domingo, 21 de janeiro de 2018

PAPO ENTRE PORCOS

PAPO ENTRE PORCOS
Um suíno que rumava para o frigorífico caiu do caminhão e entrou na mata. Entrou na mata e desapareceu entre a vegetação sem olhar para trás. Logo encontrou um porco do mato.

-E aí cara? Tudo bem?
-Tudo maneiro.
-Pois fugi da morte agorinha. Tô que é só pulsação.
-Não moras por aqui?
-Não. Fui criado perto das cidades.
-Prazer, sou um porco do mato.
-Eu sou suíno, mas quase todos me chamam de porco.
-Eu também tenho apelidos.
-Diga um.
-Tateto.
-Tateto?
-Engraçado né?
-Sim, tateto é engraçado.  E tua família?
-Estão por aí comendo raízes. E a tua?
-Já foram para o papo dos humanos.
-Que coisa triste!
-Estou só no mundo...
-Irei falar com meu pai para você entrar pra família.
-Vai fazer mesmo isso?
-Irei fazer sim, de coração. Vamos lá?
-Vamos!
-Então agora você é um porco do mato. Certo?
-Certo!


PAPO NO TONEL

PAPO NO TONEL

Tempestade, sem luz, escuridão total, os dois dentro de um tonel.
-E aí? Cão?
-Cão. E aí?
-Cão também.
-Macho?
-Macho.
-Desculpe por perguntar, estamos molhados, não consigo cheirar direito.
-Sem problemas.
-Tem casa?
-Não. E você?
-Estou na rua faz um bom tempo.
-Vida de cachorro  das antigas, não é?
-Se é.  Alguns nascem de bunda pra lua, tudo de bom; teto, comida e cama quente. Outros...
-Depois da tempestade vai fazer o quê?
-Acho que vou revirar uns lixos. Preciso comer.
-Posso ir junto? Tive casa até ontem, não tenho muita prática em revirar lixeiras.
-Sem problemas. Mas você não é enjoado, é?
-Não, como de tudo.
-Então tá, dupla formada.

GARIMPEIRO URBANO

Ainda o sol não nasceu
Sopra um vento gelado pelas ruas da cidade vazia
Um solitário de casaco puído e sujo caminha de olhos  no chão
Mãos trêmulas nos bolsos
Lábios rachados e  boca seca
Procurando pequenos alentos nas calçadas e sarjetas
Pois é um garimpeiro urbano
Um garimpeiro de moedas perdidas.

CHAPECÓ DA MINHA INFÂNCIA- LEMBRANÇAS

Bica d’água
Água da nascente enchendo o tanque
Tampa de lata de tinta para brincar de chofer
Flores copo de leite
Cerquinha de madeira
Cama de molas
Galinhas bicando aqui e ali
Ovos apanhados no ninho
Pé de lima espinhento
Um araciticunzeiro sofrido
Pêssegos com bicho
Varinha de cerca viva para meninos marotos
Forno de barro
Pão quente
Fogão de lenha
Pinhão na chapa
Privada no fundo do quintal
Empresa do Lara
Depósito de cal
Madeira empilhada
Brincadeiras de esconde-esconde
Chuveiro de latão
Medo do escuro
Páscoa de parcos chocolates
Festa de Santo Antônio padroeiro
Natal de bola e revólver de espoleta
Vizinhos reunidos
Banhados a mão

Rãs e saracuras
Campinhos de terra
Ida ao Índio Condá com o pai
Torcedor do Rio-Grandense  e Independente
Matinê aos domingos no Cine Ideal
Django
Pecos
O Gordo e o Magro
Cavalaria americana
Picolés do Bar Estrela
Gasosa e sorvete seco no Armazém Palmeiras
Armazém do Oscar Matte na Getúlio
Os sinos da catedral bem ouvidos
Missa com padre Romualdo
Os caríssimos irmãos do Frei João
A irmã Gilda do Colégio Bom Pastor
A fila e o Hino no pátio
O Sete de setembro
O dia do boletim
O campo feito de tijolos para futebol de salão
O recreio de pão com nata e açúcar
Professoras
Marisa
Lourdes
Avani
Marina
Inezita
São tantas as lembranças da minha infância feliz
Que só faz bem recordá-las.




CITRÍCAS


“A rotina no casamento é fermento para o nascimento de chifres.” (Limão)

“A vida não é breve. Nós é que somos apressados.” (Limão)

“Sejam casais criativos ou vivam no inferno da modorra.” (Limão)

 “Solidão extrema. Aceito até um amor que não seja só meu.” (Limão)

“Amanhã poderei ter um dia melhor que o dia de hoje se ainda estiver vivo.” (Limão)

“Em ano eleitoral os de sempre nos roubam mais. É o fardo das campanhas. ” (Limão)


“Sou um poço sem virtudes.” (Limão)

“Eternidade seria uma chatice. Não suportaria me aturar por  cem anos, imagine então para sempre.” (Limão)

FILOSOFENO


“Conhecendo alguns humanos como conheço pergunto por que os porcos não são mais considerados.” (Filosofeno)

“Nem tudo é apenas querer. Às vezes faz-se necessário talento.” (Filosofeno)

“Stálin foi humano, detestavelmente humano”.  (Filosofeno)

“É bom não dar ouvidos para o que dizem os conselheiros de boteco. No mais das vezes suas vidas vão de mal a porcamente.” (Filosofeno)


“Quem anda com quem não presta acaba pegando o cheiro.” (Filosofeno)

“Não ensine palavrões às crianças; deixe-as aprender por conta”. (Filosofeno)

“Com certeza não estamos sozinhos no universo. Os outros que cuidem.” (Filosofeno)

“Terra de graça? Injusto para quem acordou cedo por anos, trabalhou dobrado, economizou e construiu seu patrimônio a duras penas.”(Filosofeno)

“A escuridão mais apavorante se borra toda diante da luz de uma vela.” (Filosofeno)

“Não há  humano sem segredos.” (Filosofeno

“Prefiro ficar na chuva a ter que aturar um chato.” (Filosofeno)

“Enquanto os bons ficarem calados em suas casas os maus continuarão a fazer discursos.” (Filosofeno)

ALEXANDRE GARCIA- O DIREITO DE ESPERNEAR

As ameaças, intimidações e pressões que a Justiça Federal vem recebendo, fazem lembrar a intervenção chavista na Suprema Corte da Venezuela. A Presidente do PT faz alusões a “mortes”; militantes fanatizados prometem quebrar a cabeça de juízes; partidários do réu anunciam que não vão aceitar uma eventual confirmação da sentença do Juiz Sérgio Moro. São manifestações que me fazem lembrar de 1963, quando eu ouvia discursos sobre a reforma agrária “na lei ou na marra”. O grupo que ameaçava com isso, acabou sendo retirado na marra. Quando se sai do caminho civilizado, democrático, entra-se na lei das selvas, onde prevalece quem tem o calibre mais grosso.

Agora chega-se ao cúmulo de o desembargador presidente de um Tribunal Federal precisar pedir garantias para a incolumidade dos juízes daquele foro e de suas famílias. Isso rebaixa ainda mais o Brasil no nível da democracia. Juízes com frequência têm precisado de guarda-costas para exercerem seus encargos, o que mostra o avanço do crime. Faz lembrar dos atentados, na Sicília, em que a Máfia explodiu juiz e procurador. E não vale atribuir apenas à ignorância, ao fanatismo, ao desconhecimento de como funciona uma democracia, porque até dirigentes de partidos e detentores de mandato popular têm pregado a violência e o desrespeito à Lei e à Justiça como reação.

O diálogo e a argumentação que nos foram legados há mais de 2 mil anos pelos gregos, estão sendo esquecidos no Brasil, assim como a organização dos poderes do estado, demonstrada por Montesquieu, há 300 anos. E há um silêncio significativo por parte dos políticos citados na Lava-jato. Eles devem estar pensando: se pegarem um líder popular como Lula, o que vai ser de nós? Como estão em pecado, são solidários com os que estão atirando pedras. Por outro lado, seus contrários igualmente convocam reações violentas para conter os manifestantes. Coisa do mesmo nível grosseiro e violento de torcidas organizadas que se engalfinham.

Há lei para tudo isso. O Código Penal prevê crime de ameaça e crime de obstrução à Justiça, assim como pune agressão física ou dano ao patrimônio público. Parece um desespero que o Doutor Freud explica. Perderam a matriz, quando acabou a União Soviética, perderam a alternativa, quando a China virou capitalista; caiu o Muro de Berlim, Cuba e Venezuela afundaram e agora podem perder aquele que finalmente lhes deu poder, ainda que não fosse movido pela ideologia. Mas houve o devido processo legal e não há tribunal de exceção, como nas ditaduras extremistas. O jus sperneandi – o direito de espernear – é limitado pela lei, na prática da democracia.

A MULA SIBA E DOLORES EMA

A MULA SIBA E DOLORES EMA

Pastava Siba Mula numa campo aberto, degustando o capim delicioso, absorta em seus pensamentos quando se achegou a ela Dolores Ema.
-Boa tarde!
-Boa tarde!
-O capim está bom?
-Muito bom.
-Eu sou Dolores Ema, e você?
-Siba Mula.
-Mula?
-Sim, Mula.
-Mas o que é vem a ser uma mula?
-Ora, filha de uma égua com um jumento.
-Pois veja só, eu não sabia disse. Sem conhecer pensei que você era um burro, digo, uma burra.
-Eu também não nunca tinha visto uma como você.
-Sou Dolores Ema.
-Ema?
-Sim, estamos por aí na América do Sul.  Alimentamo-nos de frutas, sementes, folhas de grandes árvores, lagartos, moscas perto de carne em decomposição, cobras, moluscos, peixes entre outros.
-Puxa! Que cardápio!
-Pois sim.
-Conte-me Dolores, você tem família?
-Não amiga, estou só no mundo.
-Tenho uma ideia. Que tal nós visitarmos a Fada da Gruta Dourada e pedirmos para ela nos transformar em humanos? Poderíamos conhecer o mundo todo!
-Pode isso?
-Pode sim, eu mesmo conheci vários animais que se tornaram humanos.
-Vamos logo cara Siba, vamos logo!

Após dias de viagem e cansaço foram ao encontro da Fada da Gruta Dourada para fazer o pedido. Foram bem recebidas e aceitas a transformação das duas em moçoilas de muita beleza.  Porém antes de tudo feito a Fada disse que a transformação teria uma contrapartida, pois de graça nem mesmo injeção na testa: como humanas elas seriam venezuelanas e amantes de Nicolás Maduro. Elas se entreolharam, agradeceram e decidiram voltar aos campos. 

PAULO CROCODILO

No Parque do  Everglades Paulo Crocodilo descansava ao sol sonhando dar umas crocodiladas à noite. Por trás dele chegou sorrateiramente Josefa, sua comadre e mulher do lendário Pé Grande. Mandou o porrete na cabeça de Paulo, que estremeceu e entrou na estrada do fim, mas não sem antes  perguntar:

-Por que isso comadre?
-Perdão compadre, digo que a vaidade é cruel, preciso de uma bolsa e de um sapato novo.

O PROFESSOR DOUTOR NO INFERNO


Chegou ao inferno o renomado Professor Doutor Hércules do Amaral. Homem inteligente e culto, apreciador de artes diversas e também político de péssimos costumes. Preenchidos os papeis foi Satanás Ferreira mostrar-lhe seus aposentos. Ampla sala com estofados em couro, ar-condicionado, banheiro amplo, cozinha em mármore, frigobar e outras regalias como TV de quarenta e duas polegadas. Surpreso perguntou para o vermelhão:
-Está certo? Assim é o inferno?
Satanás Ferreira deixou escapar um risinho...
-Assim é meu caro. Mas não se iluda com a primeira impressão, com todas estas belezas. Conto-te agora que televisão ficará ligada vinte e quatro horas por dia eternamente e o programa único será o Big Brother Brasil.

HOMEM FOGO


Não havia ninguém lá além dele. O branco da neve cobria tudo, da ponta dos pés ao horizonte longínquo. Carlos Kiefer, o homem fogo estava cansado depois de décadas de palco, labaredas e público. Ovacionado quase sempre e às vezes vaiado quando o fogo era pouco. Tinha setenta anos e estava só, a velha companheira havia partido há dois anos. Carlos gostava de extremos, fogo e gelo. O fim estava próximo, a saúde debilitada e o bolso vazio. Ergueu pela última vez os olhos para o céu cinzento e jogou-se num buraco na neve, levando dois litros de vodca, dez limões e um quilo de açúcar.

CLIMERIANAS

“O inferno fica localizado na minha mente. É lá que moram os meus diabinhos.” (Climério)

“A estatura moral de um homem não se mede pelo tamanho dos chifres.”  (Climério)

“Não sou dos mais resistentes. Caso me puxem as orelhas eu conto tudo.” (Climério)

“Sou ateu, mas com uma arma apontada pra cabeça confesso até que sou o Papa.” (Climério)

“Não há tesão que resista a mau-hálito.” (Climério)


“MINHA HISTÓRIA NA CIDADE GRANDE- Cheguei, vi e já comprei a passagem de volta.” (Climério)


“Tendo fome até pastel de rodoviária é iguaria.” (Climério)



“Está assim de mulher feia pondo chifre. Pelo jeito quem vê perereca não vê cara.” (Climério)


“É na Rede Globo que brotam os maiores bobos.” (Climério)

“Poderes brasileiros: suruba com o nosso dinheiro.” (Climério)

“Entre tantas indas e vindas acaba sempre o Brasil caindo num buraco.” (Mim)

“Tornamo-nos o país da explicação. Algo está muito errado.” (Climério)