terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Rodrigo Constantino


O gigante cai no samba – artigo de hoje no GLOBO

Caro leitor, sei que hoje é terça de carnaval, e a última coisa que quero é azedar o seu clima de folião. Tampouco acho que a situação caótica de nossa economia deveria impedir sua diversão. O ser humano tem direito às fugas da dura realidade de vez em quando, e talvez elas fiquem mais prementes à medida que a situação piore. Mas gostaria de trocar dois dedos de prosa com você.
Só o fato de estar lendo esse texto num dia desses demonstra que faz parte da turma preocupada com os rumos de nosso país, buscando mais informação ou reflexão sobre política e economia. Infelizmente, sinto lhe informar que faz parte de uma minoria. Ao menos é o que percebo olhando em volta. A maioria parece estar tranquila, preocupada mais com a sua escola de samba do que com o futuro do Brasil.
Acha que exagero? Nem tanto, nem tanto. Senão, vejamos: nossa economia está prestes a entrar em recessão, a inflação passou de 7% ao ano e não deve cair tão cedo, corremos o risco de apagão mesmo com a conta de luz subindo sem parar, falta água, as empresas pararam de investir e começam a demitir, a gasolina sobe justo quando o petróleo desaba lá fora, os brasileiros estão muito endividados e a taxa de juros só sobe, o dólar se valorizou bastante e não há a menor perspectiva de melhora à frente. E isso foi apenas a parte econômica.
Peço sua vênia para passarmos para a política agora. O “petrolão” já fez o “mensalão” entrar para o rol de crimes de pequenas causas, com suas cifras bilionárias. Nunca antes na história deste país se viu tanta corrupção, e os militantes petistas ainda tentam nos convencer de que isso se deve ao governo que agora investiga mais, como se quem investigasse não fossem as instituições de estado, com o governo criando obstáculos (tentando impedir a CPI, por exemplo).
Leia mais aqui.

IMB A sociedade não precisa de dirigentes- por Lew Rockwell,

Desde que existem, os governos sempre se ocuparam basicamente de uma atividade: encontrar novas maneiras de intervir nas relações humanas, inventando novas formas de gerenciar a sociedade e suas interações sociais e econômicas.  Quando não estão fazendo isso, as legislaturas se ocupam de tentar reformar os sistemas que eles próprios criaram no passado.
Apenas pense na saúde pública, na educação pública, em toda a fraude criada pela Previdência Social, na injustiça da tributação, na infindável incapacidade de gerenciara moeda e as finanças públicas, além de todas as outras áreas da sociedade e da economia em que o governo se arvora a responsabilidade de gerir, e responda: por que tais áreas são uma bagunça?
Políticas públicas devem ser abolidas
Alguns liberais creem que a liberdade que desejam pode ser imposta da mesma forma que os sistemas socialistas antigos eram impostos sobre as sociedades.  A ideia é a de que caso sejam eleitos um Congresso e um presidente iniciados na teoria libertária, eles poderiam corrigir tudo o que está errado em um piscar de olhos.  Assim, seria necessário apenas eleger políticos versados na Escola de Chicago e um presidente treinado nos méritos dos incentivos de mercado, e tudo começaria a se resolver.
Porém, infelizmente, não é simples assim.  Mais ainda: se de fato fossemos capazes de fazer isso, estaríamos apenas substituindo uma forma de planejamento central por outra.  A genuína liberdade não advém de uma dada forma de gerenciamento governamental.  A genuína liberdade significa ausência de gerenciamento governamental. 
Todas as reformas em todas as áreas da política, da economia e da sociedade deveriam se dar em apenas uma direção: mais liberdade para os indivíduos e menos poder para o governo.  Indivíduos devem exercer seu direito de usufruir a maior liberdade possível, e o governo, o dever de exercer o menor poder possível.
Sim, essa é a posição que qualifica um indivíduo como libertário.  Porém, essa palavra não possui o poder explanatório que já teve em outros tempos.  Há uma tendência de ver o libertarianismo como uma espécie de política pública, ou apenas mais um emaranhado de propostas políticas, que enfatiza a importância da livre iniciativa e das liberdades pessoais em oposição à arregimentação burocrática.
Essa perspectiva, porém, é totalmente errada, e possui perigosas consequências.  Imagine se Moisés houvesse procurado conselhos de burocratas governamentais e especialistas em políticas públicas quando estava em busca de meios para libertar o povo judeu da escravidão egípcia.  Eles teriam lhe dito que marchar até o Faraó para pedir a ele que "liberte o meu povo" seria uma atitude altamente imprudente e inútil.  A mídia não iria gostar e ele estaria exigindo muita coisa muito rapidamente.  O que os israelitas deveriam fazer seria utilizar o sistema judicial.  Fora isso, o governo deveria conceder-lhes incentivos de mercado, mais escolhas por meio de vouchers e subsídios, e uma maior participação na estrutura de regulamentações impostas pelo Faraó.  Ademais, senhor Moisés, criticar o sistema é antipatriótico e extremista.
Em vez disso, Moisés adotou uma posição de princípios, e exigiu que seu povo fosse imediatamente libertado da opressão de todos os controles políticos — uma completa separação entre governo e a vida dos israelitas.  Esse é o meu tipo de libertarianismo.  O libertarianismo não é uma agenda política detalhando um melhor método de governança.  Antes, trata-se da moderna incorporação de uma visão radical e singular que está acima de todas as ideologias políticas existentes.
O libertarianismo não propõe nenhum plano para reorganizar o governo; ele requer que planos desse tipo sejam abandonados.  Ele não propõe que incentivos de mercado sejam empregados na formulação de políticas públicas; ele deseja uma sociedade na qual não haja políticas públicas no sentido em que tal termo é normalmente conhecido.
O verdadeiro liberalismo
Se essa ideia soa radical e até mesmo maluca hoje, ela era comum entre os pensadores dos séculos XVII e XVIII, dentre eles John Locke e Thomas Jefferson.  A marca distintiva dessa teoria política é a de que a liberdade é um direito natural.  Ela antecede a política e antecede o estado.  O direito natural à liberdade não precisa ser concedido ou ganhado ou outorgado.  Ele deve apenas ser reconhecido como um fato.  É algo que existe naturalmente na ausência de um esforço sistemático para aboli-lo.  O papel do governo não é nem o de conceder direitos, nem o de oferecer a eles algum tipo de permissão para existir, mas simplesmente se restringir de violá-los.
A tradição liberal do século XVIII em diante percebeu que era o governo a entidade que praticava os mais sistemáticos esforços para roubar as pessoas de seus direitos naturais — o direito à vida, à liberdade e à propriedade —, e é por isso que um estado deve existir apenas se tiver a expressa permissão de todos os membros de uma sociedade, estando limitado a realizar apenas aquelas tarefas que toda a população julgar essenciais.  Era com relação a essa agenda que todo o movimento liberal estava comprometido.
Os liberais não estavam lutando para que certos direitos fossem dados ou impostos sobre as pessoas.  Não se tratava de uma forma positiva de liberdade, a ser imposta sobre a sociedade.  Tratava-se de algo não positivo, mas sim negativo, no sentido de que delineava aquilo que não deveria ser feito.  Os liberais queriam acabar com a opressão, arrebentar os grilhões, livrar-se do jugo do estado, libertar as pessoas.  O objetivo era acabar com o domínio do estado e iniciar uma governança feita pelas pessoas, as quais eram as únicas que deveriam controlar suas associações privadas e voluntárias.  A sociedade não precisa de qualquer tipo de gerenciamento social.  A sociedade se mantém coesa não pelo estado, mas sim pelas ações diárias e cooperativas de seus membros.
A nação não precisa de um ditador, nem de um presidente, e nem de atos de boa vontade para impor as bênçãos da liberdade.  Essas bênçãos advêm da própria liberdade em si, a qual, como escreveu Benjamin Tucker, é a mãe da ordem, e não sua filha. 
Um bom exemplo do princípio da auto-organização — isto é, a capacidade das pessoas de se organizarem voluntariamente por meio do comércio e do respeito mútuo — pode ser visto nas modernas organizações tecnológicas.  A internet é amplamente uma rede que se organiza sozinha, sem nenhum gerenciamento.  As comunidades comerciais que se formaram na rede [Amazon, eBay, Mercado Livre etc.] já são maiores e mais vastas do que muitas nações já o foram.  São comunidades formadas por indivíduos que se organizam voluntariamente e autonomamente, interagindo sob regras, fiscalizações e imposições amplamente privados.  As inovações disponíveis em nossa era são tão espantosas que vivemos em uma época considerada revolucionária.  E é verdade.
A vida moderna se tornou tão imbuída dessas pequenas esferas de administração — esferas de administração nascidas da liberdade —, que ela se assemelha em muitos aspectos a comunidades sociais anárquicas.  Todas as grandes instituições de nossa época — desde grandes e inovadoras empresas tecnológicas, passando por redes varejistas até enormes organizações benevolentes internacionais — são organizadas na base do voluntarismo e do comércio.  Elas não foram criadas pelo estado e não são gerenciadas em suas operações diárias pelo estado.
Um louvor à anarquia ordenada
Isso nos transmite uma lição e um modelo a ser seguido.  Por que não permitir que esse bem sucedido modelo de liberdade e ordem seja a base de toda a sociedade?  Por que não expandir tudo aquilo que funciona e eliminar tudo aquilo que não funciona?  Tudo o que precisaria ser feito seria remover o governo do cenário.
Nem é preciso ressaltar que tal ideia não é amplamente aceita.  Qualquer indivíduo que habita os quadros da burocracia estatal, de qualquer país, acredita que é o governo quem, de alguma forma, mantém a sociedade coesa, quem a faz funcionar, quem inspira grandeza, quem torna a sociedade justa e pacífica, e quem permite a liberdade e a prosperidade decretando e implantando toda uma cornucópia de leis e políticas.
Tal pensamento advém diretamente do antigo mundo dos faraós e imperadores romanos, em que os direitos de uma pessoa eram definidos e ditados pelo estado, o qual era visto como a expressão orgânica das vontades da comunidade, incorporadas na sua classe de líderes.  Não havia fronteiras claras entre indivíduos e a sociedade, o estado e a religião.  Todos eram vistos como parte da mesma unidade orgânica; daquela mesma coisa amorfa chamada ordem civil.
E foi justamente essa visão que passou a ser rejeitada pelo ideário cristão que afirmava que o estado não era o senhor da alma do indivíduo — a qual possui valor infinito —, e não podia se pretender o dono da consciência de todos.  Mil anos depois, começamos a ver esse princípio sendo expandido.  O estado já não era mais visto como o senhor nem da propriedade e nem da vida dos indivíduos.  Quinhentos anos mais tarde, vimos o nascimento da ciência econômica e a descoberta dos princípios do comércio — através da obra dos escolásticos espanhóis e portugueses —, além da miraculosa constatação de que as leis econômicas funcionam independentemente do governo.
Tão logo a cultura ideológica começou a absorver a lição do quão desnecessário era o estado para o funcionamento da sociedade — uma lição que claramente, e atualmente mais do que nunca, deve ser reaprendida a cada geração —, a revolução liberal não mais podia ser contida.  Déspotas caíram, o livre comércio reinou e as sociedades cresceram e se tornaram mais ricas, pacíficas e livres.
É natural que as pessoas que trabalham no governo e para o governo imaginem que, sem seus esforços, haveria a total calamidade.  Porém, essa atitude é onipresente na política atual.  Praticamente todos os lados do debate político querem utilizar o governo para impor sua visão de como a sociedade deve funcionar.

"Quem segue um líder cegamente sem deixar para si o direito da dúvida não passa de um tolo". (Mim)

Cão Bravo

CÃO BRAVO
Naquela casa havia uma placa
Dizendo para ter cuidado com o cão bravo
Mas depois algumas desavenças entre vizinhos
Descobriu-se que o cão não era de nada
E que quem mordia mesmo era o seu dono.

"Sou amplamente favorável ao sexo antes do casamento. Durante o casamento é preciso dar atenção aos convidados". (Mim)

"Quem segue um líder cegamente sem deixar para si o direito da dúvida não passa de um tolo". (Mim)

“O celibato clerical é uma idéia especialmente boa, porque tende a suprimir qualquer propensão ao fanatismo hereditário.” Carl Sagan

“Um pernilongo te incomoda? Dê-lhe o nome Dilma que ele some.” (Limão)

“Meu bisavô foi abraçado por Stálin na escola quando garoto. Morreu aos 78 anos ainda com o cheiro do porco.” (Eriatlov)

“A inveja aos vitoriosos é o que motiva um comunista. Todos devem ser iguais para que a sua pequenez não seja reconhecida.” (Eriatlov)

“Meu medo da morte está no preço.” (Climério)

Caio Blinder- Fantasia de ditador

Putin inspira Sisi e um bloco de autocratas


Para os lentos foliões ainda sem uma fantasia carnavalesca ou para aqueles frustrados com as que descolaram, aqui vai uma sugestão. Desfile ou apareça no baile ao estilo das duas figuras acima (não são figurantes). E quem tiver paciência para ler o texto, verá que com criatividade pode haver a versão feminina da fantasia.
Para os países maduros (decadentes para Vladimir Putin) do G-20, nosso homem em Moscou hoje é uma figura a ser desprezada, um osso duro de roer, um adversário perigoso. No entanto, em muitas partes do mundo ele é recepcionado literalmente com tapete vermelho.
Isto aconteceu na semana passada no Egito. Putin foi recebido de forma gloriosa por Abdel Fattah al-Sisi, que não escondeu sua satisfação quando o convidado o presentou com um rifle Kalashnikov. A ditadura Sisi, que esmagou com apoio popular, o poder da Irmandade Muçulmana, acabou sendo acolhida por países ocidentais, mas o relacionamento com Moscou é simplesmente efusivo, num típico balé da realpolitik.
Chris Caryl escreve na Foreign Policy que tanta efusividade vai além de pragmatismo geopolítico. A virilidade de Putin é um modelo para Sisi, o homem-forte de um Egito alquebrado.
Nosso homem em Moscou, Vlad para os íntimos, inspira admiração, mesmo em países com seu próprio ditador, caso do chinês Xi Jinping. No entanto, na nova revolução cultural chinesa não existe culto a personalidade, hoje reservado popularmente a alguém como Putin.
O homem-forte da Turquia, Recep Erdogan, é chegado na Irmandade Muçulmana esmagada por Sisi, mas ele também considera Putin um modelo, com suas lições como esmagar a democracia e a dissidência para consolidar uma autocracia nacionalista enraizada na religião (islamismo para Erdogan e cristianismo ortodoxo para Putin).
E mais perto do nosso carnaval, os populistas alegóricos adoram nosso homem em Moscou. O chavista Nicolás Maduro recomendou Putin para o Nobel da Paz e a rainha Cristina elogiou o presidente russo por sua linha dura contra a imprensa livre e pela anexação da Crimeia.
Viktor Orban, dirigente da Hungria na democrática União Europeia, exalta a democracia iliberal, que tem Putin como porta-estandarte, ou seja, o modelo de autoritarismo suave baseado no consentimento da maioria, algo conseguido através de eleições periódicas, mas não em condições institucionais livres e válidas.
O fenômeno da Putinmania (expressão no texto de Caryl) é difuso. Na Europa, ele  é admirado pela extrema esquerda do primeiro-ministro grego Alexis Tspiras e pela extrema direita da favorita eleitoral francesa Marine Le Pen.
Há um trecho saboroso no texto de Caryl: o segredo do appeal de Putin é simples. Trata-se de uma reação à hegemonia americana em todas as suas dimensões: economia liberal, direitos dos gays e intermináveis reprises dos Simpsons.
Putin é a figura durona, apimentada com uma cafonice machista e uma ginga  neofascista. Ademais, ele adora fantasias literais, como posar de motoqueiro ou de bad boy. Nosso homem em Moscou é mais uma versão de 50 Tons de Cinza. Fui longe demais na fantasia sadomasoquista ou seria sadoputinista?
Chega de fantasia. Esta é uma coluna de geopolítica com os 50 tons de cinza de Putin, Sisi e companhia.

Caio Blinder- Somos todos cristãos coptas

O desfile da barbárie é incessante neste carnaval. Agora é a exibição de um vídeo mostrando a degola na Líbia de 21 cristãos coptas egípcios por terroristas leais ao Estado Islâmico.
A minoria religiosa representa cerca de 10% da população egípcia e foi alvo de intensa perseguição e atentados especialmente depois da queda da ditadura Mubarak em 2011.
As vítimas tinham sido sequestradas em dezembro e janeiro na cidade de Sirte, na costa líbia, onde trabalhavam. Sirte agora está sob controle de milícias jihadistas no caótico cenário que se montou na Líbia depois da queda da ditadura Kadafi em 2011.
O vídeo mostra a execução dos 21 reféns na praia e é a primeira “encenação” do Estado Islâmico fora do território que controla na Síria e no Iraque (aqui na coluna conhecido como Siraque).
O país tem agora dois governos rivais, um baseado na capital, Trípoli, e o outro em Tobruk. Bengasi, berço da revolução de 2011, está nas mãos de milícias jihadistas, algumas ligadas à rede Al Qaeda.
De acordo com a BBC, a maioria das vítimas são de um pobre vilarejo egípcio que foram tentar ganhar a vida na Líbia. Ao tomarem conhecimento da barbárie, alguns parentes desmaiaram. Neste domingo, o governo do Cairo proibiu a viagem de cidadãos egípcios à Líbia.
Há especulações de que agora o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi, que derrubou de forma brutal e com apoio popular o governo da Irmandade Muçulmana em 2013, lance ataques aéreos contra posições jihadistas na Líbia.
Sisi considera o cenário caótico na Líbia uma ameaça à segurança do seu país. Como inimigo do islamismo político (perfil do governo em Trípoli), ele respalda o governo instalado em Tobruk, que é o reconhecido internacionalmente.
Jihadistas líbios têm contatos com um grupo extremista na península do Sinai que jurou lealdade ao Estado Islâmico e que desde a queda do presidente Mursi em 2013 matou centenas de soldados e policiais egípcios.
O Estado Islâmico provocou a Jordânia com o “espetáculo” da queima do piloto refém quando ainda estava vivo. Agora, foi este novo horror da execução dos cristãos egípcios, provocando Sisi.
Se atacar na Líbia, o presidente egípcio deverá ampliar a guerra regional contra o jihadismo ensandecido. Na sua lógica, é o que o terror está pedindo.
Atualização às 9:30 de segunda-feira: conforme se especulava, o Egito lançou ataques aéreos nesta segunda-feira contra posições do Estado Islâmico. Leia mais aqui.

Ricardo Setti-O bom conselho de uma igrejinha no fundão dos EUA



(Foto: Reprodução/Twitter)
(Foto: Reprodução/Twitter)
Um amigo do blog enviou esta foto tirada na fachada de uma igreja anglicana no interior do Estado norte-americano do Arkansas.
Conselho da igreja: 
“Buzine se você ama Jesus. Mande textos pelo celular enquanto dirige se você quer encontrá-lo.”

Ricardo Setti-Estatuto da Criança e do Adolescente não recupera menores infratores e nem protege a sociedade




Menores infratores: órgãos públicos não cumprem suas obrigações e o Estatuto não funciona (Foto: folhadecampinas.com.br)
Menores infratores: órgãos públicos não cumprem suas obrigações e o Estatuto não funciona (Foto: folhadecampinas.com.br)
Editorial publicado pelo jornal O Globo
O Estado do Rio apreende a cada 60 minutos uma criança ou adolescente por infração criminal.
Ano passado, o número de jovens infratores levados ao Ministério Público ou ao Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Novo Degase), quase 8,4 mil, triplicou em relação a 2010. Levantamento do Novo Degase mostra que a ligação com o tráfico de drogas é responsável por 41% desses recolhimentos; a prática de roubos e furtos, por outros 41%.
Com variações de indicadores e de perfil das infrações, essa é uma realidade que, seguramente, se repete em outros estados.
Em si, são dados assustadores. E eles se agravam ainda mais num país em que vigora uma legislação promulgada com objetivos distintos do que a realidade revela.
Na verdade, está no próprio escopo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) o conjunto de regras que estabelece as relações do Estado e da sociedade com os menores de idade, uma chave, das mais emblemáticas, para desvendar a razão de a curva que registra o envolvimento dos jovens com o crime permanecer em alta exponencial.
Em vigor desde meados de 1990, o ECA foi legado ao país com o ambicioso propósito de ser um instrumento para a proteção integral de crianças e adolescentes. Mas, quase 25 anos depois de criada, a lei revelou-se incapaz de fazer o poder público cumprir obrigações no resguardo de jovens infratores.
E, pelo excesso de paternalismo, tornou-se anteparo para um cada vez maior número de menores de idade que se bandeiam em direção ao crime.
A inócua garantia de proteção e recuperação de menores infratores se reflete no tamanho da leniência do poder público. O artigo 88 do ECA garante a integração operacional de órgãos do Judiciário, do MP, da Defensoria Pública e da Segurança em centros que agilizem o atendimento inicial ao infrator, passo imprescindível para a reinserção social.
Pelo menos no Rio, um quarto de século não foi tempo suficiente para que esse organismo de um mundo ideal saísse do papel.
Já a liberalidade do ECA se mede pelas preocupantes estatísticas de apreensões. O Estatuto é pródigo em listar direitos de menores de idade, mas parco em lhes cobrar responsabilidades. Em razão disso, é cada vez maior o número de jovens menores de 18 anos — mas em idade suficiente para ter consciência de seus atos — que, envolvidos em crimes violentos, ficam inalcançáveis pela Justiça.

“Algumas mulheres lindas saem comigo somente para realçar ainda mais as suas formosuras.” (Assombração)

Isaac Asimov: "Se o conhecimento traz problemas, não é a ignorância que os resolve"

“Gostaria que o meu dinheiro crescesse como crescem as minhas unhas.” (Mim)

“Sonhar é bom, mas para realizar os sonhos é preciso sair da cama.” (Mim)

“Sim, aqui na savana existem leões gays. Mas eles são discretos, não andam de agarramento em público.” (Leão Bob)

ORDEM LIVRE- DIOGO COSTA- O vício do coletivismo metodológico

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Frequentemente os sociólogos são culpados de exagerar na simplificação de seu objeto de estudo. Para fazer com que a sociedade caiba dentro de modelos inteligíveis, a complexidade dos grupos é reduzida à unidade da agência dos indivíduos. E essa unidade coletiva operaria de forma ainda mais simples que a psique individual, obedecendo a leis mais previsíveis e limitadas que a psique de qualquer um dos indivíduos que as compõem.

Marx e Comte parecem ser os exemplos mais óbvios de pensadores ridicularizados pela simplificação historicista a que subjugaram as dinâmicas sociais. O proletariado marxista, por exemplo, consegue agir com muito menos complexidade do que o comportamento de qualquer trabalhador individual. E seu privilégio histórico e até epistemológico — o proletariado é a classe agraciada pela história com o destino de abolir as divisões de classe, a exploração, a falsa consciência, e a dependência da humanidade nos poderes impessoais, além de adquirir a consciência de seu destino — funciona com a simplicidade de uma necessidade, descartando-se o enfrentamento de possibilidades abertas.

No entanto, oponentes do coletivismo metodológico acabam várias vezes repetindo os erros de seus adversários. Na empolgação de explicar o funcionamento econômico de uma sociedade, o termo mercado acaba ganhando o ânimo de um agente individual, contra o qual outro agente, o Estado, se levanta, igualmente despido das complexidades das pessoas que compõem a comunidade reivindicadora do monopólio geográfico da coerção.

Lembro que em seus momentos de maior vigor retórico, Murray Rothbard consegue descrever a anatomia do Estado enquanto vilão que protagoniza a trama. Porém, esse vilão possui dentro de si uma série de relações de poder entre as diversas partes, partidos políticos, poderes partidos, agências burocráticas, grupos de interesse, firmas rentistas etc. Esses grupos têm objetivos e incentivos distintos, e estão normalmente em constante conflito. Sem a compreensão da complexidade orgânica do Estado, qualquer teoria política tem sua capacidade explicativa seriamente limitada.

Uma das conseqüências dessa simplificação é que o Estado fica idêntico a determinada conjuntura política e o mercado fica indissociável dos negócios, o capitalismo confunde-se com os capitalistas. Mas é claro que o liberalismo não é a doutrina de oposição ao PT, nem a ideologia de apoio às Casas Bahia. A liberdade política refere-se à justiça das relações entre indivíduos ao longo do tempo. Tanto partidos quanto empresas devem ser examinados e julgados à luz de instituições e das suas ações nos processos políticos e econômicos. Quando economistas de qualquer escola, por exemplo, falam sobre o crescimento do Estado, deve se lembrar que o Estado não é uma entidade autônoma para qual o crescimento é algo homogêneo. Existem formas diferentes de crescer. Eu, por exemplo, não começaria a enxugar o Estado eliminando os tribunais de justiça; prefiro começar abolindo seus tentáculos mais perniciosos, como a educação compulsória, ou o combate às drogas e à liberdade de imprensa.

Um liberal deve constantemente defender o mercado do interesse das empresas, e até mesmo o governo do interesse de partidos políticos. Os grandes negócios são os grandes inimigos do processo movido a concorrência. Como diz o economista Luigi Zingales, devemos ser enfaticamente a favor do mercado e enfaticamente contra as empresas. Ou seja, devemos defender um processo institucional, e não o interesse de algum participante em particular.

É por isso que as análises de escolha pública são tão importantes: para nos livrar de vícios coletivizantes e para nos ajudar a compreender do que se passa dentro do Estado, do mercado, e como integrantes associados a quaisquer uma dessas entidades podem apresentar riscos à liberdade humana.

* Publicado originalmente em 14/07/2009.

Aposta no aperfeiçoamento das instituições? Então Cardozo precisa sair!



Cardozo: receber advogados de empreiteiras investigadas é inaceitável para padrões republicanos
Sei que todos estão em clima carnavalesco, mais atentos ao “fogo” da Mocidade do que aos rumos de nossa política. Faz parte essa fuga. O que me preocupa não é a alienação voluntária desses cinco dias, mas a dos demais 360 dias do ano. E sabe quem mais adora o carnaval para jogar para baixo do tapete a política? Os políticos no poder!
Vejam o caso do ministro da Justiça, por exemplo. José Eduardo Cardozo recebeu em audiência os advogados da empreiteira Odebrecht, citada nas investigações da Operação Lava-Jato (ainda lembra dela?). Trata-se de um caso claro e espantoso de perigosa mistura entre estado e governo. O ministro está ali para defender os interesses nacionais, não partidários. A confusão entre estado, governo e partido é grande no Brasil, e o PT é o mestre dela.
O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, encontrou tempo para comentar o caso, deixando de lado a folia e se mostrando mais preocupado com o país a longo prazo. Em seu Twitter, Barbosa pediu a demissão de Cardozo. “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça. Reflita: você defende alguém num processo judicial. Ao invés de usar argumentos/métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à Política?”, questionou Barbosa.
A revista Veja desta semana mostrou as conversas impróprias de Cardozo, que se reuniu também com Sérgio Renault, sócio de um escritório que defende a UTC Engenharia. Cardozo disse que o encontro com Renault foi apenas na antessala de seu gabinete, sem uma reunião de fato. O ministro negou também ter tranquilizado as empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras. A UTC limitou-se a dizer que Renault não é advogado da empresa, apesar do sócio dele, Sebastião Tojal, defender a construtora. Diz a reportagem:
Procurados por VEJA, Cardozo, Renault e Sigmaringa tropeçaram nas próprias contradições ao tentar esclarecer a reunião no Ministério da Justiça, classificada por eles como um mero bate-papo entre amigos sobre assuntos banais. Cardozo disse inicialmente que não se reuniu com Renault. Depois, admitiu o encontro. A primeira reação de Sigmaringa também foi negar a audiência com Renault no gabinete do ministro, para, em seguida, recuar. Os amigos compartilham, como se vê, do mesmo problema de memória. Na versão de Cardozo, a reunião teria sido obra do acaso. Sigmaringa, um “amigo de longa data”, teria ido visitá-lo. Renault, que estava em Brasília e tinha um almoço marcado com o ex-deputado, decidiu se encontrar com Sigmaringa também no ministério. Pimba! Por uma conjunção cósmica, o advogado da UTC, empresa investigada pela Polícia Federal, acabou no gabinete de José Eduardo Cardozo.
Não é preciso ter lido o Nobel de Economia Douglass North (mas ajuda) para saber do peso das instituições no progresso de um país. Países desenvolvidos são aqueles que conseguiram criar instituições sólidas e republicanas, ou seja, blindadas contra a invasão politiqueira. Paulo Guedes tem dedicado várias de suas colunas no GLOBO para tocar nesse ponto, defendendo a migração do Antigo Regime para a Nova República brasileira. Chegou a questionar se estávamos observando atos isolados de alguns heróis, como o próprio Barbosa e Sergio Moro, ou se era uma mudança institucional importante em curso.
Na coluna de hoje, tende a uma resposta mais otimista, citando inclusive a maior independência do Congresso sob o comando de Eduardo Cunha, desafeto da presidente Dilma. E procura demonstrar alguma esperança em nosso futuro:
Apostar no aperfeiçoamento das instituições é o único caminho seguro para a prosperidade. Para reequilibrar a economia e regenerar a política, teremos de apostar nas instituições. A “independência” do Banco Central, inaugurada no Plano Real e institucionalizada no sistema de metas de inflação, trouxe aos brasileiros uma moeda decente. Do mesmo modo, a independência do Poder Judiciário exibida nas admiráveis atuações de Joaquim Barbosa e Sergio Moro aumentou as chances de que nossos filhos e netos possam viver num país melhor.
Ao contrário, a degeneração das instituições é uma conhecida rota para o caos. Os socialistas bolivarianos e peronistas do século XXI, que nos últimos anos apostaram cada vez mais no controle do Legislativo e do Judiciário, atacando o Estado de Direito e a liberdade de imprensa e aprofundando suas intervenções nos mercados, levaram finalmente seus países à ruína econômica e à violência política.
Essa aposta no aperfeiçoamento institucional também se aplica aos primeiros movimentos da Câmara de Deputados sob a presidência de Eduardo Cunha. No momento em que se revela à Justiça um mercado político “paralelo”, onde se compra governabilidade “por fora” dos fóruns republicanos e dos orçamentos públicos, a declaração de independência do Legislativo por Cunha e sua proposta de levar adiante uma reforma política são bastante desejáveis. Seriam portanto precipitadas as críticas de que o PMDB estaria apenas renegociando novos termos de adesão à “velha política”, aumentando o preço de fisiológica sustentação parlamentar ou vendendo caro um seguro presidencial contra o Impeachment .
Penso que está tudo em aberto, que seguimos em uma transição incompleta do Antigo Regime para uma Nova República, que os inimigos da sociedade aberta foram flagrados e estão em fuga à luz das informações em livre fluxo e que estaremos já em 2015 regenerando nossas práticas políticas e aperfeiçoando nossas instituições.
Amém! É o que todos os brasileiros decentes esperam. Mas para que possa haver alguma esperança de fato, será preciso que o povo faça sua parte. E isso inclui abandonar um pouco a euforia carnavalesca para se dedicar aos rumos de nossa política, inclusive fazendo coro ao ex-ministro do STF e pedindo a demissão do ministro José Eduardo Cardozo. Uma Nova República não comporta esse tipo de atitude daquele que deveria zelar pela Justiça imparcial e isonômica do país.
Rodrigo Constantino

Estado americano quer liderar ação coletiva contra Petrobras

Em entrevista ao site de VEJA, procurador-geral do Estado diz que fraude financeira foi ultrajante, o que motivou sua decisão de buscar tomar a frente do processo

Luís Lima

"Petrobras não divulgou corrupção para os investidores e violou as leis dos Estados Unidos", diz Mike DeWine (J.D. Pooley/Getty Images)
As denúncias de corrupção na Petrobras complicam, cada vez mais, a situação da empresa não só aqui no Brasil, mas também no exterior. Nos Estados Unidos, até o momento, cinco ações coletivas são movidas contra a estatal, tanto por grandes fundos quanto por pessoas físicas. Faz parte de uma delas o fundo de pensão do Estado de Ohio, que estima perdas de, no mínimo, 50 milhões de dólares. Em entrevista ao site de VEJA, o procurador-geral do Estado, Mike DeWine, manifestou a intenção de liderar a causa. "A fraude é tão ultrajante, que temos a obrigação de tentar liderar o processo para melhor proteger os interesses dos trabalhadores e pensionistas do Estado", disse.
A ação em questão será analisada pelo juiz Jed Rakoff, da corte sul do distrito de Nova York, o que pode levar dois anos. Trata-se de uma class action, uma modalidade de ação coletiva que representa os interesses de um grupo de pessoas e provoca efeitos sobre todos os membros. A decisão do juiz, portanto, valerá para todos os investidores que tiveram perdas com corrupção na Petrobras nos EUA, mesmo que não tenham aderido à causa. Na entrevista a seguir, DeWine defende a unificação das ações apresentadas até o momento e diz que está otimista em relação ao desfecho do caso: 
Quais são os principais motivos que levaram o fundo de Ohio a participar da ação coletiva contra a Petrobras? Nossa defesa é de que a Petrobras não divulgou para os investidores diversos fatos envolvendo corrupção, violando as leis dos Estados Unidos. Com isso, o Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos de Ohio teve uma grande perda financeira. A fraude é tão ultrajante que temos a obrigação de tentar liderar o processo para melhor proteger os interesses dos trabalhadores e pensionistas do Estado.
É possível comparar este escândalo com o caso da companhia de energia Enron? O Estado de Ohio também esteve envolvido no caso de fraudes contábeis da Enron, mas as situações são distintas. Sobre a Petrobras, Ohio nunca esteve em meio a um caso de fraude financeira envolvendo agentes públicos.
Qual é a perda estimada com as denúncias de corrupção na Petrobras? No caso dos fundos de Ohio e também dos Estados de Idaho e Havaí, que aderiram à ação em conjunto, o montante estimado é superior a 50 milhões de dólares. Mas este número pode ser maior, caso novas denúncias de corrupção sejam reveladas.
Ohio pretende tomar alguma nova providência sobre o caso? Se formos nomeados litigantes principais (líderes do processo), o que é um objetivo, Ohio terá mais poder de voz nas decisões sobre o processo. Nesta class action, todos os fundos de pensão que investiram na Petrobras são partes envolvidas, mesmo que não tenham aderido ao processo. Nesses casos, geralmente, o tribunal elege uma ou mais partes para liderar e dirigir o processo.


Qual a sua expectativa em relação ao andamento e conclusão do processo? Acreditamos que as cinco ações apresentadas podem ser unificadas, mas isso é uma decisão da Justiça. Sobre o processo, estamos eticamente proibidos de comentar a análise do juiz, mas acreditamos que nossos argumentos serão bem-sucedidos.