segunda-feira, 1 de julho de 2019


CAFÉ DA MANHÃ

O branco carboidrato que dormia sereno sobre a mesa foi cortado ao meio. A faca com suas afiadas serras deslizou sobre a superfície cremosa e lambuzou o corpo partido com abundância. Feito o trabalho, a bocarra cheia de dentes entregou-se a realizar seu intento com voracidade, deixando filhotes de creme espalhados pelos cantos dos lábios. O filho do trigo fora finalmente estraçalhado e no ato misturado ao creme saboroso. A grande batalha da fome estava vencida. A bocarra ainda sorveu de líquido negro fumegante e de bom odor antes o ato final.


Caso todas as mulheres do planeta fossem lindas de morrer
A inveja andaria por aí de mãos com a vaidade
Usando estilete e cortando cabeças.



LESMÃO


Mesmo vendo uma injustiça
O covarde não toma partido
Pois é um lesmão acomodado que só pensa em si.

O Congresso Nacional é uma nuvem negra
Medonha como o STF
Que cobre o Brasil e o faz padecer.

BANANAS


Aconchegadas na fruteira
São elas irmãs verdes deitadas
Ouvindo as conversas da casa
Em absoluto silêncio
Enquanto esperam pelo amarelo doce do amadurecer.

A noite eterna. Quão longa é a noite da eternidade comparada com o curto sonho da vida. (Schopenhauer)


A VIDA É UM PESADO GRACEJO- SCHOPENHAUER


Se considerarmos a vida objetivamente, é duvidoso que ela seja preferível ao nada. Atrever-me-ia até a dizer que se a reflexão e a experiência pudessem fazer um acordo, elevariam a voz em favor do nada. Se batêssemos nas pedras dos sepulcros e perguntássemos aos mortos se querem ressuscitar, moveriam negativamente a cabeça. É esta a opinião de Sócrates na Apologia de Platão. O alegre e feliz Voltaire dizia: “Amamos a vida, porém o nada não deixa de ter o seu lado bom”. Em outra parte dizia: “Ignoro o que seja a vida eterna, mas esta é um pesado gracejo”.

VERDADE DO DIA


“Lula é honesto e eu sou Deus.”

MILLÔR

O QUANTO ANTES


Grupo político reunido o líder se levanta e diz:
“Visitei uma vidente poderosa que não erra nunca. Disse ela que o Brasil irá melhorar substancialmente no próximo ano.”
“Então chegaremos ao poder?”-pergunta um partidário.
“Não é isso colega. Segundo ela o Brasil irá melhorar porque nós todos iremos morrer.”

E COMO DIZ SEU ANÍSIO...


E como diz seu Anísio, lombo intacto, mas aposentado do serviço público federal aos 35 anos de idade por excesso de gases matinais, que hoje mora na praia do Sonho e curte o mar à sombra das palmeiras: “O trabalho é que danifica o homem.” (Mim)

JÁ OBSERVOU?


A ciência todos avança todos os dias, descobre novas tecnologias e novos medicamentos. Mas percebo no homem em geral o aumento da ignorância, a estupidez como argumento principal. Rebanhos de tolos seguem ordeiramente crápulas de boa oratória sem pensar no que estão fazendo.
“Florescem os diplomas, míngua o conhecimento.”

Mortos vivos? Conheço um monte de gente por aí que já morreu e não sabe. Cantores então...


ÁRIDA


De gole em gole
De bar em bar
O pobre homem presente o fim da vida
Sem na verdade saber porque esteve aqui.

CIVILIZAÇÃO


O barulho musical trepidante enerva-me
O silêncio absoluto apazigua-me
Fico feliz quando as hostes barulhentas silenciam
Então ouço novamente o belo cantar dos pássaros
E observo o retorno da civilização à sua estrada.

SEM SOMBRA


Ele tinha certa dificuldade em fazer amigos. Para dizer a verdade não tinha nenhuma facilidade em se aproximar de alguém. Para uns era um grande chato, para outros apenas um jovem profundamente melancólico. Algo que Joel não sabia era sorrir, sempre taciturno, vivia para si. Naquela cidade não havia por certo pessoa mais solitária e triste, sua única amiga era uma televisão de 20 polegadas que dele não podia fugir. Do trabalho no banco para casa e nada mais. Não tinha empregada em casa nem bichos para cuidar. Pensou num cachorro, mas logo desistiu, não queria ter o trabalho de limpar sua sujeira. Teve sua tragédia pessoal quando sua noiva o trocou por outra. Não reagiu, não lutou nem um pouquinho para sair da tristeza, apenas entrou no baú dos solitários. E foi assim que um dia sua própria sombra resolveu deixá-lo, abandonando um corpo quase já sem vida. E quando o sol mostrava seu brilho e calor Joel caminhava pelas ruas sem ter sequer a própria sombra por companhia.