quarta-feira, 23 de janeiro de 2019


EXEMPLAR

Até completar trinta anos Vitor viveu por conta dos pais. Eles mortos, resolveu procurar emprego. Conseguiu de vigia diurno numa grande empresa de pneus. Trabalhou bem na primeira semana. No oitavo dia tirou folga por conta própria. No nono dia pediu um vale pela manhã e adiantamento de férias pela tarde. No décimo dia chegou à conclusão que trabalhar era cansativo. No décimo primeiro saiu do emprego e foi atrás de criar um sindicato.


 O SUPERSTICIOSO
 Virgulino era o cão de supersticioso. Sempre levantava da cama com o pé direito e não saía de casa sem antes consultar o horóscopo. Naquela manhã caminhava pela rua do comércio quando se deparou com uma escada erguida e um gato preto debaixo dela. Não pensou duas vezes: saiu da calçada e contornou pela pista. Mas levou azar o Virgulino: foi atropelado por uma carroça puxada por um burro. No hospital, com pernas e braços quebrados, ficou pensando se não era ele quem deveria estar puxando a carroça.



ROSE A E PERERECA MAGICA
Era uma vez uma moça chamada Rose que sonhava com o luxo e viajar pelo mundo. Mas Rose não tinha condições, era pobre, seu salário não alcançava voos maiores. Um dia Rose teve a visita de uma fada madrinha. A boa fada lhe presenteou com uma perereca mágica. De posse de tal poder, Rose abriu portas rentáveis e viajou pelo mundo. Até namorou um sapo barbudo, depois príncipe. E com esse príncipe conheceu reinos distantes mundo afora. O azar de Rose foi que o príncipe viajava por conta do tesouro, os escribas descobriram e a perereca mágica perdeu seu encanto e foi banida do reino.


A DONA DA CASA
Lá fora o sol. Pela janela basculante do banheiro a mosca entrou na casa faceira assoviando Tico-Tico no Fubá, pousando sobre tudo, livre e feliz, ninguém para persegui-la. Passeou pelos quartos, sala, cozinha, varanda e despensa. Andou até pela casinha do Felpudo. Soltou vivas quando encontrou um prato descoberto com restos de comida. Sentiu-se uma rainha do lar, dona única do campinho, uma Cleópatra com asas. Abusada, tirou até uma soneca na cama do casal. E assim foi passeando sem preocupação até que vapt! Foi engolida! A mosca jamais imaginou que naquela casa tão hospitaleira havia um sapinho de estimação.


AMANTES

Beijos linguísticos, lambeções interplanetárias, gemidos florestais e orgasmos alucinantes. Assim Berto Carvi naquela tarde sob os lençóis amava Ana Galinda, esposa do mafioso Don Trombose num apartamento no grande Hotel Imperador. Um dia de céu azul, fresco e de muita sensualidade. Não sabia o belo Berto que Genaro um dos recepcionistas estava na lista de pagamentos do chefe. Porta aberta, tiros silenciosos e um corpo enrolado nos lençóis que não muito cobriam corpos em volúpia. Ana Galinda após alguns sermões e sopapos já estava toda maquiada e pronta para novas traições, enquanto Dom Trombose dolorido passava brilhantina nos chifres.



O TEMPO
Menino Glauber estava descalço e de calção na sala assistindo televisão. Depois se levantou e foi até a janela para ver a vida passar. Chupou duas balas, voltou para dentro e aí percebeu que já estava com setenta anos. Pois é o tempo, o implacável tempo.  Voa o precioso e quase não percebemos. Sentimos o início e o fim e quase sempre perdemos o meio.


Casinha de sapê nos confins.
-Toc!Toc!
-Quem bate?
- Jornalismo da Globo.
- Enfia o microfone no cu! Sujos!
- Que grosseria!
- Pega sultão!



MÃE, TU TÁ MORTA?

Fazia anos que Atanagildo não visitava a mãe.  Quando entrou no quarto naquela tarde Dona Ernestina repousava gelada na penumbra. Perguntou: “Mãe, tu estás morta? ”- A breve resposta foi - “estou! ” Correu para chamar o padre e contar-lhe que a morta tinha falado. Alguns curiosos vieram também. Quando a porta foi aberta e a luz acesa se depararam com o papagaio Deodato sobre o corpo de Ernestina, de barriga para cima e já sem fôlego de tanto rir.



RATOS POLIGLOTAS

Numa época não muito distante os ratos Mis e Nis aprenderam a falar além do português, também o inglês, chinês e espanhol. Então resolveram que tendo tais aptidões deveriam dominar o mundo. E diante dos outros animais falavam em língua estrangeira dos seus planos, deixando todos de boca aberta e rindo da parvoíce dos demais. Falavam abertamente- “primeiro iremos dominar o reino animal, depois os humanos. ” Tudo caminhava bem não fosse o intrometido do gato Siamês Luca, belo e monoglota, que diante dos fatos largou da ração e comeu os dois.



NO CARTÓRIO

O cartorário pergunta:
-Como vai se chamar o menino?
-Gilmar Mendes?
-Não faz isso, é ruim para criança.
-Tem nada não.
-Como tem nada não?
-O bichinho aí é filho da puta da minha irmã.



HUG HUG

Hug Hug era um homem das cavernas. Entrou no Minha Casa, Minha Vida. A casa apresentava goteiras e as paredes racharam no primeiro mês; as janelas emperravam, os vizinhos faziam muita fumaça, eram barulhentos e mal-educados. Irado, pegou seu porrete e acabou com Dilma e Lula na paulada. Foi aclamado nas ruas e eleito senador. Tomou posse e ficou por lá somente um dia. Preferiu voltar às cavernas e carregar sua mulher pelos cabelos a ter que conviver com tantas bagaceiras.



DOIS SUJEITOS SE ENCONTRAM NUM PONTO DE ONIBUS NUMA RUA QUALQUER EM CURITIBA

-Olá!
-Olá!
-O senhor me desculpe a ousadia, mas acho o senhor dotado de uma fisionomia estranha.
-Sim, eu concordo com isso.
-O senhor é daqui?
-Não.
-De onde é?
-De muito longe, meu mundo fica numa outra galáxia.
-Não brinca!
-Sim, verdade.
-E o que veio fazer em nossa capital?
-Fui enviado para visitar o Lula.
-Até lá Lula é conhecido?
-Muito.
-É uma visita de apoio?
-Não.
-Qual o motivo então?
- Fui enviado pelo meu governo para conhecer em vida e dar testemunho disso sobre o MAIOR CARA DE PAU DO UNIVERSO.
A condução chega. Antes de ir a visitante conta:
-Temos em nosso mundo o Museu Universal de Aberrações. Ele vai estar lá.