elite branca”.
Bosco, para chegar ao ápice do absurdo, usa a cor branca aqui como uma cor “simbólica”. Ou seja, Marta Suplicy, mais branca do que bunda de dinamarquês, não é da “elite branca”, pois não possui a cor branca “simbólica”, já que é do PT, um partido de esquerda e, portanto, automaticamente preocupado com os mais pobres, segundo o tosco, digo, Bosco.
Mas Joaquim Barbosa, negão que veio da pobreza, pode muito bem ser um ícone, quiçá um líder da “elite branca”, pois ousou, pasmem!, fazer cumprir as leis e mandar para a Papuda os pobres coitados da “ralé negra” (devo supor que este seja o oposto de “elite branca”), como Dirceu e Genoíno, eles mesmos ricos e brancos. Coisa de burguês, claro!
Não estou inventando nada disso, por mais inverossímil que pareça. Bosco afirma exatamente isso: pertencer à “elite branca” tem tudo a ver com seu partido, não com sua cor, sua renda ou os círculos que você frequenta. Vejam com seus próprios olhos:
O que a expressão “elite branca” pretende caracterizar não é a situação excessiva ou relativamente privilegiada em que se encontra um grupo social, mas o modo como esse grupo se posiciona diante das desigualdades estruturais do país. Pertencem à “elite branca” aqueles que pensam e agem no sentido da manutenção dessas desigualdades e, consequentemente, de seus privilégios, atuando como um grupo dominador. Não pertencem a essa “elite branca” (que, portanto, é uma categoria mais política e moral do que econômica e fenotípica) aqueles que, situando-se em um grupo social privilegiado, pensam e agem no sentido do combate às desigualdades, renunciando a privilégios em benefício da justiça social.
Pensar e agir “no sentido do combate às desigualdades sociais”, que fique bem claro, significa, para Bosco, aderir ao socialismo, defender o PT, ou melhor!, o PSOL, enaltecer a ação dos black blocs criminosos (como Bosco já fez), atacar o capitalismo (no discurso, sempre no discurso), pregar mais impostos ainda, etc. Abrir mão de privilégios? Isso ainda está para nascer…
Não importa que, na prática, a esquerda socialista jamais tenha ajudado os mais pobres. Não importa o resultado concreto. Não vem ao caso o fato de que essa esquerda não possui um único exemplo de sucesso para mostrar em seu infame currículo (cem milhões de mortes inocentes pelo comunismo não contam como algo positivo, creio eu).
Vale o discurso, ponto final. É de esquerda, elogia Marcelo Freixo, aplaude o MST e os vândalos mascarados que depredam bancos e lojas contra o “sistema”, tudo isso enquanto se esbalda com os lucros capitalistas do mesmo sistema, então parabéns, você não é da “elite branca”, mas um ilustre membro da… esquerda caviar!
Bosco mereceria apenas ser ignorado, não fosse um retrato perfeito dessa distorção conceitual que a esquerda faz. Notem que o sujeito vai até o limite do ridículo ao dar um exemplo concreto do tipo de bandeira que é preciso defender para pular fora da “lista negra” da “elite branca”:
Fazem parte da “elite branca” todos os sujeitos de grupos sociais privilegiados que denunciam difusamente as desigualdades do Brasil mas repudiam qualquer ato político real que as combata; todos os sujeitos incapazes de pensar e agir coletivamente, sempre colocando em primeiro, senão único lugar as suas vantagens pessoais; todos os sujeitos que, para dar um exemplo entre inúmeros possíveis, não apoiaram a greve dos vigilantes, que reivindicavam um piso salarial de pouco mais de R$ 1 mil (e R$ 20 de vale-refeição), diante dos bilhões de reais que os bancos lucraram no ano passado.
É contra as greves que paralisam o país de forma oportunista, para beneficiar mais sindicalistas do que trabalhadores de verdade? Então é da “elite branca”, ora! Só há  redenção na esquerda radical, sindicalista, socialista, defensora do bolivarianismo, do modelo venezuelano. Fora isso, são todos uns insensíveis, egoístas, capitalistas selvagens! Chama-se “monopólio da virtude” essa tática manjada.
Minha maior indignação com essa perfídia toda é a destruição de um conceito nobre como “elite”. Pensemos em Tropa de Elite: seria algo ruim pertencer a ela? Mas após tantos anos de discurso raivoso das esquerdas, de disseminação de ódio, o conceito assumiu tom completamente pejorativo. Pertencer às elites seria algo terrível por esta ótica canhota.
Pois eu digo que a legítima elite, branca ou negra, é aquela que, como diria Ortega y Gasset, assume as rédeas da própria vida e o fardo de carregar nas costas responsabilidades, em vez de viver como uma “boia à deriva”, como massa amorfa incapaz de pensar por conta própria, dependente dos demais para tudo. São as elites que acabam determinando os rumos de uma sociedade.
Infelizmente, enquanto nossas “elites” forem covardes, dissimuladas, hipócritas, e preferirem os aplausos fáceis dos inocentes úteis ao resultado concreto de ações decentes, de gente que sustenta a importância da ética, da responsabilidade individual e da meritocracia, então não corremos mesmo “risco” de dar certo (para a felicidade dessas “elites” que exploram a ignorância e a miséria alheia).
Com membros da “elite” como Francisco Bosco, Chico Buarque, Wagner Moura, Marilena Chauí e tutti quanti, todos “extremamente” preocupados com os mais pobres, quem sabe não viramos logo uma Venezuela, ou mesmo Cuba, para a “alegria” geral dos mais pobres!
Rodrigo Constantino

O homem José Sarney sobreviveu para contemplar o velório do político José Sarney

Augusto Nunes
Acossado no Maranhão por pesquisas que prenunciam a derrota do candidato a governador escolhido pela Famiglia, hostilizado no Amapá por vaias que antecipam a derrota nas urnas, o senador José Sarney, aos 84 anos, desistiu da disputa da reeleição para escapar do fiasco desmoralizante. Invocando a necessidade de cuidar da mulher enferma, revogou uma de suas frases prediletas. “Em política só existe a porta de entrada”.
“Sarney esqueceu que a morte política vive à espreita dos muito vivos”, avisou o título do artigo aqui postado quando o investigado que ganharia da Polícia Federal a alcunha de Madre Superiora lutava para continuar pendurado na presidência do Senado. Enfim obrigado a engolir a aposentadoria indesejada, vai contemplar impotente a agonia do reinado de mais de meio século. E logo descobrirá o que acontece aos que perdem o poder num país impiedoso com quem foi muita coisa e nada mais será.
“Na porta de quem é só um ex- nasce capim”, ensinou o general Golbery do Couto e Silva. Pior para Sarney. Melhor para o Brasil decente, atesta o post de 17 de junho de 2009:
Porque era provido do sentimento da honra, por ser capaz de sentir vergonha, Getúlio Vargas preferiu morrer a sujeitar-se a vinganças ultrajantes. Depois de ter renunciado à vida, o estadista gaúcho sobreviveu politicamente à morte física. Porque acha que nada desonra, por ser incapaz de envergonhar-se, José Sarney preferiu permanecer na presidência do Senado a reconhecer que ofendeu o Brasil que pensa. Depois de ratificado a constatação de Jânio Quadros ─ “Brasileiro não  renuncia sequer ao cargo de síndico” ─, o morubixaba maranhense vai conhecer em vida a morte política.
“Em política só existe a porta de entrada”, repete Sarney a cada entrevista mais extensa. Claro que existem portas de saída ─ só não as enxerga quem imagina que a carteirinha de sócio do clube dos pais da pátria tem validade perpétua. Há a porta da frente e a dos fundos. Por aquela saiu Getúlio, sobraçando uma comovente carta-testamento. Pela porta dos fundos vai saindo o presidente do Senado, no cangote de um discurso inverossímil.
Foi penoso acompanhar pela TV a performance do artista em seu ocaso. Mãos trêmulas, olhar assustadiço, a voz indignada contrastando com os desmaios no meio da frase sem pé nem cabeça, o homem que chegou ao Congresso há 50 anos, governou o Maranhão e o Brasil e preside de novo o Senado parecia um coroinha do baixo clero. Enfileirou argumentos indigentes, evocou atos de bravura imaginários, reinventou o passado de governista congênito e caprichou na pose de herói da resistência.
Sempre perseguindo erraticamente pontos finais, Sarney engavetou pecados antigos, subestimou os recentes, informou que os atos secretos não foram secretos e, caprichando na pose de vítima, exigiu respeito. “A crise não é minha, a crise é do Senado”, inocentou-se. É isso aí, concordaram os presentes, com falatórios na tribuna ou com os gritos do silêncio.
Todos fizeram de conta que Sarney não embolsou malandramente o auxílio-moradia, não promoveu a diretor-geral o bandido de estimação Agaciel Maia, não pendurou no cabideiro de empregos do Congresso duas sobrinhas, um neto, o ex-presidente da Assembléia Legislativa do Amapá, 5o parentes pra cá e 50 amigos pra lá. Todos absolveram o patriarca que tentara encobrir com um desfile de negativas a procissão de delinquências comprovadas.
Quando estiverem cauterizadas as feridas morais abertas pela Era da Mediocridade, o Brasil contemplará com desconsolo e desconcerto a paisagem deste começo de século. Como foi possível suportar sem revides as bofetadas desferidas por um político sem luz, orador bisonho, poeta menor e escritor medíocre? Como explicar a mansidão da maioria dos insultados pelo coro dos cúmplices contentes?
A ausência no plenário de representantes do Brasil que presta é tão perturbadora quanto a presença de Sarney no centro da mesa diretora. Encerrado o espetáculo do cinismo, ninguém falou em nome dos injuriados. Ninguém contestou a discurseira absurda. Ninguém lastimou a decomposição do Legislativo. Ninguém sentiu vergonha.
Os senadores ficaram parecidos com Sarney, que é a cara do Senado destes tempos tristonhos. Mais cedo para uns que para outros, a morte política chegará para todos. Tomara que a instituição sobreviva.
Passados cinco anos, o Senado segue respirando por aparelhos. O homem José Sarney sobreviveu para angustiar-se com o velório do político José Sarney.

Soberba e populismo

O ESTADO DE S.PAULO
24 Junho 2014 | 02h 06

Há uma característica peculiar no DNA do PT que tem dificultado a articulação de alianças em torno da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: a soberba. A arrogância do comando lulopetista, que posa de monopolista da virtude e despreza os aliados porque age por puro fisiologismo, tem sido responsável por importantes reveses nesta pré-campanha eleitoral. O mais recente é a decisão do PMDB fluminense de apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência em dobradinha com a do governador Luis Fernando Pezão à reeleição.
A dissidência do PMDB fluminense não se enquadra exatamente na galeria dos episódios louváveis que honram a política brasileira. É pura e simplesmente o desdobramento do toma lá dá cá que o PT não inventou, mas empenhou-se diligentemente em aperfeiçoar ao longo de quase 12 anos no poder. Desde a eleição ao governo estadual do peemedebista Sérgio Cabral em 2006, coerente com a orientação da direção nacional do partido, o PMDB fluminense e o governador em particular posicionaram-se com armas e bagagens no séquito de Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação entre Lula e Cabral parecia tão sólida que este chegou a sonhar, em 2010, em ser o vice de Dilma Rousseff. Teve de se contentar com a candidatura à reeleição.
Mas a decepção definitiva de Cabral veio quando, em vez de honrar a aliança apoiando o candidato dele à própria sucessão, o PT optou por aceitar o fato consumado da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado, até porque a popularidade de Cabral caíra vertiginosamente, contaminando a de Pezão. Agora, Cabral e o PMDB fluminense dão o troco. Oficialmente, Pezão e Cabral continuarão apoiando Dilma. Mas a poderosa máquina política do PMDB fluminense vai trabalhar por Aécio Neves.
Às más notícias no plano das alianças eleitorais a soberba lulopetista parece disposta a responder com mais do mesmo, a julgar por tudo que foi proclamado na convenção nacional que confirmou a candidatura de Dilma à reeleição. A começar pelo fato de que a presidente está agora oficialmente enquadrada, pela proverbial imodéstia de Lula, na condição subalterna de "criatura" do Grande Chefe.
A insatisfação generalizada dos brasileiros com a qualidade dos serviços públicos se manifesta vigorosamente nas ruas. Mas Lula, Dilma e o PT se gabam de terem inventado um novo país, criando uma nova realidade nacional de desenvolvimento econômico e conquistas sociais. Estariam plenamente credenciados, portanto, a se lançarem à campanha eleitoral com o apelo à continuidade das fantásticas realizações com que mudaram para melhor a face do País. Mas como não podem ignorar que os brasileiros não estão lá muito satisfeitos com o que veem e, principalmente, sentem, é melhor ir de "mudança". Aliás, "mais mudança", porque, afinal, o estoque de promessas não cumpridas está longe de se esgotar.
O pior é que as principais novidades das "mudanças" apontam na direção do retrocesso. Apesar de terem repudiado o "ódio" revelado pela "elite branca" contra Dilma no lamentável episódio da abertura da Copa do Mundo, o discurso petista continuará focado no estímulo à cizânia nacional, à divisão dos brasileiros entre "nós" e "eles", agora com uma pegada mais "esquerdista" que procurará dar destaque à necessidade do "controle social da mídia" e de uma reforma política destinada não a aperfeiçoar o sistema democrático a serviço de uma sociedade pluralista, mas a consolidar a hegemonia da nomenklatura petista. Não é outro o objetivo do decreto que, a pretexto de "regulamentar o texto constitucional", pretende aparelhar a estrutura do Poder Central com "conselhos populares" manipulados pelo Planalto.
E todo esse conteúdo "popular" se derramará na campanha petista, embalado pela demagogia dos chavões populistas que durante a convenção de sábado Dilma leu no teleponto: "Recolhamos as pedras que atiram contra nós e vamos transformá-las em tijolos para fazer mais casas do Minha Casa, Minha Vida. Vamos recolher os xingamentos, os impropérios e as grosserias e transformá-los em versos de canções de esperança no futuro do Brasil".
A soberba afasta aliados. A demagogia populista nem sempre atrai eleitores.

TEM COPA, NÃO EMPREGO

Um dos principais argumentos do governo federal para justificar os empréstimos subsidiados para a construção dos estádios de futebol para a Copa do Mundo foi a criação de vagas de trabalho para brasileiros, sobretudo no setor de serviços. Tal retórica foi usada exaustivamente pela presidente Dilma Rousseff, com destaque para seu discurso de 10 de junho deste ano, antes do início do torneio, em que a presidente atacou "os pessimistas". Ocorre que, da mesma forma que os estádios operam inacabados e os aeroportos ainda estão em processo de ampliação, o emprego está longe de representar um grande bônus ao país que sedia a Copa do Mundo. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e do Emprego nesta terça-feira mostram que a criação de emprego em maio foi a pior para o mês desde 1992. No acumulado do ano, o saldo líquido é de 543 mil postos, o pior saldo desde 2009. 
O MTE afirma que o emprego na indústria é o culpado pelo resultado ruim. Segundo o ministro Manoel Dias, foi "inesperado" que o saldo da indústria de transformação ficasse negativo no mês e puxasse o resultado para baixo. Contudo, o setor industrial está longe de ser o único responsável pela desaceleração da criação de vagas. O setor de serviços, que, em tese, é o mais beneficiado pelo advento da Copa do Mundo, pois nele estão listados os segmentos de alimentação, hotelaria, entre outros, também vivencia uma espiral decrescente. O comércio, em teoria animado para atender à enxurrada de turistas, por exemplo, apresenta no ano saldo negativo de emprego de 56 mil vagas, ante saldo também negativo de 30,7 mil vagas no mesmo período do ano passado. A situação é mais alarmante no varejo, que contou com 80 mil vagas a menos entre janeiro e maio.
Os itens Alimentação e Alojamento (que integram o saldo de Serviços e têm maior potencial de crescimento em período de Copa) tiveram a criação de 73 mil vagas nos primeiros cinco meses de 2014. Em 2010, esse mesmo segmento ficou com saldo positivo de 120 mil vagas; em 2011, 115 mil vagas e, em 2012, 98 mil vagas. Já para a construção civil, o saldo dos primeiros cinco meses do ano é o pior desde 2009: 82,4 mil vagas.
Entre as 12 cidades-sede da Copa, todas registram desde 2010 queda gradual no saldo de emprego entre janeiro e maio. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, a queda é brutal. Foram 40 mil vagas nos primeiros cinco meses de 2010 e 4.892 vagas no mesmo período deste ano. Em Manaus, o saldo ficou negativo em mais de 5 mil vagas justamente no ano da Copa. Em Recife, o saldo de emprego ficou em apenas 63 este ano.

Tem Copa, não emprego

20102011201220132014BeloHorizonteBrasiliaCuiabáCuritibaFortalezaManausNatalPortoAlegreRecifeRiodeJaneiroSalvadorSãoPaulo34.38924.9544.37424.78318.94512.5467.46314.14215.67140.32518.553129.18131.28318.3742.66918.63214.09719.75368815.94710.35039.7459.830122.54629.34017.4223.75520.6175.837-2662.13211.0488.54834.3597.62581.28014.57114.2432.46615.689-4.5554.269-1779.655-63717.4905.35356.2476.25812.17821714.2653.711-5.5894.5427.935634.828-36847.342
Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego com números referentes ao acumulado do saldo de vagas de janeiro a maio