quinta-feira, 4 de abril de 2019


RATOS POLIGLOTAS

Numa época não muito distante os ratos Mis e Nis aprenderam a falar além do português, também o inglês, chinês e espanhol. Então resolveram que tendo tais aptidões deveriam dominar o mundo. E diante dos outros animais falavam em língua estrangeira dos seus planos, deixando todos de boca aberta e rindo da parvoíce dos demais. Falavam abertamente- “primeiro iremos dominar o reino animal, depois os humanos. ” Tudo caminhava bem não fosse o intrometido do gato Siamês Luca, belo e monoglota, que diante dos fatos largou da ração e comeu os dois.



A CAIXA
Numa manhã de sábado apareceu naquela rua de macadame uma pequena e enigmática caixa de madeira marrom.  Não possuía brilho, opaca, acordou encostada ao meio-fio.  Muitos moradores e até estranhos tentaram ergue-la ou abri-la, mas ninguém conseguiu. Nem mesmo usando ferramentas foi possível.  Ficou lá por muito tempo até desaparecer numa noite de tempestade. Que caixa era aquela? O que poderia ter dentro? Quando a velha e sábia Noninha morreu deixou uma cartinha explicando o que a caixa continha. A caixa carregava o peso das consciências dos habitantes da cidade e dentro dela todos os seus segredos mais bem guardados.



SEM CARNE

Naquela noite Romualdo chegou a sua casa e disse para seus quinze filhos, todos menores de idade e que estavam com muita fome: - “Não há comida, não há carne. Todos devem ir dormir agora. ” Duas horas mais tarde entre salpicos de molho de hortelã, cravo e louro, quinze crianças lambiam os beiços enquanto o pai morto dourava espetado sobre um fogo de chão.




RAINHA DELMA

Ano 1750 no reino da Ignomínia. A Rainha Delma prendeu na masmorra do seu castelo a bela serva Iraci, doente de ciúmes diante da beleza da moça. Mandou a rainha servir na masmorra apenas água, nada mais que isso. Viajou por um ano e voltando de sua longa jornada fez uma visita de surpresa para sua prisioneira. Encontrou-a feliz, fofa e corada. Não acreditou em que estava vendo, impossível! Mas ao ver o Rei Elmo seu marido de apenas quarenta anos, beiço caído, andando amparado por servos, pesando pouco mais de cinquenta quilos, compreendeu tudo.  Seu último ato em nome da dignidade real foi atirar-se pela janela dentro do fosso dos crocodilos.



NO SALOON

Dois pistoleiros bebendo no balcão.
-Como se chama, forasteiro?
-Tenho nome de flor: Comigo Ninguém Pode.
Silêncio...
-Eu também tenho nome de flor: Boca de Leão é meu nome.
Passou por trás um terceiro pistoleiro e atirou nos dois.
-Ninguém pediu, falou ele fitando o barman assustado, mas meu nome é Jardineiro Cruel.


É PRECISO SONHAR
Acordar por acordar
Comer para viver
Isso todo animal faz
Agora pergunto
Para um racional
Com que sonhas tu?



TUTELADOR

Envolta mente na soberba
Acha-se o bom na tutela
Animal racional medíocre
Pensa saber ensinar a todos o verdadeiro caminho
Logicamente não compreendendo que somos todos tão diferentes
Em sonhos e determinação.


ALIMENTO

É do rancor que falo
Dessa gente das bandeirolas vermelhas que gritam por aí
Nutrem-se de ódio essa gente
E de aleivosias diariamente.