domingo, 15 de fevereiro de 2015

Fernando Gabeira- Os suspeitos de sempre


Os suspeitos de sempre
13.02.2015

Escolheram mais um suspeito de sempre. Essa frase, de um jornalista americano, sobre o novo presidente da Petrobras é precisa.

Certamente não se referia à trajetória pessoal de Aldemir Bendine. Ele ignora que o banqueiro guarda dinheiro no colchão ou que fez um empréstimo generoso à socialite Valdirene Aparecida Marchiori. Creio que queria apenas dizer que o governo arruinou a Petrobraas e dificilmente encontrará alguém, dentro dos seus quadros, capaz de reconstruí-la.

Era preciso um novo presidente com capacidade e autonomia. Se alguém com talento conseguisse sobreviver no governo, decerto seria alvejado pelos atiradores do PT ao revelar alguns vestígios de autonomia.

O PT completou 35 anos com festa. E de alguma forma lembrando a frase “cuidado com os idos de março”. É uma data do calendário, talvez o dia 15, lembrada pelo assassinato de César. Os idos de março sempre evocam momentos trágicos para um governo.

No caso brasileiro, o grande adversário do PT é sua própria visão de mundo. O partido considera manobra golpista a enxurrada de dados sobre corrupção na Petrobrás e outros órgãos do governo. Por exemplo, um ex-gerente, em delação premiada, disse que o PT recebeu mais ou menos US$ 200 milhões em propinas, na área de abastecimento. O partido nega.

Usando o senso comum, parece-me absurda a controvérsia em torno de meio bilhão de reais. Se esqueço de pagar uma água de coco no bar do Baiano, no Flamengo, ele é o primeiro a me lembrar que faltam R$ 5. Se tenho direito a troco de apenas R$ 1, reclamo prontamente. Como é possível que uma verba de R$ 500 milhões, oriunda de contratos reais da empresa, transite tão etereamente a ponto de uma intensa investigação não determinar sua trajetória?

A decisão do PT de negar todas as evidências é a manobra mais perigosa que o partido já engendrou nos últimos anos. Dizem os jornais que na festa de aniversário, em BH, o PT prometeu manifestações públicas para defender o governo e isolar o golpismo. Isso é mais animador, pois pode precipitar a realidade. Bandeiras e camisas vermelhas acusando a Lava Jato de manobra golpista podem revelar ao partido um pouco da realidade.

Ando muito pelas ruas. Mas pode ser que ande pelas ruas erradas e tenha uma falsa impressão. Mas a pesquisa Datafolha mostrando a queda na aceitação de Dilma confirma minhas intuições. Não será fácil de novo desfilar com macacões laranja defendendo uma Petrobrás que a maioria acredita ter sido saqueada pelo PT e aliados. Com que palavras de ordem sairão às ruas? “A Petrobrás é nossa” não é um refrão aconselhável para as circunstâncias. Resta talvez a resistência a um golpe hipotético.

E talvez nisso esteja a grande esperança do PT. Um golpe seria sua redenção, a condição de vítima talvez sepultasse o peso dos bilhões roubados da Petrobrás. Mas não há golpe no horizonte. As próprias condições de inserção internacional do Brasil já sepultaram qualquer solução fora da lei. Resta o desenrolar implacável de um processo de corrupção gigantesco que atrai a atenção mundial, porque ocorreu numa empresa globalizada.

A tática de negar sua responsabilidade neste processo histórico será um dado decisivo na história do PT. Muitos já
denunciam o medo de Lula e Dilma de discutir abertamente o que se passou na Petrobrás. Pode ser que Lula, Dilma e o PT analisem como coragem sua disposição de enfrentar o processo afirmando que tudo o que o partido recebeu foi doação legal. Mas de onde veio o dinheiro senão do saque da Petrobrás?

No momento é possível reunir a coragem para negar. Mas com o avanço das evidências seria preciso uma coragem muito maior para negar também a lucidez das instituições jurídicas e da opinião pública nacional.

Pela experiência, o que acontece nesses casos é sempre muito doloroso. O PT ainda está um pouco escondido, mas pode observar, por exemplo, o que aconteceu com Graça Foster e Nestor Cerveró: tornaram-se máscaras de carnaval; os vizinhos ergueram faixas contra Graça.

O partido, contudo, escolheu o caminho mais espinhoso para enfrentar o processo. Como no passado, tentará convencer as
pessoas de que estão erradas e foram manipuladas pela imprensa.

Outro dia, um homem na rua me disse: “Às vezes me arrependo de ser consciente. Se fosse apenas desligado do Brasil, não sofreria tanto. É muito duro para as pessoas, presenciando um processo com números, nomes de contratos, delatores premiados e tudo o mais, assistirem a alguém dizer que tudo isso é uma grande manobra. Querem me convencer de que sou maluco”. Disse ao homem que era um processo mais amplo e, no fundo, está em jogo isto mesmo: ou se pune a corrupção, prendem-se as pessoas e se obriga os partidos a pagarem um enorme preço político, ou então a tática do PT triunfou.

Será preciso enlouquecer todo um país. É uma jogada de alto risco. No mensalão, de punhos erguidos, descobriram a realidade dos presídios e trataram de sair fora, deixando nas grades as secretárias que fechavam envelopes.

Em caso de vitória, terão de governar um País enlouquecido. Em caso de derrota, as consequências são imprevisíveis. Desde
a camisa de força até cumprir inversamente a profecia de Delúbio Soares de que o mensalão com o tempo será uma piada. É o próprio PT, com o tempo, que pode virar uma piada.

Se esse é o caminho escolhido, então que vengan los toros. Marqueteiros de todo o País, uni-vos em torno da grana que ainda está nos cofres e provem que essa montanha de dinheiro roubado é apenas miragem, que Pasadena foi um bom negócio e a Petrobrás vai bem, apenas ameaçada pelos inimigos externos.

Procurem fazer um bom trabalho. No mensalão, lembrem-se, sobrou para os marqueteiros. Milhões de dólares rolam pelos computadores num simples toque no teclado. Mas isso não significa que sejam invisíveis.

O empresário de Santa Catarina que tinha 500 relógios num cofre tem lá sua lógica. O tempo está contra a quadrilha, é preciso detê-lo de qualquer forma.

Artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo em 13/02/2015

ORDEM LIVRE- Andre Azevedo Alves-A falsa oposição entre ordem e liberdade



Para muita gente, o conceito de ordem é equivalente ao de um sistema comandado de forma centralizada e racionalmente determinado por alguém. Esta é uma associação de conceitos intuitivamente compreensível mas que, infelizmente, leva a uma acepção de ordem muito limitada e incompleta. Um entendimento que historicamente tem vindo a dificultar a compreensão de um conceito que está na base das ideias liberais.

Não devemos por isso ficar surpreendidos quando quem tem um entendimento da ordem assente na planificação e direcção centralizada estranha a prioridade dada pelos liberais clássicos à liberdade e a considera até estar em conflito com a própria possibilidade de ordenação. Mas este paradoxo assenta num equívoco. A chave para o resolver passa, como muito bem salientou Diogo Costa, por entender os fundamentos e o funcionamento da relação interconstitutiva entre ordem e liberdade. [1] Só a noção hayekiana de ordem espontânea permite compreender a esterilidade da discussão sobre se é a ordem ou a liberdade que deve ter primazia. Não apenas porque nem ordem nem liberdade podem isoladamente servir de princípio orientador global, mas porque a própria natureza imperfeita e parcial do conhecimento humano sugere a inviabilidade de projectos que reduzam a ideia de ordem a uma hierarquia de comando e controle centralizado.

A manifesta impossibilidade de qualquer mente humana – considerada individualmente – dominar e articular de forma plena todo o conhecimento imprescindível para conceber e implementar uma ordem social complexa aponta precisamente para a necessidade de as sociedades livres assentarem num sistema jurídico evolutivo, descentralizado e policêntrico. Quando se restringe a noção de ordem a um sistema deliberadamente imposto por decisores humanos externos (ou hierarquicamente superiores), são os fundamentos da própria liberdade e prosperidade das sociedades que são postos em causa. [2]

O carácter (inevitavelmente) limitado e imperfeito do nosso conhecimento sobre as próprias regras nas quais assenta uma ordem social complexa é bem expresso por Hayek na sua obra Os fundamentos da liberdade:

A maioria destas regras nunca foram deliberadamente inventadas tendo-se antes desenvolvido através de um processo gradual de tentativa e erro em que a experiência de sucessivas gerações ajudou a fazer delas o que são. Assim, na maioria dos casos, ninguém sabe ou alguma vez soube todas as razões e considerações que conduziram a que fosse dada uma determinada forma a uma regra. [3]

Sem ter consciência plena das implicações desta afirmação, que nos remete para os insondáveis limites da mente humana e para a complexidade dos processos sociais de ordem espontânea, é fácil cair no erro de apontar uma (incorrecta) oposição entre ordem e liberdade. Uma falsa dicotomia que pressupõe implicitamente a possibilidade de a ordem social ser gerada de forma construtivista a partir de uma hipotética situação de estado de natureza.

Para além de ignorar que a ordenação de sistemas complexos acarreta necessariamente um processo evolutivo, a oposição entre ordem e liberdade sugere uma leitura profundamente enviesada das origens e desenvolvimento do poder político nas sociedades humanas. Historicamente, muitos dos mais importantes avanços civilizacionais que contribuíram para a emergência e consolidação da ordem alargada da interacção humana resultaram de limitações ao poder político impostas pelos governados e por núcleos de poder descentralizados e alternativos. Perante o argumento falacioso de que a complexidade da sociedade exige a imposição da ordem antes de podermos pensar na liberdade, é essencial ter em conta que é essa mesma complexidade que torna impossível dissociar a ordem da liberdade. O desenvolvimento e a sustentabilidade da “Grande Sociedade”, para utilizar a feliz expressão de Hayek, dependem de uma questão fundamental: a consciência das limitações das nossas próprias capacidades para desenhar e planificar a ordem social.



* Publicado originalmente em 03/03/2010.

“O Exorcista; O Iluminado; O Bebê de Rosemay; Psicose. Grandes filmes de terror. Mas nada se compara a Dilma, Uma Mente Chocante.” (Pócrates)

PORTAL LIBERTARIANISMO-O Sniper Americano não foi um herói

Se o blockbuster de Clint EastwoodSniper Americano queria criar um franco debate público sobre guerra e heroísmo, o grande diretor está prestando um serviço necessário para o país e para o mundo, mas da pior forma possível.
Esta não é uma crítica do filme, nem uma crítica ao livro autobiográfico de Chris Kyle, em que o filme é baseado. Meu interesse é na avaliação popular de Kyle, o sniper mais prolífico dos EUA, um título que ele recebeu após quatro passagens no Iraque.
Vamos revisar alguns fatos, que talvez Eastwood tenha pensado serem óbvios demais para serem mencionados: Kyle fez parte de uma força de invasão: os americanos foram ao Iraque. O Iraque não invadiu os EUA ou atacou americanos. O ditador Saddam Hussein nunca nem mesmo ameaçou atacar americanos. Ao contrário do que a administração de George W. Bush sugeriu, o Iraque não tinha nada a ver com os ataques de 11 de Setembro. Antes dos americanos invadirem o Iraque, al-Qaeda não estava lá. Nem estava na Síria, no Iêmem e na Líbia.
A única razão que Kyle foi ao Iraque foi que Bush/Cheney & Companhia lançaram uma guerra de agressão contra o povo iraquiano. Guerras de agressão, vamos lembrar, são ilegais sob a lei internacional. Os nazistas foram executados em Nuremberg por promoverem guerras de agressão. Por esta perspectiva, podemos nos perguntar se Kyle foi um herói.
Os defensores de Kyle e a política externa de Bush dirão: “É claro que ele foi um herói. Ele salvou vidas americanas”.
Quais vidas americanas? As vidas da equipe militar americana que invadiu o país de outras pessoas, que não havia os ameaçado ou seus companheiros americanos em casa. Se um invasor mata alguém que está tentando resistir a invasão, isso não conta como um ato heroico de autodefesa. O invasor é o agressor. O “invadido” é o defensor. Se alguém é um herói, é o último.
Em seu livro, Kyle escreveu que estava lutando contra o “mal selvagem e desprezível” – e estava “se divertindo” fazendo isso. Por que ele pensa isso sobre os iraquianos? Porque os homens iraquianos – e mulheres; seu primeiro assassinato foi de uma mulher – resistiram à invasão e à ocupação de que ele participou.
Isto não faz sentido. Como eu demonstrei, resistir uma invasão e uma ocupação – sim, mesmo quando são árabes resistindo a americanos – simplesmente não é o mal. Se os EUA tivessem sido invadidos pelo Iraque (um Iraque com um poderoso exército, digamos) os snipers iraquianos matando a resistência americana seriam considerados heróis por todos aqueles que idolatram Kyle? Eu acho que não, e não acredito que os americanos também pensariam assim. Ao invés disso, a resistência americana seria a considerada heroica.
O filme de Eastwood também exibe um sniper iraquiano. Por que ele não é considerado um herói por resistir à uma invasão de sua terra natal, como os americanos em meu exemplo hipotético? (Eastwood deveria fazer um filme sobre a invasão do ponto de vista iraquiano, como ele fez um filme sobre Iwo Jima do ponto de vista japonês juntamente com seu filme anterior sobre o lado americano).
Não importa quão frequentemente Kyle e seus admiradores se referem aos iraquianos como “o inimigo”, os fatos básicos não mudam. Eles eram “o inimigo” – isto é, eles queriam ferir os americanos – apenas porque as forças americanas lançaram uma guerra não-provocada contra eles. Kyle, como outros americanos, nunca tiveram que temer que um sniper iraquiano fosse matá-los em casa nos Estados Unidos. Ele tornou os iraquianos seus inimigos ao entrar em seu país sem convite, armado com um rifle de sniper. Nenhum iraquiano pediu para ser morto por Kyle, mas com certeza parece como se Kyle tivesse procurado ser morto por um iraquiano (ao invés disso, outro veterano americano fez o trabalho).
É claro, os admiradores de Kyle iriam discordar desta análise. Jeanine Pirro, uma comentarista da Fox News, disse:
Chris Kyle tinha certeza de quem eram os inimigos. Eles eram os que seu governo os mandou matar.
Espantoso! Kyle era um herói porque ele ansiosamente and habilmente assassinou quem quer que o governo mandou matar? Conservadores, supostamente defensores de um estado mínimo, com certeza tem uma noção estranha de heroísmo.
Desculpem-me, mas eu tenho problemas em ver alguma diferença marcante entre o que Kyle fez no Iraque e o que Adam Lanza fez na escola Sandy Hook. Certamente não foi heroísmo.
// Tradução de Robson Silva. Revisão de Ivanildo Terceiro. | Artigo Original

Sobre o autor

Sheldon Richman
Sheldon Richman é um escritor político americano, acadêmico, ex-editor da revista The Freeman, atual vice presidente da Future of Freedom Foundation e editor da Future of Freedom, publicação mensal da FFF.

BARBOSA EM AÇÃO- Joaquim Barbosa cobra no Twitter a demissão imediata de Cardozo

Relator do maior julgamento criminal da história do Supremo Tribunal Federal (STF) – pelo menos até o petrolão chegar à instância máxima do Judiciário –, o ex-presidente da Corte, Joaquim Barbosa, inquietou-se com a revelação de que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tranquilizou advogados de executivos presos na Operação Lava Jato da Polícia Federal sobre os rumos do caso depois do feriado de carnaval. Reportagem de VEJA desta semana mostra as conversas impróprias do ministro. Barbosa reclamou: “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a presidente Dilma demita imediatamente o ministro da Justiça”, escreveu em sua conta oficial no Twitter. Conforme a reportagem, José Eduardo Cardozo encontrou-se com o advogado Sérgio Renault, que tem contrato com a empresa UTC -- cujo presidente, Ricardo Pessôa, é apontado nas investigações como o chefe do chamado Clube do Bilhão. As empreiteiras, porém, gostaram do resultado da reunião. Resta saber como será a Quarta-Feira de Cinzas.

“Ando mais só que porco-espinho em festa de balão.” (Climério)

QUADRINHA

Aqui na terrinha
É descalabro sobre descalabro
E a gerentona obtusa
Jamais enxerga o próprio rabo.