quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Ricardo Setti- Querem apostar? Não vai acontecer NADA com o ministro da Justiça. Se bobear, ele ainda acabará ministro do Supremo — e, por amarga ironia, julgando os criminosos do petrolão

Ter conversinhas fora da agenda com advogados interessados na defesa de empresas envolvidas no escândalo do petrolão, prestes a fechar um acordo da infelizmente chamada “delação premiada”, e passar recado de que os rumos da investigação da Operação Lava Jato iriam mudar depois do Carnaval — sendo que a investigação tem à frente a Polícia Federal, sua subordinada –, implicaria em demissão sumária de um ministro da Justiça em outros meridianos ou paralelos.
Demissão sumária, por parte da presidente da República, seguida de investigação séria para constatar violação ética (que parece evidente) ou a prática de ato contra a lei.
Ainda mais sabendo-se que, depois da conversa, três empresas gigantes prestes a fazer acordo com o Ministério Público recuaram de sua decisão de prestar informações em troca de verem amenizadas as penas criminais aplicáveis a elas próprias e a seus diretores e executivos, como a lei prevê.
Mas quem quer apostar comigo que NADA acontecerá com o ministro José Eduardo Cardozo?
Não vai ser demitido pela presidente Dilma, não vai levar sequer um puxão de orelha, não pedirá demissão porque, entre vários fatores estamos no país…
* do jeitinho;
* da lei que “não pega”;
* de leis feitas sob medida para beneficiar salafrários (por exemplo, leia a história da lei nº 12.232, de 29 de abril de 2010, neste post doReinaldo Azevedo);
* no qual os detentores de privilégios, por isso mesmo, têm direito a mais privilégios;
* no qual a Constituição diz que todos são iguais perante a lei — excetuado aqueles que se acham, e estão, acima da lei;
* de ex-presidente palanqueiro e sem compostura;
* de presidente eleita com mentiras e praticante de estelionato eleitoral;
* que tem no governo um partido infiltrado de ladrões, saqueadores do erário, incompetentes e liberticidas;
* que tem um governo que se apoia, no Congresso, no que há de pior na política brasileira;
* que tem um governo cujo partido-chefe está envolvido nos dois maiores escândalos de corrupção da história da República — o mensalão e o petrolão;
* que tem um governo que considera adversária parte considerável, quase a metade, da população — um governo do “nós” e “eles”, como diz sempre o Grande Impostor;
* que premia a obediência servil e a falta de escrúpulos;
* que é capaz, como estamos vendo, de “fazer o diabo” não apenas para ganhar eleições, mas para manter-se a qualquer custo no poder.
E por aí vai.
Então, Cardozo não será punido, nem advertido, nem coisa alguma.
Ele vai é acabar indo parar no Supremo Tribunal Federal, sua velha ambição.
E ainda pode ser justamente na vaga do ministro Joaquim Barbosa, que foi o primeiro brasileiro decente a vir a público pedindo a demissão “imediata” do ministro da Justiça. Por amarga ironia, em tal caso, estará julgando a turma do petrolão — a mesma que poderá beneficiar-se de uma “mudança de rumos” na investigação da Operação Lava Jato.

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