terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Piadas de comunas



Na pauta da reunião do partido de um "kolkhoz" (fazenda coletiva) havia duas questões na ordem do dia:

a) construção de um barracão;

b) construção do comunismo.

Devido à falta de tábuas, decidiu-se passar direto para a segunda questão.




Um socialista, um capitalista e um comunista marcaram um encontro. O socialista chegou atrasado.

-- Desculpem pelo atraso, tive de enfrentar uma fila para comprar salame.

-- O que é fila? -- perguntou o capitalista.

-- O que é salame? -- perguntou o comunista.



É possível construir o comunismo?

-- Construir até dá. Agora, sobreviver a ele -- dificilmente!

"Meu pai foi apresentado ao capeta de bigode.Viveu num gulag, recebendo as flores e delicadezas do stalinismo." (Eriatlov)

"Minha mulher só me suporta porque é feita de açúcar." (Limão)

“O povo é de amargar. Para fazer filhos não querem ajuda, mas para dar de comer aos barrigudos fazem um enorme drama e querem contribuição.” (Eriatlov)

“Sou um ser abençoado. Minha mulher fugiu com outro.” (Chico Melancia)

“Em alguns restaurantes servem bifes que só Wolverine conseguiria cortar. Devem ser de bois da Arca.”(Mim)

"Não recebo dádivas, porém dívidas não me faltam." (Climério)

“Observo os humanos nas festas aqui em casa. São hipócritas! É um fingimento só. Ainda bem que minha espécie não sofre deste mal.” (Bilu Cão)

Bem distantes dos nossos quintais

BEM DISTANTES DOS NOSSOS QUINTAIS

Nuvens de ignorância estão sobre o planeta
Despejando tempestades de intolerância
Que atingem minorias indefesas

Elas acuadas
Passam os seus dias no limite do desespero
Temendo por si e seus filhos

Pequenas vítimas de mentalidades cavernosas
Que ainda sobrevivem em nosso século

Desejam estes broncos a unicidade do pensar
Todos deverão crer nos seus espantalhos
Ou a morte sem piedade

Em nosso país
Ainda temos a Anta
Que defende tais bárbaros

Valha-me sabedoria
De espantar para longe essa quadrúpede
E manter esses cérebros merdinos
Bem distantes dos nossos quintais.




O risco da crendice - Michael Shermer

Diretor de ONG americana que combate as superstições diz que vivemos uma era de irracionalismo e que acreditar em tudo pode ser perigoso: “Pode parecer inofensivo acreditar em espíritos ou telepatia. Não é. Quem acredita nisso pode acreditar em qualquer coisa”.
O psicólogo americano Michael Shermer dedica-se há nove anos ao que considera uma cruzada: em defesa do pensamento científico, ele combate superstições, crendices e mitos. Suas armas são palestras que faz pelos Estados Unidos, cursos no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), participações em programas de televisão e de rádio e sete livros sobre o assunto. O último deles, Fronteiras da Ciência: onde o que Faz e o que Não Faz Sentido Se Encontram, foi lançado no ano passado nos Estados Unidos. Shermer é diretor da Sociedade dos Céticos, uma espécie de ONG que tem entre os simpatizantes cientistas do calibre do paleontólogo Stephen Jay Gould, um dos principais escritores de divulgação científica do mundo. Colunista da revistaScientific American, ele mantém um site na internet dedicado a desmascarar charlatães. Quando não está debatendo com crédulos de todos os matizes ou escrevendo livros, Shermer se dedica a outras tarefas não menos desgastantes. É apaixonado por corridas e enduros de bicicleta e participante assíduo de competições como a Race Across America, que cruza os Estados Unidos de ponta a ponta.
Veja — Por que o senhor afirma que estamos vivendo um momento de irracionalismo?
Shermer — 
Nós somos menos crédulos e supersticiosos do que eram as pessoas há 500 anos. A história é outra se compararmos com 25 anos atrás. O irracionalismo só tem aumentado. Pesquisas mostram que cada vez mais se acredita em astrologia, experiências extra-sensoriais, bruxas, alienígenas e discos voadores, na existência da Atlântida. Há uma lista enorme de coisas absurdas. O espantoso é que não são apenas os lunáticos que creem nessas coisas. Muita gente com bom nível de educação também cai nessa. São crenças pegajosas, que se fixam de forma muito mais forte do que podemos imaginar.
Veja — Por que isso acontece?
Shermer —
 O irracionalismo tem aumentado principalmente por culpa da comunicação de massa e da internet. As pessoas que vivem da exploração dessas crenças são hábeis na exploração desses recursos. Usam técnicas de vendas como telemarketing, anúncios e promoções. As religiões tradicionais vêm perdendo muito espaço nos últimos anos, o que tem deixado um campo aberto para crenças alternativas como paranormalidade e cultos da nova era.
Veja — Não é paradoxal que isso aconteça no momento em que o conhecimento e a ciência sejam tão difundidos?
Shermer —
 A explicação é simples. As pessoas procuram crenças que as consolem, coisa que a ciência não faz. É mais fácil acreditar em crendices e superstições que na ciência. As pessoas querem respostas para questões de cunho moral, que a ciência não tem como responder. Nós não devemos esquecer que todos os seres humanos, entre eles os cientistas e os céticos, querem ter uma vida melhor. Sob esse ponto de vista, é difícil resistir ao canto de sereia do misticismo.
Veja — O que o senhor acha do enorme sucesso no Ocidente de orientalismos como o feng shui, a doutrina chinesa que propõe o uso da decoração e da arquitetura para reequilibrar a energia das pessoas?
Shermer —
 As pessoas estão tentando dar sentido às coisas a sua volta. Querem botar ordem num caos que não conseguem compreender. Coisa parecida acontece entre as tribos animistas da Amazônia. Os índios creem que o mundo está repleto de espíritos e forças que ajudam a arrumar esse caos e tratam de invocá-los como podem. É claro que os brasileiros que vivem nas grandes cidades não levam a sério o animismo dos ianomâmis e provavelmente ririam dos pajés se os vissem tentando arrancar os encantamentos e os espíritos que eles acreditam ser a causa das doenças. Na verdade, essas crenças dos povos primitivos têm tanto fundamento científico quanto as bobagens oferecidas pelos pajés do feng shui.
Veja — O senhor poderia enumerar algumas dessas crenças que foram moda nos últimos anos e logo depois abandonadas como charlatanices?
Shermer —
 Todos se lembram dos famosos biorritmos, aquela história de que era possível usar os ciclos do corpo que se repetem em ritmos regulares para traçar previsões sobre a carreira, a vida amorosa e o futuro financeiro de uma pessoa. Muita gente ganhou fortunas com isso e hoje ninguém mais toca no assunto. Outra bobagem foi o Triângulo das Bermudas. Dizia-se que era um lugar onde navios e aviões desapareciam misteriosamente. Há ainda o poder das pirâmides, que se acreditava capaz de conservar comida, afiar facas e até aumentar a potência sexual. É bobagem pura, que ninguém mais leva em consideração. Há também as cirurgias psíquicas nas Filipinas e na América do Sul, mas já são menos frequentes. Foram desmoralizadas depois que mágicos demonstraram a facilidade com que se produzem os truques ditos paranormais.
Veja — O que o senhor pensa de quem acredita em duendes e bruxas?
Shermer — 
Adultos creem nisso pela mesma razão por que acreditam no feng shui. O ser humano é um bicho que se senta em torno da fogueira e conta histórias. E com isso adquire experiência para enfrentar o mundo. É assim desde os tempos das cavernas. Ocorre que, com a diversidade de culturas, os povos fazem isso numa miríade de formas, chamando as forças animistas de diferentes nomes. Duendes e bruxas são dois entre milhares deles. O que importa é que por baixo de todos esses nomes está a crença nas superstições e a necessidade de explicar o mundo de forma mágica.
Veja — Como o senhor justifica a vantagem do pensamento científico sobre o obscurantismo?
Shermer — 
A ciência é o único campo do conhecimento humano com característica progressista. Não digo isso tomando o termo progresso como uma coisa boa, mas sim como um fato. O mesmo não ocorre na arte, por exemplo. Os artistas não melhoram o estilo de seus antecessores, eles simplesmente o mudam. Na religião, padres, rabinos e pastores não pretendem melhorar as pregações de seus mestres. Eles as imitam, interpretam e repetem aos discípulos. Astrólogos, médiuns e místicos não corrigem os erros de seus predecessores, eles os perpetuam. A ciência, não. Tem características de autocorreção que operam como a seleção natural. Para avançar, a ciência se livra dos erros e teorias obsoletas com enorme facilidade. Como a natureza, é capaz de preservar os ganhos e erradicar os erros para continuar a existir.
Veja — Acreditar em superstições é um comportamento de risco?
Shermer —
 A maior parte das pessoas pensa que acreditar em espíritos ou telepatia é inofensivo. Não é. Por uma razão simples: quem acredita em coisas para as quais não existe nenhuma evidência pode acreditar em tudo. Da mesma forma que o consumo de maconha pode levar à heroína, crenças simplórias em fantasmas e discos voadores podem levar a outras mais perigosas.
Veja — Como é possível separar o que é ciência do que é pseudociência?
Shermer —
 É uma tarefa complexa. Eu adoto um modelo para definir, de um lado, a ciência consagrada e, de outro, a pseudociência. Entre ambas há uma zona cinza, fronteiriça. Nessa região ficam linhas de pesquisas feitas por profissionais sérios, perscrutadas por publicações científicas de prestígio, mas que têm objetos de estudo um tanto quanto exóticos. Podem, de um momento para outro, cair tanto para o lado da ciência quanto para o da crendice. Na área cinzenta estão a busca de vida fora da Terra, a acupuntura e teorias econômicas, como o socialismo. Na área da não-ciência estão a astrologia, a negação do holocausto e a ufologia.
Veja — A exploração de crendices é um grande negócio. O senhor tem como avaliar o dinheiro que isso movimenta?
Shermer —
 Ninguém sabe exatamente quanto se movimenta nesse mercado que envolve milhares de formas de ganhar dinheiro. Só os medicamentos alternativos rendem dezenas de bilhões de dólares por ano. Assim, se considerarmos todas as categorias juntas, eu calcularia o lucro da pseudociência em 1 trilhão de dólares por ano. Temos de lembrar ainda que essa fonte de ganho se torna ainda mais tentadora quando se trata de religiões e seitas isentas de impostos.
Veja — Por que esse é um negócio para o qual parece não existir fronteiras?
Shermer —
 As pessoas gostam de acreditar que as coisas não acontecem por si mesmas, mas por alguma razão ou motivo. Uma pesquisa mostra que um dos motivos de as pessoas acreditarem em Deus é o fato de que o mundo é tão bonito e o universo segue mecanismos tão delicados que seria impossível não existir um criador para tudo isso. Esse é, de certa forma, um pensamento baseado em conhecimento científico, nas relações de causa e efeito. Precisamos levar em conta que nem sempre há motivos ou explicações para tudo o que queremos.
Veja — Alguns cientistas tentam entender o poder da fé e das orações na cura de doenças. O que o senhor acha desses estudos?
Shermer —
 Eles são falhos por três razões primárias. A primeira: não há como comprovar cientificamente se as pessoas estudadas têm fé ou se estão rezando. Elas dizem que têm, e ponto final. Segunda: muitos desses estudos não avaliam variáveis importantes como idade, sexo, situação socioeconômica, condições físicas, fatores que poderiam contribuir para outros resultados. E, por último, a maioria dos resultados de um estudo desses não pode ser repetida. As variáveis de análise são tão subjetivas que um estudo jamais terá o resultado semelhante ao de outro. Ou seja, essas pesquisas não são nem um pouco confiáveis.
Veja — Por que uma das mais populares práticas místicas gira em torno de pessoas que se propõem a conversar com os mortos ou realizar curas com a ajuda deles?
Shermer —
 Porque a morte é um problema crucial para o homem. Todos nós queremos acreditar que depois dela continuaremos a existir, seja na forma que for. Os médiuns que convencem as pessoas de sua capacidade de falar com os mortos validam as crenças de que de fato há vida após a morte. Também oferecem um alento em meio à tristeza da perda de uma pessoa amada. É confortante crer que o falecido está em um lugar acessível com a ajuda da mediunidade.
Veja — O fato de ajudar as pessoas a superar a dor da perda não valida essas práticas?
Shermer —
 Aqueles que exploram a dita mediunidade não estão ajudando ninguém. São oportunistas que se aproveitam da emoção de pessoas fragilizadas. A melhor forma de superar a morte é encará-la de cabeça erguida. A morte é uma parte da vida, e fingir que o morto pode falar em estúdios de TV ou salas escuras por intermédio de pessoas que cobram por seus serviços é um insulto à inteligência dos que estão vivos.
Veja — O senhor acha possível acreditar no sobrenatural e ao mesmo tempo estar a salvo de charlatães?
Shermer —
 O problema de acreditar em superstições é que a maioria das pessoas que crê em uma delas acredita também em todas as outras. As crendices estão fortemente relacionadas. Se você abandona a capacidade crítica de pensar cientificamente, pode acreditar em absolutamente tudo.
Veja — Mas há pessoas que acreditam em astrologia e também na teoria da evolução proposta por Charles Darwin.
Shermer —
 A maioria das pessoas tem um modo de raciocínio em que mantém as crenças de forma isolada. Seria como se o cérebro fosse composto de uma série de compartimentos a vácuo, com cada uma dessas coisas guardada de maneira a não se misturar.
Veja — O senhor acha que as pessoas que acreditam em coisas estranhas são propensas ao fanatismo religioso?
Shermer —
 Não acho que seja assim. As pessoas crédulas acreditam em muitas coisas, isso para não dizer que creem em qualquer coisa. Para ser fanático é preciso uma crença fortíssima em uma única coisa.
Veja — O que o senhor diz a uma pessoa que acredita em vida após a morte quando ela lhe pergunta se isso é verdade?
Shermer —
 Nós temos a obrigação de falar a verdade em todas as ocasiões, a todas as pessoas, sejam elas adultos ou crianças. Não há nenhuma evidência de que exista de fato vida após a morte. A questão é falar isso de uma forma amigável e ponderada e mostrar que é possível levar a vida em plenitude. Elas irão entender que não há grandes problemas em ser cético.
Veja — O que levou o senhor a se envolver numa cruzada contra as crendices?
Shermer —
 É simples. Eu sou um homem que acredita na ciência. Meu sonho é ver nossa espécie sobreviver a nossas limitações e sair deste planeta, procurar outras estrelas parecidas com o Sol e partir para outras galáxias. O obscurantismo limita nossa capacidade de ousar e de superar nossas limitações. Sem a ciência não existe crescimento cultural ou material de uma sociedade.
Veja — O senhor tem algum tipo de crença religiosa?
Shermer —
 Eu me defino como um agnóstico, uma pessoa que acredita naquilo que pode ser comprovado. Citando o biólogo Thomas Huxley, parceiro de Darwin e pai do agnosticismo, sou daqueles que acreditam em Deus como um problema insolúvel.
  • Entrevistador: Daniel Hessel Teich
  • fonte: Veja

“De tanto ver triunfar as nulidades chega o momento que até a boa esperança vai embora.” (Mim)

Mao, o porco

“Vi numa livraria um livro de citações de Mao. O que teria de inteligente para dizer este porco vermelho, que transmitia doenças venéreas para suas parceiras, que matou com suas ideias de jerico milhões de chineses de fome, que perseguiu, trancafiou e matou seus adversários políticos?” (Eriatlov)

IMB-Confiança e honestidade - características cruciais para o enriquecimento de qualquer economia

Atitudes como desonestidade, mentira e trapaça não são tratadas com a devida abjeção que merecem.  Para se compreender melhor a importância da honestidade e da confiança, apenas imagine como seria nossa rotina diária se não pudéssemos confiar em ninguém. 
Quando compramos em uma farmácia um recipiente contendo 100 pequenas pílulas (como vidros de homeopatia, por exemplo), quantos de nós nos damos ao trabalho de realmente contar as pílulas?  E quando o remédio é líquido, quantos de nós conferimos se o volume divulgado no rótulo corresponde ao volume verdadeiro? 
Quando abastecemos nosso carro no posto, como sabemos que os litros especificados na bomba realmente correspondem ao volume que entrou no tanque do carro?  Quando você vai ao supermercado e compra 1 quilo de carne, você por acaso verifica — por meios independentes — se realmente está levando um quilo de carne? 
Em cada um desses casos, e em milhares de outros, nós simplesmente confiamos no vendedor.
Inversamente, há milhares de situações em que é o vendedor quem tem de confiar no comprador.  Após um mês de trabalho, o empregado confia que seu patrão irá lhe pagar o salário combinado.  Um comerciante vende um produto e recebe em troca um cheque, o qual ele confia que tenha fundo.  Um fornecedor entrega uma mercadoria para seu cliente e confia que este irá lhe pagar dali a 30 dias, como combinado.
Exemplos de honestidade e confiança são abundantes, mas imagine o custo e a inconveniência caso não pudéssemos confiar em ninguém.  Teríamos de andar sempre carregando instrumentos de medição para nos certificarmos de que realmente estamos recebendo o volume correto de gasolina e o quilo correto de carne.  Imagine a inconveniência de ter de contar o número de pílulas ou de mensurar o volume de um líquido dentro de um recipiente?
Se não pudéssemos confiar em ninguém, se a simples palavra do vendedor ou do comprador não tivesse valor nenhum, teríamos de arcar com o oneroso fardo de fazer contratos por escrito para toda e qualquer transação efetuada.  Teríamos de arcar com todos os custos de monitoramento que garantem que a outra parte irá fazer corretamente até mesmo às mais simples transações. 
Podemos dizer com toda a certeza que tudo aquilo que solapa a honestidade e a confiança aumenta os custos de transação, reduz o real valor das trocas voluntárias e nos torna mais pobres.
Honestidade e confiança se manifestam de maneiras que poucos de nós sequer conseguimos imaginar.  Em determinadas vizinhanças, por exemplo, é comum que empresas de entrega deixem encomendas muitas vezes valiosas em frente à porta caso o morador não esteja em casa para recebê-la.  Não há necessidade de marcar horário para a entrega, o que é bom tanto para o morador quanto para a empresa.  Ambos ficam com suas agendas livres e aumentam sua produtividade. 
Da mesma maneira, supermercados e demais estabelecimentos comerciais podem tranquilamente expor várias mercadorias perto das portas de entrada e saída do estabelecimento, ou até mesmo deixá-las do lado de fora do estabelecimento, sem se preocupar com roubos.
Já em vizinhanças notoriamente menos honestas, empresas de entrega que deixassem encomendas na porta de uma casa e estabelecimentos comerciais que expusessem mercadorias perto da rua estariam cometendo o equivalente a um suicídio econômico.
Desonestidade é algo oneroso.  Empresas de entrega não podem simplesmente deixar encomendas em frente à porta caso o morador não esteja em casa.  A empresa terá de arcar com os custos de fazer uma nova viagem em outro horário.  Ou terá de tentar agendar um horário.  Ou então o cliente terá de arcar com os custos de ter ele próprio de ir recolher o produto.  Se um estabelecimento comercial decidir exibir algumas de suas mercadorias do lado de fora, ele terá da arcar com os custos de contratar um auxiliar — isso se ele realmente puder se arriscar a deixar suas mercadorias do lado de fora.
Francis Fukuyama ficou famoso em 1988 por causa da publicação de seu livro O Fim da História.  A tese que ele defendia era tola e simplória: a democracia liberal havia derrotado todos os sistemas e, dali em diante, passaria a ser o arranjo preponderante e superior a todos os outros.  Isso se comprovou uma óbvia inverdade.  Pense no Islã.  Pense na política burocrática reinante na China.  Pense em Hong Kong e em Cingapura, que não têm democracia — ao menos, não no estilo defendido por Fukuyama.
À época, o livro recebeu uma estrondosa publicidade.  Hoje, ele raramente é citado.  Nunca entendi por que esse livro foi levado a sério.  No entanto, durante um bom tempo, várias pessoas o levaram a sério.
Em 1995, Fukuyama publicou outro livro: Confiança.  A publicidade recebida por este livro foi ínfima.  Mas o livro é excelente.  Digo mais: é um dos mais importantes livros já escritos sobre economia e ordem social.
Neste livro, Fukuyama analisa os efeitos da confiança sobre uma sociedade.  Ele concentra sua análise nos Estados Unidos, no Japão, na China e no sul da Itália, onde praticamente não há confiança nenhuma em nada e ninguém confia em ninguém.  Ato contínuo, ele analisa como a presença ou a ausência da confiança pode se tornar uma fonte de ordem social, de crescimento econômico e de aumento da produtividade geral. 
Ele descobriu, de maneira nada surpreendente, que os EUA, até aproximadamente 1960, possuíam uma enorme vantagem competitiva em relação ao resto do mundo por causa do alto nível de confiança que seus habitantes tinham em relação aos seus conterrâneos.  À medida que a confiança foi declinando, a taxa de crescimento econômico também declinou.  Concomitantemente ao declínio na confiança houve um aumento no número de advogados.
Uma das sociedades menos produtivas de toda a Europa Ocidental é a do sul da Itália.  Ele atribui isso à falta de confiança que reina na região.  Esse é um dos motivos pelos quais as sociedades secretas, especialmente a Máfia, têm tanta influência no sul da Itália: tais organizações provêm um mínimo de ordem social para seus membros, e a população em geral não oferece muita resistência à existência destas organizações.
A seção sobre a China é a mais interessante.  Fukuyama diz que os chineses apresentam um grande nível de confiança, mas somente em relação às suas famílias.  Isso faz com que seja muito difícil para empresas chinesas concorrerem com pequenos empreendimentos geridos por famílias ou com pequenos empreendimentos que tenham conexões familiares.  Faz com que seja mais difícil criar grandes empresas.  E faz com que seja ainda mais difícil levantar fundos e conseguir capital para financiar essas grandes empresas.
Já o Japão está em um meio-termo entre os EUA e a China.  No Japão, ao contrário da China, há mais confiança em organizações que não estejam ligadas a famílias.  No entanto, os grandes conglomerados japoneses possuem em suas raízes um pequeno número de famílias japonesas.
Em seu livro, Fukuyama dizia acreditar que as corporações japonesas poderiam concorrer no mercado internacional de maneira mais efetiva do que as empresas chinesas porque os japoneses podiam contratar as melhores pessoas, muito embora suas empresas não apresentassem conexões familiares.  Os japoneses também seriam capazes de conseguir dinheiro para investimentos mais facilmente do que as empresas chinesas.
Se olharmos o que ocorreu ao longo das últimas décadas, creio que essa tese se comprovou.  Empresas chinesas demonstraram uma maior tendência de serem mais intimamente associadas ao governo chinês.  O estado tem sido a fonte de financiamento das empresas chinesas.  O sistema bancário está mais intimamente ligado ao estado na China do que nas nações ocidentais.
A ausência de instituições formais pode ser observada quase que em sua integralidade na República Popular da China, onde a ideologia maoísta foi a grande responsável pelo atraso na introdução de instituições "burguesas", como o direito comercial.  Até o presente momento, empreendedores na China têm de enfrentar um ambiente jurídico extremamente arbitrário, no qual os direitos de propriedade são tênues, os níveis de tributação são variáveis e mudam de acordo com as vontades de cada governo provincial, e o suborno é a rotina quando se lida com funcionários do governo. (p. 330)
Fukuyama também escreveu o seguinte:
Um estado liberal é, em última instância, um estado limitado; um estado em que a atividade do governo é estritamente delimitada pela esfera da liberdade individual.  Se tal sociedade não se degenerar no caos ou se tornar ingovernável, ela será capaz de apresentar uma autonomia governamental em todos os níveis de organização social.  A sobrevivência de tal sistema dependerá não somente da lei, mas também do autocontrole e do comedimento dos indivíduos.  Se eles não forem capazes de apresentar uma coesão em prol de um propósito comum; se eles não forem tolerantes e respeitosos em relação aos conterrâneos, ou não respeitarem as leis que eles próprios criaram para si mesmos, uma agência com grande poder coercivo terá de ser criada para manter cada indivíduo na linha. 
Por outro lado, um arranjo sem estado pode funcionar em uma sociedade que apresente um grau extraordinariamente alto de sociabilidade espontânea; uma sociedade na qual o comedimento, a temperança e o comportamento baseado em normas fluam naturalmente do cerne desta sociedade, sem ter de ser trazido de fora. 
Um país com um capital social baixo não apenas é mais propenso a ter empresas pequenas, fracas e ineficientes, como também sofrerá mais com a corrupção generalizada de seus funcionários públicos e com uma administração pública ineficaz.  Tal situação é dolorosamente evidente na Itália, onde, à medida que se sai do norte e do centro do país em direção ao sul, percebe-se uma relação direta entre atomização social e corrupção (pp. 357-58).
Creio que a teorização acima é correta.  Ela é perceptível em todos os países que enriqueceram.  Além dos EUA, pense na Suíça, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia.  Pesquise o nível de confiança vigente nestes países.  Pesquise a percepção de honestidade e como sua população interage entre si.  Pesquise o grau de burocracia exigido para se fechar um negócio.  Depois, faça o mesmo para os países da América Latina e da África.
O fato de honestidade e confiança serem tão vitais deveria nos fazer repensar a nossa tolerância com criminosos e pessoas desonestas — a começar por todos os criminosos que estão no poder e que gozam de impunidade.
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Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros.  Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website

Na governança, a Petrobras tem duas caras

A recém anunciada criação de uma diretoria de governança na Petrobras segue à risca a fórmula de ineficiência do setor público: quando identificar um problema, crie uma nova ferramenta — e um novo custo — em vez de botar para funcionar o que já existe.Graça Foster
Em maio deste ano, a Petrobras retirou (a fórceps) de seu comitê de auditoria — cujo dever é analisar as demonstrações financeiras da estatal e garantir o funcionamento dos controles internos — dois integrantes: Francisco Roberto de Albuquerque e Mauro Cunha, este último representante dos acionistas minoritários.
Além de conselheiro da Petrobras, Cunha também é presidente da AMEC, entidade que representa dezenas de gestoras acionistas da Petrobras, portanto as partes mais interessadas em fiscalizar a empresa.
À época, a CEO da Petrobras, Graça Foster, justificou a saída de Cunha como parte de um “rodízio”. Em carta ao Estadãopublicada à época, Cunha reagiu. Disse que o rodízio, aplicado pelo presidente do conselho, o ministro da Fazenda Guido Mantega, foi “seletivo” – haja vista que o presidente do comitê de auditoria é o mesmo há seis anos.
Cunha disse mais: “O rodízio foi coincidentemente imposto após solicitações de informações importantes sobre processos de apuração de irregularidades amplamente divulgadas na mídia. Como fui impedido de continuar no Comitê, não recebi tais informações.”
Do ponto de vista da governança e da fiscalização, a substituição de Cunha no “rodízio” não foi como trocar ‘carne do Wagyu’ por ‘Kobe Beef’, coisas sinônimas. Foi a troca do filé mignon pelo coxão mole.
Guido MantegaNo lugar de Albuquerque e Cunha, entraram Miriam Belchior, ministra do Planejamento, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES. No comitê, o terceiro membro é Sergio Franklin Quintella, um dos vice-presidentes da Fundação Getúlio Vargas.
Os três são conselheiros da Petrobras indicados pelo governo, o acionista controlador.
Em abril, a Petrobras declarou à Securities & Exchange Commission (em seu formulário 20-F) que todos os membros do comitê de auditoria atendiam os requisitos de independência previstos nas regras da SEC. Essas regras estabelecem que os membros do comitê não podem ser “pessoas ligadas” à companhia ou qualquer de suas subsidiárias”.
Uma pessoa “ligada” (“affiliate”) é aquela que direta ou indiretamente controla ou está sob controle compartilhado com a Petrobras.
A Petrobras deve ter algum parecer (caro) de advogados defendendo que Belchior e Coutinho, apesar de terem sido nomeados para seus cargos pelo Presidente da República, não estão sob o mesmo controle da Petrobras.
E, obviamente, a SEC deve estar se interessando pelo assunto agora que a Lava-Jato colocou a fragilidade dos controles da Petrobras no radar.
Mas voltando à recém-criada diretoria de governança, o conselho da Petrobras deveria entender que fica feio acenar para o futuro sem romper com os velhos hábitos do passado.  Corre o risco de parecer insincero.
Por Geraldo Samor

Correios atrasam salários no Natal

Para equilibrar despesas, salários serão pagos em 31 de dezembro e 13º será depositado somente em 19 de dezembro



Um dos maiores empregadores do país, os Correios decidiram alterar a data de pagamento dos salários dos seus 125 mil funcionários no mês de dezembro. A segunda parte do 13º salário também só será paga no dia 19 e não mais no primeiro dia de dezembro, como ocorre tradicionalmente.

Os Correios depositam os salários dos funcionários no último dia do mês. Em dezembro, contudo, o dinheiro entra na conta no dia 19, antes do Natal. Neste ano, os funcionários já foram avisados de que os salários só serão depositados no dia 31 de dezembro, 12 dias depois. No caso do 13º, o benefício tradicionalmente é pago no primeiro dia de dezembro. Mas os Correios prorrogaram para o dia 19 o pagamento. O conselho de administração da empresa questionou a diretoria sobre a quebra na tradição no período natalino, mas ainda não obteve resposta.

Por meio da assessoria, os Correios informaram que a mudança na data dos pagamentos em dezembro deve-se à necessidade de "equilibrar as despesas do período e atende o disposto pela legislação brasileira".


Políbio Braga

"O inteligente busca saber. O sabido acha que sabe."(Mim)

“A preguiça não deixa de ser uma vontade. A vontade de não se fazer nada.” (Pócrates)

“Jamais capitular diante do mal vermelho. Sou um pássaro livre, pelo céu azul eu navego.” (Eriatlov)

“O pior inimigo é aquele que bem te conheces.” (Filosofeno)

“A pessoa mais perigosa é aquela que só se move por interesse próprio. Esse tipo mata até a mãe.” (Mim)

"Onde todos pagam, não é o vinho caro." Provérbio Português

“Eu também quero o bem do meu semelhante. Mas não à minha custa. Que labute o abutre!” (Eriatlov)

“Deveríamos ter governos biodegradáveis dentro do caldo da corrupção.” (Eriatlov)

“Governos fazem merda, mas quem limpa o rabo deles é o povo.” (Eriatlov)

“Altos tributos nos deixam putos. E reclamar para quem se todos jogam no mesmo time?” (Eriatlov)

Rodrigo Constantino- Desobediência civil: o romantismo libertário de Thoreau



Thoreau
“Qualquer liberal autêntico é um anarquista frustrado.” (Og Francisco Leme)
Henry David Thoreau escreveu um livro chamadoDesobediência Civil para protestar contra a guerra que os Estados Unidos realizavam contra o México em 1846. Thoreau influenciou bastante o pensamento americano, e era um forte defensor da idéia de que o melhor governo é aquele que governa menos, ou seja, que mais respeita as liberdades individuais. Para ele, seria ainda melhor o governo que não tivesse que governar de fato nada!
Durante a guerra, Thoreau preferiu ser preso a pagar seus impostos, já que entendia que estaria contribuindo para a guerra caso transferisse recursos para o governo. Ele tomou esta decisão de forma consciente, e se sentiu muito mais livre na cadeia que seus concidadãos soltos, que eram, na verdade, escravos e cúmplices de um governo injusto.
Seria o mesmo que perguntarem se é preferível ir preso ou matar uma criança. Nesse caso extremo, a resposta parece óbvia, e a grande maioria optaria pela primeira alternativa. É muito parecido, apenas fica mais sutil perceber que seu dinheiro está contribuindo diretamente para todas as atrocidades que o governo comete, já que dinheiro não possui carimbo. Eis a mensagem que Thoreau pretendia passar com seu protesto. Ele afirmou que não é tão desejável cultivar um respeito pela lei como é pela justiça, pelo correto.
Tal idéia ainda é merecedora de muita reflexão, já que não são poucos os que confundem legalidade com justiça. O governo não estava armado com maior sabedoria ou honestidade, mas com maior força física. E Thoreau alegava não ter nascido para ser forçado. Seria contra sua natureza. Ele preferiu a prisão. Essa postura de resistência pacífica às injustiças do governo iria influenciar depois nomes como Gandhi e Martin Luther King Jr.
Thoreau defendeu como poucos a liberdade individual, beirando o anarquismo até. Ele entendia que um governo onde a maioria manda em todos os casos não pode ser calcado na justiça. Para ele, o caráter inerente ao povo americano que permitiu todas as conquistas realizadas, e mais ainda poderia ter sido feito não fosse o governo ter atrapalhado o caminho algumas vezes. Da monarquia absoluta para uma limitada, houve progresso em relação ao respeito ao indivíduo. O mesmo vale de uma monarquia limitada para uma democracia, tal conhecida então.
Thoreau questiona, portanto, se nenhum avanço mais é possível em relação a esta democracia. Ele diz: “Nunca irá existir um Estado realmente livre e esclarecido, até que o Estado chegue a reconhecer o indivíduo como uma força mais elevada e independente, da qual toda a sua própria força e autoridade são derivadas”. Uma lição que sem dúvida merece mais atenção atualmente.
O livro mais famoso de Thoreau é Walden, onde ele conta sua experiência ascética quando viveu dois anos e dois meses nas florestas, se sustentando com o próprio trabalho e com as próprias mãos. Sua atitude ousada de Robinson Crusoé voluntário mexeu com o romantismo dos americanos. Ele alegou que aprendeu uma importante lição durante sua experiência: que se alguém avança com confiança em direção aos seus sonhos, e resolve viver a vida com a qual imaginou para si, ele irá encontrar o sucesso inesperadamente rápido.
Não deixa de ser um apelo nobre ao individualismo, que vai totalmente contra a idéia coletivista de que cada indivíduo é apenas um meio para algo maior, para o “bem-geral”, podendo assim ser sacrificado para tal fim. Cada um deve se ocupar dos seus próprios negócios, dos seus próprios interesses. Não é por acaso que Thoreau começa o livro justificando o uso da primeira pessoa durante a narrativa. Ele afirma que na maioria dos livros o termo “eu” é omitido, mas que, em respeito ao egotismo, fará diferente. Afinal de contas, é sempre a primeira pessoa que está falando. Não há ninguém que cada um conheça melhor que si próprio.
O individualismo exacerbado de Thoreau serve para despertar uma reflexão sobre os motivos para a existência do governo. Como diz Og Leme na frase da epígrafe, o liberal verdadeiro acaba sendo um anarquista frustrado. O ideal seria nem mesmo precisar da existência de um governo, que será sempre coerção, força. Mas essa visão acaba sendo ingênua e inocente. A pergunta que John Locke fez mostra o motivo: “Quem poderia ser livre se estivesse à mercê do capricho de outra pessoa”? Por isso o governo das leis impessoais, que garantem as trocas voluntárias. Mas como Og Leme afirma em seu livro A Ordem Econômica, “o liberal é consciente do mal que advém do governo – a concentração de poder – mas não vê como viver sem ele”. O problema passa a ser então como estabelecer os limites da ação governamental, contê-lo dentro do absolutamente necessário.
Os homens são diferentes, possuem valores distintos, e são egoístas, no sentido de buscar os próprios interesses. A fim de evitar a rota de colisão entre esses diferentes indivíduos, cria-se um governo com leis básicas e igualmente válidas para todos. Evita-se assim que os mais fortes dominem os mais fracos. As trocas entre todos deverão ser estritamente livres, sem o uso de coerção ou ameaça de uso da coerção. Isso garante que as individualidades sejam mantidas. Isso garante a justiça. Se tal fosse o tipo de governo nos tempos de Thoreau, provavelmente ele não sentiria a necessidade de apelar para uma desobediência civil.
Afinal, ele não estaria sendo forçado a fazer algo contra sua vontade e seus valores. Ele não estaria, sob a mira da arma estatal, tendo que financiar uma guerra que considerava injusta. Talvez esta visão libertária seja praticamente utópica. Mas sem dúvida deveria ser ao menos uma meta, um objetivo que norteasse as ações políticas. Não devemos esquecer que “o melhor governo é aquele que governa menos”.
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

Caio Blinder- A geopolítica do petróleo (Venezuela)

Nos últimos 18 meses, os EUA superaram a Arábia Saudita como o maior produtor mundial de petróleo. País emergente. A OPEP é uma sombra do que  já foi. Basta ver a decisão de não cortar a produção na reunião da semana passada. Cartel decadente. Novas descobertas do recurso, novas tecnologias de extração e menor demanda global levaram os preços do petróleo a começar a semana no seu nível mais baixo em cinco anos (embora tenha ocorrido uma recuperação após as quedas acentuadas na semana passada).
Há vencedores e perdedores neste novo choque de petróleo, com o preço do barril na faixa dos 70 dólares. Vamos falar de um grande perdedor: a Venezuela (em outras colunas, eu pretendo falar de Irã e obviamente da Rússia). Nenhum surpresa que o regime chavista tivesse gritado tão alto (e fracassado) na reunião da OPEP por cortes na produção. Exportadores como a Arábia Saudita querem testar até onde os preços podem baixar para tornar não competitivos outras fontes ou métodos não convencionais de extração, como xisto e fraturação hidráulica.
A Venezuela depende do petróleo para 65% dos gastos governamentais (o lubrificante do projeto assistencialista). Petróleo representa 95% das exportações e 25% do PIB. No entanto, a produção venezuelana teve queda de 1/3 nos últimos 15 anos, fruto (podre) de má administração, aparelhamento da estatal petrolífera, uso excessivo da receita para fins político-sociais e o mero caos no país. Para agravar, acabou a mamata do preço do barril a 100 dólares.
Daniel Yergin, um dos gurus globais em petróleo, salienta que a Venezuela será o perdedor número 1 caso seja aprovado o oleoduto Keystone XL, que irá transportar petróleo do Canadá para as refinarias do golfo do México, e assim deslocando o país chavista dos EUA, seu maior mercado comprador.
Para dar uma medida da situação desoladora da Venezuela, o FMI calculou em outubro os preços do barril de petróleo que cada produtor precisa para equilibrar o orçamento. Países como o Kuwait aguentam o tranco a 70 dólares. No outro lado: Irã a US$ 136 e Venezuela e Nigéria a US$ 120. A Rússia segura a barra com o preço do barril a US$ 101.
O quadro geoestratégico balança a Venezuela e o país ainda por cima sofre com o Custo Maduro, ou seja, a incapacidade do atual presidente  (ex-motorista de ônibus) para guiar o país com a maestria caudilhesca de Hugo Chávez. O cenário é de mais caos fiscal ou social (um ou outro, quem sabem ambos).
Afinal, a queda dos preços do petróleo deve forçar o governo a desvalorizar ainda mais a moeda (são três cotações do bolivar), cortar importações, acabar a fantasia de gasolina quase gratuita e moderar a farra do Bolsa-Venezuela (neste último caso, Maduro esbraveja ao estilo “no pasarán” que não irá acontecer).
Com este novo choque do petróleo, a Venezuela deverá quebrar. O modelo chavista é insustentável. Quem sabe consiga alguma bóia de salvação temporária com a China. Pequim suavizou os termos de pagamento de quase US$ 50 bilhões de empréstimos concedidos a Caracas desde 2007 e Madurou anunciou que seu ministro das Finanças, Rodolfo Marco, irá à China para descolar mais dinheiro e projetos.
O problema da China foi ter investido tanto nos “negócios da Venezuela” (no petróleo e nos empréstimos), que precisa garantir um retorno e um  mínimo de estabilidade política no país.
Isto aí, uma sobrevida. De resto, o Socialismo do Século 21 de Hugo Chávez não terá longa vida.

DIÁRIO DOS SUJOS- Por manobra fiscal, governo faz chantagem via 'Diário Oficial'

Planalto libera R$ 444 milhões para parlamentares, mas condiciona repasse a aprovação de lei que dribla meta de superávit. 

ACONTECE QUANDO O JABUTI É UM COMILÃO SEM LIMITES- Bolsa cai mais de 4% com rumores de alta de tributos

IMB-Um manifesto separatista: discutindo a sério a secessão

Tenho lido muitas impressões equivocadas em torno da proposta separatista do estado de São Paulo, vindas de pessoas que pouco se interessaram ou procuraram se informar sobre o assunto. Os comentários sobre a proposta estão sendo bastante vulgares, preconceituosos e/ou dogmáticos, em virtude do desconhecimento das razões de fato e das justificativas de direito que a fundamentam há anos, bem como das vantagens percebidas pelos militantes da separação.
Além do mais, embora o recente resultado final do segundo turno das eleições nacionais tenha contribuído grandemente para chamar a atenção das pessoas para a causa, é de se salientar, desde já, que a proposta separatista em nada tem a ver com este resultado, de forma que ela já existia muito antes deste fato, e continuaria a existir ainda que o resultado fosse diferente, por ser um movimento social independente desta variável eleitoral.
A fim de fazer avançar o debate em torno desse tema e torná-lo mais público, aberto, honesto e menos vulgar, gostaria de dar uma primeira contribuição pessoal, esclarecendo melhor alguns elementos.
Como os argumentos da causa separatista são bastante claros, enfatizo desde já o convite, devidamente implícito em todo debate político, para que os discordantes procurem enfrentar honestamente os argumentos pró-secessão nos termos em que eles mesmos são propostos. Adianto que este texto obviamente não se propõe a esgotar o tema; apenas se trata de uma contribuição parcial a este debate que vem ganhando espaço.
Das razões de fato que subjazem a proposta separatista
Embora possam existir razões subjetivas de natureza cultural e histórica que fundamentem a militância separatista individual, o caráter mais ou menos idiossincrático e a dependência subjetiva destes elementos culturais e históricos torna difícil a transposição dos mesmos para um debate político público e amplo em torno do tema.
Não é fácil falar para um não-paulista sobre qualquer possível "orgulho de ser paulista", o que inviabiliza o recurso a estes elementos subjetivos num debate. Desse modo, ainda que possam existir razões formadas por elementos de identidade cultural que venham a basear a busca pela secessão, buscarei tratar aqui somente daquelas razões que possam ser objetivamente analisadas nesse debate.
As razões objetivas de fato que fundamentam a causa separatista paulista são ao menos três, sendo que eventuais autores poderão elencar outras tantas:
1-) a grande centralização legislativa do atual arranjo institucional federativo, que poda a autonomia legislativa do estado de legislar em seu interesse e de acordo com suas necessidades próprias;
2-) a desproporcional sub-representatividade do estado de São Paulo no plano legislativo federal, o que dificulta sua influência para contornar ou amenizar o problema apontado no item anterior;
3-) a extorsão fiscal a qual é submetido o estado pelo governo federal, de difícil superação dado o problema apontado anteriormente.
Em primeiro lugar, a legislação no país é grandemente centralizada no plano federal. O art. 22 da Constituição Federal determina que:
Compete privativamente à União legislar sobre: direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial, trabalhista; desapropriações; [...] águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; sistema monetário, [...] política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; comércio exterior [...]; trânsito e transporte; [...] jazidas, minas e outros recursos minerais; [...]condições para o exercício das profissões.
Em outras palavras, em matéria legislativa, a Constituição determina que quase tudo deve ser deliberado em Brasília, conferindo pouquíssima autonomia aos estados em matéria de formulação e implantação de leis próprias e adequadas à sua realidade e aos interesses particulares da sua população.
Isso significa, a título de exemplo, que se a população paulista quiser discutir a implantação de um sistema de votos distrital, por se tratar de matéria eleitoral o debate deverá necessariamente se dar em Brasília. Assuntos no campo penal, civil, processual, entre tantos outros, também deverão obedecer a mesma dinâmica.
Em segundo lugar, o estado de São Paulo é desproporcionalmente sub-representado no plano legislativo federal, o que agrava qualquer tentativa de amenizar o problema anterior. A título de ilustração do que está sendo afirmado, o estado de Roraima, por exemplo, possui uma população de aproximadamente 496 mil habitantes (usarei dados do censo 2010), a qual é representada, na Câmara dos Deputados, por 8 deputados federais — o que significa que cada deputado roraimense representa 62 mil habitantes de seu estado. O estado do Piauí possui uma população de aprox. 3,2 milhões de habitantes, que por sua vez é representada por 10 deputados federais — uma representação na escala de 320 mil habitantes por deputado piauiense. Já o estado de São Paulo possui uma população de aprox. 44 milhões de pessoas, sendo representado, na Câmara dos Deputados, por 70 deputados — uma representação na escala de 642 mil paulistas para cada deputado federal de seu estado.
É óbvia e completamente desproporcional esta relação — São Paulo possui uma relação de representatividade dez vezes menor que Roraima, e duas vezes menor que o Piauí.
O mesmo se reproduz em diferentes medidas quando São Paulo é comparado com qualquer outro estado da federação: trata-se do estado com a menor relação de representatividade por habitante, na Câmara dos Deputados. No Senado Federal a coisa piora, porque todo estado é representado igualmente por 3 senadores — ou seja, São Paulo e Roraima são igualmente representados pelo mesmo número de senadores, independentemente da diferença de quase dez vezes entre a população do primeiro para o segundo estado.
Por fim, há também o fato de que o estado de São Paulo é grandemente explorado no campo fiscal pelo Governo Federal. De acordo com dados da Receita Federal (em relação à arrecadação anual da União por estado) e do Portal Transparência (em relação ao repasse da União por estado), em 2013 a União recolheu R$318 bilhões em tributos[1] da população do estado São Paulo, e desse total somente R$32,8 bilhões retornaram na forma de transferência de recursos do Governo Federal para as Prefeituras municipais (R$27,1 bilhões) e para o Governo Estadual (R$5,7 bilhões) do estado de São Paulo — um déficit de R$285 bilhões, um retorno de apenas 10,4% do valor arrecadado.
Não há outro nome que se possa dar a uma tão desproporcional expropriação do fruto do trabalho alheio além deescravidão. Estes números sugerem que São Paulo, hoje, é um estado escravizado pela República. Dado o problema anterior da desproporcional sub-representatividade de São Paulo no Congresso Nacional, qualquer tentativa de alterar essa exploração fiscal é boicotada pelos estados que se beneficiam dessa redistribuição — reconhecidamente, estados do norte e nordeste do país.
Os dados e informações que indicam esses três fatos podem ser encontrados facilmente, e qualquer opositor da causa separatista que queira encarar honestamente este debate tem o ônus de ter que lidar com eles. Além do mais, deve apontar quais são as vantagens de se fazer parte de um arranjo tão desequilibrado.
Da fundamentação jurídica da separação
As razões de direito que justificam a causa separatista podem ser encontradas no próprio arranjo democrático federalista do estado, bem como em instrumentos legais nacionais e internacionais que versem sobre os Direitos Humanos mais elementares.
É reconhecida sem muitas dificuldades pelo senso comum e pelos defensores da democracia a afirmação segundo a qual "a democracia é uma forma de governo fundamentada no consentimento dos governados". Afirmar isso é dizer que o consentimento popular dos governados é, ao menos em tese, a principal coluna e o lastro social único sobre o qual se sustenta (ou deveria se sustentar) um regime democrático genuíno.
Ao mesmo tempo, essa afirmação imediatamente procura estabelecer uma contraposição quanto à natureza da democracia em comparação aos regimes políticos caracteristicamente despóticos e autoritários lastreados na força, fundados na imposição do estado sobre os seus governados. Existindo o consentimento dos governados, legitimada está a democracia; inexistindo consentimento, comprometida está a única base legítima de sustento de um regime genuinamente democrático.
No nosso atual arranjo político estatal, os estados-membros são indubitavelmente governados pela União. Como mencionamos acima, no tópico anterior, o art. 22 da Constituição Federal determina que é de competência privativa da União a legislação que verse sobre todas aquelas matérias elencadas no referido dispositivo, cabendo aos estados se submeterem a elas. O art. 24, § 4º, por sua vez, estabelece que, havendo conflito de normas no âmbito da legislação concorrente, a lei federal prevalece sobre a lei estadual, naquilo que lhe for contrária. A relação de governança é, portanto, bastante clara.
O direito de secessão, numa arquitetura federalista e democrática como a nossa, nada mais é que o direito que uma entidade federada (i.e. governada pela União) possui de dispor, livre e unilateralmente, deste consentimento sobre o qual se sustenta o governo da União sobre ela – se é que esse governo se almeja ser democrático.
Se as entidades federadas são as partes que compõem o pacto federativo (porque, afinal, não há pacto sem partes legítimas), claro está que cada parte é livre para dispor do seu consentimento em torno do pacto, tendo em vista o prazo indeterminado de duração do mesmo.
Não há, no universo do Direito, pacto por tempo indeterminado que necessariamente vincule eternamente as partes de uma associação. Curioso perceber como que no campo do Direito Internacional a desvinculação dos estados-membros de uma organização internacional se desenvolve sem maiores empecilhos. O que temos dito é que, encerrado o consentimento popular (democraticamente auferido) de uma entidade federada, sobre o qual se fundamenta e se legitima o governo democrático da União sobre ela, nasce a partir daí a faculdade da secessão, isto é, o direito de se apartar daquela tutela jurisdicional.
Sendo o consentimento algo próprio do grupo governado e não do governo, não faz sentido imaginar que o proprietário do objeto não possa livremente dispor do mesmo. Qualquer negação dessa conclusão implica, necessariamente, o reconhecimento de que a nossa democracia se fundamenta na força da União em impor e perpetuar a aceitação de seu regime pela força, e não em virtude do consentimento dos governados em se manter vinculados a este regime — o que torna a democracia um regime tão despótico quanto qualquer outro em sua natureza, e transforma a situação toda em coisa odiosa por sua essência, passando a se tornar um dever moral de qualquer homem levantar a sua mão contra esse regime, o que justifica ainda mais a separação.
A secessão, portanto, é, na verdade, o teste final de uma democracia enquanto regime político genuinamente baseado no consentimento das partes governadas, como ela é ou se apresenta ser.
Qualquer opositor da proposta separatista tem o ônus de mostrar por que um governo, baseado num pacto por tempo indeterminado, o qual, por sua vez, está continuamente fundado no consentimento das partes envolvidas, deverá necessariamente vincular estas partes eternamente.
Embora o art. 1º da Constituição Federal estabeleça que "a República é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios", sem pontuar maiores razões que justifiquem essa determinação, e embora os opositores da separação aleguem que esse caráter indissolúvel é, por definição, próprio das federações, a alegada proibição da secessão, mesmo dentro de um arranjo federativo, é algo no mínimo controverso no campo do Direito, existindo vários elementos doutrinários e dispositivos legais que subsidiam o exercício legítimo deste direito.
O próprio artigo 5º da referida Carta Magna, que trata dos Direitos Fundamentais do cidadão, estabelece em seu inciso XX a garantia constitucional da liberdade de associação, determinando que "ninguém será compelido a se associar ou a permanecer associado". Embora não seja uma garantia absoluta, a extensão desta garantia é tal que não existem, no direito interno, exceções a esta liberdade que se apliquem a casos de associações por tempo indeterminado, não havendo meios jurídicos que possam forçar a continuação da associação do indivíduo (ou grupo de indivíduos) a qualquer instituição da sociedade cujo prazo de existência ou de vinculação do associado não estejam previamente determinados, seja ela uma empresa, um clube, um partido político, um sindicato, uma universidade, uma igreja, uma relação matrimonial, ou mesmo o estado.
Trata-se a liberdade de associação justamente de uma garantia fundamental contra a possibilidade de qualquer imposição forçada de interesses de grupos sobre o indivíduo associado, obrigando-o a permanecer associado contra a sua vontade ou em flagrante situação de desvantagem.
É também um Direito Humano, reconhecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário. Diz o art. 20, II, do referido documento: "Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação". É inegável que o pacto federativo forma uma associação ou sociedade política chamada "União" (e, se ela não é uma associação política, o que ela é então?), sendo aparentemente injustificável e destituída de qualquer fundamento a declaração sobre a impossibilidade de desassociação das entidades federadas que se associaram no momento do pacto. As unidades federadas compõem, em conjunto, uma sociedade.
Um opositor da proposta poderia alegar que o caso brasileiro é um exemplo histórico de "federalismo centrífugo" — isto é, partimos de um estado unitário que se descentralizou formando um estado federado — em contraposição a um "federalismo centrípeto", onde diversos estados se unem para formar uma federação, e que o argumento da separação só teria algum resquício de validade no último caso.
Acontece que esse momento de passagem de um estado unitário para um estado federado é justamente o instante a partir do qual se reconhece as entidades federadas enquanto partes legítimas de um pacto que está, naquela hora, sendo constituído. Em outras palavras, o instante de formação da federação, no caso brasileiro, foi o momento onde forçosamente teve que se reconhecer que, na verdade, o todo era formado por partes, e que eram estas partes que estavam legitimadas para pactuarem entre si o desenho institucional de uma associação que as vincularia por tempo indeterminado. O todo não poderia mais negar a existência das partes, e terminou por reconhecê-las.
O art. 4º da Constituição Federal também estabelece uma série de parâmetros que orientam a conduta da República em suas relações internacionais. Tais parâmetros foram adotados em virtude da sua consensualmente reconhecida razoabilidade e respeito à dignidade humana. Entre estes parâmetros, encontramos o respeito aos Direitos Humanos e, principalmente, à autodeterminação dos povos, além do princípio da não-intervenção. Embora a Constituição reconheça que sejam eles parâmetros de orientação para suas relações internacionais, a sua óbvia e indiscutível razoabilidade nos obriga a concluir que os mesmos parâmetros são aplicáveis dentro de nossas fronteiras.
Se existe o direito à autodeterminação, claro está que seu exercício se dá internamente no âmbito de cada país, sendo contraditório afirmar que "o que vale da porteira para fora não vale da porteira para dentro". O direito à autodeterminação dos povos compõe um Direito Humano básicos, cujo objetivo é justamente garantir a emancipação política e econômica de grupos nacionais que se formem no interior dos estados.
Se é consenso que o referido direito existe, que seu exercício se dá no âmbito interno de cada país, e que seu objetivo é justamente procurar garantir a emancipação desses grupos nacionais que se formam, então inegável se torna a legitimidade do seu pleno exercício no caso analisado.
A autodeterminação dos povos é um direito reconhecido no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, do qual o Brasil também é signatário. Reza o art. 1º do referido Pacto:
I - Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
III - Os Estados Partes do presente Pacto, [...] deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas.
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos deixa claro que seus signatários têm o dever de promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito.
Cabe aqui destacar que tanto a liberdade de associação quanto o direito à autodeterminação dos povosconstituem a regra geral, sendo a restrição do exercício destas liberdades humanas fundamentais justamente aexceção à regra — o que transfere o ônus da justificação e da argumentação para aqueles que querem restringi-las, e não para aqueles que querem exercê-las.
Qualquer opositor da proposta separatista possui, portanto, o ônus de ter que encarar com seriedade estes pontos, procurando fundamentar muito bem as razões pelas quais o exercício destes dois direitos não se aplicariam ao caso em tela.
As vantagens percebidas pelos defensores da secessão
Uma primeira vantagem notada pelos defensores da secessão (num sentido amplo, que contemple não somente São Paulo, mas outros estados porventura também interessados em se separar), é a criação de um cenário ondediferentes experimentações poderiam ser implementadas simultaneamente.
Atualmente, por exemplo, se quisermos colocar em teste um ambiente de descriminalização do mercado de drogas, ou um ambiente de descriminalização do porte civil de arma de fogo ou do aborto, tal teste só seria possível se abarcasse o país inteiro, dado que a competência para legislar sobre a matéria penal cabe à União.
O mesmo se daria em torno de qualquer matéria de competência legislativa privativa da União. Em um cenário de fragmentação de países, não seria necessário convencer politicamente todo um continente (como é o caso da dimensão territorial do Brasil) para se colocar em prática determinada política — e o melhor, a existência de várias experiências ocorrendo ao mesmo tempo permitiria uma melhor comparação dos resultados de uma e de outra medida adotada.
O que hoje é o Brasil se tornaria um grande laboratório com diferentes experiências sendo levadas a cabo ao mesmo tempo, sendo seus resultados analisados comparativamente. Hoje, o que temos é uma centralização tamanha que faz toda e qualquer experimentação ser um jogo de "ou tudo ou nada": quaisquer que sejam as políticas adotadas, elas vinculam indistintamente todas as regiões do país, por mais diferentes que sejam.
A segunda vantagem é que a fragmentação diminui os custos envolvidos numa mudança de contexto. Com a divisão do país em vários países menores e independentes, torna-se mais fácil e econômica e socialmente menos custosa a transferência de um contexto para outro.
Expliquemos: se um cidadão brasileiro de qualquer região do país quiser viver hoje em um contexto de razoável liberdade econômica, e quiser se mudar, por exemplo, para Singapura, Suíça ou Hong Kong, os custos econômicos e sociais desta mudança são altíssimos: ele provavelmente conhece poucas ou nenhuma pessoa desse novo lugar para o qual se mudará, os habitantes falam outra língua, possuem hábitos muito diferentes, sua adaptação linguística e cultural será muito difícil, e ele terá que deixar amigos, familiares e demais pessoas queridas por ele, a uma distância muito longe, o que dificulta visitas mais frequentes, além de ter que arcar com um alto custo da sua viagem, do transporte da mudança etc.
A fragmentação do Brasil em vários países menores, com contextos legais, tributários, políticos, sociais e econômicos radicalmente distintos, facilitaria a transferência do indivíduo de uma região para outra que seja de maior interesse dele, a um custo social e financeiro menor, sem ter que abandonar amigos e parentes a milhares de quilômetros de distância, e sem ter que se adaptar a um contexto cultural e linguístico muito distinto também.
Acompanhada da primeira vantagem citada acima, as pessoas poderiam se mudar mais facilmente de uma região para outra, fazendo suas escolhas com base nesta análise comparativa dos resultados das políticas adotadas nas outras regiões. A fragmentação do país seria um passo na direção da emancipação do indivíduo frente ao seu contexto, enquanto que a união e a centralização o tornam refém do mesmo.
Por fim, uma terceira vantagem da fragmentação é o estabelecimento de uma concorrência entre governos por uma melhor qualidade de vida de seus cidadãos. Todo estado tem o interesse de manter a sua população junto dele, evitando os problemas da emigração. Em um cenário de fragmentação de países, em que exista a facilidade de mudança de uma região para outras substancialmente diferentes, haveria maiores incentivos para os estados perseguirem a criação de contextos cuja qualidade de vida proporcionada fosse um fator de peso para a manutenção da sua população dentro de sua circunscrição.
Repete-se aqui a lógica que encontramos nos livres mercados: quanto maior a concorrência, melhor tende a ser a qualidade dos serviços fornecidos. No final das contas é isso que impulsiona os defensores da proposta separatista: fazer do Brasil um contexto que seja melhor para todos.


[1] Esse valor corresponde somente ao total de tributos federais arrecadados no estado, o que inclui somente o Imposto sobre a Renda de pessoas físicas e jurídicas, Imposto sobre Exportação, Imposto sobre Importação, Imposto sobre Produtos Industrializados, Imposto sobre Operações Financeiras, Imposto Territorial Rural, Cofins, CSLL, CPSSS, Cide-Combustíveis, e Contribuição para o PIS/PASEP. Se fosse somado a este valor o total arrecadado na forma de receita previdenciária, a soma seria de R$456 bilhões — valor que geralmente é mobilizado em outros levantamentos que vemos por aí. Cf. emwww.receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/PorEstado/2013/default.htm

Flávio Pepinelli é professor de sociologia da Unifesp.