domingo, 5 de fevereiro de 2017

“Se o meu estilo de escrever é ruim não pode ser culpa da caneta.” (Mim)
“Por muito tempo cometi esse erro: minhas palavras corriam mais que o meu pensamento.” (Mim)
“Sempre estou ao lado da igreja. Lado de fora.” (Mim)
Rezar é como uma cadeira de balanço – ela vai dar-lhe algo para fazer, mas você não vai chegar a lugar nenhum. — Gypsy Rose Lee
Todas as religiões são fundadas sobre o temor de muitos e a esperteza de poucos. — Stendhal
E no 4,5 bilionésimo ano o homem disse: que haja deus. — Justin Thomas
Não tenho medo da morte. Estive morto por bilhões e bilhões de anos antes de meu nascimento, e isso nunca me causou qualquer inconveniência. — Mark Twain
Pó apaixonado por fantasmas, tal é o homem. — Emil M. Cioran

sábado, abril 30, 2005 A MESMA ARROGÂNCIA- DO BAÚ DO JANER CRISTALDO

Uma leitora há horas insiste em que toda a verdade está na Bíblia. Se Deus disse, como você pode duvidar? Ora, tal argumento pode ser empunhado contra quem acredita em Deus, e este não é meu caso. Fora da Igreja Católica não há salvação - esta é a impressão que estas mensagens me deixam. O que está muito conforme à Weltanschaaung do novo papa, Bento XVI. A Igreja católica não pode ser chamada de Igreja-irmã, porque é a Igreja-mãe. Só ela tem a verdade. Ratzinger tem fama de erudito, mas em seu fundamentalismo esquece que a Igreja pode ser mãe, mas antes disso é filha... do judaísmo. Este tipo de leitor, como Ratzinger, não concede a ninguém o direito de não crer. Estamos de volta às teocracias, no melhor estilo islâmico.

Como pode alguém, em sã consciência, não ser católico? Esta é a mesma arrogância que cultivavam os marxistas, antes do desmoronamento do comunismo e da União Soviética. Olhavam para os não-marxistas com piedade e desdém: "esse coitado nada entende do mundo". E no entanto...

O ovo da serpente- Por Alexandre Garcia



Mais uma mãe denuncia o filho à polícia por droga em casa. Foi esta semana em Araçatuba, SP. Ela não aguenta mais o Estatuto da Criança e do Adolescente, lei pela qual seu filho tem sido “apreendido” e solto inúmeras vezes, sempre flagrado entregando droga. O filho é um traficante e tráfico é crime hediondo, mas o menino tem menos de 18 anos e é impune; pode continuar cometendo o que a hipocrisia chama de “ato infracional análogo ao tráfico” e não é retirado de circulação. A mãe chamou a polícia, o menino fugiu quando soube, e a polícia se limitou a apreender o estoque de drogas que ele distribuía. Como a mãe de Araçatuba, milhares de mães pelo país estão desesperadas. No Ceará, uma mãe drogada matou o filho de 11 anos com um tiro. A maior parte dos homicídios ocorre em casa ou na vizinhança, muitas vezes envolvendo parentes e amigos.

Enquanto especialistas estudam e se perguntam sobre a origem do crime que abala o país, com decapitações, domínio de prisões, assaltos aos milhares e mais de 160 homicídios diários, ouso imaginar que o ovo da serpente seja chocado em casa que já não é chamada de lar. A família deixou de existir nessas casas que geram essas serpentes venenosas cruéis. Apertem a segurança porque a família sumiu. Duas correntes se digladiam: a solução é construir mais escolas, defende um lado: o outro quer construir mais presídios. Pois ouso sugerir que a solução seria reconstruir a família, sem soltar nas ruas os já perdidos.

A ideologia que procura compensar a frustração da Queda do Muro de Berlim inventou o politicamente correto, os direitos humanos, a lei da palmada, para que o estado substitua os pais, pondo em prática um objetivo ideológico que nunca pôde ser realizado pelos ditadores. Com isso, trabalham para abolir a família. Pai e mãe foram proibidos de educar, disciplinar, punir. Novas gerações foram movidas pelo prazer, pelo consumismo, pela irresponsabilidade, pelo princípio do meu direito e os outros que se danem. Respeito às leis, aos mais velhos, à autoridade, aos professores, tudo foi ladeira abaixo. E a droga acabou por romper todos os limites. Nesses seres, não há espaço para o trabalho, apenas para desejos patológicos, inclusive o de matar.

Estamos passivamente vendo nascer um país libertino, sem regras, sem leis, sem punição aos bandidos. Pais, mães e professores; juízes e policiais, estão imobilizados por leis feitas por corruptos que prepararam brechas para se livrarem. O policial não pode pôr algemas no bandido; o juiz não pode manter preso; os pais não podem dar uma chinelada no filho transgressor; o professor não pode impor disciplina. De que se queixam então, que não se pode sair à rua sem medo de assalto; de que se queixam que os impostos vão para a corrupção e não para a segurança, educação e saúde? Enquanto isso, essa conspiração para enfraquecer o Brasil vai chocando, em casas brasileiras, os ovos dessa serpente maligna.

FÓSFOROS

Naquela minúscula caixa havia um fósforo meio depressivo, sem cabeça. Não conversava com ninguém, abatido, triste, um inútil. Numa fria manhã ele surtou. Riscou um irmão contra o outro até a caixa explodir num fogo só. Não sobrou ninguém, até o esmalte da tampa do fogão ficou marcado. Uma vez mais ficou provado que quem não tem cabeça age por impulso e queima até mesmo os seus irmãos.

DEVORADO

Mozarte Ribas, gabaritado aluno participante do Enem, colocado entre os primeiros na lista reversa, estava em frente ao seu PC na madrugada escrevendo a história da sua vida que começava assim: “Minha mãe me ganhou no hospital municipal quando meu pai tava viajando pra fora e ela tava sozinha, porque minha avó tava trabalhano noutra cidade tumem.” Quando terminou de escrever o tumem aconteceu o créu! Ele foi devorado pelo Micro Leão Dourado.

ENTRE QUATRO PAREDES

O Barão Helmes e a Baronesa estavam transando loucamente quando ele sofreu um infarto. Prontamente ela recorreu ao vibrador que descansava sobre o criado mudo. Enquanto o Barão morria ela conquistava mais um orgasmo. E mais não houve.

ARZINHO

Debaixo de frondosa árvore na praça um velhinho de boca aberta olhava por horas o movimento dos automóveis que por ali circulavam. Pedi se ele estava com algum problema. Não, me disse ele, estou aqui dando um arzinho pros dentes.

O MAL DO MAU

Fazia-se carnaval na cidade de Jaboticabal. O homem mau não se cansava de fazer o mal, pois achava tal atitude fenomenal. Morava ele na rua do canal, no prédio Imperial e pagava aluguel para um casal. Na mesma rua havia uma árvore monumental, na qual vivia um pardal sensacional. Numa noite de temporal, recebeu o mau a visita de um homem bravo que o trançou a pau para se vingar de todo o mal feito com sua família antes do carnaval. Todo quebrado, inclusive o osso femoral, foi levado para o Hospital Municipal e atendido pelo doutor Aderbal. Teve também dentes quebrados e acabou precisando de tratamento de canal. Esse homem mau se chamava Percival, sendo filho de tal Juvenal, que morreu na cadeia por matado um animal protegido por lei ambiental. E a historieta vai terminal porque o leitor já deve estar passando mal de tanto ler essa história sem sal. Ponto final. Que tal?

FALHOU

A mulher de tanto ser maltratada e espancada arrumou outro companheiro para lhe dar carinho. O antigo não engoliu a desfeita. Então um dia o esquisitóide violento entrou no quarto de madeira de arma em punho. Na cama viu o bípede peludo dançando em bom ritmo sobre sua outrora fêmea que suspirava alto. Tentou por seis vezes disparar os projéteis e nada. Falhas repetidas. Irado, tentou contra sua própria cabeça e aí então o mecanismo funcionou. Caiu morto. Os amantes cansados marcaram a data do casamento.

LINHA CEMITÉRIO

Na década de 1960/ 1970 poucos tinham automóveis na minha cidade. Então todo enterro tinha serviço de transporte de ônibus para familiares e amigos. Era importante que todos pudessem ir até o campo santo dar o último adeus ao que partia. Havia também o fato de quanto mais gente no enterro, mais considerado era o defunto. Mas havia um caso especial, as irmãs Martinez; Ana,11, Cláudia,13, e Mirtes,14. Fosse onde fosse o velório não faltavam às irmãs Martinez, com suas carinhas sérias e olhos lacrimejantes. Com chuva ou sol, longe ou perto, lá estavam. Acredito que na maioria das vezes nem sabiam quem era o falecido; o negócio delas era rodar. Olhava-se para o ônibus e lá estava o trio curioso grudado nas janelas rumando ao cemitério. O falecido era o que menos interessava, o importante era passear de coletivo, ter coisas para contar. Elas cresceram, foram embora do lugar; os tempos mudaram, não vejo mais ônibus nos enterros.