terça-feira, 2 de setembro de 2014

PERDIDA NA NOITE

Num canto escuro de uma esquina mal-cheirosa, agarrada nos tijolos de um prédio sujo, ela vomitava. Suas pernas manchadas de bexigas roxas demonstravam a falta de cuidado que tinha para consigo. Um homem bêbado passou perto e disse alguns gracejos enquanto ela jogava fora sua saúde encharcada de álcool pelas noites da vida. Após o pior passar ela levantou os olhos para o céu e viu a lua olhando para sua carcaça desalinhada. Por um breve momento pensou nos sonhos de menina que o tempo tratou de pulverizar. Tinha perdido o juízo; a juventude tão gostosa de ser vivida; os amigos verdadeiros; a família que ela mesma deixara para trás. Caminhou alguns quarteirões até seu quartinho acanhado no hotelzinho de quinta categoria. Abriu a porta e sentiu no nas narinas o cheiro de mofo que dominava o cubículo. Sentou-se na cama e acendeu mais um cigarro, talvez o trigésimo da noite.Tudo à sua volta rodava, os olhos de peixe morto, pálpebras caídas.Após fumar, apagou o venenoso e se deitou sobre o cobertor que já cobrava por limpeza. Apagou. Mais uma noite de trabalho encerrada, mais um dia vivido sem alegria no coração.

CONTRABALANÇANDO

 A cachorrinha da dona Cleusa saía todo dia de sua casa e ia elegantemente fazer seu cocô matinal na grama limpa e verde do vizinho. Reclamar ele reclamou, mas seus apelos foram em vão. Era um homem gentil, detestava discussões e intrigas. Digamos que era um cavalheiro. Com o tempo achou que o negócio tinha passado dos limites. Resolveu ele também comprar um animalzinho de estimação para contrabalançar. Não foi fácil, mas conseguiu. E assim toda manhã ele saía de casa com seu elefante de estimação para fazer cocô no belo gramado do vizinho.

Arzinho

 Debaixo de frondosa árvore na praça, um velhinho de boca aberta olhava por horas o movimento dos automóveis que por ali circulavam. Pedi se ele estava com algum problema. Não, me disse ele, "estou aqui dando um arzinho pros dentes."

Consultório Sentimental da Vovó Romilda- Resposta para tudo, solução para nada

Jane- Cunha Porã- “Meu marido vai jogar futebol todos os dias, menos aos domingos. Devo ir junto?”

Vovó Romilda- “Por favor, isto é descarrego de consciência. Vai você largar da novela?”

Esquerda x direita: a diferença básica está na militância

Por João César de Melo, publicado noInstituto Liberal
É comum escutarmos que esquerda e direita são a mesma coisa. Uns dizem isso por ignorância; outros, dizem com a intenção de diluir na lama de terceiros os desvios daqueles nos quais confia. A verdade é que as diferenças são muitas, percebidas por qualquer um que queira percebê-las; e todas as diferenças convergem numa única palavra: militância.
O PT e os demais partidos de esquerda contam com um verdadeiro exército de militantes espalhados em todos os nichos sociais, institucionais e culturais do Brasil. A quase totalidade dos diretórios acadêmicos das universidades, a quase totalidade dos movimentos “sociais”, dos sindicatos, dos artistas e dos intelectuais formam uma gigantesca malha de apoio e de defesa de todos que eles reconhecem como representantes da esquerda. No lado oposto (à direita, mas nem tanto), temos o PSDB, que conta com o apoio de quase nenhuma representação social. O apoio ao PSDB sempre é individual e pouco manifestado.
As consequências práticas da militância da esquerda podem ser resumidos em sete:
1 – Necessidade de um Estado Gigantesco. Para sustentar seu exército de militantes, a esquerda precisa de centenas de instituições públicas, tais como secretarías, agências, ministérios e, claro, de dezenas de empresas estatais. Criam quantas instituições e quantos cargos forem necessários, a despeito do custo disso. Tanta gente indicada por razões políticas potencializa a corrupção nas relações com empresas privadas e alimenta a burocracia, já que as decisões ficam reféns da aprovação de cada vez mais pessoas. O valor “estratégico” de empresas estatais significa também bilhões de reais para serem repassados a sindicatos, movimentos sociais, artistas e intelectuais que lhes apoiam. Como o uso político da estrutura do Estado e de suas empresas sempre acabam gerando prejuízos, governos de esquerda recorrem a aumentos sucessivos de impostos e de taxações para financiar a si mesmo; e nesse embalo, intervém sucessiva e irresponsavelmente na economia para tentar corrigir os erros cometidos por eles mesmos, gerando novos problemas.
2 – O povo em defesa do governo que lhe rouba. Estando espalhados por toda a sociedade, a militância de esquerda manipula com grande facilidade as camadas mais pobres da população. Diante qualquer crítica ou acusação feita contra um governo que lhe represente, sua militância tem meios de dizer ao pé do ouvido de cada cidadão que tudo não passa de mentiras feitas pelas “elites”. Diante da ameaça de seus líderes perderem o poder, espalham todo tipo de mentiras sobre os adversários. Diante de problemas econômicos, propagam a versão dos fatos de que tudo é causado pela ganância dos capitalistas, mas garantem, baseando-se na suposta benevolência e sabedoria de seus líderes, que tudo melhorará logo logo.
3 – Milhões de bocas e milhões de tetas. Cada funcionário público comissionado fará ampla campanha em favor do governo para evitar, numa eventual mudança de partido, que ele perca seu salário e suas regalias. Considerando o volume do aparelhamento dos quadros do funcionalismo público brasileiro, enxergaremos mais um exército de gente com argumentos práticos (a perda do emprego) para angariar votos em suas famílias e em seus círculos sociais.
4 – O corrompimento da cultura. Por meio de massivos patrocínios a partir de empresas estatais, a esquerda torna a maior parte da classe artística e intelectual dependente do Estado, portanto, muda diante de seus desvios e absurdos. Assim como o funcionário comissionado fará de tudo para ajudar a reeleger quem lhe deu o emprego, artistas e intelectuais também fazem campanha pelo partido que facilita o financiamento de seus shows, de seus livros, de seus blogs, de suas peças e filmes.
5 – O corrompimento da mídia. Por meio de volumosos gastos em publicidade nos maiores veículos de comunicação (a maior parte sendo anúncios de empresas estatais) governos de esquerda os tornam dependentes e, consequentemente, temerosos em fazer as críticas e denúncias que devem.
6 – O corrompimento da indústria. Elevando cada vez mais a carga tributária, mantendo a mão de obra desqualificada e a infraestrutura estagnada, governos de esquerda coagem os empresários a recorrer aos créditos (a altos juros) que o próprio governo oferece, alimentando assim uma espiral tanto de ineficiência quanto de dependência do Estado.
7 – O esgotamento dos recursos. Todo esse aparato criado para manter a estrutura da esquerda, em especial sua militância, cobra um altíssimo custo da sociedade. Mesmos aqueles que não concordam com tais procedimentos, veem-se reféns de um custo de vida e de produção cada vez mais alto e salários proporcionais cada vez mais baixos por conta da estagnação econômica; reféns também de serviços públicos cada vez piores por serem resultados de administrações políticas – além do risco de terem até seus patrimônios espoliados em nome de “causas sociais”.
Por outro lado, o que é visto como “direita” não necessita desse gigantesco aparato estatal porque simplesmente não tem um exército de militantes para sustentar. Seus vínculos são com o setor empresarial, aqueles “malditos” que administram empresas, pagam salários e oferecem produtos á sociedade. Vinculada ao setor produtivo, a direita tenta se manter no poder fazendo a economia se desenvolver, o que gera a real distribuição de renda através de criação de empregos para trabalhadores cada vez mais qualificados e, em consequência disso, melhor remunerados; e o melhor de tudo: A direita não conta com um exército de militantes para defendê-la de críticas e acusações. Ao contrário. Numa democracia, a direita invariavelmente é acuada o tempo todo pela sociedade, especialmente pelos artistas e intelectuais, o que é ótimo!
Entre a direita e a justiça existem apenas promotores e advogados. Entre a esquerda e a justiça existem promotores, advogados e… um exército de militantes manipulando a sociedade em defesa dos réus, o que acaba influenciando a própria justiça.
Governo algum deve se ver com altos índices de popularidade. Lula manteve-se oito anos no poder sem projeto real de desenvolvimento porque contava com mais de 80% de aprovação. Não se sentindo ameaçado, Lula fez o que todo político tende a fazer: dedicou-se a transformar o Estado numa extensão de seu partido e de si mesmo.
Sem ter um exército dependente de sua “benevolência”, governos de direita só conseguem se manter no poder se fizerem a sociedade enriquecer, tal qual fizeram Reagan e Thatcher, ambos reconhecidos como os maiores líderes que seus países tiveram no último século.
Por trás do discurso muito “bonitinho” da esquerda, existe a realidade de que qualquer gasto estatal é pago pela sociedade e, como conta a história, raramente convergindo em benefícios reais á sociedade, com prejuízos justamente para os mais pobres, que se veem dependentes de Estados cada vez mais ineficientes.
Governos de esquerda e direita são propensos aos mesmos desvios e absurdos, porém, quando se minimiza poderes, minimiza-se também eventuais problemas e aumentam-se as chances de se detectar e resolver estes mesmos problemas.

Que continuem votando em quadrilhas. Hermanos tontos!- Fortuna dos Kirchner cresceu 687% desde 2003

”Gostar de ler também causa um certo tipo de fome. Torna-se uma necessidade para o ser que ama tal prática.” (Filosofeno, o filósofo que dorme sobre o capim)

GOVERNO CUBANO APOIA DILMA


Aécio sobe o tom

Aécio dirá que fica até o fim
Aécio dirá que fica até o fim
Aécio Neves vai renunciar? Hoje, no final da tarde, Aécio resolveu falar aos jornalistas. O assunto será levantado, claro.
Para tentar matar a boataria em seu começo, Aécio não apenas reafirmará seu compromisso em disputar o primeiro turno, jogando para escanteio qualquer possibilidade de deixar o campo de jogo.
Fará mais: subirá o tom de críticas às duas líderes  das pesquisas. Baterá em Marina Silva, atacará Dilma Rousseff.
Dirá que Dilma é a grande derrotada desta campanha, pois quem disputar com ela o segundo turno, vencerá.
Por Lauro Jardim

“Imposto, imposto meu, para o bolso de quem você vai?”

Árbitros do Brasileirão são tão ruins que logo estarão marcando pênalti após três escanteios.

“Quem muito se curva além de mostrar o cofre não consegue enxergar o azul do céu.” (Mim)

“A decepção não deixa de ser o tempero da vida. Se tudo desse certo a vida seria muito chata.” (Filosofeno)

GAZETA DO PORCO CAN- Nem os ácaros do Supremo acreditam que mensaleiros ficarão na cadeia

GAZETA DO PORCO CAN- Dilma tem dificuldade para fechar pacote de estímulo à economia por estar com uma unha encravada

BOIADA NA GENERAL OSÓRIO

Menino eu vi
Cascos batendo no chão
Poeira no ar
Vaqueiros atentos
Boiada descendo a General
Era uma multidão de chifrudos
Rumando ao Paraná
De tão perto que passavam
Dava até pra assustar
Mas para eu menino era coisa para se encantar.

Socialismo é seita religiosa sob manto do cientificismo: eis a prova definitiva!

Jesus!!! Para quem ainda tinha dúvidas de que o socialismo de laico não tem absolutamente nada, representando apenas um péssimo substituto para as religiões, oferecendo o “paraíso terrestre” em vez de salvação após a morte, vejam nessa reportagem da Veja.com que absurdo esses safados chegam a fazer para manter o poder:
“Chávez nosso que estás no céu”. Parece uma piada de mau gosto, blasfêmia, mas é a primeira frase da ‘oração chavista’, a mais nova criação do governo de Nicolás Maduro para tentar perpetuar o chavismo na Venezuela – reporta nesta terça-feira o jornal La Nación. A prece chavista foi apresentada oficialmente nesta segunda em um evento do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), atualmente no poder. A mais nova peça do populismo rasteiro de Maduro pode soar como piada, mas é cínica o suficiente para mesclar o chavismo com a oração mais popular do catolicismo, a religião de mais de 85% dos venezuelanos.
Em um teatro em Caracas, com a presença de Maduro, a oração marcou o encerramento – e o ponto alto – do evento governista. “Chávez nosso que estás no céu, na terra, no mar e em nós/ Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu legado para ajudar pessoas de aqui e ali”, entoou em tom solene a deputada chavista Maria Uribe. “Dê a nós a tua luz para nos guiar todos os dias/ Não nos deixe cair na tentação do capitalismo, mas livra-nos do mal, da oligarquia, do crime de contrabando, porque a pátria, a paz e a vida são nossas/ Por séculos e séculos, amém/ Viva Chávez”, termina a oração.
Peço perdão ao leitor por não ter recomendado um Engov antes. Pode ir ali vomitar que espero aqui. Foi? Sigamos, então. Em meu livro Esquerda Caviar, tratei do assunto, mostrando como uma das origens do fenômeno era justamente a busca desesperada por uma nova fé religiosa em forma de ideologia política. Escrevi:
Nem todos os membros dessa esquerda caviar são ricos canalhas, herdeiros culpados, madames e jovens entediados, ou preguiçosos, claro. Há uma categoria relevante formada por intelectuais que vivem bem, mas que não são necessariamente abastados. Esses precisam de alguma explicação também. E Raymond Aron forneceu uma boa dica em seu magistral O ópio dos intelectuais.
Para o pensador francês, o marxismo ou o comunismo viraram uma espécie de “religião secular”, prometendo o paraíso terrestre em vez de aquele pós-morte pregado pelo cristianismo. O título já é uma clara provocação ao ditado famoso repetido por Marx, de que a religião é o ópio do povo. Para esses intelectuais, o comunismo era o ópio, a droga capaz de fornecer a fuga para a falta de sentido em suas vidas.
Para o típico intelectual, a reforma é uma coisa chata, enquanto a revolução é emocionante. Uma é prosaica, a outra poética. A revolução fornece ao intelectual uma pausa bem-vinda ao curso diário dos eventos rotineiros e incentiva a crença de que todas as coisas são possíveis. Por que pensar em como melhorar algumas questões do cotidiano, sempre imperfeito, quando se pode abraçar a utopia revolucionária de que todos os males que assolam a humanidade terão finalmente uma solução?
[...]
Outro que explicou bem essa distinção entre revolucionários e reformadores foi David Horowitz, mostrando por que intelectuais de esquerda tendem a abraçar movimentos radicais e violentos:
Um planeta salvo, um mundo sem pobreza, desigualdade, racismo, ou guerra – que meios não seriam justificados para atingir tais fins milenares? A título de contraste, movimentos menos ambiciosos de reforma são capazes de pesar ganhos contra prováveis custos e evitar o tipo de excessos e atrocidades endêmicas a causas radicais.
Mas para o intelectual revolucionário, a política é tudo! É o que dá sentido para sua vida. Ele respira política. Não tem tempo a perder com mudanças graduais e democráticas. Afinal, sabe o que é certo, qual o caminho desejado. Precisa apenas do poder para executar suas fantasias. E ele jamais escuta o alerta feito por Hoelderlin: “O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso”. 
Quer um entorpecimento mais poderoso do que a sensação de que você pertence a uma classe de escolhidos, que sua missão na vida é colaborar para a construção de um mundo novo, e que nada menos do que a perfeição será o resultado de suas ações? O escritor mexicano Octavio Paz, autor de O ogro filantrópico, descreveu o marxismo como um “vício intelectual”, uma “superstição do século XX”. Infelizmente, do século XXI também.
Joshua Muravchik demonstra sem rodeios, em Heaven on Earth, como o socialismo foi a história mais ambiciosa dos homens na tentativa de suplantar a religião com uma doutrina sobre como a vida deve ser vivida com base na ciência, não na revelação. Após tanta esperança e luta, milhões de vidas sacrificadas no caminho, eis o epitáfio da seita: se você construir esse “paraíso”, os outros vão abandoná-lo sempre que possível.
Paulo Francis foi outro observador arguto que percebeu essa característica religiosa no comunismo:
Milhões de pessoas, no entanto, se sacrificaram por Stalin, idealistas, muitas das quais morreram fuziladas nos campos de extermínio da URSS, bradando triunfalmente o nome do carrasco, no momento em que este as executava, o que prova que o comunismo é a religião secular do nosso tempo.
O sentimento de nobreza proveniente de se enxergar como um desses “ungidos”, para usar o termo de Thomas Sowell, coloca qualquer outra droga no chinelo. Se os ricos artistas da esquerda caviar costumam curtir cocaína ou maconha, seus pares intelectuais vão de marxismo mesmo, droga das mais pesadas. 
Rodrigo Constantino

Miniconto- OS VELHOS E A VELA

O velho e velha Antiok resolveram sair de casa para visitar o grande amigo Sirtuk que estava acamado. Quando tinham dados poucos passos na rua a velha se lembrou que havia deixado a vela por apagar. Voltaram os velhos para apagar a vela e saíram. Novamente eram alguns passos porta afora e o velho disse que precisava voltar para pegar seu isqueiro. Voltaram. Sem precisar da vela o velho achou seu isqueiro. Nisso a velha percebeu que estava sem calcinha e acendeu a vela para procurá-la. O velho segurava a vela enquanto a velha procurava por sua calcinha. Achada e posta a calcinha o velho apagou a vela sem não antes tropeçar e derrubar a velha e a vela. De pé os velhos saíram deixando a vela no escuro. Mais tarde quando retornaram para casa os velhos perceberam que a porta havia ficado aberta. O velho disse que entraria sozinho por segurança, a velha ficaria na porta aguardando. O velho então entrou, mas não encontrou a vela para verificar como tudo estava. A velha ansiosa resolveu entrar para procurar pela vela também. A vela não foi encontrada, e não havia outra na casa. O caso é que a vela fora roubada, e o velho e a velha dormiram no escuro com saudade da prestimosa vela.

No país onde o pessimismo é o culpado pela recessão, as enchentes devem ser as responsáveis pelas chuvas. (Ricardo Amorim)

Dora Kramer- Abalar o andor

Dora Kramer
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costuma dizer que no Brasil a sociedade se movimenta a partir de algum curto-circuito, produto de uma faísca qualquer em geral decorrente de algo imprevisível.
É a análise do sociólogo, que poderia se encaixar na onda de preferência do eleitorado por Marina Silva, mas que certamente não seria conveniente ao discurso do político engajado na campanha do tucano Aécio Neves.
De qualquer modo, a tese permanece e suscita uma indagação. Seria Marina capaz de desencadear o tal curto-circuito renovador ou sua força se encerra no brilho da faísca?
Nas próximas cinco semanas o esforço da campanha do PSB será o de consolidar a primeira hipótese no coração do eleitorado, enquanto o PT e o PSDB vão apelar para a racionalidade do público a fim de demonstrar que a segunda é a mais correta.
Em resumo, na versão dos adversários o voto em Marina Silva seria um contrato de alto risco para o Brasil. Se o eleitor vai se deixar convencer são outros quinhentos.
Muitos políticos experientes e vários analistas de pesquisas não querem ainda emitir opiniões definitivas em público, mas nos bastidores a impressão predominante é a de que a onda veio para ficar e ela está eleita.
Isso não significa que nas campanhas as toalhas já tenham sido jogadas. O PT aposta na força do governo. O PSDB desenvolve o raciocínio de que Marina estaria vivendo o auge do entusiasmo pelo desejo do "novo" e que a partir de agora a tendência do eleitor seria a de prestar mais atenção a questões objetivas de governabilidade.
Os dois adversários já abandonaram o tratamento cerimonioso e desde o fim de semana passaram a citar Marina nominalmente em suas críticas. O tucano dedicou o horário eleitoral do sábado a levar o público a refletir sobre dois tipos de escolha: a emotiva e a realista.
Começou por atacar a questão do voto útil, dizendo: "Não basta tirar o PT do poder". Fez um gesto de delicadeza - "respeito muito a Marina" - a fim de não se atritar com os eleitores dela, mas pôs em dúvida sua capacidade de governar.
Tanto tucanos quanto petistas agarram-se à esperança de que Marina neste mês e alguns dias até a eleição seja levada a descer do altar em que se encontra entronizada, pela necessidade de se confrontar com o mundo real.
O combate será no campo das cobranças de conteúdo. Aí suas contradições, acreditam, ficariam expostas como vulnerabilidades graves para o exercício da Presidência.
Mau momento. Candidato ao Senado pela Bahia, integrante da ala do PMDB anti-PT, Geddel Vieira Lima atribui a "setores insanos do partido" a notícia de que os pemedebistas aliados a Aécio Neves já estariam se movimentando para aderir à candidatura de Marina Silva.
"Eleição em dois turnos obedece a um ritual. Se o meu candidato (Aécio) não passar para o segundo turno, aí discutimos uma posição. Agora, com o processo do primeiro turno ainda em curso, tocar nesse assunto é puro oportunismo."
Aos fatos. A presidente Dilma Rousseff diz que está muito preocupada com o programa de governo de Marina, "no que se refere tanto à criação de empregos quanto à questão da indústria nacional".
Na realidade, "no que se refere" à candidata do PSB a preocupação da presidente é mesmo quanto à questão dos índices de intenções de votos das pesquisas.
Linha torta. A candidata do PSB usou sete palavras - "uma falha processual na editoração do texto" - e uma construção confusa para explicar a retirada do apoio a causas LGBT inscritas no programa de governo. Para falar claro bastaria um "erramos".

Caio Blinder-Obama, perdido no Oriente Médio (mas que elegância!)




Com qual estratégia? Com que roupa?
Ufa, agosto terminou! Para Barack Obama foi mês infeliz para o seu veraneio, com o conspícuo jogo de golfe, enquanto algumas regiões do mundo, como o Oriente Médio, afundavam em buracos ainda mais fundos. As tacadas do presidente americano foram, para dizer o mínimo, infelizes, como a já lendária “nós não temos ainda uma estratégia” para lidar com o terror do grupo Estado Islâmico na Síria. E enquanto Obama exibia sua retórica pouco vistosa, rolava no Twitter o debate sobre seu terno bronze-de-verão. Eu gostei, cool, uma brisa, mas minha mulher diz que eu não entendo nada de moda (nem de Obama).
Como sair do buraco? Como não afundar ainda mais profundamente? Steve Coll, que escreve na revista The New Yorker e publicou uma biografia sobre o clã Bin Laden tem boas sacadas, boas tacadas. Por ora, Obama olha para o buraco do Siraque (Síria + Iraque) e dá o sinal verde para ataques aéreos contra o Estado Islâmico no Iraque. O casus belli tem três componentes: o Estado Islâmico massacra minorias religiosas, como cristãos e yazidis, e os ataques aéreos podem minimizar a mortandade; o segundo imperativo é reforçar a defesa dos curdos e sua região semiautônoma rica em petróleo no norte do Iraque; e a terceira razão de Obama, com maisappeal para o público interno, é autodefesa: atacar agora antes que o Estado Islâmico tente atacar americanos na região ou nos EUA.
Steve Coll tem argumentos pontiagudos. A questão não é se retomar a guerra no Iraque é justificável (depois de tantas promessas de Obama de saltar do buraco), mas para onde esta retomada irá levar. Ataques aéreos são insuficientes, mas uma intervenção terrestre dos EUA e países ocidentais seria catastrófica. As opções na Síria são ainda mais ingratas. Os rebeldes moderados são impotentes para derrotar a ditadura de Bashar Assad ou os jihadistas ensandecidos do Estado Islâmico. Neste cenário, restam alternativas como deixar a Síria apodrecer de vez ou apoiar o infame Assad contra os jihadistas.
Na expressão de Steve Coll, Obama e seus assessores, ao invés de uma estratégia, buscam o santuário da lógica da autoabsolvição. E este retraimento realista e amoral tem appeal dentro de casa depois dos anos de arrogância e ignorância que marcaram a política externa americana na era Bush. E nestes dilemas, há um argumento que eu considero convincente: não está claro se o Estado Islâmico, apesar de sua barbárie presente ou devido a ela, poderá persistir como uma amea ça. Afinal, o califado não é um projeto de governo no século 21.
A ascensão de uma excrescência como o Estado Islâmico é sintoma de uma profunda instabilidade no Oriente Médio, para a qual o resto do mundo contribuiu. E como encontrar fontes de estabilidade, governabilidade, segurança e justiça no Siraque? Obviamente não existem respostas embaladas.
Obama alega ainda não ter uma estratégia, mas Steve Coll lembra que o presidente americano possui uma coleção de aliados na região, nem todos confiáveis ou palatáveis, como Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Jordânia. Alguns destes aliados, que apoiam os sunitas no Siraque, são chegados até em jihadistas. O ponto a ser destacado é que qualquer projeto de estabilidade vai exigir mais participação no poder e mais autonomia dos sunitas na Síria e no Iraque. Falta, é claro, combinar com o hegemônico poder xiita na região, o Irã, patrono de Bashar Assad e da maioria xiita no Iraque.
Steve Coll arremata que Obama admira o realismo da política externa de George H.W. Bush (o pai), que assistiu com frieza a alguns genocídios, mas costurou a ampla coalizão que derrotou sem derrubar o regime de Saddam Hussien na guerra do golfo Pérsico em 1991. Para fazer algo neste sentido, Obama precisará se engajar pessoalmente de forma muito intensa, arregaçando as mangas e tirando o paletó.

Paulo Roberto Costa: o homem-bomba está falando

O homem-bomba Paulo Roberto Costa começou a falar. Sua delação premiada iniciou-se na sexta-feira, no Paraná.
O quanto esse depoimento e os outros que se seguirão podem afetar a corrida presidencial, não se sabe ainda. Mas o potencial é considerável.
Por Lauro Jardim

“Você bebe muito? Mande alguém filmar você bêbado por alguns minutos. Tenho certeza que sóbrio ao ver o filme guinará para moderação.” (Eriatlov)

“A minha mulher diz que não me elogia para não atiçar a concorrência.” (Eriatlov)

“Não é pelo tamanho das orelhas que se conhece um bom ouvinte.” (Mim)

Vamos lá?


E aí José?


PERCIVAL PUGGINA- UMA SERINGUEIRA EM ÁREA DE LAVOURA

O eleitor comum é um sujeito com o coração no lugar do cérebro e o cérebro dividido entre a geladeira e o contracheque. Foi assim que elegeu Lula duas vezes e colocou uma tartaruga no poste em 2010.

No entanto, tem razão Bob Marley: "You may not be her first, her last, or her only. She loved before, she may love again". Ocorre o mesmo com o amor de eleitor. E o coração do eleitor brasileiro pulsou fortemente quando a queda de um avião sem dono, sem caixa-preta e sem motivo para cair, entregou uma candidatura presidencial à acreana Marina Silva. A esguia senhora, que parece saída de uma foto de Sebastião Salgado, entrou em espiral ascendente. O coração do eleitor faz coisas assim. E depois? Ora, quanto ao depois, especulemos.

A coligação agora formada em torno de Marina Silva envolve os seguintes partidos: PSB, PPS, PRP, PHS, PPL e PSL. Os três últimos não têm um único deputado federal ou senador. São legendas e quase nada mais. Os três primeiros, têm, respectivamente, 24, 6, e 2 deputados, correspondendo a apenas 6% do plenário da Câmara dos Deputados. O PSB tem 4 senadores. Mesmo supondo que a condição privilegiada da candidata socialista no momento do pleito de 5 de outubro conceda um upgrade às suas nominatas de candidatos proporcionais, é muito improvável que tenha peso significativo no Congresso a base parlamentar natural de um eventual governo do PSB. Será mesmo do PSB ou será da Rede? Marina estaria como uma seringueira solitária em área de lavoura. Onde iria buscar os outros 250 deputados e os 50 senadores que lhe faltarão para compor maioria? Como aprovaria ela as medidas que serão necessárias na crise que já se instalou no país e que se agravará no ano que vem?

Marina fala numa tal Nova Política, que incluiria o fim do instituto da reeleição e o emprego de mobilização popular para exercer pressão sobre o Congresso Nacional onde ela, como se depreende do exposto acima, teria sólida minoria. Marina contaria, então, com o apoio do povo. Por quanto tempo, Bob Marley? Até o primeiro arrufo entre namorados?

Se ela tiver fé religiosa no elevado espírito público dos senhores congressistas, um eventual governo seu terá curto prazo de validade, como demonstra a experiência histórica. No entanto, ela já deve ter consciência disso, e a questão se resume em saber quem correria primeiro - se ela para o PMDB ou o PMDB para ela. Certo, porém, é que o PMDB e seus abnegados congressistas estariam no governo. E quem mais? Tudo indica que dona Marina não nutre qualquer simpatia pelo PSDB, o que levaria esse partido para mais um quadriênio de elegante retórica oposicionista. Tampouco parece razoável, no plano das suposições, que o PSB venha a formar governo com o PT no momento em que tiver na mão as ostras e o canivete para sucedê-lo como protagonista principal da cena política nacional. Quem resta, então, para servir de coadjutor a um projeto governista de dona Marina na legislatura de 2015 a 2019? Virtudes cívicas e força política não costumam piar juntas na atual ninhada de siglas partidárias do país.

Continuo convencido de que o movimento das peças no jogo do poder é para profissionais. Quando o eleitorado, como agora, começa a desenhar estratégias, votos mudam incontrolavelmente de lado. O PT acelerou o caminho para a recessão tentando fugir da recessão. E a crise em que lançou o país acelera esses movimentos espontâneos da opinião pública em busca de novos amores, "eternos enquanto duram".

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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.

Dilma, a grande derrotada da noite!

O saldo do debate promovido nesta segunda pela Jovem Pan, Folha, UOL e SBT? Uma Marina Silva que se consolidou como alternativa aos olhos do eleitorado e que cresceu, como presidenciável, atropelando Dilma Rousseff, que teve, de muito longe, o pior desempenho entre os três principais candidatos. O debate está na Internet, pode ser visto por qualquer um que não o tenha feito. O tucano Aécio Neves se saiu muito bem. Respondeu, como de hábito, com clareza e desenvoltura. Demonstrou conhecimento de causa e segurança. Mas, como afirmei no post de ontem, as circunstâncias não o transformaram em um dos polos do debate, que caminhou para o confronto entre Marina, ora no PSB, e Dilma, do PT. Qualquer juízo objetivo constata o óbvio: a candidata à reeleição perdeu feio o embate. Os petistas estão completamente desorientados.
Há dias, chamo aqui a atenção para o desastre a que as ideias fixas podem conduzir as pessoas, lembrando o Machado de Assis de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Como nunca, o PT tem sido vítima de sua natureza. Se não conseguir sair da encalacrada em que está, perdeu a eleição.
Os petistas só sabem fazer campanha presidencial contra, nunca a favor. A de 1989 se organizou na oposição a José Sarney e Fenando Collor, hoje seus queridos aliados. Em 1994, passa a ser vítima da ideia fixa: atacar os tucanos. Perdeu dois pleitos consecutivos no primeiro turno no ataque ao Plano Real, às privatizações e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Em 2002, mudou de rumo: passou a falar uma linguagem propositiva e se tornou monopolista da esperança e da mudança — um discurso que hoje, tudo bem pensado, serve a Marina Silva.
Muito bem! Eleito presidente, Lula resolveu governar com os marcos macroeconômicos herdados do PSDB — não adianta disfarçar —, mas deu início à demonização do adversário. Com impressionante vigarice, o PT se portava como “oposição”, embora fosse governo, embora fosse situação, embora estivesse no controle do Estado. Exercitou, no limite do possível, o discurso do ressentimento, do ódio e da perseguição aos adversários. Queria, em suma, ser o senhor — e era! —, mas com o poder das… vítimas.
Enquanto as circunstâncias econômicas foram favoráveis à construção dessa farsa, surfou na onda. Acreditem: os petistas já não contavam mais — e não contam ainda — com a possibilidade de deixar o poder. Há pouco mais de um ano e meio, falavam abertamente na reeleição de Dilma no primeiro turno e depois em mais oito anos de Lula… Tudo assim, com desassombro, sem combinar antes com a história e com o imponderável.
Para isso, no entanto, sempre dependeu de um inimigo de estimação: o PSDB. O partido era sua antivitrine, seu exemplo de elite pernóstica e insensível aos reclamos do povo. Os braços de aluguel do partido na subimprensa e na imprensa ainda insistem nessa cascata. Mas eis que surge uma Marina no meio do caminho, oriunda justamente do ninho… petista! Também sabe fazer o discurso dos “Silva”; também sabe desempenhar o papel da “vítima triunfante”; também é especialista na “demonização do outro”, embora tenha uma fala menos rascante do que a de Lula, embora se expresse com mais fluência — o que não quer dizer clareza —, embora pareça a pura expressão da mansidão.
E eis que vemos um PT sem resposta, a dar tiros no próprio pé. No debate desta segunda, Dilma tentou encurralar Marina, mas perdeu todas. Mesmo quando atacava, estava na defensiva. A petista só se esmerou no jogo bruto, beirando a grosseria, contra Aécio. Ocorre que, hoje ao menos, quem fará Dilma mudar de endereço é Marina Silva.
Depois do debate, Dilma se reuniu com seu núcleo duro de campanha — incluindo o marqueteiro João Santana e o ministro Aloizio Mercadante — e com Lula. Foi, certamente, uma reunião para lamber as feridas do dia. Marina foi a vencedora da noite, e Dilma, a grande derrotada. Os petistas vivem o dilema expresso pelo asno de Buridan, aquele que pode morrer de fome e de sede, incapaz de decidir entre a água e a alfafa. Se bate em Marina, teme se esborrachar com a rejeição do eleitorado, que vê na ex-senadora a magricela pobrezinha do seringal, que se esforçou e se tornou uma figura mundialmente conhecida. Se não bate, a magriça se agigante e engole a máquina petista nem que seja com um trocadilho, no que ela é boa. Nesta segunda, mandou ver em mais um: “Não sou nem pessimista nem otimista, sou persistente”. O que quer dizer? Nada! Enquanto isso, Dilma, coitada!, se enrolava em números e siglas, com a cara feia, visivelmente contrariada.
Pela primeira vez, desde 2002, as circunstancias atuam contra a ideia fixa do PT. E o partido não sabe o que fazer. Desta vez, nem o Santo Lula pode ajudar. Encontrou uma Silva que sabe ser ainda mais coitadinha e mais orgulhosa do que ele próprio. Como colar nela a pecha de candidata da Dona Zelite, né, Lula?
Por Reinaldo Azevedo

Miniconto- O MEDO

Insônia. Passava da meia-noite quando Antenor foi à sacada do seu apartamento que ficava no oitavo andar para fumar. A esposa dormia. Sentou-se, acendeu um cigarro e ficou ouvindo o murmúrio noturno da cidade. Algumas frenagens, buzinas e sirenes, sons da madrugada na cidade grande. Enquanto observava a fumaça se dissipando no ar pensava na vida. Já completara 53 anos em boa forma, a vida familiar era harmoniosa, a loja de peças permitia uma vida digna, o filho Rafael de 15 anos tinha boa saúde, bom aluno e não incomodava os pais. O que estaria faltando? O que lhe tirava o sono? Dívidas e inimigos sérios não faziam parte do seu mundo. Ficou remoendo dentro do cérebro perguntas e mais perguntas tentando obter respostas. Fumou mais um cigarro, voltou para seu quarto, acordou a mulher que bem dormia e perguntou: “Amor, você também tem medo da velhice?”