segunda-feira, 12 de março de 2018

HERBERT E A MORTE


Herbert era um grande mágico. Tão bom que por mais de uma centena de oportunidades enganou a morte quando ela veio para buscá-lo. Foram tantas vezes que a morte desistiu de levá-lo, cansou-se. Desde então Herbert vaga pelo mundo sem descanso. Aquilo que poderia  ao olhar superficial ser uma dádiva, tornou-se um fardo duro de carregar. Herbert ainda vaga por aí, saturado da vida, esperando que a morte reconsidere.

DEPOIS DA TEMPESTADE


Temporal passado, seu Alberto Estuco que não mentia nada, contava aos visitantes os estragos que o vento causara.
“Uma das vacas do seu Líbório foi parar nas asas de um avião da Gol.”
“O guaipeca Neneca teve o pelo virado do avesso.”
“Meu chapéu de feltro foi encontrado no Japão.”
“Esterco aqui do potreiro do Sampaio foi encontrado na porta de um restaurante em Nova York.”
Tudo isso perfeitamente verossímil diante da força do vento. O único fato que ainda não foi bem explicado é terem encontrada a dentadura da dona Nhoca cravada no saco do padre Bento.

ADEUS MUNDO CRUEL


Mauro não era propriamente um homem a quem podemos emblemar de bem com a vida. Casamentos desfeitos, bons empregos perdidos, duas sociedades em que fora passado para trás. Naquele dia saíra para procurar emprego e voltando para casa sem nenhuma novidade encontrou ela vazia. A mulher partira levando a mobília também. Ele foi então até o banheiro, levantou a tampa do vaso e se atirou dentro. Espremeu-se bem e com muito esforço conseguiu puxar a cordinha da descarga. Adeus mundo cruel!

A CANETA


Havia uma bela caneta mágica que tinha vida e que só gostava de escrever coisas relacionadas ao amor. Porém por essas coisas da vida foi parar nas mãos de um bruto cheio de ódio na Síria. Então certo dia já cansada de ver cabeças cortadas, bombas dilacerando inocentes e de escrever discursos abomináveis contra a vida, transformou-se num pequeno lagarto e enterrou-se na areia do deserto para sempre.

PERU INÁCIO


Dezembro estava chegando e o peru Inácio não queria morrer. Rezava que rezava para ser poupado nas festas de natal e novo ano. Já não dormia mais, sua angústia era visível. Suas colegas galinhas tentavam consolá-lo dizendo que a vida é mesmo assim; hoje uns e amanhã outros. O galo médico receitou até um ansiolítico. O padre Bode João rogava-lhe que tivesse esperança. Inácio olhava para o ceú azul e não sentia nenhuma alegria, sua única visão era ele bem bronzeado sobre uma farta mesa, rodeado de arroz, saladas e de pessoas embriagadas. O caso é que dezembro chegou e o bom Inácio foi ao forno. Ficou bem moreninho como ele mesmo imaginara; sem dúvida um belo peru. As galinhas amigas agora rezam por sua alma, orientadas pelo Bode João.

THE END


Aos trinta anos o solitário Marcelo chegou à conclusão que não gostava de nada tampouco de alguém, nem de lugar, gente ou bicho. Tinha raiva até de cuspir. Após essa análise entrou no lixão da prefeitura e prontamente se deu um tiro na cabeça.

BARRAS


Linha azul e agulha, agulha e linha, uma calça jeans sobre a mesa. Gritos pedindo anestésicos e “socorro vão me matar!” “estão me furando as minhas pernas!” Alguns minutos dessa ladainha chorosa tudo se acalma. Linha e agulha voltam para seus lugares e a calça suada depois de todo o sofrimento para fazer suas barras repousa em silêncio debruçada no cabideiro.

FÓSFOROS


Naquela minúscula caixa havia um fósforo meio depressivo, sem cabeça. Não conversava com ninguém, abatido, triste, um inútil. Numa fria manhã ele surtou. Riscou um irmão contra o outro até a caixa explodir num fogo só. Não sobrou ninguém, até o esmalte da tampa do fogão ficou marcado. Uma vez mais ficou provado que quem não tem cabeça age por impulso e queima até mesmo os seus irmãos.

40 ANOS por Alexandre Garcia. Artigo publicado em 08.03.2018



Meu amigo Sérgio lembra que em 1971, de traquinagem, quebrou o farol de um carro estacionado perto da casa dele.

O pai soube, deu-lhe uma surra de cinta e o traquina nunca mais fez aquilo. Entrou para a faculdade e hoje é um profissional de sucesso. Em 2011, seu filho fez o mesmo, Sérgio reprisou a surra que levara, mas seu filho o denunciou e ele foi condenado à prestação de serviços comunitários.

O filho caiu na droga e hoje está num abrigo para menores. Em 1971, o coleguinha mais moço de Sérgio sofreu uma queda no recreio, a professora deu-lhe um abraço e o menino voltou a brincar. Em 2011, outro menino esfolou-se no pátio da mesma escola, a diretora foi acusada de não cuidar das crianças, saiu na TV e ela renunciou ao magistério e hoje está internada, em depressão.

Em 1971, quando os coleguinhas de Sérgio faziam bagunça na aula, levavam um pito do professor, eram levados à direção e ainda sofriam castigo em casa. E todos se formavam prontos para a vida.

Em 2011, a bagunça em sala de aula faz o professor repreendê-los, mas depois pede desculpas, porque os pais foram se queixar de maus-tratos à direção. Hoje fazem bagunça no trânsito e no cinema, incomodando os outros.
Em 1971, nas férias, todos saíam felizes, enfiados num Fusca. Depois das férias, todos voltavam a estudar e a trabalhar mais. Em 2011, a família vai a Miami, volta deprimida e precisa de 15 dias para voltar à normalidade na escola e no trabalho.

Em 1971, quando alguém da família de Sérgio adoecia, ia ao INPS, esperava duas horas, era atendido, tomava o remédio e ficava bom. Saía a correr, pedalar, subir em árvores de novo. Em 2011, os parentes de Sérgio pagam uma fortuna em planos de saúde, fazem exames de toda sorte à procura de câncer de pele, pressão nos olhos, placas nas artérias, glicose, colesterol, mas o que têm é distensão muscular por causa de exageros na academia.

Em 1971, o tio preguiçoso de Sérgio foi flagrado fazendo cera no trabalho. Levou uma reprimenda do chefe na frente de todos e nunca mais relaxou.
Em 2011, o cunhado de Sérgio foi flagrado jogando xadrez no computador da empresa, o chefe não gostou e o puniu. O chefe foi acusado de assédio moral, processado, a empresa multada, o cunhado relapso foi indenizado e o chefe demitido.

Em 1971, o irmão mais velho de Sérgio deu uma cantada na colega loira de trabalho. Ela reclamou, fez charminho e aceitou um jantar. Hoje estão casados.
Em 2011, um primo de Sérgio elogiou as pernas da colega de escritório, foi acusado de assédio sexual, demitido e teve que pagar indenização à mulher das belas pernas, que acabou no psiquiatra. Meu amigo Sérgio me pergunta o que deu em nós, nesses 40 anos, para nos tornarmos tão idiotas, jogando fora a vida como ela é.

Dei a resposta: é a ditadura da hipocrisia imbecil do politicamente correto.

DE INOCÊNCIA E CREDULIDADE por Renato Sant’Ana. Artigo publicado em 09.03.2018



Se Jaques Wagner fosse da Igreja Universal, teria explicação: consta que Deus costuma agraciar os obreiros do Edir Macedo com prosperidade financeira... Mas não. Ele é só um sindicalista que se tornou medalhão do PT. Como explicar, então, que tenha um imóvel avaliado em mais de R$ 10 milhões?

Ele mora simplesmente num apartamento de alto luxo, com vista para o mar, no 13º piso de um dos endereços "mais exclusivos" de Salvador, o condomínio Victory Tower. Para ter-se ideia, o prédio tem pier com saída direta para o mar.

Jaques Wagner está sendo acusado de passar a mão em R$ 83 milhões de propinas pagas por Odebrecht e OAS. Ele foi delatado em 2016 por dois ex-executivos da Odebrecht, Cláudio Melo Filho e Hilberto Silva, que contaram detalhes escabrosos da roubalheira feita nas obras da Arena Fonte Nova. Obras da Copa, entende? A investigação apurou que ele chegou a mandar entregar punhados de dinheiro na casa da própria mãe, que mora no Rio, porque na Bahia nenhum doleiro poderia lavar tanta grana.

Mas a ladainha petista é sempre a mesma! Carmelitas do PT, como Gleisi Hoffmann, Paulo Pimenta e Lindbergh Farias, acusam a PF e a Rede Globo de perseguirem o pobre rapaz. Mas, quem sabe... O preclaro Bresser Pereira já disse: é por não gostar que os pobres viajem de avião que as elites (a cujo serviço, segundo essa gente, estão a PF e a Globo) não querem o PT de volta ao governo. Não é uma boa teoria?

Mas tem uma coisa que não fecha: é o apartamento do Jaques Wagner, concreto, palpável, com escritura, valor de mercado... Isso a PF não conseguiria inventar! Será que ele também ficou rico fazendo palestras milionárias pelo mundo afora? Seria bom que essas palestras estivessem no Youtube...

Para completar, cumprindo mandado de busca e apreensão, a PF recolheu objetos no barraco de Jaques Wagner, entre os quais 15 relógios de luxo. E daí? Queriam que ele usasse relógio de camelô? Como diz Januário, o taxista, "É preciso ter coração e cérebro de mãe de bandido para acreditar na inocência dos petistas."

* Renato Sant'Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.
** Publicado originalmente em www.alertatotal.net

MARXISMO E ÁGUA BENTA por Percival Puggina. Artigo publicado em 10.03.2018



Quem condena a riqueza, dissemina a pobreza. Sem riqueza não há poupança e sem poupança não há investimento. Sem investimento, consomem-se os capitais produtivos preexistentes, surge uma economia de subsistência, vive-se da mão para a boca, aumenta o número de bocas e diminui o numero de mãos. Quem defende o socialismo sustenta que a ideia é exatamente essa e que assim não há competição ou meritocracia, nem desigualdade.

Quando o Leste Europeu estava na primeira fase, consumindo os bens produtivos preexistentes, nasceu a teologia da libertação (TL), preparada pelos comunistas para seduzir os cristãos. A receita - uma solução instável, como diriam os químicos, de marxismo e água benta - se preserva ainda hoje. Vendeu mais livros do que Paulo Coelho. Em muitos seminários, teve mais leitores do que as Sagradas Escrituras. Aninhou-se, como cusco em pelego, nos gabinetes da CNBB. Resumidamente: perante a questão da pobreza, a TL realiza o terrível malabarismo de apresentar o problema como solução e a solução como problema. Assustador? Pois é. Deus nos proteja desse mal. Amém.

A estratégia é bem simples. A TL vê o “pobre” do Evangelho, cumprimenta-o, deseja-lhe boa sorte, saúde e vida longa, e passa a tratá-lo como “oprimido”. Alguns não percebem, mas a palavra “oprimido” designa o sujeito passivo da ação de opressão. O mesmo se passa quando o vocábulo empregado na metamorfose é “excluído”, sujeito passivo da exclusão. E fica sutilmente introduzida a assertiva de que o carente foi posto para fora porque quem está dentro não o quer por perto.

A TL proporciona a mais bem sucedida aula de marxismo em ambiente cristão. Aula matreira, que, mediante a substituição de vocábulos acima descrita, introduz a luta de classes como conteúdo evangélico, produzindo o inconfundível e insuperável fanatismo dos cristãos comunistas. Fé religiosa fusionada com militância política! Dentro da Igreja, resulta em alquimia explosiva e corrosiva; vira uma espécie de 11º mandamento temporão, dever moral perante a história e farol para a ordem econômica. Por fim, anula as possibilidades de superar o drama da pobreza. A TL substitui o amor ao pobre pelo ódio ao rico, e acrescenta a essa perversão o inevitável congelamento dos potenciais produtivos das sociedades.

Todos sabem que Frei Betto é um dos expoentes da teologia da libertação. Em O Paraíso Perdido (1993), ele discorre sobre suas muitas conversas com Fidel Castro. Num desses encontros, narrado à página 166, falava-se sobre a TL. Estavam presentes Fidel, o frei e o “comissário do povo”, D. Pedro Casaldáliga, espécie de Pablo Neruda em São Félix do Araguaia. Em dado momento, o bispo versejador comentou a resistência de João Paulo II à TL dizendo: “Para a direita, é mais importante ter o Papa contra a teologia da libertação do que Fidel a favor”. E Fidel respondeu: “A teologia da libertação é mais importante que o marxismo para a revolução latino-americana”.

Haverá maior e melhor evidência de que teologia da libertação e comunismo são a mesma coisa?


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* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

UMA FAMÍLIA DE NEGÓCIOS


-Mãe, consegui trabalho com um deputado do PT amigo do papai.
-Vai fazer o que minha filha?
- Fazer sanduíches de pão e mortadela na caravana do Lula.

MESTRE YOKI, O BREVE


“Mestre, existe alma?”
“Sim, com nome e sobrenome: Almanaque.”