terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Caio Blinder- Fantasia de ditador

Putin inspira Sisi e um bloco de autocratas


Para os lentos foliões ainda sem uma fantasia carnavalesca ou para aqueles frustrados com as que descolaram, aqui vai uma sugestão. Desfile ou apareça no baile ao estilo das duas figuras acima (não são figurantes). E quem tiver paciência para ler o texto, verá que com criatividade pode haver a versão feminina da fantasia.
Para os países maduros (decadentes para Vladimir Putin) do G-20, nosso homem em Moscou hoje é uma figura a ser desprezada, um osso duro de roer, um adversário perigoso. No entanto, em muitas partes do mundo ele é recepcionado literalmente com tapete vermelho.
Isto aconteceu na semana passada no Egito. Putin foi recebido de forma gloriosa por Abdel Fattah al-Sisi, que não escondeu sua satisfação quando o convidado o presentou com um rifle Kalashnikov. A ditadura Sisi, que esmagou com apoio popular, o poder da Irmandade Muçulmana, acabou sendo acolhida por países ocidentais, mas o relacionamento com Moscou é simplesmente efusivo, num típico balé da realpolitik.
Chris Caryl escreve na Foreign Policy que tanta efusividade vai além de pragmatismo geopolítico. A virilidade de Putin é um modelo para Sisi, o homem-forte de um Egito alquebrado.
Nosso homem em Moscou, Vlad para os íntimos, inspira admiração, mesmo em países com seu próprio ditador, caso do chinês Xi Jinping. No entanto, na nova revolução cultural chinesa não existe culto a personalidade, hoje reservado popularmente a alguém como Putin.
O homem-forte da Turquia, Recep Erdogan, é chegado na Irmandade Muçulmana esmagada por Sisi, mas ele também considera Putin um modelo, com suas lições como esmagar a democracia e a dissidência para consolidar uma autocracia nacionalista enraizada na religião (islamismo para Erdogan e cristianismo ortodoxo para Putin).
E mais perto do nosso carnaval, os populistas alegóricos adoram nosso homem em Moscou. O chavista Nicolás Maduro recomendou Putin para o Nobel da Paz e a rainha Cristina elogiou o presidente russo por sua linha dura contra a imprensa livre e pela anexação da Crimeia.
Viktor Orban, dirigente da Hungria na democrática União Europeia, exalta a democracia iliberal, que tem Putin como porta-estandarte, ou seja, o modelo de autoritarismo suave baseado no consentimento da maioria, algo conseguido através de eleições periódicas, mas não em condições institucionais livres e válidas.
O fenômeno da Putinmania (expressão no texto de Caryl) é difuso. Na Europa, ele  é admirado pela extrema esquerda do primeiro-ministro grego Alexis Tspiras e pela extrema direita da favorita eleitoral francesa Marine Le Pen.
Há um trecho saboroso no texto de Caryl: o segredo do appeal de Putin é simples. Trata-se de uma reação à hegemonia americana em todas as suas dimensões: economia liberal, direitos dos gays e intermináveis reprises dos Simpsons.
Putin é a figura durona, apimentada com uma cafonice machista e uma ginga  neofascista. Ademais, ele adora fantasias literais, como posar de motoqueiro ou de bad boy. Nosso homem em Moscou é mais uma versão de 50 Tons de Cinza. Fui longe demais na fantasia sadomasoquista ou seria sadoputinista?
Chega de fantasia. Esta é uma coluna de geopolítica com os 50 tons de cinza de Putin, Sisi e companhia.

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