sexta-feira, 19 de junho de 2015

Valentina de Botas: O narcoditador Maduro se vale da calhorda vizinhança ideológica

A liberdade irrestrita é utópica, além de nociva, e toda utopia é totalitária. Talvez por isso as guerras não se deem entre estados democráticos. A liberdade possível entre os homens é mediada pela democracia, à procura do equilíbrio entre direitos, obrigações e as consequências do descumprimento de ambos, tudo negociado pelo estado de direito democrático.
Steven Pinker, no seu livro “The Better Angels of Our Nature – Why Violence Has Declined”, demonstra, com a objetividade dos números, estatísticas de toda sorte e mil análises limpas, que a humanidade e o mundo melhoraram. O título belíssimo é o chamamento de Lincoln no discurso de posse como presidente, em 1861, num apelo para evitar a Guerra Civil. Vão, sabemos, mas lírico.
Pinker fala essencialmente da violência entre nós, diz que nunca fomos tão pacíficos desde o Neolítico. E confirma: o bom selvagem não era bom, mas selvagem; o passado não é idílico. O livro publicado em 2012 desdobra a lição de Hobbes: “sem o estado, a vida é desagradável, brutal e curta”. Portanto, a criação do estado moderno, e democrático, encabeça a lista das razões da melhora do mundo e dos homens.
No seu “The Blanke State”, de 2002, Pinker fez um balanço diferente da nossa “natureza”, demonstrando que a maldade triunfa quando os seres humanos adotam utopias, seculares ou religiosas. Nascida imperfeita, amadurecida como regime de leis e não de homens, a democracia melhora a vida onde for cultivada. Não é utópica, mas pode ser uma utopia nas ditaduras, trevas em que a vida se deteriora pela liberdade irrestrita com que se brindam os ditadores e os súditos deles que nela se blindam.
Constituídos numa espécie sórdida, gozam direitos sem limites e obrigações inexistentes, fazendo triunfar o mal na ausência do dique moral das instituições democráticas, pois, abolindo o estado de direito, dissolvem o Estado descrito por Hobbes e submetem os governados à pré-civilização. Um ditador no poder nega-se ditador; farsante e paranoico, vocifera que defende, justamente, a democracia sob ameaça imaginária de golpistas internos e externos.
O tosco narcoditador Nicolas Maduro, em pleno gozo de uma demência caricata, é um desses canalhas que se valem não somente do arsenal interno torpe de qualquer ditador, mas também da calhorda vizinhança ideológica. Evo, Kirchner, Castro, Maduro, Lula e Dilma, farsantes e ridículos no apoio mútuo, enchem a boca mentirosa para falar de democracia. Ricos ou nem tanto quando alcançam o poder, muito mais ricos na fruição dele, descartam a democracia que lhes melhorou a vida.
Na farsa; no autoritarismo de todos os matizes ideológicos; na justificação do extermínio dos antagonistas de suas respectivas utopias obscenas; na sabotagem à beleza, à alegria, ao indivíduo, não o ente idealizado tornado coletivo/causa, mas aquele constituído de alma, carne e consciência; na monopolização da narrativa dos fatos transformada em doutrina vigarista; vendo um bem no mal imposto ao outro, os liberticidas se fundem na mesma treva. O lulopetismo, cujos olhos brilham rútilos quando contemplam a escuridão do bolivarianismo, rebaixa o país à cumplice dessa escória no exercício mais vil de política externa.
Assim, a nota acanalhada do Itamaraty e o tripúdio dos parlamentares adoradores da escória sobre o assalto à delegação brasileira na Venezuela é extensão dessa truculência. A solidariedade à população e aos oposicionistas venezuelanos – presos pelo crime de se oporem – e a decência foram para o lixo com a democracia, essa coisa tornada inútil depois que ela melhora a vida dos liberticidas cuja soberba os faz esquecer que ela, a democracia imperfeita, sobrevive há mais de dois mil anos e que toda ditadura, perfeita ou bisonha e sempre asquerosa, é sempre transitória.

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