sexta-feira, 1 de setembro de 2017
O PORCO DO MATO
O porco do mato conseguiu fugir dos caçadores não sem antes levar um tiro. Em disparada fuga foi perdendo sangue até cair enfraquecido numa clareira. Os urubus começaram o reconhecimento de preparação para o almoço. O porquinho olhava para o céu e na mente antecipava seu final melancólico. Mas prometera para seu pai que lutaria até o fim em qualquer circunstância e foi o que fez. Na porta do último suspiro engoliu uma boa dose de estricnina e partiu da vida, não sem antes dar um pequeno sorriso carregado de sarcasmo.
TEMPESTADE
O manto da noite cobriu a cidade dos que não voltam e trouxe junto vento, chuva e granizo. Flores mortas que cobriam as casas seguiram o vento; as que ficaram foram despedaçadas. Depois a lua surgiu e iluminou os destroços de metal, plástico, madeira e cimento espalhados pelos estreitos corredores e becos. Um pássaro tardio na fuga jazia sobre o brilho do mármore no berço de um ilustre filho da terra. A cruz mestre tombou sobre velas apagadas e pequenos vasos que estavam sob seus pés. Sobrou apenas um miseravelzinho do qual o limo já tomava conta. Dois mendigos que dormiam num jazigo-hotel conseguiram sair ilesos, pois o dito fora construído com material de primeira e obrado por mãos de quem sabia o que estava fazendo, sendo que não havia goteiras tampouco corrente de vento. Estiveram bem seguros durante o evento da tempestade. Já pequenas árvores também foram vítimas e se deitaram sobre túmulos como que num abraço. Logo ao lado na cidade vida, na cidade barulho, na cidade luz, nada, nem mesmo um ventinho soprou naquela noite. Muitos tentaram explicar, mas ninguém convenceu. Alguns mentirosos criativos dizem ter visto a figura do demônio soprando sobre o cemitério as nuvens da tempestade. Dizem...
ROMEU E O GATO
Endividado, Romeu entrou num bueiro pra fugir das dívidas. Dentro do buraco as dívidas se transformaram em ratazanas e passaram a persegui-lo. Guinchavam e mostravam seus dentes enormes e afiados querendo morder seus calcanhares numa corrida aflitiva. Romeu pesado e já sem fôlego nem mesmo conseguia gritar por socorro, embora não acreditando que alguém estaria dentro de um buraco daqueles para socorrê-lo. Quando as ratazanas estavam prestes a alcançá-lo eis que surge Garfield louco de fome e num piscar de olhos destroça os roedores e o leva para fora daquele lugar imundo. Romeu era um cidadão obeso. Durante o pesadelo ele caiu da cama sobre o gato que dormia sossegado no chão, não tendo o bichano chance alguma diante do tamanho do homem, mesmo ele tendo sete vidas. Esmagou numa só tacada todas as vidas do bichano que morreu se perguntando: “o que esse elefante está fazendo sobre mim?”
O BICHO DA GOIABA
Era uma vez um bicho da goiaba que nasceu para ser bicho da goiaba, mas não queria ser bicho da goiaba. Certo dia fugiu da goiaba, apanhou um besouro táxi e foi para dentro da casa de uma senhora que fazia tricô. Andou para lá e para cá até penetrar num novelo de lã que pensou ser um enorme pêssego. Seu sonho era ser um bicho do pêssego até amadurecer, procriar, morrer e ir para o céu. Morreu de fome solitariamente o bicho da goiaba que sonhava ser um bicho do pêssego. Mas pelo menos tentou.
PELO CEMITÉRIO
Passando pelo
cemitério na madrugada
O corajoso de
boteco apressa o passo
O coração
acelera
Enquanto o
vento sibila
Um vaso se
quebra
Uma coruja
sai da escuridão
O medo corre
pela espinha
Tudo parece
diferente
Quando o
nosso chão é abraçado pela noite
E o silêncio
imperial faz do psiu um grito que apavora.
FILA DUPLA
Automóvel parado
em fila dupla piscando ali fica
Tendo o
motorista nos seus miolinhos que é dono da rua
E quando
cobrado da safadeza por outros cidadãos
Tem ainda a
petulância de ficar exasperado
Como se certo
estivesse
Perto de tal
jumento é melhor guardar distância
Pois além de
receber algum pataço
Existe o
risco de ser contaminado pela estultice do verme.
OS BICHOS
Na floresta
disse bem o orador papagaio:
Somos felizes
vivendo como bichos livres
Não temos governo
Não vivemos
sob leis absurdas
Também não
somos vítimas de impostos escorchantes
Que sustentam
parasitas
Danem-se os
racionais!
ALEXANDRE GARCIA- Lições de ódio
A professora de Indaial que foi agredida por um aluno que jogou nela um livro e depois usou os punhos, havia escrito e depois disse que jogar ovo na cara de políticos de quem ela detesta, como Bolsonaro e a noiva de Curitiba, filha de Ministro, não é agressão nem violência; é revolução. O menino de 15 anos que a agrediu foi mais racional na justificativa. Disse que perdeu a cabeça e está arrependido. Entre o ato revolucionário e a agressão impensada, nenhum dos dois têm razão, porque violência não se justifica, quando se pode usar o cérebro para argumentar. A menos que não haja munição inteligente mais forte que ovos ou livro.
O episódio chama a atenção para a violência nas escolas. Há uma grande quantidade de professores agredidos por alunos e por pais de alunos, assim como cresceu o número de brigas, inclusive com faca e arma de fogo, entre alunos. O Brasil tem quatro vez mais a média de ameaças, numa pesquisa da OCDE entre escolas de 34 países. No Rio Grande do Sul, onde nasceu a professora de Indaial(SC), levantamento durante seis meses em 1.255 escolas estaduais(menos da metade da rede), houve 4.861 casos de violência física entre alunos e 199 agressões a professores e funcionários.
Há uma pregação ideológica pelo ódio. Jogar ovos em “neonazistas”, como expressou a professora agredida em entrevista à Rádio Gaúcha é “revolução”, não violência. A professora da Universidade de São Paulo, Marilena Chauí, diante do ex-presidente Lula, bradou aos quatro ventos “Eu odeio a classe média! A classe média é uma abominação política porque é fascista”. O professor Paulo Freire, guru de professores brasileiros, inspirava-se muito em seu ídolo Che Guevara, que pregava o ódio como forma de matar. “Ódio como elemento de luta; ódio cruel do inimigo, impelindo-nos acima e além das limitações naturais das quais o homem é herdeiro e transformá-lo numa efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar.” (Trecho da Mensagem de Che à Tricontinental)
É assustador descobrir essa genética do ódio e da violência como solução para discordâncias políticas ou ideológicas. Remete-nos às cruzadas medievais. Os resultados são péssimos. Estamos cada vez mais atrasados nas classificações mundiais de linguagem, ciências e matemática e cada vez mais no topo da violência nas escolas. Livros existem para ler, dar prazer e conhecimento; ovos são o alimento mais completo depois do leite materno. E neurônios são a arma e a munição da argumentação quando se discorda. Sementes de ódio frutificam com mais ódio. O desarmamento precisa chegar aos espíritos que comandam as mãos.
O episódio chama a atenção para a violência nas escolas. Há uma grande quantidade de professores agredidos por alunos e por pais de alunos, assim como cresceu o número de brigas, inclusive com faca e arma de fogo, entre alunos. O Brasil tem quatro vez mais a média de ameaças, numa pesquisa da OCDE entre escolas de 34 países. No Rio Grande do Sul, onde nasceu a professora de Indaial(SC), levantamento durante seis meses em 1.255 escolas estaduais(menos da metade da rede), houve 4.861 casos de violência física entre alunos e 199 agressões a professores e funcionários.
Há uma pregação ideológica pelo ódio. Jogar ovos em “neonazistas”, como expressou a professora agredida em entrevista à Rádio Gaúcha é “revolução”, não violência. A professora da Universidade de São Paulo, Marilena Chauí, diante do ex-presidente Lula, bradou aos quatro ventos “Eu odeio a classe média! A classe média é uma abominação política porque é fascista”. O professor Paulo Freire, guru de professores brasileiros, inspirava-se muito em seu ídolo Che Guevara, que pregava o ódio como forma de matar. “Ódio como elemento de luta; ódio cruel do inimigo, impelindo-nos acima e além das limitações naturais das quais o homem é herdeiro e transformá-lo numa efetiva, violenta, seletiva e fria máquina de matar.” (Trecho da Mensagem de Che à Tricontinental)
É assustador descobrir essa genética do ódio e da violência como solução para discordâncias políticas ou ideológicas. Remete-nos às cruzadas medievais. Os resultados são péssimos. Estamos cada vez mais atrasados nas classificações mundiais de linguagem, ciências e matemática e cada vez mais no topo da violência nas escolas. Livros existem para ler, dar prazer e conhecimento; ovos são o alimento mais completo depois do leite materno. E neurônios são a arma e a munição da argumentação quando se discorda. Sementes de ódio frutificam com mais ódio. O desarmamento precisa chegar aos espíritos que comandam as mãos.
LENTO
Anacleto é lento. Há vinte anos gritou no Vale do Eco ‘otorrinolaringologista’. Até o momento o eco não retornou.
DONA IOLANDA
Dona Iolanda sempre foi uma mulher reservada, mulher difícil. Demorou em aceitar o sexo. Quando aos setenta anos teve o primeiro orgasmo morreu de alegria.
ALUNOS
Dois jovens canadenses de Toronto resolveram fazer o curso superior para corruptos na Universidade de Malandragens Públicas da Venezuela. Terminado o curso foram instados pelo professor para dizer onde iriam demonstrar suas aptidões. Os dois responderam o Brasil. O professor ficou rindo por alguns minutos e após matriculou os dois num curso de pós-graduação. Justificou-se dizendo que o Brasil não é para iniciantes.
SEU NICÁSIO
Ainda caminhava para lá e para cá, conhecia todos na vila, apesar da idade avançada. Ninguém na verdade sabia sua verdadeira idade, o que todos tinham a certeza é de que Seu Nicásio era muito, mas muito velho. Pois Seu Nicásio morreu na tarde de ontem e nem foi preciso realizar a cremação: quando deixou este mundo já era pó.
Mata que é polícia. Coluna Carlos Brickmann
Há poucos dias, 26 de agosto, foi morto o centésimo PM do Rio em 2017. São 13 assassínios de policiais por mês. E o silêncio que se faz é atordoante, como se nada houvesse, como se PM não fosse gente. Imagine se matassem cem juízes, cem garis, cem religiosos. Haveria este silêncio?
Há 130 anos, em onze meses, Jack, o Estripador, matou cinco prostitutas em Londres, cortando-lhes a garganta. O assassino jamais foi identificado, mas a Inglaterra se mobilizou para localizá-lo. E, 130 anos depois, seu nome ainda é lembrado. Aqui, em oito meses morrem cem PMs – e não há qualquer comoção, excetuando-se a das famílias e a de quem é consciente.
Polícia é essencial em qualquer parte do mundo. Na Dinamarca, onde há educação de qualidade para todos, onde a desigualdade social é minúscula, há polícia, e eficiente. Só no Brasil se imagina que a Polícia, executora do monopólio estatal da força, pode ser desprezada. Após a ditadura militar, em que a Polícia aceitou gostosamente a permissão de atuar fora da lei, surgiu a crença de que os policiais foram os culpados pela violência, pelas torturas. Foram; mas houve também promotores que sabiam de tudo e se calaram, juízes coniventes, jornalistas cúmplices. Só os policiais pagam? E nem são mais os mesmos (que, dos velhos tempos, muitos passaram de vez para a vida fora da lei, trabalhando como bicheiros ou milicianos ferozes).
Quando nossa vida corre risco, quem é que chamamos? O ladrão?
Detalhes
O seguro de vida para o policial que expõe sua vida foi criado há pouco mais de 20 anos, pelo governador Mário Covas. Antes, não existia. Colete à prova de balas? Existe, mas não para todos. Um policial tem de esperar a volta do colega para pegar o colete dele, sem tempo sequer para arejá-lo. E, para enfrentar o poder de fogo dos bandidos, só armas nacionais, pequenas.
Como era, como é
Em 1983, ou 84, houve uma onda de assaltos a passageiros de ônibus. O governador paulista Franco Montoro determinou que PM fardado não pagasse passagem. A presença do policial no ônibus afastou os bandidos. Na época, tinham medo. Hoje, o policial esconde a farda fora do horário de trabalho. Não carrega seu crachá, pois os criminosos o matam se souberem que é policial. Os bandidos perderam o respeito. Não têm o que temer.
O crime e a pena
Lembra de Henrique Pizzolato, que foi diretor do Banco do Brasil, fugiu para a Itália usando documentos falsos com o nome do irmão falecido e foi condenado a 12 anos e 7 meses de prisão por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro? Ele começou a cumprir a pena em fevereiro de 2014, quando foi preso na Itália (veio para o Brasil em outubro de 2015).
Faça as contas: 2014 mais 12 anos=2026, certo? Errado: Pizzolato já está no regime semiaberto, que lhe foi concedido pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo. Dorme na cadeia. De dia, vai trabalhar na rádio OK FM, como assistente de programação, algo que jamais fez na vida. O salário é de R$ 1.800,00 mensais. Mas que fazer? A lei exige um emprego! A rádio pertence a seu companheiro de cela, Luiz Estêvão, hoje também seu patrão.
Exclusividade
Não estranhe o caso de Pizzolato. Num país onde Suzane Richthofen teve folga da prisão no Dia das Mães, que é que se pode esperar?
Sexo é ciúme
A delação mais esperada no país, hoje, é de um tipo diferente: tem, além da ladroeira, sexo, ciúmes, chifres, brigas federais. O que se sabe: um captador de recursos teve um caso com uma parlamentar federal casada. Houve belos hotéis, brigas com arranhões, ciúmes ferozes, erros (o marido entendeu que o casamento agora era aberto, e também andou escapulindo; a esposa não quis saber, e por pouco não se cria uma crise – o Chifrudão).
Sexo é cultura
Nomes? Imagine! Este colunista adora continuar vivo. Mas pitadas de cultura e pesquisa ajudam a chegar lá. Comece por Jacques Offenbach, compositor de sucesso, francês nascido na Alemanha, rei do can-can. E vá para Shakespeare, Julio Cesar, no monumental discurso de Marco Antônio nos funerais de Cesar. Termina aqui a parte cultural: o restante é briga feia de casal. Se a chefia não enquadra marido e esposa, a coisa iria longe. O fato é que os chifres doeram, mas pior seria perder os excelentes empregos.
E calou-se o sabiá
Recife, Praça N.S. do Carmo. Dia 25, a caravana de Lula parou ali para um ato público. Mas, no lugar em que queriam botar o palanque, havia uma palmeira imperial grande, de mais de 20 anos. Simples, não? Só montar o palanque ao lado. Mas o PT não perdoou: cortou a árvore. Tudo (com fotos) em http://www.chumbogordo.com.br/14665-minha-terra-tinha-palmeiras-por-jose-paulo-cavalcanti-filho/.
Os sabiás que entrem no MST.
A CARAVANA DO FARSANTE por Ênio Meneghetti. Artigo publicado em 30.08.2017
Muito vem sendo comentado sobre a caravana de Lula pelo Nordeste. Já apareceu em Alagoas com Renan Calheiros e o filho governador e seguiu seu périplo pela região.
Vem sendo apresentados vídeos na internet como sendo de sua caravana que impressionam pela baixa afluência de público. Em um deles, filmado amadoristicamente por um popular, a caravana aparece em uma avenida, separada do cinegrafista por cem metros de terreno baldio cercado com arame. Na caravana, veem-se algumas carroças, um jegue, umas poucas motos e meia dúzia de carros seguindo o ônibus.
A pessoa que está filmando do telhado de uma casa modesta, em dado momento desvia a câmera e mostra uma mulher vestida com simplicidade, de chinelos, às gargalhadas para o cinegrafista, enquanto aponta a minguada caravana. O cinegrafista exclama, com acentuado sotaque nordestino: – Acabô! Acabô! – ante o fraco cortejo que não conseguiu arrastar quase ninguém para receber Lula.
Noutro vídeo, aparece o interior do ônibus de Lula chegando em outra cidade. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, está fazendo pelo celular uma transmissão ao vivo da chegada. Populares cercam o ônibus para ver Lula. O motorista pergunta:
– O presidente vai sair?
Lula faz menção de descer, mas recua. Irritado, responde em alto e bom som:
– Nesta porcaria aí não! – O assessor, visivelmente intimidado, intervém:
– A polícia federal tá… A polícia federal tá aí… – referindo-se a escolta que os acompanhava. Furioso, Lula passa uma carraspana repleta de palavrões no assessor, que estava gravando tudo com o celular. Resmunga, furioso:
– Eu queria ver você ter sensibilidade de ver a cara do povo de uma cidade que você não conhece e ter que encarar …- Quando repara que o assessor está gravando, irrita-se mais ainda e diz: – Você está aí na porra desse celular fazendo o que ?? Ah, ‘caraio’!!!
Enquanto isso, Gleise Hoffmann, que continuava fazendo sua transmissão ao vivo, tenta disfarçar mas atrapalha-se:
– O presidente … uma pessoa tava aqui, tentando mostrá… lá embaixo, …O pessoal ‘tava’ aqui esperando na entrada da cidade… – guagueja Grace em sua transmissão. Ouve-se Lula ao fundo, ainda resmungando:
– Não é possível, um povo insuportável, chato desse… Olha aí… o tanto de vagabundo… Dá uma olhada aí nesse povo aí dessa cidade… – Acha aí um… um véio nessa cidade, tira uma foto pra saí lá (nas redes sociais) e pronto.
Isso é fato. O vídeo é real e está disponível na internet. Um vexame.
Gleise continuava tentando sair de sua transmissão:
– Muita emoção, gente! Chegá aqui e vê o pessoal andando… andando a cidade inteira prá ver o presidente Lula. Muito legal isso! Muito bom! – diz ele, visivelmente embaraçada.
Patético. Seria risível se não fosse trágico. Mas isso não é nada, para quem já roubou até os aplausos de Kofi Annan em uma Assembleia da ONU.
Lula será sempre uma farsa.
(Publicado originalmente em https://eniomeneghetti.com/)
SE O COMUNISMO CONSEGUIU MANTER NA MISÉRIA METADE DA ALEMANHA DURANTE 44 ANOS... por Percival Puggina. Artigo publicado em 30.08.2017
Os venezuelanos pedem socorro. Não, não são todos. Lá, como em quaisquer regimes totalitários, graças à fé doentia nas lideranças revolucionárias ou aos favores que recebe ou espera receber do Estado, parte considerável da população está alinhada com a ditadura. Os que a ela resistem se defrontam com as forças militares e com as milícias armadas pelo regime.
Pobre povo venezuelano! Foge pelas fronteiras e conta mortos nas ruas. Tudo se passou como se uma velha garrafa jogada do malecón habanero em meados do século passado, houvesse atravessado o Mar das Caraíbas, arribado no pedregoso litoral venezuelano e ali se quebrado, espargindo uma torrente de maldições semelhantes às que se abateram sobre Cuba. Sim, porque quase tudo na Venezuela segue o funesto ritual cubano: crescentes restrições às liberdades políticas, manipulações eleitorais, cerceamento da oposição e prisão de dissidentes, intervencionismo estatal, tabelamento de preços, sucateamento do parque produtivo, escassez. E, desde 2013, a versão bolivariana, eletrônica, da libreta de racionamento. Quando esta começou em Cuba, no ano de 1963, foi muito mal recebida pela população. Era uma forma de proporcionar, a um povo que empobreceu rapidamente após a revolução, alimento subsidiado em quantidades mínimas. Passados 54 anos, o Estado cubano continua se apropriando da totalidade da renda nacional e remunerando a população em servidão com salários mensais que apenas compram três quilos de leite em pó. A libreta se adelgaçou a menos da metade do conteúdo original, mas os cubanos reagem às propostas para extingui-la, porque "con la libreta nadie puede vivir, pero sin la libreta hay mucha gente que no puede vivir".
Diferentemente de Cuba, a Venezuela era rica, petroleira, membro da OPEP. O comunismo, que afundou a economia cubana em três anos, levou 17 para arruinar o país. Mas nada é impossível a esse ogro político-ideológico. Se o comunismo conseguiu manter na miséria metade da Alemanha durante 44 anos, não seria uma republiqueta bolivariana que haveria de resistir a seu poder de destruição.
Os venezuelanos estão famintos. Matéria da United Press International em fevereiro deste ano informou sobre uma pesquisa desenvolvida por três universidades venezuelanas (Universidade Central da Venezuela, Universidade Católica Andrés Bello e Universidade Simão Bolívar). Os resultados foram assustadores! Em meio à crise de alimentos e medicamentos, a população perde peso em proporções alarmantes. Um milhão de estudantes abandonaram a escola.
or quê? Blackouts, greves, fome. A renda de 82,8% dos venezuelanos os classifica como em estado de pobreza. O FMI estima que a inflação do país atingirá 1600% no corrente ano e a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe avalia uma redução de 4% no PIB nacional.
Matéria do El Nacional do dia 16 de agosto passado mostra que se repete na Venezuela um fenômeno generalizado no comunismo: até as vacas param de dar leite e a população apela para éguas e cabras. A falta desse produto agrava a mortalidade infantil por desnutrição e doenças digestivas.
Nesse cenário é impositivo perguntar: para onde se deve mover a sensibilidade de uma pessoa com senso de justiça e humanidade? Claramente, é o sofrimento da população que nos deve condoer. Em instância mais remota, será a ruína de um país vizinho e sua tragédia perante a história. Mas, para isso, é preciso ter senso de justiça e humanidade. Os dirigentes e militantes dos nossos partidos de extrema esquerda (PT, PCdoB e PSOL) olham para a realidade venezuelana e, entre o sofrimento da população sob seu governo comunista, ficam com o governo, apoiando-o para que ponha mais lenha no braseiro do inferno que criou.
________________________________
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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