segunda-feira, 28 de novembro de 2016

COSTURAR E DELATAR

Fuga do Campo 14- O inferno na Correia do Norte

Fragmento

...Mil mulheres costuravam uniformes militares durante turno de 12 horas. Quando suas temperamentais máquinas de costura movidas com o pé quebravam, Shin as consertava.
Ele era responsável por cerca de cinquenta máquinas e pelas costureiras que as operavam. Se as máquinas não vomitassem suas cota diária de uniformes do Exército, Shin e as mulheres eram forçados a executar um “doloroso trabalho de humilhação”, o que significava passar duas horas extras, em geral das dez à meia-noite.

...O trabalho na fábrica pôs Shin em estreito contado diário com várias centenas de mulheres adolescentes, na casa dos vinte anos e dos trinta anos. Algumas eram extraordinariamente atraentes e sua sensualidade criava tensão entre os operários. Em parte,isso se devia a seus uniformes mal ajustados. Elas não tinham sutiã, e poucas usavam roupas de baixo. Não havia absorventes higiênicos.

Pag. 110
Blaine Harden-Ed. Intrínseca


DICA DE LIVRO- FUGA DO CAMPO 14- Correia do Norte

FUGA DO CAMPO 14- Correia do Norte

Fragmentos

...Mais tarde o lhe contou sobre o dia de 1965 em que a família foi levada pelas forças de segurança. Antes do amanhecer, homens armados invadiram a casa que pertencia ao avô de Shin no condado de Mundok, na província de Pyongan do Sul, uma fértil região agrícola situada a cerca de sessenta quilômetros da capital, Pyongyang. “Arrumem suas coisas coisas”, gritaram. Eles não explicaram por que a família estava sendo presa ou para onde os levariam. Quando amanheceu um caminhão apareceu para buscar seus pertences. A família viajou durante um dia inteiro (uma distância de cerca de setenta quilômetros em estradas montanhosas) antes de chegar ao Campo 14.

...No que parece ser a manhã do terceiro dia, um dos interrogadores e três outros guardas entraram em sua cela. Agrilhoaram-lhe os tornozelos, amarraram uma corda e um gancho no teto e dependuraram-no de cabeça para baixo. Depois saíram e trancaram a porta - sem dizer uma palavra.
Os pés de Shin quase tocavam o teto. A cabeça estava suspensa acima do chão. Estendendo as mãos, que os guardas tinham amarrado, ele não conseguia tocar o chão. Contorceu-se e balançou-se, tentando endireitar-se, mas não teve sucesso. Ficou com câimbra no pescoço e os tornozelos doíam. Por fim suas pernas ficaram dormentes. A cabeça, por onde o sangue fluíra, doía mais a cada hora.

...O interrogador principal fez mais perguntas aos berros. Pelo que se lembra,  Shin não deu nenhuma resposta coerente. O chefe disse a um dos seus homens para pegar alguma coisa.
Uma tina cheia de carvão em brasas foi arrastada para debaixo do menino. Um dos interrogadores usou um fole para atiçar as brasas. O sarilho abaixou Shin em direção as chamas. Enlouquecido pela dor,cheirando a carne queimada, Shin contorcia-se para escapar do calor. Um dos guardas passou a mão num gancho de arpão na parede e perfurou-lhe o baixo-ventre até que ele perdeu a consciência.

FUGA DO CAMPO 14- A dramática jornada de um prisioneiro da Correia do Norte rumo à liberdade no ocidente.

Blaine Harden- Editora Intrínseca


“Ter alma é a ferramenta necessária para pagar o dízimo. Quem não possui alma está  isento.” (Eriatlov)
“Que não esmoreçam os pensadores, caso contrário os imbecis vencem.”  (Eriatlov)
 “Por aqui todo dia é dia de comer carne. Não fazemos nenhum jejum religioso.” (Leão Bob)


“Um diabo andando pelas ruas de Brasília jamais será reconhecido, pois todos os diabos são iguais. Aí...” (Mim)

VELHO,MUITO VELHO

Epaminondas é muito velho. Tão velho que lhe tomaram até a carteira de identidade. Anda por aí com o atestado de óbito no bolso.

O ENROLÃO

O avião em que ele estava caiu num lugar quente e deserto. Mariel estava pouco machucado e perdido por três dias morria de sede e desidratação, não tendo encontrado nem mesmo um pequeno arbusto para proteger-se, nem uma plantinha de onde pudesse retirar água. Já no desespero viu ao longe viu uma edificação e depois de muito esforço chegando mais perto leu a inscrição BAR DO BETO. Aliviado entrou, foi até o balcão e pediu uma água mineral bem gelada. O atendente com a preguiça assentada no lombo fuçava no celular então demorou em vir atendê-lo e quando veio solicitou pagamento adiantado. O sedento homem alcançou uma nota de cem reais e o mesmo alegou não ter troco. Mariel disse que não precisaria dar troco, iria beber toda a nota em água. O atendente começou então a verificar a nota achando que talvez fosse falsa. Pediu um tempo para ir ao banheiro, já voltaria. A sede matava o homem e o atendente se enrolando. Nisso chegou o Beto e prontamente atendeu o cliente, além de cuidar dos seus ferimentos. “Disse ele:” Não ligue para o meu funcionário. “A vida toda esteve com políticos, está aprendendo a trabalhar agora.”

O BICHO DA GOIABA

Era uma vez um bicho da goiaba que nasceu para ser bicho da goiaba, mas não queria ser bicho da goiaba. Certo dia fugiu da goiaba, apanhou um besouro táxi e foi para dentro da casa de uma senhora que fazia tricô. Andou para lá e para cá até penetrar num novelo de lã que pensou ser um enorme pêssego. Seu sonho era ser um bicho do pêssego até amadurecer, procriar, morrer e ir para o céu. Morreu de fome solitariamente o bicho da goiaba que sonhava ser um bicho do pêssego. Mas pelo menos tentou.

O SUSPEITO

A polícia parou um  homem na praça principal em atitude suspeita.  Buscava por traficantes e mandou o detido esvaziar os bolsos. E lá foi ele à obra:
Um pente de osso;
Um cotonete usado;
Dois plets;
Um chaveiro do Flamengo;
Três aspirinas;
Um cachorro quente;
Meio mamão descascado;
Uma  fatia de melancia;
Um sabonete de motel;
Um rolo de papel higiênico pela metade;
Um cartão de visita do Salão da Cleide;
Um pacotinho de bolacha Maria;
Uma revista de mulher pelada;
Um canivete suíço;
Um revólver Taurus 38 com seis cartuchos intactos;
Dois quilos de maconha;
Um quilo e meio de cocaína.
“Algo mais?” perguntou o sargento.
E mexendo mais um pouco dentro do bolso direito da calça  “ só essa metralhadorazinha aqui.”


O FILHO PRÓDIGO

Artur era um menininho levado de oito anos que vivia com seus pais num bairro de classe média alta em São Paulo que um dia sumiu de casa; polícia, buscas, detetives, nada de encontrá-lo. Apesar da dor a vida seguiu seu rumo, sempre com ele no coração. Dez anos se passaram quando Artur bateu à porta. Bateu com uma marreta, derrubando-a, enquanto seus comparsas realizaram uma limpa geral nas joias e do dinheiro que havia no cofre. Educado, ele ainda deixou um bilhete: “Artur esteve aqui.”

TOMATE

Numa tarde movimentada um tomate foi atravessar a rua, então surgiu um caminhão em alta velocidade e o pneu dianteiro foi para cima do tomate que a realizou a transformação papel e saiu ileso. Era um tomate ninja.

SEM MISTÉRIO

Se a sua casa tem fantasmas escondidos
Não existe mistério
Basta agir
Casas abertas
Cores não agressivas
Muita luz e ventilação
Atraem bons fluidos
E colocam para correr assombrações.

TÍMIDO


No primeiro encontro
Ao tímido
Sobram dedos
E faltam narizes e orelhas para coçar
Além de bolsos onde enfiá-los.

ZULEIKA


Atrás da porta
Lá estava ela
Marrom Zuleika
A lagartixa de parede
Degustando uma baratinha
Olhou para mim com atenção
Como querendo dizer
Veja só amigo
Como sou boa e limpo a sua casa.


OS GIGOLÔS DO BEM por Rodrigo Constantino. Artigo publicado em 27.11.2016

"A força mais enérgica não chega perto da energia com que alguns defendem suas fraquezas", disse com sua fina ironia Karl Kraus. O mundo é mesmo repleto de pessoas que acumulam verdadeiras fortunas e concentram absurdo poder apenas em cima de suas fraquezas declaradas. Ou explorando a miséria alheia, claro, que se tornou um gigantesco e lucrativo negócio.

É aquilo que Guilherme Fiuza tem chamado, em suas colunas, de "império do oprimido". E esse é justamente o título que deu ao seu novo livro, um romance que prova que a arte, muitas vezes, imita a vida. Trata-se de uma história fascinante de uma jovem bonita e rica que rompe o relacionamento com os pais assim que um partido de esquerda chega ao poder.

Ela decide que quer participar dessa revolução progressista. Numa idade em que é normal detonar os pais mesmo, Luana resolve radicalizar: abandona a vida de princesa e vai vagar pelo mundo, até parar numa ONG voltada para a assistência social. Lá se encanta com a ideologia socialista, e galga degraus até chegar ao topo do poder, no epicentro do novo governo.

Fiuza desenvolve essa história com maestria no ambiente da era lulopetista. Os ilustres personagens estão todos lá, facilmente identificáveis: Lula, Dirceu, Marcos Valério, Marcelo Freixo, Palocci, Márcio Thomas Bastos, JEC etc. A quadrilha chega ao poder com um discurso populista e encanta a população, com a ajuda inestimável dos artistas e "intelectuais" formadores de opinião, muitos sob recebimento de mesadas, como prostitutas.

Inúmeros fatos assombrosos dos últimos anos entram na narrativa, de uma forma muito criativa. Estão lá o mensalão, o petrolão, o assassinato de Celso Daniel, a casa das prostitutas em Brasília, os black blocs, o Mais Médicos, a tentativa de censurar a imprensa e muito mais. Tudo sob o controle indireto do Guia, o intocável, santificado pelas massas, identificado como o homem do povo que chegara para fazer justiça, acabar com a exploração centenária pelas elites.

Tudo balela, naturalmente. E Fiuza entra dentro da mente desses vilões, com a liberdade que só um livro de ficção permite, mostrando como o poder rapidamente sobe à cabeça ou, mais precisamente, como bandidos gananciosos exploram o discurso altruísta para chegar ao poder e por lá permanecer, ficando milionários no processo.

A forma pela qual uma jovem rica e mimada acaba sendo seduzida pelos "progressistas" também é retratada com perfeição. Sufocada pelas regras morais burguesas, pela hipocrisia que enxerga no mundo real quando suas fantasias infantis desmoronam, Luana era o alvo perfeito dos "gigolôs da bondade", que conseguem colocá-la contra o próprio pai. O encanto pelo professor esquerdista descolado ajuda bastante.

"Governo de uma gente cada vez mais poderosa, rica e coitada. É o crime perfeito", constata um dos personagens. Basta ver como mesmo depois de toda a podridão que veio à tona essa turma continua bancando a vítima para verificar como o fenômeno é impressionante. E foi um crime impune por muitos anos, com a conivência de muita gente, o silêncio cúmplice de vários, que surfavam na onda do mesmo populismo.

Fiuza dissecou o período mais nefasto da história de nossa democracia, e fez isso de uma forma muito divertida. O livro, com final surpreendente que não posso revelar, daria um baita filme, destino que outras obras do autor já tiveram. É leitura simplesmente imperdível, uma espécie de doce vingança de alguém que tentava alertar desde o início, quase sozinho, sobre o sonambulismo da população brasileira, vivendo sob o "império do oprimido" e aplaudindo a própria desgraça, reverenciando aquele que era seu maior algoz. E que, para revolta de muitos, continua solto, longe da prisão, seu destino merecido.


*Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.

A PEDAGOGIA DAS RUAS

Quem não assistiu deveria assistir a inédita entrevista coletiva que os três dirigentes dos poderes político-partidários da república proporcionaram à imprensa nacional na manhã deste domingo. Não me lembro de algo semelhante em nossa história: ombro a ombro, o presidente da república, o da Câmara dos Deputados e o do Senado Federal, falaram sobre votação das famosas Dez Medidas e os possíveis enxertos que acabariam por conceder anistia aos que se beneficiaram dos recursos da corrupção para fins eleitorais. Fica patente nas três manifestações a existência de um acordo para constranger a apresentação de iniciativas nesse sentido e para obrigar seus eventuais promotores e apoiadores a assumirem publicamente suas posições. Dado o caráter inusitado da manifestação do alto comando político do país, numa manhã de domingo, tudo indica que: 1) havia real perigo de aprovação de alguma emenda desavergonhada; 2) o governo não quis assumir o risco de ser entendido como conivente; 3) as três autoridades pressentiram, ou receberam informação, de que a reação das ruas, prevista para o dia 4, as fulminaria politicamente. Penso que foi uma boa lição para eleitos e eleitores, para a sociedade e sua elite política. Há um poder maior, legítimo, que pode chegar às ruas de modo ordeiro para se fazer ouvir. E esse poder é reconhecido.

Do blog Percival Puggina

MORREU O GRÃO-SENHOR DA SENZALA por Percival Puggina. Artigo publicado em 28.11.2016



A "revolução" cubana me despertou tanta curiosidade que um dia, em 2001, resolvi conhecer a ilha dos Castro. Supunha que o comunismo, essa ideologia funesta, estivesse com os dias contados e visitar Cuba era o modo mais econômico de ainda ver de perto uma sociedade sob tal regime. Ao retornar ao Brasil, as pessoas com quem conversava sobre a viagem me pediam que colocasse as observações num livro. Assim, voltei a Havana no ano seguinte para colher subsídios e escrever "Cuba, a tragédia da utopia", publicado em 2004. Nessa viagem, após cometer a imprudência de telefonar, contatar e encontrar-me em público com vários dissidentes, pude experimentar e compartilhar, com eles, o temor, a insegurança e a sensação de viver sob vigilância de um Estado totalitário. Fui seguido, filmado e, por via das dúvidas, busquei (inutilmente, aliás) proteção da embaixada brasileira, já então sob orientação petista. Continuei acompanhando a vida cubana através de correspondentes. Voltei de novo em 2011 atualizando observações e dados para uma edição ampliada do livro de 2004, em fase final de redação.

Há, em minha biblioteca, dezenas de livros sobre Cuba. Desde os primeiros, escritos ainda em 1960 por jornalistas e membros do mundo acadêmico de esquerda norte-americano, até os mais recentes, de autores que serviram pessoalmente a Fidel Castro como membros do serviço secreto ou segurança pessoal. Mas não se engane, leitor. A maior parte da bibliografia é laudatória. Visa ao proselitismo. Pretende convencer que o regime é muito bom; o resto do mundo é que não presta.

Quem conhece a realidade local sabe que o povo da ilha, faz tempo, jogou a toalha da esperança no tablado da luta cotidiana. Ninguém mais acredita no governo, no regime, ou em dias melhores. Ninguém, fora da nomenklatura, crê que possa haver refeições satisfatórias além da cada vez mais subnutrida libreta de racionamento. Depois de quase seis décadas de semeadura de ódios aos ianques, o maior anseio e único horizonte da população é o retorno deles com suas verdinhas e seus empreendimentos, soprando ares de liberdade.

Estes momentos que seguem à morte do tirano proporcionaram um novo alento à propaganda comunista no Brasil. A mesma mídia que chorou a eleição de Trump aproveitou o embalo e ofereceu compungidos e afetuosos necrológicos a Fidel. Dir-se-ia que certos jornalistas tinham perdido o vovô, velhinho bom, que dedicara a vida ao ideal da sociedade igualitária. Uma hipocrisia descomunal! Nestes tempos de internet, todos sabem que Fidel, desde que chegou ao poder, viveu como um nababo; que se apropriou de uma ilha, Cayo Piedra, onde construiu um paraíso particular (e não diz que é de um amigo dele); que tinha várias residências com diferentes mulheres; que sua despensa sempre foi abastecida das melhores iguarias que o dinheiro pode comprar. Quem descreve com mais detalhes e credibilidade os requintes da cozinha de Fidel Castro (num país com mais de meio século de racionamento) é o irrequieto frei Betto, em "O Paraíso Perdido". Nessa obra, cada capítulo conta algo de sua atividade como intelectual revolucionário itinerante e dos lautos banquetes com que se nutria para essa faina. Muitos deles, sentado à mesa farta do carniceiro do Caribe.

Então, leitor, morreu um hipócrita. Por lógica intrínseca, irrecusável pela razão e pela visão em todas as suas experiências, igualitarismo é o formato que tomou a escravidão no século XX. Os membros da elite política do partido único são os novos senhores dessas poucas senzalas nacionais ainda remanescentes em desditosas nações contemporâneas.

________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

DO BAÚ DO JANER CRISTALDO-segunda-feira, março 31, 2008 ZDANOVISMO COM NOME NOVO

Veja desta semana pretende criar um neologismo, “pobrologia”. A reportagem, de Leandro Narloch, trata dos documentaristas brasileiros que adoram a pobreza, cujos filmes sobre o tema já constituem um gênero. Lembra a ambição vã de Reinaldo Azevedo, o recórter chapa-branca tucanopapista tomista hidrófobo que pretendeu ter criado a palavra pobrismo, que já existia há meio século.

Quanto ao personagem, diz a reportagem,

- qualquer pobre está valendo. Melhor ainda se ele for um tipo exótico e viver num ambiente pitoresco, como a doente mental de Estamira.

Quanto à fotografia,

- deve capturar “a beleza em meio à miséria”. Focalize o rosto pobre sempre em closes estourados, como em Sumidouro.

Quanto ao roteiro,

- não se preocupe com esse “detalhe”. As obras-primas da pobrologia exploram, invariavelmente, três personagens: o pobre, o rico (culpado pela situação do primeiro) e o líder de esquerda que luta para mudar a situação.

E por aí vai. Narloch deve ser jovem. Certamente nunca ouviu falar de zdanovismo. Ou realismo socialista, como ficou conhecida a nova doutrina estética russa. Coincidentemente, comentei em crônica passada o realismo socialista em Jorge Amado. Foi besteirol ideológico praticado com muito entusiasmo, não só no Brasil, como até mesmo na Europa.

Além de Jorge Amado, outros tentaram, sem maior sucesso, seguir-lhe as pegadas. Entre eles, Dalcídio Jurandir, com Linha do Parque; Alina Paim, com A Correnteza e A Hora Próxima; José Ortiz Martins, com Eles possuirão a Terra(tradução do título de um romance de Robert Charbonneau, publicado em Montreal, em 1941); Maria Alice Barroso, com Os Posseiros; Ibiapaba Martins, com Sangue na Pedra; Figueiredo Pimentel, com A Inspiradora de Luís Carlos Prestes; Lauro Palhano, com O Gororoba, Marupiara e Paracoera.

Escritores de porte, cá e lá, não deixaram de dirigir acenos à nova religião. É o caso de Graciliano Ramos, em São Bernardo e Viagem; Oswald de Andrade, em A Escada Vermelha e O Homem e o Cavalo e Patrícia Galvão, em Parque Industrial. Pagu, justiça seja feita, ao manter um contato mais prolongado com a realidade soviética, torna-se o primeiro escritor, no Brasil, a denunciar o stalinismo. Por outro lado, homens como Aníbal Machado e Dyonélio Machado, embora sendo militantes do Partido Comunista, em momento algum se renderam ao novo gênero.

Se Graciliano, apesar de seu culto crepuscular a Stalin, manifesto em Viagem, não se deixou fascinar pelas teorias de Zdanov - a quem considerava “uma besta” - Amado a elas entregou-se qual noiva ardente. Por ocasião da morte de seu mestre, em O Mundo da Paz, carpe sua viuvez:

“Foi em Varsóvia, numa cálida noite de verão, que soubemos a notícia da sua morte repentina quando tanto ele tinha ainda a nos ensinar. Estávamos numa alegre conversa, escritores e artistas de vários países, quando alguém chegou com a terrível nova: ‘Zdanov morreu!’. Entre nós estava Alexandre Fadéev, mestre do romance soviético, amigo e colaborador do homem que, nos últimos anos, deu mais concreta contribuição ao desenvolvimento da literatura e da arte. Pelo resto da noite indormida, Fadéev, emocionado, contou de Zdanov. Parecia-nos tê-lo ali, junto a nós, comandando o povo de Leningrado na resistência indomável, vencendo não só os inimigos nazistas mas também a fome e o medo, o desânimo e o desespero. Nós o víamos, depois, andando para um piano, na discussão sobre música com os compositores soviéticos, para ilustrar, tocando um ária qualquer, as teses justas que explanava, ele a quem não parecia estranho nenhum problema da ciência política, da filosofia, da literatura e da arte, esse exemplo da cultura bolchevique.

“A voz de Fadéev, molhada de dor, trazia para junto de nós, naquela noite de luto, a presença do grande desaparecido. Pensávamos na estrada aberta, sob seu comando, sob o gelo, cada dia apagada pela neve, cada dia reconstruída, que garantia o contato de Leningrado assediada com o resto da pátria. Pensávamos nele, nessa mesma cidade de Varsóvia, em 1947, fazendo seu histórico informe na primeira reunião do Bureau de Informação dos Partidos Comunistas. Gigante do pensamento humano, esse outro filho da classe operária, educado pelo Partido Bolchevique, nascido dos ensinamentos de Lênin e Stalin.”

Os novos documentaristas brasileiros estão apenas repetindo a fórmula antiga e rançosa do zdanovismo. O que o repórter de Veja pretende rebatizar como pobrologia. Não há pobrologia alguma. O que há é o velho pensamento stalinista, do qual os intelectuais brasileiros ainda não conseguiram se libertar.

INFARTO DO MIOCÁRDIO

Borda do Cafundó, três mil almas. No dia 15 de outubro de 2010 nasceu o primeiro filho de Jurema e Deodato. Ele escolheu o nome do menino, nome este que não saiu da sua cabeça deste que ouviu alguém falar no hospital da capital, quando o pai estivera internado: ‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’.
-Como? Perguntou perplexo o
tabelião Amadeu.
-‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’.
-‘Infarto do Miocárdio’ não pode seu Deodato!
-Não pode, não pode por que seu Amadeu?
-Porque não é nome de gente, é um mal que acomete o coração!
-Não me interessa se é ou não é, é diferente, soa bem e eu quero!
-Mas seu Deodato, onde já se viu? Pobre do menino!
-Vai ver está com ciúme! Faça filho e meta nele o nome que quiser! O meu filho será ‘Infarto do Miocárdio Costa de Oliveira’ e o apelido dele será ‘Infartinho do Deodato’!

O tabelião andou de lá para demovê-lo da ideia e nada de conseguir. A tarde já findava e o Deodato não arredava o pé. E quando viu que o tabelião não iria mesmo registrar o Miocárdio não teve outra saída senão sacar da peixeira e do 38 que são dois tipos de muita argumentação. O menino foi registrado e seu Amadeu ganhou mais um afilhado.

TEMPESTADE

O manto da noite cobriu a cidade dos que não voltam e trouxe junto vento, chuva e granizo. Flores mortas que cobriam as casas seguiram o vento; as que ficaram foram despedaçadas. Depois a lua surgiu e iluminou os destroços de metal, plástico, madeira e cimento espalhados pelos estreitos corredores e becos. Um pássaro tardio na fuga jazia sobre o brilho do mármore no berço de um ilustre filho da terra. A cruz mestre tombou sobre velas apagadas e pequenos vasos que estavam sob seus pés. Sobrou apenas um miseravelzinho do qual o limo já tomava conta. Dois mendigos que dormiam num jazigo-hotel conseguiram sair ilesos, pois o dito fora construído com material de primeira e obrado por mãos de quem sabia o que estava fazendo, sendo que não havia goteiras tampouco corrente de vento. Estiveram bem seguros durante o evento da tempestade. Já pequenas árvores também foram vítimas e se deitaram sobre túmulos com que num abraço. Logo ao lado na cidade vida, na cidade barulho, na cidade luz, nada, nem mesmo um ventinho soprou naquela noite. Muitos tentaram explicar, mas ninguém convenceu. Alguns mentirosos criativos dizem ter visto a figura do demônio soprando sobre o cemitério as nuvens da tempestade. Dizem...

PARAÍSO

Com a trouxa nas costas a devota formiguinha Laura saiu da sua comunidade para conhecer o mundo de fora apesar dos protestos dos pais. Depois de perambular pelo jardim entrou numa bela casa e andando pela cozinha encontrou um enorme açucareiro. Resolveu conhece-lo por dentro. Deliciou-se com tanta doçura. Tomou seu primeiro banho de açúcar. Radiante imediatamente voltou para seus familiares e amigos, contando que o Pastor Euclides está muito certo quando diz que o paraíso existe, e que está dentro daquela casa enorme e linda não muito distante dali.

OS PISTOLEIROS

Lá nos cafundós do Mato Grosso, perto de onde o diabo perdeu suas cuecas, no final de uma estrada poeirenta e quase sempre vazia, moravam os irmãos Morais; Pedro 38, Paulo 35 e Batista 30. Eram solteiros e quando precisavam se aliviar visitavam o bordel da Zefa, em Feliz Natal. Os irmãos Moraes criavam porcos e matavam gente. Mais matavam gente que criavam porcos. Matavam gente perto, matavam gente longe. O importante era a paga. Quem morria só interessava pelo preço. Faziam tudo bem feito; a justiça nunca triscou neles. Mais de trinta estavam na conta, bons lucros às funerárias. Não tinham sentimentos, pouco se importavam em deixar filhos sem pai. Eram pessoas rudes e sem bons sentimentos. A vida era assim; um serviço e depois meses de armas guardadas. O tempo corre... Certo dia chegou naqueles confins uma bela moça morena. Tinha brilho, belo sorriso e pernas roliças. Era quase noite e pediu um lugar para ficar. Com boas intenções eles acolheram a mocinha, acredite quem quiser. Foi uma noite e tanto. Rolou muito sexo e cachaça entre o quarteto. Todos dormiram embriagados e exaustos. Quando clareou o dia ela foi embora antes mesmo dos irmãos acordarem. Dela não mais se soube. Os irmãos? Só se soube que após alguns meses morreram os três da tal doença do pinto podre.

VENTO

Ainda clareava o dia chegou quando chegou o vento assoviando nas pelas venezianas, fazendo dançar arvores frondosas, tirando do repouso o telhado que dormia, dando vida ao balanço que no quintal servia às crianças. Severa aflição tomou conta do peito dos moradores enquanto a casa tremia confrontando o danado. O zumbido do não visto apenas sentido, mui assustava os grandes e os pequeninos que sabiam que não tinham para onde correr caso o teto fosse embora. Debaixo de uma mesa tosca de pernas grossas talvez fosse o refúgio seguro. O pior de tudo é que o vento não veio sozinho e trouxe consigo o granizo que pipocava em pequenos grãos brancos. O pai abraçava os pequenos enquanto a mãe acendia velas e rezava para Santa Bárbara pedindo proteção. Aos poucos o vento foi amainando e silêncio reinou. Saíram todos para ver os estragos. Nada sério, uma ou outra telha, alguns galhos miúdos quebrados, o cachorrinho Tupi bem na sua casinha. Ufa!

ROMEU E O GATO

Endividado, Romeu entrou num bueiro pra fugir das dívidas. Dentro do buraco as dívidas se transformaram em ratazanas e passaram a persegui-lo. Guinchavam e mostravam seus dentes enormes e afiados querendo morder seus calcanhares numa corrida aflitiva. Romeu já sem fôlego nem mesmo conseguia gritar por socorro, embora quem estaria dentro de um buraco daqueles para socorrê-lo? Quando as ratazanas estavam prestes a alcançá-lo eis que surge Garfield louco de fome e num piscar de olhos destroça os roedores e o leva para fora daquele lugar imundo. Romeu era um cidadão obeso. Durante o pesadelo ele caiu da cama sobre o gato que dormia sossegado, não tendo chance alguma diante do tamanho do homem, mesmo tendo sete vidas. Esmagou numa só tacada todas as vidas do bichano que morreu se perguntando-“o que esse elefante está fazendo aí?”

OS FILHOS DE BENTO MORAES

O Doutor Bento Moraes teve dois filhos com Maria Conselheira. O Prudente Moraes e o Imprudente Moraes. Tiveram os dois educação esmerada, boas escolas, falavam francês e inglês. Prudente médico e Imprudente advogado. Prudente teve três filhos, Imprudente doze. Prudente bebia moderadamente, já Imprudente falecia uma garrafa de uísque em poucas horas. Prudente gostava de esportes, já Imprudente gostava do perigo, de caçadas na selva. Prudente faleceu aos oitenta anos cercado pela família de uma doença no coração. Imprudente morreu aos 42 anos brincando na floresta com uma cobra jararaca.

 *Nossas vidas, nossas escolhas. Devemos ser livres para escolher o caminho que desejamos trilhar. Quem disse que aquele que escolheu o perigo e morreu jovem não partiu como queria e feliz?

MATUTO

Viajei a noite toda para participar pela manhã de uma reunião de negócios num hotel em Londrina. Matuto, pouco viajado, roxo de fome não via a hora de chegar a hora de almoço. Finalmente chegou e lá fui me servir. Vi umas bolinhas brancas, reluzentes, pensei ser uma iguaria. Coloquei umas oito no meu prato e quando me sentei a mesa fiquei sabendo por um colega que eram bolinhas de manteiga. E agora? Queria livra-me delas, mas havia um sujeito filmando e não conseguia uma chance. Acabei deixando elas de lado e fui em frente. Na sobremesa outra fria. Dei de cara com um pudim enorme, daqueles que eu gosto de comer bem gelado. Pois dei um talho no dito pudim e preparei-me para devorar o doce de minha preferência. Pois o diacho do pudim estava quente, e eu com metade dele no prato. Não foi fácil para engolir. Matuto sofre, matuto aprende.

"Os porcos vermelhos lamentam por Fidel. Eu lamento por suas vítimas." (Cubaninho)

“Não são somente os bons que morrem. Fidel finalmente se foi, eis a prova.” (Eriatlov)

MONTANHA

Jessé era instigado sempre pelos familiares para ir até a montanha aos domingos. Tranquilo, equilibrado, nunca foi, não estava interessado. Um dia bateram à sua porta. Atendeu. Era a montanha de terno e gravata com uma bíblia debaixo do braço pronta para tirar o seu sossego.

MESTRE YOKI, O BREVE

-Mestre, onde fica o inferno?
-Sobre o teu pescoço.

JULGAMENTOS

Via eu o mundo com os olhos da experiência daquilo que vivera
Tirando conclusões da percepção da minha janela
Então às vezes julgava  quem me é estranho
E era julgado também por quem não me conhecia
Tantos enganos e erros danosos
Acabaram por ensinar-me
Que se mesmo quem olha de perto pouco vê
O melhor que faz quem distante está é travar a língua.

MANIQUEÍSTA

Navega nas nuvens do pensar
O ingênuo salvador do mundo de soluções simplistas
Crê ele ser possível mudar o homem apenas com boa vontade
Como também erguer fogueiras na floresta sem queimar madeira.

AMEDRONTADO

Ainda criança fui amedrontado por demônios
Inoculados na mente pela santa madre igreja
Tendo no medo da morte dos pais
Todo o terror da danação eterna tão declarada
Não foram poucas as noites
Que esse pensar levou o sono embora
Trazendo para meu leito  inquietude e sofreguidão
Enquanto isso lá na paróquia
Dormiam serenos os mentirosos de batina
Inclusos na boa vida
Enquanto a mentira que pregam reinar.

“Mulheres e gorjetas prefiro as gordas.” (Fofucho)

PAULINHO, O ENJOADO

Morador da favela do Zulu, Paulinho chega  da escola e pede uma laranja. A mãe:
-Não temos laranja!
-Mamão?
-Não temos!
-Presunto tem?
-Não!
-Mortadela?
-Também não!
-Pão?
-Não!
-Arroz?
-Não!
-Salame?
-Não!
-Bolachas?
-Não!
-Pão seco?
-Neca!
-Não temos nada para comer nesta casa?
-Temos sim! Você é que é enjoado! No forno temos lagosta ao molho branco, bobó de camarão e costeletas de carneiro ao molho de tomate. Na fruteira há tâmaras, damascos, abricós e um pouco de chokecherry. Na despensa há Caviar Almas e outros. Por favor, largue mão de enjoamentos!

APÓS DESCOBRIR MAIS UM CIFRES CLIMÉRIO PERGUNTA

“Será que nasci para ser um corno crônico?” (Climério)

SOCIALISMO, PUTZ!

Sem o riso o socialismo é mortal. O esculacho é fundamental para os mantermos no devido lugar, no cantinho dos medíocres, os amantes da utopia do papai estado.

PODEMOS ATÉ DIZER QUE É UM CASAMENTO

“Os partidos políticos brasileiros estão todos unidos pelo matrimônio, digo patrimônio. O nosso.” (Mim)

ERIATLOV

“Chevara , o tal ícone da esquerda festiva, assassina e mão grande se achava acima da lei. Matava sem julgamento. Um torpe.” (Eriatlov) 

“Guevara queria lavar a América de sangue. Conseguiu na Bolívia uns buracos de bala no peito.” (Eriatlov) 

“Querer tutelar o semelhante e impor seu modo de vida é coisa de crente e comunista. Liberdade , respeitando o direito alheio , consciência, dever e ação responsável. “ (Eriatlov) 

 “Muitos quiseram implantar no planeta um paraíso segundo sua ótica, mas no fim acabaram se tornando monstros sem limites.” (Mim)

O OUTRO LADO

Não é arrogância e nem presunção
Apenas convicção
Que para o corpo morto
Existe sim o outro lado
Que é o lado de dentro do caixão.

“Há homens bons e homens maus. Os bons são fáceis de identificar, já os maus dão mais trabalho pois andam sempre maquiados.” (Filosofeno)