quinta-feira, 2 de julho de 2020


O VELHO DICIONÁRIO
Naquele casa sem luz, moradores miseráveis de espírito, um velho dicionário sofria com o pó e a indifença. Ninguém dizia olá para ele, tampouco batia o pó de suas costas. Passava os dias, o sofrido,observando com desânimo, o rol de imbecilidades ditas pelos torpes.  Depois de alguns anos chegou àquela casa um parente iluminado, garimpeiro do saber, inquieto por aprendizado e novidades. Possuía caixas e mais caixaas de livros. Quando observou o pai dos burros jogado como lixo, correu em seu socorro, mas infelizmente já era tarde. Ao abri-lo, suas páginas doentes quebraram-se como folhas esturricadas, e montaram um triste quebra -cabeça no piso brilhante.

ESCURIDÃO
Rildo abriu uma porta dentro de um barracão abandonado, na região do porto de Santos, e caiu num lugar escuro abarrotado de entulhos, onde transitavam fantasmas,espíritos maus, pensamentos torpes e anacrônicos, superstições das mais diversas, milagres, astrólogos e videntes. Estar naquele lugar dava a impressão de carregar um pesado fardo nas costas, além da visão prejudicada e da mente confusa. Conseguiu achar o celular que havia perdido na queda,e iluminando o ambiente observou uma placa que dizia: HABITAT DA MAMA IGNORÂNCIA. Ágil como um gato, Rildo saiu depressa daquele lugar para a luz do sol, enquanto ouvia ao longe louvores a um ente imaginário.

“A primeira pele de um petista é de ovelha. Mas se observarmos bem sua boca, veremos que desde o início a língua de um lobo.” (Mim)



DO BAÚ DE JANER CRISTALDO- quarta-feira, setembro 29, 2004 MAIS PÉROLAS DOS GRANDES HUMANISTAS

ANTONIO CALLADO - Darcy, a primeira vez que eu fui ver os índios, em 50 ou 51, já estava muito estabelecido que índia não se comia, para não bagunçar muito o coreto, era mais ou menos tradicional, para não começarem a comer as índias todas. Tanto é assim que, quando eu estive lá, o Leonardo Villas-Boas já estava na Fundação Brasil Central, sendo forçado a deixar o Serviço de Proteção ao Índio porque ele tinha comido uma índia, com quem se casou. Quando é que você chegou lá pela primeira vez? Nessa época já tinha essa lei?

DARCY RIBEIRO - É verdade. Eu comecei com os índios em 46. Essa lei existe até hoje, por causa do Rondon e da antropologia clássica. Eu fui educado para não trepar com índia porque, para o antropólogo, no meu caso específico, pesquisas longas eram difíceis. Hoje em dia é que as moças começaram a dar para os índios, as antropólogas dão para os índios, gostam de transar com eles, para fazer intimidades. Tão dando mesmo, dão para eles também. Coitado, índio também é gente. Então, dão. E como elas dão, os homens também começaram a comer as índias, antropólogos de primeira geração. (...) Eu passei meses com os índios, arranjava um jeito de ter uma. Por exemplo, eu não comia as índias Urubus-Kaapor porque eu estava trabalhando com os Kaapor, mas comia índia Tembé, que eram umas índias decadentes que havia lá.

VIOLÊNCIA

Sinésio era um homem revoltado com a violência, principalmente gratuita. Escrevia até artigos para um jornal local. Faz pouco se desentendeu com um vizinho por causa de duas folhas caídas no seu quintal. Matou o vizinho a tiros. Deve ter sido pela causa, ora pois.

O PEDIDO

O sujeito entrou no bar, sentou-se num canto, e chegando o garçom fez o pedido: dois pasteis de graxa de motor elétrico, um litro de ácido de bateria, e para completar uma salada mista de arruelas, temperada com pólvora e gasolina azul. Diante do olhar atônito do atendente, disse: sou o Super-Homem, portanto não esquente, hoje resolvi radicalizar e sair da dieta.

DEMÔNIOS


Demônios não existem
Mas existem os maus de carne e osso
Que se feitos sabão estragam a soda.

DEBOCHE


O homem de bem
Trabalha e se cansa
Do seu lado o parasita suga e sorri em deboche.