segunda-feira, 30 de março de 2015

“Podem construir o socialismo energúmenos, porém não à custa do meu suor!” (Limão)

“Admito igualdade perante as leis. O resto é conversa de lunático ou de vadio.” (Eriatlov)

“Não basta ser comunista, ainda precisa ter as mãos grandes?” (Eriatlov)

“PT, papo até galinha tem. O caso é que papo não bate com os fatos.” (Eriatlov)

“É uma lástima que não tenhamos por aqui escassez de bandidos e abundância de policiais.” (Mim)

“União nacional” pela “paz social”? Por favor, Michel Temer…

“União nacional” pela “paz social”? Por favor, Michel Temer…

michel-temerTemos sustentado – e cremos que com razão – que, em matéria de política, é preciso evitar anseios afobados, por melhores que sejam as intenções, e saber administrar a seu favor os instrumentos concretamente à disposição, mesmo que estes não sejam ideais. Inútil e perigoso seria buscar atalhos revolucionários ou golpistas. Entretanto, é igualmente recomendável que não nos iludamos com esses possíveis instrumentos, cientes de suas limitações. É o caso do PMDB. A legenda tem sido uma pedra no sapato do PT em muitas questões, evitando a plena ocupação de espaços pelo partido vermelho, resistindo a projetos como regulação da mídia e aborto, e contrapondo seu próprio modelo de reforma política (no qual também se podem apontar defeitos, aliás) às “sugestões” ameaçadoras da cartilha da estrela. Não podemos esquecer, porém, que o PMDB pertence à base aliada e caminha por essa estrada tortuosa junto com o indigesto “parceiro” há uns bons anos. O vice-presidente, Michel Temer, em sabatina para o Canal Livre da TV Bandeirantes na madrugada de domingo (29/03), deixou isso muito claro no tom que adotou para responder às perguntas.
Os caciques do PMDB estão sempre a avaliar a situação para definirem o que será mais benéfico às suas ambições nada modestas. Num contexto de ampla revolta popular, em que a economia deteriora de forma grosseira, a moeda se desvaloriza, o país sofre o impacto traumático da maior crise de corrupção da história republicana, e as ruas estão às voltas com os maiores protestos da tenra e combalida democracia brasileira, francamente não sabemos dizer se o tom comedido e por demais governista de Temer atende aos seus interesses. Estaria ele sendo inteligente? Não sei. Quanto a estar sendo cínico e insensível como só consegue ser o mais hipócrita defensor do petismo e do “dilmismo” – se é que nossa presidente merece ter seu nome identificado com uma “corrente política”, do que não creio que ela seja digna -, isso decididamente está.
Temer fez questão de frisar que o PMDB ganhou as eleições, ao lado do PT – a verdade, ainda que nada lisonjeira. Ainda que a lisura dessas eleições, em que o PT usou e abusou da máquina pública, das leis eleitorais e do recurso às mentiras e agressões mais sórdidas, não seja mais do que um castelo de vidro, ao qual não é nenhuma grande honra estar associado. Discursou, como costumam fazer os nossos políticos, como se o PT fosse um partido normal e não estivéssemos vivendo um franco combate a um projeto de poder que tem tramado diuturnamente a substituição de nosso sistema de pendor liberal-democrático por sua agenda autoritária. Temos apenas que lidar com discussões rotineiras por cargos e negociações inteiramente normais. Pois quê!
Problemático mesmo, porém, foi que ele pontuou que há um “clima de pessimismo” e que isso “não é bom para o país”. Em um “otimismo” imoral, porque segue alimentando as venenosas ficções tecidas na campanha eleitoral, Temer diz acreditar piamente que as medidas de ajuste fiscal e a “intervenção do governo” – por que será que não apreciei o uso dessa expressão? – melhorarão mais que depressa nossos problemas, e que “trabalhar contra” isso neste momento seria contraproducente. Precisaríamos de “unidade nacional” pela “paz social”. Muito bonitinho – por isso mesmo, surreal – esse papinho “conciliador” do vice-presidente, mas o que de fato ele quis dizer com isso? Se ele clama por essa união, significa, quero crer, que há quem a esteja ilegitimamente obstaculizando. Quem seria? A oposição, cujo dever é, francamente, se opor? É uma lástima ainda ter que explicar isso para quem, assim como Temer, julga que temos, como ele disse, uma democracia robusta – mas que, ao mesmo tempo, estaria ameaçada por uma “crise institucional” caso um processo de impeachment contra a presidente Dilma fosse instaurado.
Vice-presidente, a “crise institucional” já está aí. Esse governo de que, apesar das rusgas, o senhor faz parte, fez-se responsável por permití-la e provocá-la. A oposição, ao cumprir seu dever de, repetimos, se opor, para parafrasear o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um momento de lucidez, apenas ataca o que não deve ser salvo. Divisão? Quem mais a incita que o discurso beligerante do governo, que ameaça pôr o “exército” do MST nas ruas, que nos divide entre povo (isto é, quem vota no PT, claro) e “elite branca”? É verdade que Temer, enquanto parece não ver na situação esse monstro todo que essa oposição impaciente está enxergando, reconhece que o governo precisa “prestar atenção” aos sinais dados nas ruas, embora um impeachment seja, a seu ver, “impossível” e perigoso. No entanto, essas vozes só se manifestam porque, nos últimos anos, diz ele, “demos voz para 35 milhões de pessoas. Essa gente engrossou a classe média e passou a se manifestar”. É isso mesmo, Temer? As pessoas estão se manifestando contra o governo porque o governo as ajudou? Elas seriam tolas e ingratas, por acaso? Os benefícios legados pelo Plano Real e pela conjuntura internacional tiveram muito mais a ver com qualquer melhoria que experimentamos do que as medidas populistas do assistencialismo petista e seu manuseio leviano das estruturas macroeconômicas, isso já se cansou de repetir. Mais ainda, deveria ser óbvio, se deve atribuir ao sucesso dos indivíduos o esforço empreendido por eles mesmos. Temer, também ele, se vai ufanando das “políticas sociais” e da “caridade” do “Papai Estado” e se esquece convenientemente desses notórios detalhes.
Nada disso deve desanimar ou desestimular quem vai ás ruas protestar no dia 12 de abril – muito ao contrário, estejamos lá. Nossa pressão será fundamental, e não é impossível – nem, talvez, improvável – que ela provoque o PMDB contra Dilma, o que seria interessante no momento, não há negar. Ouvir Temer dizer tais asneiras só nos deve estimular ainda mais para lhe dar um recado muito claro e estridente. Não podemos, entretanto, ignorar quem são as pessoas com quem estamos lidando, e muito menos, por certo, depositar nelas alguma confiança.

“Minha mãe queria que eu fosse padre. Tornei-me um podre.” (Climério)

“Eu deveria caminhar mais. Mas desanimo quando vejo tanto gordo caminhando.” (Fofucho)

“Há sem dúvida uma enorme diferença entre servos de Deus com os tais que se servem de Deus.” (Filosofeno)

LYA LUFT TAMBÉM CHAMA PARA AS MANIFESTAÇÕES DE 12 DE ABRIL

Aviso que manda a escritora gaúcha Lya Luft na sua coluna de hoje ("Fundo do mar") da revista Veja de hoje:

- Se sair a manifestação de 12 de abril, lá estarei, de bengalinha, orgulhosa de poder fazer alogo mais concreto pelo bem deste País, do qual minha família fez a sua pátria há 200 anos. 

As manifestações previstas para o dia 12 pretendem reunir 4 milhões de pessoas, quase o dobro do que foi registrado no dia 14 de março.

Caso este número se concretize, estará aberto o caminho para o impeachment de Dilma.

Para que isto ocorra, bastará manter a mobilização e emocionar mídia e Congresso.

Caio Blinder- Martin Wolf e o futuro do Brasil (sempre o país do futuro?)

Guru econômico do Instituto Blinder & Blainder
Os leitores mais íntimos da coluna sabem que Martin Wolf é uma referência neste espaço. Wolf é personagem da coluna-pétrea de férias. O Instituto Blinder & Blainder é ignorante sobre alguns assuntos e mal balbucia economês. Nem sempre entende o que Wolf está dizendo, mas não sai de casa (ou de férias) sem ele. Martin Wolf deu uma entrevista sobre o Brasil para VEJA.com. Deu para entender tudinho. Não estou de férias, mas para que pegar no pesado na segunda-feira se tenho as palavras do meu guru?
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Naiara Infante Bertão
O Brasil é a sétima economia do mundo e se movimenta tão rápido quanto um mastodonte: não consegue avançar com a rapidez necessária para dar um grande salto de desenvolvimento. A avaliação é do economista britânico Martin Wolf, comentarista-chefe do Financial Times e atento observador da economia brasileira. Segundo Wolf, o quadro de estagnação da economia brasileira só vai mudar se o país conseguir melhorar consideravelmente sua taxa de poupança e investimentos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil cresceu apenas 0,1% no ano passado. Se em 2014 o país escapou da contração econômica por causa da mudança de metodologia no cálculo do PIB, em 2015, será difícil reverter o número vermelho. Expectivas de economistas consultados pelo Banco Central (BC) para o relatório Focus mostram contração de aproximadamente 0,87% no ano. “Essa situação é muito improvável de ser mudada em breve, especialmente ciclicamente. Se isso o faz permanentemente o país do futuro, então ele continuará assim”, afirma o economista. Leia trechos da conversa.
A crise econômica brasileira deve perdurar no longo prazo?
Não está muito claro se o Brasil, de fato, passa por uma crise. A meu ver, parece mais que o país está vivendo no período baixo de um longo ciclo econômico que deve levar ainda um tempo. De 2000 a 2014 o Brasil cresceu, em média, aproximadamente 3% ao ano. Ao que parece, essa é a taxa de crescimento potencial do país sob as atuais políticas e estruturas econômicas. De qualquer forma, eu não vejo como o Brasil poderia ter um forte crescimento no ano que vem, dada a situação fiscal e a desaceleração da economia da China. É preciso entender que o Brasil é uma economia grande e de baixo crescimento, com baixíssimas taxas de poupança nacional e investimento doméstico. Essa situação é muito improvável de mudar logo, especialmente ciclicamente. Se isso o faz permanentemente o país do futuro, então ele continuará assim.
O boom de crescimento baseado em consumo foi uma ilusão?
De certa forma, sim. Houve um otimismo excessivo. A expectativas eram excessivas e as pessoas interpretaram um ciclo de bonança como uma tendência. Acho difícil que o Brasil volte a despertar esse tipo de euforia. Mas não se pode exagerar também. O Brasil é atraente para investidores estrangeiros por seu tamanho, dado o grande mercado consumidor e de fontes naturais. O que o Brasil precisa é de maiores investimentos e poupança. Esta é a necessidade há muito tempo. O melhor estímulo vem do maior investimento, não do consumo.
A solução do problema fiscal ainda em 2015 não é descartada pelo governo. O que o senhor acha disso?
Eu não sei se a presidente conseguirá fazer o que é preciso. Eu não posso dizer que eu acho que o Brasil vive um sério problema fiscal porque os níveis de dívida líquida pública são modestos em comparação ao Produto Interno Bruto e o déficit fiscal não aparenta ser tão grande também. Não obstante, um país com uma taxa de poupança privada tão baixa precisa de uma posição fiscal mais forte. O maior problema do setor fiscal, contudo, é que os gastos do governo tem uma participação muito alta no resultado do PIB para um país com esse nível de desenvolvimento.
O governo brasileiro tem usado como desculpa a crise internacional para justificar a crise econômica brasileira. O senhor concorda com essa avaliação?
Acredito que a fonte das dificuldades que o Brasil enfrenta é predominantemente doméstica. O Brasil sentiu muito menos os efeitos da crise internacional por causa do boom das commodities. O problema é que os benefícios desse boom foram desperdiçados.
O México é comparado ao Brasil em muitos aspectos. Você acha que isto é porque os investidores confiam mais no governo mexicano ou nos números de sua economia?
O México é visto como um país que fez reformas estruturais importantes nos últimos anos, enquanto o Brasil, não. Contudo, os dois não são muito diferentes, apesar dos contrastes óbvios na estrutura e direção do seu comércio. Ambos precisam melhorar bastante a governança e aumentar a poupança e a taxa de investimentos. Mas o Brasil precisa de reformas estruturais em sua economia também – o que o México já tem tentado fazer recentemente.

“Nunca fui de bater nos outros. Minha especialidade sempre foi apanhar.” (Mim)

SideShow Bob- Como educar as crianças sobre o governo! "Ensine seus filhos sobre impostos: coma 30% do sorvete deles".

O dinheiro sujo de sangue dos Kirchner

Neste domingo, o Clarín publicou uma reportagem afirmando que a ex-ministra da Defesa da Argentina, Nilda Garré, implicada no acobertamento do atentado na Amia, manteve contas bancárias nos Estados Unidos e no Irã.
Hoje a Veja disse que Nilda Garré teve duas contas conjuntas nos Estados Unidos e nas ilhas Caymã com o filho de Cristina Kirchner, Máximo Kirchner.
A primeira conta, de número 00049859852398325985, foi aberta em outubro de 2005 no Felton Bank. O primeiro depósito na conta foi feito a partir de Caracas, na Venezuela. O saldo em abril de 2010 era de 41,7 milhões de dólares.
A segunda conta, de número 0004496857463059686359385, foi aberta em dezembro de 2006 a partir de Luxemburgo, na Europa, no Morval Bank & Trust Ltd., com sede nas Ilhas Caymã. Os correntistas eram Nilda Celia Garré, Maria Paula Abal Medina (filha de Nilda) e Máximo Kirchner. O saldo em abril de 2010 era de 19,8 milhões de dólares, segundo a fonte do setor financeiro com a qual a Veja obteve as informações.
O Antagonista

Imprensa independente é aquela que sempre vigia o governo

A liberdade de imprensa é um dos pilares de qualquer sistema livre. Sem ela, governantes podem abusar do poder sem tanta vigilância. Não foi por outro motivo que Thomas Jefferson chegou a optar: “Se tivesse que decidir se devemos ter governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último”. O papel principal do jornalista é levar à população o conhecimento dos fatos, inclusive e especialmente daqueles incômodos aos governantes poderosos.
Esse foi o tema da coluna de Carlos Alberto Di Franco no Estadão hoje. Após constatar que algo mudou no país após 15 de março, quando dois milhões de brasileiros tomaram as ruas em prol da cidadania, Di Franco lembra desse fundamental papel da imprensa independente, em contraste com a mídia chapa-branca que apenas bajula governantes em troca de esmolas – às vezes “esmolas” milionárias. Diz ele:
DiFranco
O autor comenta também a covardia dos que cedem ao politicamente correto, aderindo ao silêncio diante da pressão dos grupos organizados ligados ao governo. A intolerância dos radicais que tentam dividir o Brasil ao meio, como faz o PT, sempre jogando uns contra os outros, fomentando o ódio da luta de classes, teria sido repudiada pelas manifestações também, prova maior da miscigenação nacional. O PT e seus militantes não suportam isso, e adorariam impor uma “democracia” totalitária, com o respaldo da ditadura do politicamente correto.
Jornalistas que se deixam acuar por conta disso ignoram sua função na sociedade. Sucumbir a esta pressão é deixar de informar de forma mais imparcial, uma espécie de autocensura que limita a liberdade de expressão no país. Eis outro grande perigo para nossas liberdades, já tão ameaçadas pelo atual governo.
Claro que esse risco não é exclusividade nossa. É, na verdade, a tendência na América Latina, especialmente nos países bolivarianos. O senador Aécio Neves também usou o tema em suacoluna de hoje na Folha, após ter ido a um evento no Peru a convite de Mario Vargas Llosa.
Abro um parêntese: que diferença entre um candidato que vai a um evento organizado por Vargas Llosa e a outra que defende Maduro e Fidel Castro. Mas as urnas eletrônicas escolheram Dilma, fazer o quê? Fecho parêntese.
Aécio Neves condena o silêncio cúmplice do governo Dilma em relação ao abuso de poder dos líderes autoritários camaradas. Entre tantos abusos está justamente a asfixia da liberdade de expressão nesses países. Diz o senador tucano:
No que diz respeito ao Brasil é preciso reconhecer que continua inexistindo uma política externa eficiente do ponto de vista comercial e corajosa no campo político, capaz de fazer valer nossas posições. A natural liderança do nosso país no continente se apequenou. A defesa de valores humanitários universais cedeu lugar à conveniência de aliados alinhados ideologicamente.
É sempre danoso quando governos priorizam o discurso, a propaganda e projetos de poder. Quem paga a fatura é a população. Em especial, os mais pobres, aqueles em cujo nome alguns governos dizem agir para tentarem se colocar acima do bem e do mal.
Uma reportagem na Folha de hoje mostra justamente como governos que conseguem calar jornalistas avançam rumo ao autoritarismo. Foi o caso do México, que teve sua mais famosa jornalista demitida por pressão do governo. Segundo ela, seu país vive um “vendaval autoritário”. O motivo da demissão? Escândalos do governo expostos pelos jornalistas:
“Não tenho dúvidas de que houve pressão do governo e de que a razão foi o fato de termos divulgado o caso da ‘Casa Branca’. A emissora ficou também com nossos computadores e arquivos relacionados a essa e outras investigações”, disse Aristegui em entrevista à Folha, por telefone.
Com sua equipe de 17 jornalistas, todos também demitidos agora, Aristegui trouxera à tona a revelação de que a primeira-dama do país, a atriz de novelas Angélica Rivera, havia recebido uma mansão de US$ 7 milhões de Juan Armando Hinojosa, um empresário favorecido em várias licitações do governo.
Jornalismo verdadeiro é sempre um vigia do governo, agindo para impedir o abuso de poder e para expor os fatos incômodos. Qualquer outra coisa não merece o nome. Os “jornalistas” que vivem da bajulação ao governo são uma vergonha para a categoria. Aqueles que se curvam diante da pressão dos grupos organizados em prol das “minorias” e do politicamente correto também são. Só há jornalismo de fato onde há independência e coragem. Infelizmente, atributos raros em nosso país.
Rodrigo Constantino

O paradoxo de Stalin: o autoengano dos canalhas


“Por pior que seja aos olhos dos outros, nenhum homem consegue suportar uma imagem horrível e repugnante de si mesmo por muito tempo.” (Eduardo Giannetti)
Ao revisar para a publicação a sua biografia oficial, o ditador Stalin ordenou que fosse incluída uma frase mencionando que ele jamais deixou que seu trabalho fosse prejudicado pela mais leve sombra de vaidade, presunção ou idolatria. Negar dessa forma tão grotesca a vaidade é justamente confessá-la abertamente, aos brados! A questão que fica é se o ditador soviético pretendia enganar de forma deliberada seu público ou se mentia para si mesmo. Normalmente, o hipócrita é mais calculista, medindo os efeitos de seus atos e colocando-se no lugar da vítima, para não errar o alvo. Um absurdo tão flagrante desses parece mais ser um caso de enorme auto-engano mesmo. Mas nunca se sabe!
O auto-engano é uma estratégia útil para a sobrevivência e procriação das espécies. Temos inúmeros casos entre os diferentes seres vivos, desde vírus, passando por plantas, animais e finalmente o homem. Evidentemente que não faz muito sentido falar em auto-engano para animais sem consciência, pois se trata apenas de um mecanismo automático do seu instinto de sobrevivência. Mas a analogia não deixa de ser útil, quando sabemos que uma cobra-coral falsa age como a verdadeira, ainda que sem seu veneno, intimidando os possíveis predadores. Como diz Eduardo Giannetti, em seu livro Auto-Engano: “O enganador auto-enganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista”. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com toda a inocência e boa-fé do mundo. Assim fica mais fácil convencer os demais.
A fé dogmática na ideologia é uma arma poderosa para o auto-engano, permitindo as maiores atrocidades em nome da causa. O fervor religioso sempre trouxe consigo tal perigo, especialmente na seita socialista. Os corruptos não se vêem como tais, pois roubam “em nome da causa”, ainda que os benefícios concretos sejam bem individuais. Os assassinos são perdoados pois “os fins justificam os meios”. Entre seus líderes e seguidores, resta apenas identificar os hipócritas oportunistas e a legião de inocentes úteis, ludibriada pela fé, ou seja, os sinceramente errados. “O auto-engano coletivo em grande escala é a resultante trágica e grotesca de uma multidão de auto-enganos sincronizados entre si no plano individual”, afirma Giannetti.
Os exemplos oferecidos pelo autor são a Inquisição ibérica, o nazismo e o comunismo. A cura está no pensamento independente, rigoroso com a lógica e a veracidade dos fatos. Como coloca o autor, “abrir-se à dúvida radical – à possibilidade de que estejamos seriamente enganados sobre nós mesmos e sobre as crenças, paixões e valores que nos governam – é abrir-se à oportunidade de rever e avançar”. Ou seja, “é ousar saber quem se é para poder repensar a vida e tornar-se quem se pode ser“. O princípio socrático de autoconhecimento seria parte indispensável da melhor vida ao nosso alcance.
Entretanto, Giannetti assume que “a condição humana não comporta demasiado autoconhecimento”. Em outras palavras, há um limite até onde podemos ir, sem perder a faísca das paixões e virar uma máquina fria e calculista. Conforme o “homem subterrâneo” de Dostoievski diz, “há algumas coisas que um homem teme revelar até para si mesmo, e qualquer homem honesto acumula um número bem considerável de tais coisas”.
A busca da objetividade é fundamental, portanto. Segundo Giannetti, “o ideal da objetividade cobra do sujeito do conhecimento uma disciplina que não é apenas técnica e intelectual”. A ética é imprescindível. Ele diz: “A boa conduta da mente no esforço cognitivo requer, entre outras coisas, a honestidade de não se dar como sabido o que se ignora, o respeito à evidência e a disposição de não facilitar as coisas para si mesmo”. Quantos não buscam justamente conforto em vez de fatos incômodos para as crenças preconcebidas?! Darwin chegou a criar sua “regra de ouro” metodológica, para driblar o auto-engano. Ela consistia em registrar prontamente por escrito qualquer fato empírico ou argumento contrário àquilo que ele tendia a acreditar.
O auto-engano não é a ignorância simples de não saber e reconhecer que não sabe. Ele é a pretensão ilusória e infundada do autoconhecimento, uma certeza de saber sem saber na verdade. A ignorância é não saber de algo; a estupidez é não admitir esta ignorância. Mas isso não é o mesmo que negar a possibilidade do conhecimento. “Descartar a possibilidade de um conhecimento final e afirmar o caráter hipotético de todo saber não significa, contudo, cair no extremo oposto de que nada é ou pode ser conhecido”, escreve Giannetti.
O fervor religioso é uma das grandes causas do auto-engano em larga escala. Ele, com freqüência, “mobiliza aquilo que um homem tem de melhor e de mais elevado para colocá-lo a serviço do que há de pior e mais abominável”. Um exemplo citado por Giannetti é o caso do imperativo cristão de “amar ao próximo como a si mesmo”. Estender aos outros o amor-próprio é irrealista. Distribuir o amor de forma rigorosamente igualitária significa destruí-lo. Giannetti é direto: “Quem diz que ama o próximo como a si mesmo não pensa no que diz ou está mentindo – alimenta-se e dorme regularmente enquanto tem gente passando fome na esquina”. Mas o auto-engano de que realmente se acredita na máxima religiosa faz o crente se sentir bem, mesmo que não esteja professando uma verdade. Note-se que isso não é o mesmo que hipocrisia, onde o sujeito deliberadamente afirma algo sabendo ser falso. O auto-engano é, por natureza, uma ocorrência passiva, e não resultado de má-fé. Diferente do engano interpessoal, o auto-engano não é consciente ou deliberado.
O envolvimento de emoções fortes e poderosas no processo de formação de crenças é motivo de sobra para que se proceda com máxima cautela. Como bem coloca Giannetti, “o brilho intenso ofusca e é inimigo da luz”. Todos aqueles que divulgam aos ventos como são altruístas, colocando sempre o interesse dos outros acima do próprio e se sentindo o mais justo dos homens, deveriam parar para pensar friamente em sua solidão. Seus atos correspondem ao que a boca diz? Afinal, na maioria dos casos os “altruístas” não passam de egoístas exigindo o sacrifício alheio em benefício próprio. Podem ser apenas mais algumas vítimas do paradoxo de Stalin…
Texto presente em “Uma luz na escuridão”, minha coletânea de resenhas de 2008.

“Com tantos pastores milagreiros curando e fazendo de tudo não sei por que algumas pessoas ainda insistem em estudar medicina.” (Mim)

“Não tenho mais vitalidade, mas continuo o mesmo sem-vergonha de sempre.” (Nono Ambrósio)

“Quando jovem meu dinheiro era tomado pelas putas. Agora pelas farmácias.” (Nono Ambrósio)

“Quem já viveu sob o comunismo não precisa temer o inferno.” (Eriatlov)

“Não tenho maçãs no rosto. Tenho abóboras.” (Fofucho)

“Sou do tipo que não sai de casa sem antes meter fogo no horóscopo.” (Mim)

“Às vezes estar só faz bem. Somente a nós precisamos suportar.” (Mim)

ROMBOBRAS- BNDES perde R$ 2,6 bi com Petrobras, e balanço é aprovado com ressalvas

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido de 8,59 bilhões de reais em 2014, alta de 5,4% em relação a 2013. Mas a KPMG, auditoria independente que aprovou o balanço financeiro, fez a ressalva de que o valor está inflado em 1,6 bilhão de reais. Os dados estão em relatório publicado na edição desta segunda-feira do Diário Oficial da União (DOU). As ressalvas da KPMG se devem ao registro de perdas de 2,6 bilhões de reais com a participação societária do banco na Petrobras. Contudo, como o banco já havia provisionado perdas de 1 bilhão de reais para os negócios com a estatal, a auditoria apontou que "apenas" 1,6 bilhão foram inflados. O BNDES comenta, em relatório, o investimento na Petrobras: "em 31 de dezembro de 2014, seu valor de mercado, apurado com base na cotação das ações em bolsa de valores, apresentava desvalorização em relação ao respectivo custo de aquisição".
Leia mais...http://veja.abril.com.br/noticia/economia/bndes-perde-r-26-bi-com-petrobras-e-balanco-e-aprovado-com-ressalvas

“Os maiores exploradores da ignorância estão nos púlpitos e nos partidos políticos. Às vezes estão juntos.” (Filosofeno)

“As religiões usam o demônio como Diretor de Marketing. E não que o homem é bom?” (Limão)

IMB-Karl Marx e a diferença entre comunismo e socialismo

No dia 10 de setembro de 1990, o multimilionário escritor, economista e socialista Robert Heilbroner publicou um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após o Comunismo".  A URSS já estava em avançado processo de colapso. 
Neste artigo, Heilbroner recontou a história de como Ludwig von Mises, ainda em 1920, havia provado que o socialismo não poderia funcionar como sistema econômico.  Neste artigo, Heilbroner disse essas três palavras: "Mises estava certo".
Mas aí vem a dúvida: qual a diferença entre comunismo e socialismo?  Mises havia concluído que o socialismo não poderia funcionar, mas o que realmente entrou em colapso foi um sistema rotulado comunismo.  Há alguma diferença?
História
Quando Karl Marx e Friedrich Engels começaram a escrever conjuntamente, no ano de 1843, Marx era a figura dominante.  Engels era um melhor escritor, e era ele quem sustentava Marx financeiramente.
Marx passou toda a sua carreira se opondo àquilo que ele chamou de "socialismo utópico".  Ele nunca interagiu com nenhum grande economista ou teórico social.  Você pode procurar, mas jamais encontrará qualquer refutação sistemática feita por Marx a Adam Smith, por exemplo.  Marx gastou suas energias criticando verbalmente vários autores de esquerda, cujos escritos praticamente não tiveram nenhuma influência sobre a Europa em geral.
Dado que ele estava constantemente atacando autores socialistas, Marx criou uma teoria própria sobre o comunismo.  Ele chamou essa sua teoria sobre o comunismo de "socialismo científico".  Marx argumentou que, inerente ao desenvolvimento da história, há uma inevitável série de etapas.  Isso significa que ele era um determinista econômico.  Ele acreditava que o modo de produção é fundamental em uma sociedade e que o socialismo seria historicamente inevitável porque haveria uma inevitável transformação do modo de produção da sociedade.
Todos os aspectos culturais da sociedade, sua filosofia e sua literatura formariam, segundo Marx, a superestrutura da sociedade.  Já a subestrutura — ou seja, seus fundamentos — seria o modo de produção.
Segundo Marx, sua análise econômica revelava uma inevitável linearidade dos vários modos de produção.  O comunismo primitivo levou ao feudalismo.  O feudalismo levou ao capitalismo.  O capitalismo levará a uma bem-sucedida revolução do proletariado.  O proletariado irá impor o socialismo.  E, do socialismo, surgirá o comunismo.
Esse processo linear fecha o círculo.  Tudo começou com o comunismo primitivo, e tudo levará ao comunismo supremo.  Com o comunismo supremo, toda a evolução histórica estará completa. 
Só que Marx nunca explicou por que a evolução das etapas seria dessa maneira.  Ele nunca explicou por que não haveria outra revolução após a chegada do comunismo supremo, a qual levaria a um modo de produção maior que o comunismo.  Era mais conveniente apenas finalizar esse processo linear no comunismo.
A União Soviética jamais alegou ter chegado ao estágio comunista do modo de produção.  Ela sempre se disse socialista.  O nome do país era União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.  Os líderes supremos da União Soviética jamais alegaram que a URSS havia alcançado a etapa final do modo de produção.  Stalin promoveu o conceito de socialismo em apenas um país.  Ele diferia de Trotsky nesse quesito.  Trotsky queria uma revolução do proletariado em nível global.  Stalin era mais esperto.  Ele queria o poder e, sendo assim, ele sabia que, antes de tudo, teria de consolidar o poder em um país. 
Logo, Trotsky teve de fugir do país, e Stalin enviou o agente Ramón Mercader, do Comissariado do Povo para Assuntos Internos, para matá-lo na Cidade do México.  O agente matou Trotsky com um golpe de picareta em seu crânio.  Foi um ato cheio de simbolismo.  A picareta havia sido um dos ícones da história da Rússia.
O socialismo é a propriedade estatal dos meios de produção.  Mas Marx profetizou que o estado desapareceria sob o comunismo.  Ele nunca explicou como ou por que isso iria acontecer.  Sua teoria era bizarra.  Ele dizia que, para abolir o estado, era necessário antes maximizá-lo.  A ideia era que, quando tudo fosse do estado, não haveria mais um estado como entidade distinta da sociedade; se tudo se tornasse propriedade do estado, então não haveria mais um estado propriamente dito, pois sociedade e estado teriam virado a mesma coisa, uma só entidade — e, assim, todos estariam livres do estado.
O raciocínio é totalmente sem sentido.  Por essa lógica, se o estado dominar completamente tudo o que pertence aos indivíduos, dominando inclusive seu corpo e seus pensamentos, então os indivíduos estarão completamente livres, pois não mais terão qualquer noção de liberdade — afinal, é exatamente a ausência de qualquer noção de liberdade que o fará se sentir livre.
Igualmente, Marx nunca mostrou como o sistema de produção poderia ser organizado nessa etapa suprema do comunismo, na qual não haveria nem um livre mercado e nem um planejamento centralizado pelo estado.  Ele nunca forneceu qualquer detalhe sobre como seria uma sociedade comunista, exceto em uma breve passagem que foi publicada em um livro escrito conjuntamente com Engels e com o homem que os havia apresentado em 1843, Moses Hess.  O livro foi intitulado A Ideologia Alemã (1845).  Só foi publicado em 1932.  Hess jamais ganhou créditos por sua co-autoria, mas parte do manuscrito aparece em sua coletânea de escritos.
Eis a descrição do comunismo:
Assim que a distribuição do trabalho passa a existir, cada homem tem um círculo de atividade determinado e exclusivo que lhe é imposto e do qual não pode sair; será caçador, pescador, pastor ou um crítico, e terá de continuar a sê-lo se não quiser perder os meios de subsistência
Na sociedade comunista, porém, onde cada indivíduo pode aperfeiçoar-se no campo que lhe aprouver, não tendo por isso uma esfera de atividade exclusiva, é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar da manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.
Esta fixação da atividade social, esta petrificação do nosso próprio trabalho num poder objetivo que nos domina e escapa ao nosso controlo contrariando a nossa expectativa e destruindo os nossos cálculos, é um dos fatores principais no desenvolvimento histórico até aos nossos dias.
Não obstante o fato de que há aproximadamente 70 volumes das obras de Marx e Engels, essa é a passagem mais longa que descreve o funcionamento de uma sociedade comunista e de como seria a vida sob esse arranjo.
Conclusão
Socialismo foi o sistema que realmente foi colocado em prática.  Comunismo pleno nunca existiu e não passa de uma utopia cujo funcionamento jamais foi explicitado em trechos maiores do que um parágrafo.
Sem uma economia monetária — ou seja, sem uma economia em que os cálculos de lucros e prejuízos são possibilitados pelo dinheiro — é impossível haver uma ampla divisão do trabalho. 
E sem um livre mercado para todos os bens, mais especificamente para bens de capital, é impossível haver um planejamento econômico racional.
A propriedade comunal dos meios de produção (por exemplo, das fábricas) impede a existência de mercados para bens de capital (por exemplo, máquinas).  Se não há propriedade privada sobre os meios de produção, não há um genuíno mercado entre eles.  Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços legítimos.  Se não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de preços.  E sem esse cálculo de preços, é impossível haver qualquer racionalidade econômica — o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, impossível de ser planejada. 
Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não há como direcionar o uso de bens da capital para atender às mais urgentes demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível. 
Em contraste, a propriedade privada sobre o capital em conjunto com a liberdade de trocas resulta na formação de preços (bem como salários e juros), os quais permitem que o capital seja direcionado para as aplicações mais urgentes.  Ao mesmo tempo, o julgamento empreendedorial tem de lidar constantemente com as contínuas mudanças nos desejos dos consumidores. 
O arranjo socialista simplesmente impede que esse mecanismo ocorra.  Foi por isso que Mises argumentou, ainda em 1920, que qualquer passo rumo ao socialismo é um passo rumo à irracionalidade econômica.
E foi a isso que Heilbroner se referiu quando ele disse que "Mises estava certo".
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Autores:
Hans F. Sennholz, 1922-2007, foi o primeiro aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.  Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido contratado assim que chegou.  Após ter se aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education, 1992-1997.  Foi um scholar adjunto do Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua defesa vitalícia da liberdade.
David Gordon, membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre economia, política, filosofia e direito. É também o autor de The Essential Rothbard
Gary North, ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. 
Leandro Roque, editor e tradutor do site do  Instituto Ludwig von Mises Brasil.

“Dilma lutou para implantar a tal democracia cubana no Brasil. Poderia ter ficado em casa tomando Tarator (sopa de iogurte).” (Eriatlov

“Se para encontrar Jesus é preciso morrer declino deste encontro.” (Mim)

“O Senhor é meu pastor e pelo jeito do lobo também.” (Mim)

“O PT é o partido mais amigo do povo...Da Venezuela,Bolívia e Cuba.” (Mim)

“Stálin adorava mandar dissidentes para morar na Sibéria. Pois aqui no inferno o colocamos para morar dentro de um freezer. Está até com o rabo congelado.” (Satanás Ferreira)

“A Venezuela servirá de colchão para o Brasil: Vai para o buraco antes de nós!” (Eriatlov)

Instituto Liberal- Um país chamado favela

Um país chamado favela

FAVELA
Uma das características dos socialistas é oferecer provas contra si mesmos, seja por meio de seus governos, seja por meio de seus discursos e livros. Eles próprios se encarregam de deixar bem claro o quanto são incompetentes, delirantes e contraditórios, muitas vezes evidenciando o quanto são incapazes de enxergar que muitos dos fenômenos sociais que eles enaltecem fazem parte, na verdade, do argumento liberal, não do discurso socialista.
Acabei de ler Um País Chamado Favela, livro escrito por Renato Meirelles e Celso Athayde. Não perderei o meu tempo falando sobre as primeiras 25 páginas (o livro tem 167) dedicadas à tentativa de implantar no leitor adjetivos elogiosos ao livro antes mesmo dele o ler. Não perderei meu tempo debochando das apresentações assinadas por “grandes intelectuais brasileiros”, tais como Preto Zezé, MV Bill e… Luciano Huck! Também não perderei tempo enumerando as distorções na leitura da história recente do Brasil. Comprei o livro por causa das estatísticas que os autores oferecem.
Resumidamente, para 96% dos moradores das 63 favelas pesquisadas, NÃO foram políticas públicas as responsáveis pela melhoria da qualidade de vida. Para 14%, a família foi a causa, para 40% foi Deus o responsável e para 42% a melhoria de suas vidas foi obra tão somente de seus próprios esforços, ou seja, aquilo que os liberais gritam todos os dias – a potência do indivíduo!
Além de dados, a pesquisa que gerou o livro também oferece relatos de empreendedorismo dentro de comunidades distantes das ações estatais, salientando que foi justamente a distância entre indivíduos e governo que os tornaram fortes e criativos − “Os jovens, em particular, são filhos e netos daqueles cidadãos abandonados e maltratados pelo Estado. Criados a partir dessa memória familiar recente, não enxergam o governo, qualquer que seja, como provedor de bem-estar. Não raro treinados em modelos espartanos de sobrevivência, convertem-se em homens e mulheres particularmente resilientes que aprendem, enfrentam preconceitos e fazem acontecer”, escrevem. O que pode ser mais libertário do que isso?
A despeito dos dados e testemunhos que comprovam que o pobre não é nenhum incapaz, os autores se esforçam em tentar nos fazer crer que a melhoria na qualidade de vida nas favelas foi obra do PT, chegando a afirmar, por exemplo, que seus moradores só puderam planejar melhor suas vidas quando começaram a receber contracheques impressos. Segundo eles, não foi o fim da inflação e a estabilidade econômica que possibilitou que pessoas de baixa renda tivessem acesso ao crédito, mas sim um pedaço de papel.
Num dos capítulos, Renato Meirelles assume a narrativa para falar sobre a trajetória de seu parceiro, Celso Athayde, começando com a seguinte frase: “Ele não aprendeu com Keynes ou com Amartya Sen, mas com a vida, tocando pequenos negócios no vasto universo de excluídos e daqueles em processo de inclusão”. Sim, ele cita dois gurus do socialismo para ilustrar a trajetória liberal de uma pessoa que abre caminho por si mesmo na sociedade e que, voluntariamente, direciona seu trabalho para os interesses das comunidades mais pobres, explicitando, portanto, que os socialistas não conseguem sequer distinguir socialismo de liberalismo. Darei um ajuda: Oferecer seu tempo, seu trabalho, seu dinheiro ou apenas seu interesse aos pobres não faz uma pessoa socialista. Uma pessoa se torna socialista quando ela passa a cobrar que o Estado obrigue outras pessoas a fazer caridade, exigindo que os mais ricos, apenas por serem mais ricos, devam aceitar que o governo lhe tome dinheiro para supostamente dar aos pobres apenas por estes serem pobres.
A trajetória “social” de Athayde, relatada por Renato, culmina na criação da Favela Holding, iniciativa responsável pela criação de um shopping center dentro do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, empreendimento de R$ 22 milhões. Os autores desconhecessem que isso se chama iniciativa privada e voluntária, o pilar do liberalismo. Ignoram que qualquer iniciativa desse tipo, se fosse empenhada pelo Estado, custaria 10 vezes mais e ofereceria serviços ruins. Ignoram que o sucesso de empreendimentos como os citados no livro se deve principalmente por serem iniciativas de pessoas comuns e que, por isso, têm mais condições de saber o que pessoas comuns precisam – o que o Estado nunca conseguirá saber.
No livro, constam também outros casos, como o de Elias Tergilene, que começou a vida vendendo esterco e que hoje tem diversos empreendimentos comerciais em regiões degradadas de Belo Horizonte. A despeito do discurso “social”, Elias apenas pensou empresarialmente, o que lhe possibilitou descobrir um novo nicho de mercado. Pergunto: Ele foi obrigado pelo governo a investir seu trabalho e seu dinheiro na favela? Não. Foi ele, por iniciativa própria, que enxergou as oportunidades comerciais que essas regiões guardam e que criou um modelo de negócio adequado ao perfil de seus moradores. Isso não é socialismo. Isso é capitalismo! Em vez de esperar pela ajuda do Estado, o indivíduo tratou de, ele mesmo, fazer o que acreditava que deveria fazer. Iniciativa privada! A mesma iniciativa privada da também citada no livro Vai Voando, empresa de venda de passagens aérea que, a exemplo de Elias, costurou um modelo próprio de negócios que, visando o lucro, possibilitou que dezenas de milhares de pessoas tivessem oportunidade de viajar de avião. A mesma pergunta: Foi o Estado que obrigou essa empresa a oferecer produtos e serviços mais baratos aos mais pobres? Não!
Reconhecendo o potencial das favelas − a despeito da ausência do Estado −, os autores chegam a escrever: “Ali, portanto, por necessidade e vocação, funcionam alguns dos melhores laboratórios do país em termos de prática empreendedora”. Quando um liberal fala isso, ele é taxado de maluco – “Impossível um favelado se erguer sozinho!”, gritam os socialistas −, porém, quando são os próprios socialistas que atestam essa realidade, a pobreza deixa de ser vista como uma condenação e passa a ser vista como uma situação reversível a partir do conjunto de esforços individuais. O erro, contudo, está na insistência dos socialistas em pregar que o Estado deveria ajudar os esforços individuais. Não! Não deveria! Todas as vezes que o Estado estende sua mão, ele retira do indivíduo a necessidade de ser forte e criativo, empurrando-o na direção da dependência e da subserviência. Qualquer ação de caridade deve vir de indivíduos, nunca do Estado. Como esclareci em artigos anteriores, apenas pessoas (espontaneamente associadas entre si ou não) têm condições de avaliar a necessidade e o merecimento de outras pessoas e de acompanhar os desdobramentos de cada ação. O Estado não tem esta condição.
Outra passagem interessante do livro é aquela em que os autores citam a solução encontrada pelos salões de beleza quando o governo (sempre ele!) restringiu o funcionamento dos bailes funk. “A solução foi diversificar os serviços. Quem fazia chapinha passou a oferecer também depilação. Aos poucos, as melhores profissionais venceram a crise e passaram a colecionar também clientes do asfalto, gente moradora de Laranjeiras ou da Gávea”. E ainda há quem diga que o mercado não se autorregula, que o mercado não tem capacidade de, por si mesmo, resolver seus problemas.
O livro também nos mostra o ponto de vista dos consumidores pobres, desfazendo a imagem de “coitadinhos humildes” que os socialistas pintam constantemente. Os moradores das favelas calculam o custo-benefício de tudo; muitas vezes optam pelos produtos mais caros e têm especial prazer em ostentar marcas famosas por reconhecerem o valor agregado de seus produtos. Os dados expostos no livro comprovam que o “desapego material” e a busca pela “vida simples” não passa de um fetiche existencial da burguesia socialista. O pobre quer ser patrão! O pobre quer ser independente! O pobre gosta de luxo e quer passar férias nos Estados Unidos, não em Cuba!
Vale ressaltar também que um favelado só tem o poder de escolher o que consumir porque existe uma complexa rede de interesses individuais que sustentam incontáveis empresas que brigam entre si pela preferência até dos mais pobres.
Sem perceber, os autores reconhecem que, enquanto a “benevolência” do Estado não chega a esse grupo de pagadores de impostos, os favelados, o “capitalismo opressor” sobe o morro com suas farmácias, supermercados, serviços de internet e de TV a cabo, lojas de eletrodomésticos, de computadores, de celulares e de material de construção. Os autores do livro chegam a registrar casos de megacorporações internacionais, como a P&C, que, voluntariamente, vão à favela oferecer produtos e serviços gratuitos como estratégia de divulgação de suas marcas – “Malditos capitalistas!”.
A infelicidade do livro é a insistente interpretação ideológica da realidade − a capacidade dos indivíduos de se levantarem por si mesmos −, tentando nos fazer crer que a favela precisa de Estado, muito Estado, Estado em tudo; e que essas comunidades devem ser protegidas, vejam só, dos interesses dos capitalistas!
Este livro é um ótimo documento sobre o autobloqueio de grande parte dos socialistas em reconhecer a potência humana; fazem questão de não enxergar que o único papel que o Estado assume é o de tornar a vida das pessoas mais cara, complicada e perigosa.
Arquiteto, artista plástico e escritor. Escreveu o livro “Natureza Capital”.

Instituto Liberal- A Hora do Planeta. Ou: como iludir os incautos

A Hora do Planeta.  Ou: como iludir os incautos

Vindo do trabalho, a caminho de casa, ouço no rádio a notícia de que, na noite deste sábado, 28 de março, a ONG WWF promoverá, ao redor do mundo, mais um “Earth Hour” (Hora do Planeta), pedindo que as pessoas apaguem as luzes durante uma hora (entre 8:30h e 9:30h) para despertar a conscientização sobre o problema do aquecimento global.
O objetivo da “Hora do Planeta”, de acordo com seus organizadores, é incentivar as pessoas a pensar sobre como elas podem reduzir seu consumo de energia. O evento em si tem pouco efeito sobre as emissões de carbono, mas o que importa, segundo os organizadores, é o seu significado simbólico, inspirando as pessoas a tomar ações concretas para reduzir as suas “pegadas de carbono”.
O que nunca é mencionado é o fato de que a redução dos gases de efeito estufa no volume pretendido pelos ativistas do aquecimento global seria, em si, uma catástrofe para a humanidade. Os políticos e os ambientalistas, incluindo aqueles por trás da “Hora do Planeta”, não estão pedindo que as pessoas simplesmente apaguem algumas lâmpadas, mas uma redução verdadeiramente maciça nas emissões de carbono: algo como 80% abaixo dos níveis de 1990. Como a energia consumida no mundo é predominantemente à base de carbono (os combustíveis fósseis representam perto de 85% da produção mundial de energia), isso significa necessariamente uma redução drástica em nosso consumo de energia.
Poucas pessoas têm uma noção clara do que isso significaria na prática. Nós, cidadãos do mundo industrializado, raramente nos damos conta do quanto nos beneficiamos do uso de combustíveis fósseis, em cada minuto dos nossos dias. Nós dirigimos nossos carros para o trabalho, temos nossas residências e escritórios refrigerados e iluminados, alimentamos nossos computadores e inúmeros outros aparelhos domésticos, e contamos com bens e serviços indispensáveis ​​que só a energia abundante, confiável e barata dos combustíveis fósseis torna possível: hospitais, supermercados, fábricas, fazendas, telecomunicações, etc.
É difícil para nós sequer imaginarmos o grau de sacrifício e de danos que as políticas de redução de emissões de CO2 requeridas pelos ativistas do aquecimento global nos causariam.  Se consumimos hidrocarbonetos, é porque eles nos garantem níveis de prosperidade, conforto e mobilidade como nenhum outro combustível.  A energia deles obtida melhora nossa saúde, reduz a pobreza, permite uma vida mais longa, segura e melhor.  Ademais, o petróleo não no fornece somente energia, mas também plásticos, fibras sintéticas, asfalto, lubrificantes, tintas e uma infinidade de outros produtos.
“O petróleo talvez seja a mais flexível substância jamais descoberta,” escreveu Robert Bryce em “Power Hungry”, um livro iconoclástico sobre energia. “O petróleo”, diz ele, “mais do que qualquer outra substância, ajudou a encurtar distâncias.  Graças à sua alta densidade energética, ele é o combustível quase perfeito para a utilização em todos os tipos de veículos, de barcos a aviões, de carros a motocicletas.  Não importa se medido por peso ou volume, o petróleo refinado produz mais energia do que praticamente qualquer outra substância comumente disponível na natureza.  Essa energia é, além de tudo, fácil de manusear, relativamente barata e limpa”.  Caso o petróleo não existisse, brinca Bryce, “teríamos que inventá-lo”.
Os participantes da “Hora do Planeta” passarão por agradáveis 60 minutos no escuro, mas ao mesmo tempo terão a certeza de que o conforto e outros benefícios da civilização industrial estarão apenas a um interruptor de distância. Em resumo, as pessoas permanecerão absolutamente ignorantes a respeito das conseqüências práticas das políticas draconianas de redução de emissões de carbono que os ativistas do aquecimento global exigem.
Aqueles que afirmam que é preciso reduzir em 80% as emissões de dióxido de carbono deveriam tentar passar não uma hora, mas um ano no escuro, sem aquecimento, sem refrigeração, sem eletricidade, sem utilizar quaisquer equipamentos úteis para economia de trabalho e de tempo, enfim, produtos de poupança de energia que só a civilização industrial tornou possível.
Minha sugestão é que mandemos todos esses ativistas passar alguns meses morando na Coréia do Norte, onde a “Hora do Planeta” dura o ano inteiro (a imagem acima mostra uma visão de satélite, à noite, daquele país). Depois dessa experiência, se eles voltarem à civilização ainda com as mesmas idéias, a gente conversa.
Administrador de Empresas e Diretor do Instituto Liberal
João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

FUGA DO CAMPO 14- O terror imposto ao povo pelo regime comunista da correia do Norte

Fragmento
...Shin não ousava se queixar. O professor o advertira que teria que trabalhar arduamente para purgar os pecados da mãe e do irmão.
Na escola e durante os trabalhos no campo, todos os alunos tinham que pedir permissão para urinar e defecar. Quando Shin fez seu primeiro pedido para ir ao banheiro após ser liberado da prisão. o professor negou.Ele tentava segurar-se durante o dia na escola, mas acabava urinando nas calças umas duas vezes por semana, em geral quando trabalhava ao ar livre com outros estudantes. Como era inverno e fazia muito frio, tinha que trabalhar com as calças enrijecidas de urina.


Blaine Harden- Editora Intrínseca (Página 86)

LIVRO- Fuga do Campo 14

Fragmentos

...Mais tarde o lhe contou sobre o dia de 1965 em que a família foi levada pelas forças de segurança. Antes do amanhecer, homens armados invadiram a casa que pertencia ao avô de Shin no condado de Mundok, na província de Pyongan do Sul, uma fértil região agrícola situada a cerca de sessenta quilômetros da capital, Pyongyang. “Arrumem suas coisas coisas”, gritaram. Eles não explicaram por que a família estava sendo presa ou para onde os levariam. Quando amanheceu um caminhão apareceu para buscar seus pertences. A família viajou durante um dia inteiro (uma distância de cerca de setenta quilômetros em estradas montanhosas) antes de chegar ao Campo 14.

...No que parece ser a manhã do terceiro dia, um dos interrogadores e três outros guardas entraram em sua cela. Agrilhoaram-lhe os tornozelos, amarraram uma corda e um gancho no teto e dependuraram-no de cabeça para baixo. Depois saíram e trancaram a porta - sem dizer uma palavra.
Os pés de Shin quase tocavam o teto. A cabeça estava suspensa acima do chão. Estendendo as mãos, que os guardas tinham amarrado, ele não conseguia tocar o chão. Contorceu-se e balançou-se, tentando endireitar-se, mas não teve sucesso. Ficou com câimbra no pescoço e os tornozelos doíam. Por fim suas pernas ficaram dormentes. A cabeça, por onde o sangue fluíra, doía mais a cada hora.

...O interrogador principal fez mais perguntas aos berros. Pelo que se lembra,  Shin não deu nenhuma resposta coerente. O chefe disse a um dos seus homens para pegar alguma coisa.
Uma tina cheia de carvão em brasas foi arrastada para debaixo do menino. Um dos interrogadores usou um fole para atiçar as brasas. O sarilho abaixou Shin em direção as chamas. Enlouquecido pela dor,cheirando a carne queimada, Shin contorcia-se para escapar do calor. Um dos guardas passou a mão num gancho de arpão na parede e perfurou-lhe o baixo-ventre até que ele perdeu a consciência.

FUGA DO CAMPO 14- A dramática jornada de um prisioneiro da Correia do Norte rumo à liberdade no ocidente.
Blaine Harden- Editora Intrínseca

IMB- Estatal não é público

Se usamos uma só palavra para nomear duas coisas diferentes que às vezes aparecem juntas, essas duas coisas acabam se tornando uma só no imaginário popular. É o caso do termo "público".

Público opõe-se a privado. Só que há dois tipos de "privado": aquilo que é do uso exclusivo de poucos, e aquilo que é propriedade privada.

E há dois tipos de "público": aquilo que muitos usam livremente, e aquilo que pertence ao estado. Sob um mesmo termo, "do estado" e "para todos" viram sinônimos. Mas o estado não é, nem nunca será, para todos.

Essa confusão serve muito bem aos interesses do próprio estado, que se aproveita da aura positiva que o termo "público" confere. Ele, de alguma maneira, é de todos, por todos, para todos. Representa a vontade geral, tem um pouquinho de cada cidadão, é uma força ordenadora que paira sobre a sociedade — diferente do setor privado, onde impera a ganância, o lucro (esse pecado capital) e o interesse... privado.

Muita gente nem percebe que "estado" e "sociedade" não são a mesma coisa.

Ao dizermos que o estado é público repetimos mantras espirituais de um passado em que se acreditava que o estado tinha algo de divino, numa verdadeira mística do poder. Tirou-se o Deus transcendente da jogada e colocou-se o deus-povo em seu lugar, como se houvesse um povo além e acima dos indivíduos que o compõem.

Hoje em dia, nosso estado é laico, mas apenas com relação às religiões que competem com a sua. Quanto a si mesmo, não há ficção espiritual, mentira piedosa ou hagiografia de que ele não faça uso para perpetuar seu poder onde ele mais importa: nas mentes dos fieis/súditos/cidadãos/contribuintes. Uma dessas santas artimanhas é justamente a ilusão de que se trata de um "setor público", representante e servidor do povo.

Algumas das posses do estado são, de fato, públicas. Ele tem o monopólio quase absoluto, por exemplo, do tipo mais básico de espaço público: a rua. Mesmo as ruas, contudo, nem sempre são públicas: em São Paulo, muitas vilas têm portões que impedem a entrada de não moradores. Estradas estatais cobram pedágio. Por outro lado, praças, parques, museus e bibliotecas, que também são espaços públicos, nem sempre são do estado. E ainda outros espaços públicos como bares, restaurantes e shoppings são quase sempre propriedades privadas.

Muito do que o estado tem ou faz, ademais, é exclusivo, é para poucos. Poucos podem usar a frota de carros oficiais ou cursar o Instituto Rio Branco ou mesmo receber um diploma da USP. São do estado, mas impõem severas restrições ao acesso.

Pensemos no ensino estatal; ele é "gratuito". Mas há escolas privadas que também oferecem vagas gratuitas; e outras, filantrópicas, que atendem apenas gratuitamente; e nem por isso as chamamos de "públicas". Ao mesmo tempo, instituições de ensino estatal podem cobrar, como fazem as universidades estatais nos EUA e na Inglaterra. Ser chamado de "público" não tem nada a ver com a real abertura, gratuidade ou universalidade; é apenas um termo que se aplica ao que vem do estado. E um termo nada neutro.

O estado, por ser o "setor público", goza de uma prerrogativa de benevolência ou generosidade. No entanto, a ideia de que os bens e serviços do estado "servem a todos", ao interesse comum ou ao bem público — em oposição a empresas que buscam o bem privado — é uma fórmula retórica vazia. Por acaso empresas que produzem e distribuem comida não servem ao interesse público? E as que produzem e vendem serviços de cultura e entretenimento? Tudo que tem uma demanda é um interesse público.

Empresas como Google e Facebook servem — gratuitamente — a muito mais pessoas do que o estado brasileiro. Qual o sentido de dizer que os interesses deste são "públicos" e os delas "privados"?

Outra faceta do mito estatal diz que o estado é público porque é seu, meu e de todos nós; ou ao menos que ele representa o coletivo. Isso também não é verdade. O estado é uma organização entre outras, e ele não é mais "nosso" do que qualquer empresa. O mecanismo do voto, nosso meio de agir sobre ele, é mais tênue e ineficaz do que o poder do consumidor sobre qualquer empresa ao comprar e deixar de comprar (poder do qual o estado se blinda por meio dos impostos e da emissão de dinheiro).

Ademais, o poder dos políticos eleitos é limitado, pois eles constituem uma fina camada do estado. O grosso dele é composto de funcionários cuja atividade independe do voto popular e sem o apoio dos quais nenhum político pode governar. Já no famigerado setor privado, ao menos no caso das empresas negociadas em bolsa (que também são chamadas, à sua maneira, de públicas), aí sim você pode se tornar dono de uma parte delas; e pode inclusive vendê-la depois.

Por acaso temos direito de vender a parcela do estado que supostamente nos pertence? Não, e por quê? Dica: ele não é nosso.

O estado não é mais público do que tantas outras instituições que são propriedade privada. Quem de fato o controla são poucos e não tem como ser diferente. Muitos de seus serviços e benefícios são direcionados a poucos (pensemos agora no BNDES ou nas aposentadorias dos servidores públicos, esses heróis da pátria). Ele também não está mais voltado ao serviço do público do que outras organizações. Seus agentes, por fim, não são mais virtuosos ou altruístas do qualquer outra pessoa; respondem aos mesmos exatos incentivos que todos os pobres mortais.

Assim, ao falar das coisas do estado, evite o adjetivo "público"; ele engana. Utilize "estatal" em seu lugar. Funcionário estatal, escola estatal, rua estatal, interesse estatal, setor estatal. Reserve o "público" para praças e bares, que podem ser estatais ou não. A perpetuação da mística do poder do estado só nos afasta da realidade crua: o estado não é você, o que é dele não é seu, não há uma vontade coletiva por trás dele e ele não conhece e nem serve a seus interesses melhor do que qualquer outra organização.

Na verdade, o estado — esse ente de razão — nem existe; são só pessoas como você e eu, que não sabem mais e não são melhores do que você e eu, mas cuja vontade recebe — de nossa parte — a permissão tácita para se impor à força. No dia em que essa verdade realmente penetrar nossa consciência, ele estará em maus lençóis.



Joel Pinheiro da Fonseca é mestre em filosofia e escreve no site spotniks.com." Siga-o no Twitter: @JoelPinheiro85