quarta-feira, 7 de setembro de 2016

“Antes sofrer por compreender que ser um feliz enganado.” (Filosofeno)

“Não se doma o bicho conhecimento sem esforço. “ (Filosofeno)

“A ignorância às vezes me tenta.” (Filosofeno)

“A loucura é uma fatalidade. Já ser imbecil é uma escolha.” (Filosofeno)

“Entram reais no bolso e a empáfia assume o ser. Assim é o comum.” (Filosofeno)

“O inconformismo com a morte fez surgir os exploradores do medo.” (Filosofeno)

Algo errado

“Há lugares que não nos agradam, é verdade. Mas quando nenhum lugar nos agrada, será que não há algo de errado conosco?” (Filosofeno)

“Acho o elogio importante. E gosto de elogiar. Mas se não for sincero o elogio gera um efeito contrário e mina as chances de aproximação.” (Filosofeno)

Reclamações de um fatiado

Reclamações de um fatiado - ROBERTO DAMATTA O Globo - 07/09

 Julgamento confirmou como somos especialistas em fechar uma porta para abrir a porteira. Foi isso, não a exaltação da oposição, que transformou o Senado num hospício O que dizer depois de assistir ininterruptamente ao julgamento da presidente da República, Dilma Vana Rousseff, ao vivo e em cores, comendo e dormindo mal, senão declarar que fui — junto com a Constituição — esfaqueado — ou, para ser juridicamente mais elegante, fatiado. Depois de uma gestação, de um show de hierarquia e de lastimáveis rapapés, nasceu um aborto político-jurídico generoso para com quem manda. Graças a um brasileirismo chamado “fatiamento”, quem deixou de ser rainha por irresponsabilidade administrativa continua a “ser majestade”. E fica mais um problema para atormentar as nossas almas machadianas.

 O julgamento confirmou como somos especialistas em fechar uma porta para abrir a porteira. Foi isso, não a exaltação da oposição, que transformou o Senado Federal num hospício. Eis que Renan Calheiros virou uma garrafa de Klein. Aquele recipiente sem boca ou fundo, pois, num primeiro ato, o senador defendeu aos berros o Senado, mas, no final, sua repulsa esvaiu-se no acordão que me acordou. Todos são companheiros e inimigos simultaneamente. O básico é que estão com a caneta do poder. Consciente, enfrento o meu ceticismo antropológico. Ele me diz que, mesmo num mundo globalizado, cada sistema continua a fazer certas coisas a seu modo e jeito.

 No nosso caso, a abundância de tribunais, de polícias e de leis testemunha os inúmeros espaços pelos quais as normas se contradizem e adormecem a sinceridade. Muitas leis têm como objetivo a ambiguidade, e lidar com o ambíguo não é apenas coisa para santo ou poeta, mas faz surgir o especialista em chicana e má-fé. O paradoxal espaço carnavalesco precisa do malandro. Esse herói dominante, dramatizado por Mário de Andrade, em 1928, em “Macunaíma”. Retomei o tema no livro que você não deve ter lido “Carnavais, malandros e heróis”, em 1979, quando estudei Pedro Malazartes como o modelo de todos os “sabidos”. Não seria ele o fundador do nosso populismo qual permanente fábrica de otários e inocentes úteis?

 Somos todos “legalistas”, sobretudo na ilegalidade — quando usamos uma lei contra outra, o que, como estamos vendo à exaustão, leva ao assassinato do senso comum, obrigando a duvidar do real, mesmo correndo o risco de erradicar a vergonha e a honra. Fatiamos tudo. Até mesmo as normas, empurrando suas sobras para um outro colo. O resultado é a institucionalização da dúvida e da mentira como sagacidade no campo politico-moral. Quem não mente de cara limpa, quem não defende o indefensável é um otário. Ser malandro é saber “arrumar-se” e realizar tudo o que temos visto mais contundentemente a partir do mensalão e do petrolão, culminando — graças à Lava-Jato e a uma crise desmedida — com o afastamento da presidente. Seria pueril de parte de um velho praticante, por mais de 60 anos, do ofício de antropólogo ser contra o ambíguo e o paradoxal. O sombreado do mal-entendido é inevitável no mundo social.

 Caso contrário, não existiriam mitologias ou marginalidades, como ensinava Victor Turner. Sem diferentes pontos de vista, moinhos de vento não poderiam virar como gingantes como ocorre no “Dom Quixote”. Do mesmo modo, eu vejo a canalhice disfarçada de marxismo vulgar justificando a criação de uma autêntica “nomenclatura” e de um projeto político autojustificável porque nele está enfiada a palavra “pobre” como um conceito cristão, e isso suspenderia todos os juízos morais e todas as boas normas de competência. George Orwell nos ensinou que guerra pode ser paz e que a mentira vira verdade. No Brasil, o “superior” não apenas mente — como é da índole dos que estão por cima — ele deve mentir. Primeiro, porque isso faz parte da ética de dominação aristocrática, onde existem os companheiros e os outros; depois, porque todos tinham a mais absoluta certeza da impunidade. E, na punição, haveria um recurso.

 Para os inferiores, porém, não haveria nuance ou condescendência. Haveria apenas o fato e a realidade da pena. Mas, para os “especiais” que “obram”, e obram em abundância, “nada pegaria.” Se isso não é hierarquia e um resíduo aristocrático do tamanho de um rinoceronte, eu não sei quem sou. Se não podemos acabar com a malandragem, podemos ao menos pensar como essa lógica dúplice pode liquidar o Brasil. Afinal, deve haver um limite para a autodestruição.

Do blog do Murilo

A arte de fatiar

A arte de fatiar - RUY CASTRO FOLHA DE SP - 07/09 

Um motivo pelo qual nunca me atrevi a cozinhar foi por me julgar incapaz de desempenhar uma das funções da especialidade: fatiar certos ingredientes. Se a culinária se resumisse a pratos com presunto, salaminho, pastrami, mortadela ou queijo-bola, seria fácil — bastaria pedir ao rapaz do açougue que tirasse 250 gramas de cada um na máquina de cortar frios. Mas ninguém será um cozinheiro de verdade se não dominar a fina arte de fatiar. Vide o carpaccio. Como extrair de uma posta de filé ou lagarto aquelas lâminas diáfanas, quase transparentes? 

O truque é deixar a carne durante horas no congelador antes de seccioná-la. Já com os sashimis, o fatiamento é mais difícil, porque se dá com o peixe ao natural — o esmero estará na mão de quem corta e na precisão da faca, equivalente à das espadas dos samurais. Falando nisso, São Paulo perdeu há pouco o samurai dos sashimis: o inesquecível Tanji, que, em 50 anos de Liberdade, fatiou um oceano de salmões e atuns. Fatiar uma pizza já não tem tanto mistério. Para dividi-la em oito pedaços, aplica-se uma carretilha em cruz à cobertura e à massa; depois, uma nova cruz em diagonal; e pronto — é só levantar as fatias com um garfo e servi-las. 

Mas, na única vez em que me aventurei a isto, devo ter aplicado muita força à carretilha, porque cortei também o fundo da caixa em que viera a pizza, com papel-manteiga e tudo. Já cortar um bolo, torta ou pudim em fatias também exige "savoir faire", para que ele não se desfaça, despenque ou transborde da espátula até o prato. E, com isso, eu julgava ter esgotado o assunto. Mas, agora, há um novo produto a ser fatiado. É a Constituição brasileira. Depois que Renan, Lewandowski e outros inauguraram esta prática, não há porque não continuar dividindo-a em fatias, a gosto do cliente.

Do Perca Tempo- Blog do Murilo

Posso estar só

Posso estar só em minha posição, mas não dou Ibope para Gregório Duvivier e outros artistas que defendem criminosos e os crápulas do PT. Eles no ar, eu fora!

Duvivier defende black blocs criminosos e filha de cinegrafista assassinado reage indignada


O caso de acusados por morte do cinegrafista Santiago Andrade, assassinado por bandidos travestidos de black blocs em 2014, continua sem solução, parado no STJ. A filha da vítima Ifoto ao lado de Vanessa Anrade), inconformada com um texto cretino de Gregório Duvivier na Folha, justificando os "black blocs de12 anos, com espinhas na cara", postou no seu facebook o texto a seguir:

Eu prefiro acordar nesse dia 6 - um dia depois do aniversário do meu pai e da publicação de um certo artigo - e pensar como Gregório Duvivier. Pra ele Santiago Andrade não existe, não morreu. Aqueles dois mascarados, ele diz, em geral têm 12 anos, espinhas e mochila cheia de roupa preta e remédios pra acne.
Mas, olha, Gregório, pelo menos concordamos em um ponto. Você diz que existem muitas razões pra ter medo. Mas não as mesmas razões. É verdade, te juro. Você está aí, com seu programa bacana, aparecendo na TV e na web, tá aí ganhando sua graninha, até mostrou sua casa bacana para uma revista outro dia. Eu tô aqui, batalhando na vida também, com alguns sonhos interrompidos, carregando o sobrenome Andrade na identidade e no peito. Eu tô aqui, Gregório, lembrando bem do sangue de Santiago Andrade nas mãos, sentindo as feridas com meus dedos e revivendo um rosto tão alegre deformado por um rojão. Uma bomba atirada pelos black blocs, esses aí que você defende em um texto lindo e com português impecável. Esses que você diz não ter medo.
Da próxima vez, só lembra de ouvir os dois lados, princípio básico do jornalista, aliás, da vida. Sai desse ar condicionado e vem aqui que eu te conto quem é Santiago Andrade. Garanto te dar uma aula sobre as verdadeiras vítimas desse seu discurso infeliz e desrespeitoso. Tenha um bom dia, senhor Gregório Duvivier.

E aos dois BLACK BLOCS assassinos de meu pai, a justiça ainda irá prevalecer.

Políbio Braga

LEMBRANÇAS

LEMBRANÇAS


Bica d’água

Água da nascente enchendo o tanque

Tampa de lata de tinta para brincar de chofer

Flores copo de leite

Cerquinha de madeira

Cama de molas

Galinhas bicando aqui e ali

Ovos apanhados no ninho

Pé de lima espinhento

Um araciticunzeiro sofrido

Pêssegos com bicho

Varinha de vime para meninos marotos

Forno de barro

Pão quente

Fogão de lenha

Pinhão na chapa

Privada no fundo do quintal

Empresa do Lara

Depósito de cal

Madeira empilhada

Brincadeiras de esconde-esconde

Chuveiro de latão

Medo do escuro

Páscoa de parcos chocolates

Festa de Santo Antônio padroeiro

Natal de bola e revólver de espoleta

Vizinhos reunidos

Banhados a mão

Rãs e saracuras

Campinhos de terra

Ida ao Índio Condá com o pai

Torcedor do Rio-Grandense e Independente

Matinê aos domingos no Cine Ideal

Django

Pecos

O Gordo e o Magro

Cavalaria americana

Picolés do Bar Estrela

Gasosa e sorvete seco no Armazém Palmeiras

Armazém do Oscar Matte na Getúlio

Os sinos da catedral bem ouvidos

Missa com padre Romualdo

Os caríssimos amigos do Frei João

A irmã Gilda do primário no Bom Pastor

A fila e o Hino no pátio

O 7 de setembro

O dia do boletim

O campo feito de tijolos para futebol de salão

O recreio de pão com nata e açúcar

Professoras

Marisa

Lourdes

Avani

Marina

Inezita

São tantas as lembranças da minha infância feliz

Que só faz bem recordá-las.

As 6 coisas fundamentais que seu livro-texto de macroeconomia não ensina a você por Jason Riddle

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Se você está na faculdade aprendendo macroeconomia, você provavelmente está utilizando o livro Introdução à Economia, de Gregory Mankiw, um best-seller que já está em sua sétima edição. O professor Mankiw é o presidente do Departamento de Economia da Universidade de Harvard e o foi conselheiro econômico de George W. Bush.

Em si, o livro é um grande avanço em relação aos best-sellers anteriores, como, por exemplo, o livro-texto de Paul Samuelson, que foi o mais influente livro-texto de economia do mundo pós-guerra, com pelo menos 3 milhões de cópias vendidas em 31 idiomas distintos. Na edição de 1989 de seu livro-texto, Samuelson escreveu: "A economia soviética é a prova cabal de que, contrariamente àquilo em que muitos céticos haviam prematuramente acreditado, uma economia planificada socialista pode não apenas funcionar, como também prosperar". Dois anos depois, a URSS acabou.

Mankiw fornece uma sólida apresentação de tópicos técnicos com o intuito de preparar os alunos para estudos futuros. No entanto, o livro é fraco em uma área em que deveria ser extremamente robusto: os princípios fundamentais que constituem a própria essência do raciocínio econômico.

A omissão destes seis conceitos essenciais é um grande desserviço aos estudantes que queiram realmente adquirir um sólido raciocínio econômico e aprender a como tomar decisões econômicas sensatas.

1. Somente indivíduos escolhem, e somente indivíduos agem

O professor Mankiw apresenta a economia como sendo "o estudo de como a sociedade gerencia seus recursos escassos".

Essa definição trata a economia como a ciência que planeja soluções coletivistas para os problemas de alocação de recursos técnicos. Ao dar essa definição, Mankiw deixa de fora tudo aquilo que torna o estudo da economia tão rico.

A economia é fundamentalmente o estudo do comportamento humano sempre que há uma escolha envolvida. Somente indivíduos tomam decisões, e somente indivíduos agem de acordo com essas decisões.

Em termos práticos, a ciência econômica não é simplesmente o estudo de fenômenos econômicos visíveis, como preços, produção, juros e dinheiro. A ciência econômica é o estudo de como esses fenômenos são gerados pela interação entre, de um lado, as idéias e as ações dos indivíduos e, de outro, um ambiente que oferece recursos limitados para a satisfação das necessidades humanas.

Ao ignorar o princípio de que a economia se baseia na escolha individual, o texto de Mankiw perde a oportunidade de fazer com que o estudo da economia seja pessoalmente relevante para os estudantes. Poucos os estudantes irão desenhar outra curva de demanda, mas todos se beneficiam se souberem raciocinar de uma maneira que propicie melhores decisões nos empreendimentos e na vida.

A economia é especialmente valiosa quando ensinada como sendo um conjunto de ferramentas que propicia um melhor entendimento das escolhas que pessoas de verdade têm de fazer e das decisões que elas têm de tomar.

2. O valor econômico é subjetivo

O que é mais valioso: ingressos para uma partida de futebol ou um livro-texto de macroeconomia? Uma estudante dedicada de uma universidade pode estar pouco interessada em futebol, preferindo gastar seu dinheiro em um livro-texto, de modo que ela possa ser aprovada na matéria. Já eu preferiria gastar dinheiro em um ingresso para a final de uma partida de futebol, nem que seja para ter uma experiência fora da rotina.

Os recursos econômicos que valoramos só se tornam valiosos para nós quando comparados às alternativas disponíveis; quando são vistos dentro do nosso plano de satisfazer algum objetivo em relação às alternativas disponíveis.

Valorar algum bem ou serviço significa escolher entre esse bem ou serviço e bens e serviços alternativos. Quando fazemos as escolhas, isto é, quando agimos, o fazemos acreditando que aquela escolha, ou aquela ação, irá nos proporcionar satisfação maior do que a satisfação que os outros bens e serviços proporcionariam.

Em suma, o valor está nos olhos de quem percebe.

Ou, em outras palavras, o valor econômico é subjetivo.

Infelizmente, o texto de Mankiw não fornece qualquer explicação sobre o valor econômico. Em vez disso, ele dá um salto e imediatamente começa a tratar a economia como um problema de alocação de recursos a ser solucionado por economistas espertos.

Mankiw tem o cuidado de explicar que os economistas podem discordar entre si sobre como os recursos deveriam ser distribuídos, mas ele ignora inteiramente a noção de que recursos só têm valor para um indivíduo de acordo com seus planos, idéias e objetivos, os quais ocorrem em um momento específico do tempo e em meio a circunstâncias que estão em constante mudança.

É possível entender por que os estudantes acreditam que a economia é realmente a "ciência sombria": os livros-texto omitem a maior parte dos componentes humanos da economia.

Avó noveleira

E como diz a minha avó noveleira mastigando um torresminho: “Nunca fui fã de bebidas alcoólatras.”

A PIOR TEMPESTADE ESTAVA POR VIR

A PIOR TEMPESTADE ESTAVA POR VIR

 O céu ficou escuro e houve uma sensação de pânico geral. As nuvens ruidosas pareciam cair sobre as casas. Ventos enfurecidos revoltavam as melenas cobertas de poeira e faziam arder os olhos. Pequenos galhos e folhas já corriam pelas ruas sem lugar para ficar. Placas publicitárias de pernas fortes voavam como penas. As gentes fechavam suas casas, cães e gatos eram recolhidos para lugares abrigados. Apressei o passo para chegar logo em casa e fugir das nuvens ameaçadoras. Algumas lesmas pegaram carona em pneus de bicicletas, enquanto outras eram rápidas em seus patinetes. Entrei em casa a tempo de observar pela janela o mandatário- mor da cidade passar voando em sua cadeira de trabalho. A secretária sentada em seu colo fazia anotações e ajeitava os cabelos negros. Não muito distante dali a primeira-dama já sabendo do fato, visto por centenas de olhos comunitários, tirava do baú um chicote de três tentos e dava um lustro num cassetete de aroeira.

PAPO DAS SEIS

PAPO DAS SEIS

 Quase seis horas da tarde, e dona Zefa Fofoca estava na janela observando o movimento e destilando veneno na companhia de Jureminha Bunda-de-Tábua que vinha da venda e parou para um papo amigo. Falavam das coxas de fora da menina Matilde e da barriguinha esquisita da filha da Norma-Bucheira. O falatório desenfreado é lazer nas cidades pequenas. O conversê estava animado quando um ciclista gorduchinho passou pela calçada e sem querer passou com o rodado da bicicleta sobre a língua de dona Zefa, que no momento estava em repouso sobre a calçada. Foi para o hospital levada pelo SAMU. Jureminha ajudou a carregar a língua amassada. O ciclista fugiu.

OVNI

OVNI

 Não fazia muito que Romualdo e Natália conversavam na varanda. Observavam o céu estrelado, a bela lua que dominava o firmamento, quando notaram um objeto luminoso e colorido que se aproximava da casa. Uma tremedeira tomou conta deles. Pensamentos horripilantes vieram à mente do casal tirados dos filmes do gênero, em que seres humanos são abduzidos e tratados como cobaias. O objeto voador prateado e cheio de luzes pousou no terreno em frente e uma portinhola se abriu. Uma pequena mão espalmada se mostrou e uma voz feminina foi ouvida: Por favor! Vocês podem me emprestar alguns absorventes?

Apenas respirando

“No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.” (Nelson Rodrigues)

Eu amo a juventude

“Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes "É proibido proibir" e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais.” (Nelson Rodrigues)

Escravidão consentida

Outrora, o remador de Bem-Hur era um escravo, mas furioso. Remava as 24 horas por dia, porque não havia outro remédio e por causa das chicotadas. Mas, se pudesse, botaria formicida no café dos tiranos. Em nosso tempo, o socialismo inventou outra forma de escravidão: — a escravidão consentida e até agradecida. (Nelson Rodrigues)

Educação sexual

“A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.” (Nelson Rodrigues)

Retumbante

“Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é "o maior acontecimento do século". Como se engana o velho mestre! O "maior acontecimento do século" é o fracasso dessa mesma revolução.” (Nelson Rodrigues)

MILLÔR




ESTADO BRASILEIRO É CASO PARA INTERDIÇÃO JUDICIAL por Percival Puggina. Artigo publicado em 07.09.2016

O Estado brasileiro é tão irresponsável em suas finanças que os pagadores de impostos deveríamos requerer sua interdição judicial. Proibi-lo de usar nosso dinheiro. Encaminhar suas instituições para tratamento psicológico. Não o fazemos porque o próprio Poder Judiciário é causa atuante dessa situação pois, cotidianamente, impõe aos governos despesas e ordens de pagamento sem indicar fontes nem recursos. Governadores e prefeitos são as principais vítimas dessas incursões judiciais nos respectivos erários, seja em nome de algum direito difuso, seja de algum princípio constitucional afivelado no senso de justiça, mas ao desamparo da realidade orçamentária - aquela que se nutre dos impostos que pagamos.
 Os casos mais graves, continuados e vultosos, a clamar pela interdição, são os que combinam corrupção com desatenção, tolerância e vistas grossas. Nestes dias, aliás, vivemos um surto investigatório. Escândalos se sucedem em sequência tão rápida que não há no nosso HD mental memória suficiente para armazenar o acumulado das informações. As coisas se passam como no rodízio das penitenciárias, tem que sair um para entrar outro. Enquanto isso acontece envolvendo figurões e ganhando manchetes, uma outra porção do submundo vai revelando sua dimensão na irresponsabilidade financeira, embora recebendo tratamento mais discreto. Refiro-me às práticas criminosas, como as de concessão de Bolsa Família a quem ingressa no programa de modo fraudulento. Um cruzamento de dados do antigo Ministério do Desenvolvimento Social com Receita Federal e Tribunais de Contas detectou um milhão de casos de fraude que, nos anos de 2013 e 2014, desviaram R$ 2,6 bilhões.
Na previdência social são comuns as artimanhas e mutretas. O Estadão do último dia 6, informa que um projeto piloto do INSS levado a efeito em Jundiaí reverteu 50% dos casos de auxílio por doença e invalidez. A partir dessa experiência, o INSS não calcula o quanto de dinheiro já foi perdido, mas estima economizar até R$ 6 bilhões por ano a partir de um recadastramento ainda por ser feito.
Não são diferentes as coisas nos programas de Reforma Agrária (o maior, mais caro e inútil do mundo). Matéria do Estadão no dia 5 de abril deste ano informa que o TCU determinou a paralisação do programa após constatar fraudes envolvendo 578 mil beneficiários, entre os quais os mais notórios são 1017 políticos, 4293 proprietários de veículos com valor superior a R$ 70 mil, 61 mil empresários, milhares de falecidos e de servidores públicos.
É inimaginável a extensão desses prejuízos se pudessem ser contabilizados ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, excita a imaginação o quanto se poderia fazer num contexto de responsabilidade fiscal. Tomemos por exemplo a fraude recentemente descoberta nos auxílios por doença e invalidez junto ao INSS. Os R$ 6 bilhões ali economizáveis permitiriam construir, por ano, 330 presídios com 400 vagas e resolver totalmente, em três ou quatro anos, esse déficit tão relacionado com nossa insegurança.
Nada causa mais prejuízos ao país do que o cruzamento da ingenuidade dos cidadãos com a desonestidade que opera nas instituições. Como escrevi no meu livro "Pombas e Gaviões": os ingênuos estão na cadeia alimentar dos mal intencionados.

MISES BRASIL- Não desfaça amizades por causa da política - gerar a divisão é exatamente o que o estado quer

Por acaso a política sempre foi tão brutal assim com as amizades pessoais?

Conheço várias pessoas, até então amigas entre si, que estão entrando em brigas no Facebook, em guerra no Twitter, em discussões no Instagram, e em rixas no Snapchat. Aquilo que começa como uma desavença ideológica termina em amargura e rancor. As pessoas estão provocando umas às outras, exigindo que aquelas que têm uma posição política contrária à sua saiam de suas redes sociais. Algumas até mesmo cortam relações totais com amigos e familiares. E tudo por causa de diferenças políticas.

Fico até pensando em como será o natal dessas famílias.

Para deixar claro, a filosofia política de fato importa e, consequentemente, a política em si é algo que afeta a vida de todos. No entanto, a briga partidária pelo controle temporário do aparato estatal é menos importante do que as contendas eleitorais nos fazem crer. Você pode estar sendo facilmente manipulado por políticos, ideólogos e intelectuais, e amizades e a família são coisas preciosas demais para ser descartadas por razões temporárias.

É lamentável que a política cause divisões permanentes, e de uma maneira tão desnecessária. As pessoas que rearranjam suas relações pessoais de acordo com a política imaginam que estão assumindo em definitivo o controle de suas vidas; o que elas aparentemente não percebem é que estão, na prática, deixando que estranhos controlem suas vidas — estranhos que não se importam absolutamente nada com elas.

A política é um sistema que busca dividir as pessoas para mais facilmente dominá-las. Divide et impera sempre foi o lema da política e dos políticos. Permitir que a política fundamentalmente influencie algo tão importante quanto a amizade e a família significa conceder a vitória efetiva aos políticos. Significa dar a eles muito mais importância do que eles merecem.

Trollagem e banimento

Agora, é claro que é necessário levar em conta um pré-requisito. Se há alguém em sua rede social deliberadamente trollando você, lhe perturbando e continuamente enviando links de sites que você despreza, então a melhor resposta é simplesmente bloquear essa pessoa. Não responder. Não entrar em discussões improdutivas. Simplesmente bloqueie, calmamente, sem dramas e anúncios espalhafatosos. Muito menos faça qualquer denúncia.

A maioria das pessoas que eu conheço já bloqueou mais de cem pessoas ao longo dos últimos meses, insufladas pelas batalhas políticas e ideológicas que vêm sendo travadas pela direita e pela esquerda nas redes sociais, cada uma em defesa de seus políticos de estimação. Simplesmente bloquear é uma reação muito mais sensata do que confrontar, o que levaria a infindáveis e amargas discussões. E não há nada mais improdutivo e exaustivo do que intermináveis discussões na internet. Pessoas que querem arrastar você para esse meio de fato merecem uma exclusão do seu círculo de conversação.

Mas, excetuando-se esses casos extremos, vejo como uma atitude sem sentido expulsar alguém da sua vida só por causa de diferenças políticas.

Primeiro, ao se isolar e negar a si mesmo acesso a diferentes pontos de vista, você corre o risco de se isolar de um crítico que pode ensinar a você algo que você ainda não sabe. Pode ser sobre qualquer coisa da vida, mas talvez até mesmo sobre política. Fechar a porta para eventuais informações importantes não é uma atitude sensata.

Segundo, conversar com pessoas com opiniões opostas é uma boa maneira de você treinar a manter a calma, a raciocinar rápido, a falar com fluência e segurança, e a conversar de maneira civil e cortês, sempre se direcionando ao interlocutor de uma maneira que possa realmente persuadi-lo.

Terceiro, e mais importante, isolar-se de tudo e todos, odiar os outros por suas visões políticas, e considerar que pessoas com diferentes pontos de vista sejam menos merecedoras de um tratamento digno é exatamente o tipo de atitude que o sistema político quer que você tenha.

Mas os outros não são os agressores?

Um contra-argumento a esse meu ponto foi feito por um amigo meu ano passado. Sendo ele também um libertário, ele considera que qualquer pessoa que defenda qualquer medida governamental — mesmo que só casualmente, sem pensar mais profundamente no tema — é uma defensora da agressão estatal. Afinal, qualquer coisa que o governo faz só pode ser feita, em última instância, por meio da tributação da renda (uma agressão à propriedade privada) e da restrição ao empreendedorismo.

Consequentemente, as únicas pessoas que esse meu amigo diz serem dignas de sua atenção são aquelas que seguem firmemente sua perspectiva anarcocapitalista e voluntarista. Quaisquer outras pessoas são consideradas por ele uma ameaça direta à sua vida e liberdade.

A mim isso parece ser excessivamente severo. A verdade é que as pessoas normais que defendem algum tipo de ação governamental não se consideram a si próprias como pessoas violentas. Elas apenas, e ingenuamente, acreditam estar defendendo algo que será bom para terceiros, talvez até mesmo melhorando a vida de todos.

Por exemplo, se uma pessoa defende mais gastos do governo com educação pública, ela acredita estar apenas defendendo políticas que serão boas para terceiros. Em sua mente, ela não está decretando guerra e incitando a violência contra a propriedade privada dos pagadores de impostos, que deverão ser obrigados a dar ainda mais dinheiro para financiar programas ineficientes. Se você simplesmente cortar relações com essa pessoa, como você poderá persuadi-la de que ela está errada?

E não são só os libertários que agem assim. Um ex-amigo meu, de esquerda, era um crente fervoroso na tese do aquecimento global. Eu não fazia a menor ideia de que ele pensava assim até o momento em que, enquanto tomávamos um café, o assunto surgiu. À época, apenas expressei algum ceticismo de que a ciência a esse respeito já estava solidamente comprovada e que o debate sobre causas e efeitos, soluções, custos e benefícios já estava encerrado. Eu realmente fui bastante comedido em meus comentários. No entanto, por algum motivo, eles foram o bastante para fazê-lo explodir de raiva. Ele disse que eu era um obscurantista que negava a ciência e um maluco apologista do capitalismo. Ele se levantou e foi embora. E foi isso.

Fiquei perplexo. Eu estava apenas discordando dele, de maneira bem cautelosa. No entanto, por algum motivo, ele genuinamente acreditava que qualquer um que discordasse dele era o responsável direto pela elevação do nível dos oceanos, pelo derretimento das calotas polares, e pela gradual desintegração do planeta.

Ele havia deixado que a política controlasse sua vida e até mesmo determinasse suas amizades. Como consequência, nós dois nos tornamos espiritualmente mais pobres em decorrência dessa amizade desfeita.

E considere o efeito tóxico que está sendo causado pelo crescimento da influência desta tal "política de identidade pessoal": as pessoas estão perdendo a capacidade de ver algum valor nas outras. Imagine como você me faria sentir se você acreditasse que a brancura da minha pele representa uma opressão e uma indelével mácula na ordem mundial? Não haveria nenhuma chance para qualquer tipo de interação civilizada. Afinal, eu não posso mudar minha raça. Da mesma forma, e se eu acreditasse que o fato de você ser negro, ou gay, ou ateu fosse a causa da destruição demográfica e cultural — como seria possível agir civilizadamente nesse contexto?

A imposição dessa política de identidade está gerando exatamente esse tipo de desavença irracional e de rixas supérfluas entre as pessoas. Exatamente o que o estado e seus defensores intelectuais querem.

Qual é o objetivo de uma amizade?

O que o libertário e o esquerdista acima mencionados não conseguiram perceber é que eles são culpados pelo mesmo erro: permitiram que a política invadisse e conduzisse suas vidas, determinando as condições para sua felicidade pessoal. Tão logo esse tipo de coisa começa a acontecer, não há como parar.

Deveria todo mundo concordar com cada ponto de sua ideologia para ser seu amigo? Deveria haver tolerância zero para a mais mínima diferença de idéias, de visões, de prioridades, de aplicações e de objetivos? Em outras palavras, deveriam todos os seus amigos acreditar exatamente em tudo aquilo que você acredita?

Se essa é a sua perspectiva, então não há muito sentido em ter uma amizade e conversar com alguém que tenha exatamente o mesmo ponto de vista que o seu em absolutamente todas as coisas. No mínimo, isso seria incrivelmente tedioso. Ficar em casa pensando na sua própria infalibilidade teria o mesmo efeito.

Pessoalmente, gosto de pensar em amizades da mesma maneira que penso em transações econômicas. Em termos de economia, bens e serviços não transacionados sob uma perfeita condição de igualdade. A transação comercial ocorre exatamente porque ambos os lados acreditam que ficarão em melhor situação após a troca. É somente quando há expectativas desiguais que a transação se torna mutuamente recompensadora.

O mesmo é válido para a amizade. É necessário ouvir pontos de vista distintos. É sempre bom termos acesso ao que pensam os outros. Mesmo que não concordemos com nada do que dizem, ainda assim passamos a compreender as pessoas e o mundo de uma maneira mais completa quando ouvimos o que os outros têm a dizer — com sinceridade, cordialidade e honestidade. Em outras palavras, amizades desse tipo nos ajudam a ter uma mente aberta e nos mantêm humildes e sempre dispostos a aprender mais.

Políticos sempre irão trair você

Tampouco é uma boa ideia desfazer amizades por causa de opções político-partidárias. Políticos raramente mantêm uma mesma opinião sobre qualquer assunto ao longo de suas carreiras. Muito pelo contrário, aliás: essa gente se molda estritamente de acordo com as tendências da opinião popular. Quando a maioria da população clama por mais estado, políticos adotam um discurso mais intervencionista. Já quando a maioria da população começa a reclamar do excesso de estado, políticos até ontem estatistas começam a adotar um discurso mais liberalizante.

Seguir as idéias de um político, ou mesmo de um partido político, até o ponto de afetar seu relacionamento com família e amigos significa comprometer sua própria integridade intelectual.

Simplesmente não vale a pena. E muito menos ainda se for feito em nome de políticos.

Uma das grandes tragédias da política é que ela é capaz de transformar pessoas que, na vida real, seriam pacíficas, leais e grandes amigas em inimigas amargas e rancorosas. Sempre penso nisso quando veja brigas de rua insufladas por militantes político-partidários, cada um brigando em nome do seu político ou partido político favorito.

Quem realmente ganha com isso? Se você colocasse essas mesmas pessoas em um restaurante, em um cinema ou em um shopping, elas teriam todos os motivos para ser corteses, gentis e civilizadas, e nenhum motivo para gritar obscenidades e distribuir sopapos entre si.

Isso é algo que realmente deveria ser mais refletido. Cada um de nós é um ser humano com sentimentos, esperanças, sonhos e desejos de viver uma vida bem vivida — cada indivíduo, independentemente de sua raça, religião, identidade de gênero, opção sexual ou ideologia quer isso. E a política não deveria interferir em nada disso.

Se o desejo é por um mundo mais pacífico e de mais compreensão, uma maneira de ajudar a criá-lo é viver como se tal mundo já existisse. Acima de tudo, isso significa jamais deixar a política interferir nas relações humanas. As relações humanas, e não a política, são o nosso verdadeiro tesouro.



Jeffrey Tucker é o CEO do Liberty.Me. É também autor dos livros It's a Jetsons World: Private Miracles and Public Crimes e Bourbon for Breakfast: Living Outside the Statist Quo

MUITO MELHOR...

The Economist desmonta o discurso petista de golpe. Na edição desta semana, a revista diz que o presidente Michel Temer entende melhor os problemas do Brasil do que Dilma Rousseff, a cassada.

Cláudio Humberto

Papa, dinossauro medieval

Para ter certeza que minha blasfêmia está minuciosamente clara, por meio desta declaro minha opinião que a noção de um deus é uma superstição básica, que não há evidência para a existência de nenhum deus(es), que diabos, demônios, anjos e santos são mitos, que não há vida após a morte, paraíso nem inferno, que o Papa é um dinossauro medieval perigoso e intolerante, e que o Espírito Santo é um personagem de história em quadrinhos digno de risadas e escárnio. Acuso o deus Cristão de assassinato ao permitir o Holocausto — sem mencionar a “limpeza étnica” presentemente sendo feita pelos Cristãos no mundo — condeno e vilipendio essa divindade mítica por encorajar o preconceito racial e comandar a degradação da mulher. — James Randi

“O Temer não é lá grande coisa, mas trocamos por Dilma que na verdade não é coisa nenhuma.” (Mim)

“A minha mente não faz feriado.” (Filosofeno)

“Que não esmoreçam os pensadores, caso contrário os imbecis vencem.” (Eriatlov)

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO- segunda-feira, junho 26, 2006 AS TRÊS VIAS DE ACESSO

Após ler minha crônica sobre os cavacos do ofício do jornalismo, uma amiga me pergunta porque não estou lecionando numa universidade. Coincidentemente, a resposta está no artigo de Cláudio de Moura Castro, na Veja da semana passada:

"Na UFRJ, um aluno brilhante de física foi mandado para o MIT antes de completar sua graduação. Lá chegando, foi guindado diretamente ao doutorado. Com seu reluzente Ph.D., ele voltou ao Brasil. Mas sua candidatura a professor foi recusada pela UFRJ, pois ele não tinha diploma de graduação. Luiz Laboriou foi um eminente botânico brasileiro, com Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e membro da Academia Brasileira de Ciências. Mas não pôde ensinar na USP, pois não tinha graduação". 

Estas peripécias, eu as conheço de perto. Começo pelo início. Nunca me ocorreu lecionar na universidade. Eu voltara da Suécia, cronicava em Porto Alegre e fui tomado pela resfeber, doença nórdica que contraí na Escandinávia. Traduzindo: febre de viagens. Li nos jornais que estavam abertas inscrições para bolsas na França e me ocorreu passar alguns anos em Paris. A condição era desenvolver uma tese? Tudo bem. Paris vale bem uma tese. Tese em que área? Busquei algo que me agradasse. Na época, me fascinava a literatura de Ernesto Sábato. Vamos então a Paris estudar Sábato.

Mas eu não tinha o curso de Letras. O cônsul francês, ao me encontrar na rua, perguntou-me se eu não podia postular algo em outra área. Em Direito havia mais oferta de bolsas. Poder, podia. Eu cursara Direito. Mas do Direito só queria distância. Mantive minha postulação em Letras. Para minha surpresa, recebi a bolsa. A França me aceitava, em função de meu currículo, para um mestrado em Letras, curso que eu jamais havia feito. Nenhuma universidade brasileira teria essa abertura. Aliás, os componentes brasileiros da comissão franco-brasileira que examinava as candidaturas, tentaram barrar a minha. Fui salvo pelos franceses.

Fui, vi e fiz. Em função de meu currículo, aceito para mestrado, fui guindado diretamente ao doutorado. Tive o mesmo reconhecimento que o aluno do MIT. Acabei defendendo tese em Letras Francesas e Comparadas. Menção: Très bien. Não me movera nenhuma pretensão acadêmica, apenas o desejo de curtir Paris, suas ruelas, vinhos, queijos e mulheres. A tese não passou de diletantismo. De Paris, eu escrevia diariamente uma crônica para a Folha da Manhã, de Porto Alegre. Salário mais bolsa me propiciaram belos dias na França. Foi quando minha empresa faliu. Conversando com colegas, fiquei sabendo que um doutorado servia para lecionar. Voltei e enviei meu currículo para três universidades. Sei lá que loucura me havia acometido na época: um dos currículos enviei para o curso de Letras da Universidade de Brasília.

Fui a Brasília acompanhar meu currículo. Procurei o chefe do Departamento de Letras. Ele me cobriu de elogios, o que só ativou meu sistema de alarme. Que minha tese era brilhante, que meu currículo era excelente, que era um jovem doutor com um futuro pela frente. Etc. Mas... eu tinha apenas os cursos de Direito e Filosofia, não tinha o de Letras. Me sugeria enviar meu currículo ao Departamento de Filosofia, já que a tese tinha alguns componentes filosóficos.

Ingênuo, fui até o Departamento de Filosofia. O coordenador me recebeu muito bem, analisou minha tese, cobriu-a de elogios. Mas... eu não tinha o Doutorado em Filosofia. Apenas o curso. Considerando o grande número de artigos publicados em jornal, sugeria que eu fosse ao Departamento de Comunicações. Besta atroz, fui até lá. O coordenador considerou que meu currículo como jornalista era excelente. Mas... eu não tinha o Curso de Jornalismo.

Na Universidade Federal de Santa Catarina abriu um concurso para professor de Francês. Já que eu era Doutor em Letras Francesas, me pareceu que a ocasião era aquela. Duas vagas, dois candidatos. Fui solenemente reprovado. Uma das alegações foi que eu falava francês como um parisiense, e a universidade não precisava disso. A outra, e decisiva, era a de que eu tinha doutorado em Letras Francesas, mas não tinha curso de Letras.

Já estava desistindo de procurar emprego na área, quando fui convidado para lecionar Literatura Brasileira, na mesma UFSC que me recusara como professor de francês. Convidado como professor visitante, o que dispensa concurso. Mas o contrato é por prazo determinado, dois anos. O curso precisava de doutores para orientar teses e eu estava ali por perto, doutor fresquinho, recém-titulado e livre de laços com outra universidade. Fui contratado.

Acabei lecionando quatro anos, na graduação e pós-graduação. Findo meu contrato, foi aberto um concurso para professor de Literatura Brasileira. Me inscrevi imediatamente. Uma vaga, um candidato. Me pareceram favas contadas. Ledo engano. Eu não tinha o curso de Letras. Fui de novo solenemente reprovado.

Na mesma época, abriu um concurso na mesma universidade para professor de espanhol. Ora, eu já havia traduzido doze obras dos melhores autores da América Latina e Espanha (Borges, Sábato, Bioy Casares, Robert Arlt, José Donoso, Camilo José Cela). Vou tentar, pensei. Tentei. Na banca, não havia um só professor que tivesse doutorado. Pelo que me consta, jamais haviam traduzido nem mesmo bula de remédio. Mais ainda: não tinham uma linha sequer publicada. Novamente reprovado. Minhas traduções poderiam ser brilhantes. Mas eu jamais havia feito um curso de espanhol.

Melhor voltar ao jornalismo. Foi o que fiz. Anos mais tarde, já em São Paulo, por duas vezes fui convidado para participar de uma banca na Universidade Federal de São Carlos, pelo professor Deonísio da Silva, então chefe de Departamento do Curso de Letras. Uma das bancas era para escolher uma professora de Literatura Espanhola, outra uma professora de Literatura Brasileira. Deonísio sugeriu-me participar, como candidato, de um futuro concurso. Impossível, eu não tinha o curso de Letras. Quanto a julgar a candidatura de um professor de Letras, isto me era plenamente permissível.

Por estas e por outras - e as outras são também importantes, mas agora não interessam - não estou lecionando. Diz a lenda que na universidade da Basiléia havia um dístico no pórtico, indicando as três vias de acesso à universidade: per bucam, per anum, per vaginam. Lenda ou não, o dístico é emblemático. A universidade brasileira, particularmente, é visceralmente endogâmica. Professores se acasalam com professoras e geram professorinhos e para estes sempre se encontra um jeito de integrá-los a universidade. A maior parte dos concursos são farsas com cartas marcadas. Pelo menos na área humanística. As exceções ocorrem na área tecnológica, onde muitas vezes a guilda não tem um membro com capacitação mínima para proteger. Contou-me uma professora da Universidade de Brasília: "eu tive muita sorte, os dez pontos da prova oral coincidiam com os dez capítulos de minha tese". O marido dela era um dos componentes da banca. A ingênua atroz - ou talvez cínica - falava de coincidência.

Na universidade brasileira, nem um Cervantes seria aceito como professor de Letras, afinal só teria em seu currículo o ofício de soldado e coletor de impostos. Um Platão seria barrado no magistério de Filosofia e um Albert Camus jamais teria acesso a um curso de Jornalismo. No fundo, a universidade ainda vive no tempo das guildas medievais, que cercavam as profissões como quem cerca um couto de caça privado. Na Espanha e na França, desde há muito se discute publicamente a endogamia universitária. Aqui, nem um pio sobre o assunto. E ainda há quem se queixe quando os melhores cérebros nacionais buscam reconhecimento no Exterior.

SPONHOLZ


TCU diz que Dilma recebeu 467 presentes como presidente e levou 461 embora para MS, RS e Rio

O Tribunal de Contas da União já concluiu seu relatório sobre os presentes recebidos pelos ex-presidentes Lula e Dilma Roussef, no qual ambos são acusado de se apropriar de bens públicos.

Lula saiu com 23 jamantas de Brasília. Ontem, em Brasília, duas jamantas estavam no Alvorada recolhendo pertences de Dilma. 

A força-tarefa da Lava Jato, Curitiba, recebeu hoje todos os documentos da auditoria patrimonial feita pelo TCU.


Segundo o TCU, Lula e Dilma receberam um total de 1.073 presentes, enquanto ocupavam a presidência. Desse total, 361 foram considerados de uso pessoal. Os outros 712 foram incorporados ao patrimônio dos próprios. Fizeram a gentileza de deixar, para o país os 15 restantes;

A auditoria do TCU identificou “graves irregularidades” no tratamento dado por Lula e Dilma aos presentes que receberam, durante o período em que estiveram no Planalto.

Segundo o tribunal, o Decreto 4.344/02 determina que todos os presentes recebidos em cerimônias de troca de presentes, audiências de chefes de Estado, visitas e viagens oficiais devem ser incorporados ao patrimônio da Presidência... e não ao do ocupante do cargo.

As exceções admitidas pela lei são os presentes de uso “personalíssimo”: bonés, camisetas, perfumes, gravatas, chinelos e medalhas gravadas com o nome da pessoa.

Políbio Braga

Pátria Amada!

Pátria amada
Tão vilipendiada
Pelo círculo trambiqueiro
Que entra e sai do poder
Carregando diversas bandeiras
São peças vergonhosas do mal
Que pelas madrugadas saem às carreiras
Ante a visita da Polícia Federal.

O caçador devoto

Entrando na mata para caçar suas pombinhas ele rezava:

“Pais nosso que estais no céu/ ajudai-me a caçar a ave/Maria cheia de graça também.”
Ou:
“Ave/ Maria cheia da graça que coloque você na minha mira. Amém.”