sexta-feira, 3 de maio de 2019
FLINTO
Flinto, 30,
gostava de passar seus dias sentado na calçada e com o lombo encostado no muro
da igreja. Tinha até o lombo já impresso no reboco. Saí dali quando chovia e no
mais ali contava passantes, automóveis e observava o céu, suas nuvens e
pássaros. Às vezes reunia ali alguns amigos de vadiagem para fumar maconha e
beber cachaça, só não me peçam como arrumava dinheiro para isso, já que
trabalhar para ele era uma ofensa. Quando o cansaço era demais ele se deitava
na calçada para observar a bunda das passantes, distração apenas, pois já
estava mais impotente que uma Maria-Mole. Não esperava o tempo passar, o tempo
é que esperava por ele. Pois um dia desses Flinto deitado, um ventinho de nada
derrubou o muro sobre ele. Pois aconteceu que Flinto se foi sem dizer um ai.
Podemos dizer que apesar da sua aversão à dura labuta, morreu no trabalho de
vadiar.
EXEMPLAR
Até completar trinta anos Vitor viveu por conta dos
pais. Eles mortos, resolveu procurar emprego. Conseguiu de vigia diurno numa
grande empresa de pneus. Trabalhou bem na primeira semana. No oitavo dia tirou
folga por conta própria. No nono dia pediu um vale pela manhã e adiantamento de
férias pela tarde. No décimo dia chegou à conclusão que trabalhar era
cansativo. No décimo primeiro saiu do emprego e foi atrás de criar um
sindicato.
EVIDÊNCIAS
“Está assim de maninho com diploma de curso
superior na parede defendendo o porco petista e que não sabem o que são
‘evidências’ para elucidação de um crime. De evidências só conhecem a música do
José Augusto. ” (Mim)
O SUPERSTICIOSO
Virgulo o era o cão de supersticioso. Sempre
levantava da cama com o pé direito e não saía de casa sem antes consultar o
horóscopo. Naquela manhã caminhava pela rua do comércio quando se deparou com
uma escada erguida e um gato preto debaixo dela. Não pensou duas vezes: saiu da
calçada e contornou pela pista. Mas levou azar o Virgulo o: foi atropelado por
uma carroça puxada por um burro. No hospital, com pernas e braços quebrados,
ficou pensando se não era ele quem deveria estar puxando a carroça.
O
DESTEMIDO ANTENOR
Nada temia Antenor, nem o capeta em carne e osso. Fazia questão de passar sob escadas, adentrar
cemitérios em plena madrugada, frequentar puteiro em ambiente violento e até
namorar filha de traficante ou delegado. E não parava por aí; atravessava rio
em enchente, entrava em casa pegando fogo, matava cobra no dente. Pois é, esse homem valente sem igual veio a
morrer tal qual um comum de infarto fulminante. Foi agorinha, de raiva, quando
ouviu Lula dizer cheio de amargura que não compensa ser honesto no Brasil.
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