Meia-noite. Uma lua de prata brilhava no céu estrelado. Pisava eu com meus sapatos quarenta e dois por uma estradinha deserta, rumando para casa. O vento soprava manso, mas mesmo assim mexia com pequenos arbustos. Tudo calmo na noite, nem um pio da coruja se ouvia. Nisso pensava quando percebi passos atrás de mim, só ouvidos por causa do silêncio absoluto, tão leves eram. Parei para ver quem caminhava junto comigo naquele lugar ermo, ainda mais por aquelas altas horas. E vi: cinco esqueletos completos estavam lá e caminhavam em fila indiana na minha direção. Usavam chapéus, riam e batiam seus dentinhos. Como nunca acreditei em fantasmas, segui o meu caminho sem pressa. Não parei mais, mas podia ouvi-los dizendo: espera, espera aí! Chegando em casa soltei da coleira os meus quatro cachorros. Saíram como loucos. Olhei para estradinha e ainda consegui ver no clarão da lua um dos esqueletos correndo com uma perna só.
Já madrugada, estava eu parado numa esquina central esperando por um táxi. O céu todo forrado de estrelas, noite fria e bela. Nisso dois sujeitos se aproximaram e anunciaram: É um assalto! Não reagi, entreguei a carteira com documentos e dinheiro. Eles conferiram por cima o montante e pernas em ação. Logo depois eles regressaram, devolveram tudo e ainda por cima pediram desculpas. Um deles disse: “Desculpe o malfeito seu Evandro, pois para nós o senhor é uma autoridade. Uma boa noite!”
Sem demora surgiu um táxi e fui para casa aliviado.
Manuel Ribas,20anos, balconista, desde menino sempre fora curioso. Naquela tarde chegou em casa e encontrou um envelope marrom sobre a mesa. Nada escrito nele além de um enorme NÃO ABRA ATÉ 2050. É claro que Manuel não se conteve. Abriu e dentro dele havia um atestado de óbito em seu nome com dia, hora e causa de sua morte em 28 de fevereiro de 2050. A partir de então começou a contar quanto tempo ainda tinha de vida. A vida se tornou um inferno, não conseguia mais viver o presente. Seu mundo desabou, não suportou a pressão e acabou se enforcando em 28 de fevereiro de 2018. A verdade é que a curiosidade mata mesmo.