sexta-feira, 24 de julho de 2015

Caio Blinder- No radar ucraniano

Moscou sabota as investigações sobre o desastre do voo MH17

O Instituto Blinder & Blainder, como os leitores sabem, tem suas obsessões. Seus analistas (em todos os sentidos) se deram conta de que a crise ucraniana estava fora do radar há um bom tempo. Hora de dar uma atualizada. O triste é que o conflito continua grave e congelado, um bom negócio para a Rússia de Vladimir Putin.
No entanto, as lições e o modus operandi de nosso homem em Moscou são sempre ilustrativos. A derrubada no leste ucraniano do avião da Malaysia Airlines, que fazia a rota Amsterdã-Kuala Lumpur, ocorreu há pouco mais de um ano (17 de julho de 2014). Morreram todos os 289 passageiros e tripulantes a bordo.
Investigadores, liderados pela Holanda, salientam que o  “cenário mais provável” é que o Boeing 777 tenha sido derrubado por míssil disparado do território controlado por separatistas ucranianos pró-Rússia. Moscou sabota as investigações e esta semana alertou que usará seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para impedir a criação de um tribunal internacional para julgar os responsáveis.
Usando um palavrão, as teorias conspiratórias abundam na Rússia (e no leste ucraniano) e a máquina da agitprop continua a todo vapor. Tudo é feito para embaçar e desinformar. O objetivo é negar a brutalidade da intervenção de Moscou na Ucrânia. Na televisão russa, controlada pelo Kremlin, é martelada a versão de que a derrubada do avião foi obra das forças governamentais ucranianas, com possível conivência dos serviços secretos ocidentais.
Nas teorias mais alopradas, um míssil foi disparado para tentar matar Putin, cujo avião presidencial passara horas antes pela região do desastre em 17 de julho de 2014. Outra munição de propaganda usada por um influente jornalista chapa-branca, Sergei Markov, é a de que os americanos foram responsáveis. De acordo com Markov, a prova é que não havia cidadãos americanos a bordo do avião. De fato, havia um (dano colateral, então?).
Desinformação e teorias conspiratórias fazem parte do modus operandi de Putin, ex-agente da KGB. Pesquisas encomendadas por redes de televisão russas revelam que menos de 5% dos russos acreditam que a derrubada do voo da Malaysia Airlines tenha sido responsabilidade dos separatistas ucranianos ou de Moscou. Como diz Sam Greene, diretor do Instituto Russo do King’s College, em Londres, “Putin comeu os cérebros de toda uma geração de russos”. Um entre tantos desastres.

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