Fragmentos
...Mais tarde o lhe
contou sobre o dia de 1965 em que a família foi levada pelas forças de
segurança. Antes do amanhecer, homens armados invadiram a casa que pertencia ao
avô de Shin no condado de Mundok, na província de Pyongan do Sul, uma fértil
região agrícola situada a cerca de sessenta quilômetros da capital, Pyongyang.
“Arrumem suas coisas coisas”, gritaram. Eles não explicaram por que a família
estava sendo presa ou para onde os levariam. Quando amanheceu um caminhão
apareceu para buscar seus pertences. A família viajou durante um dia inteiro
(uma distância de cerca de setenta quilômetros em estradas montanhosas) antes
de chegar ao Campo 14.
...No que parece ser a
manhã do terceiro dia, um dos interrogadores e três outros guardas entraram em
sua cela. Agrilhoaram-lhe os tornozelos, amarraram uma corda e um gancho no
teto e dependuraram-no de cabeça para baixo. Depois saíram e trancaram a porta
- sem dizer uma palavra.
Os pés de Shin quase
tocavam o teto. A cabeça estava suspensa acima do chão. Estendendo as mãos, que
os guardas tinham amarrado, ele não conseguia tocar o chão. Contorceu-se e
balançou-se, tentando endireitar-se, mas não teve sucesso. Ficou com câimbra no
pescoço e os tornozelos doíam. Por fim suas pernas ficaram dormentes. A cabeça,
por onde o sangue fluíra, doía mais a cada hora.
...O interrogador
principal fez mais perguntas aos berros. Pelo que se lembra, Shin não deu nenhuma resposta coerente. O
chefe disse a um dos seus homens para pegar alguma coisa.
Uma tina cheia de
carvão em brasas foi arrastada para debaixo do menino. Um dos interrogadores
usou um fole para atiçar as brasas. O sarilho abaixou Shin em direção as chamas.
Enlouquecido pela dor,cheirando a carne queimada, Shin contorcia-se para
escapar do calor. Um dos guardas passou a mão num gancho de arpão na parede e
perfurou-lhe o baixo-ventre até que ele perdeu a consciência.