quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

LULA ARMA A CENA PARA 2018

Editorial publicado no jornal O Estado de S. Paulo
Extremamente preocupado com o andar da carruagem e cético quanto à possibilidade de que a presidente Dilma Rousseff aprenda a fazer política e a governar, Luiz Inácio Lula da Silva está entrando em campo para tentar salvar o projeto de poder que é a razão de sua existência política.
A decisão do ex-presidente da República implicou a liberação, para o núcleo mais íntimo de suas relações, da notícia de que ele é, de fato, candidato à sucessão presidencial em 2018.
Quando Lula entra em cena, já se sabe o que esperar: uma extraordinária capacidade de comunicação, um enorme carisma e um raro dom de empatia, instrumentando o populismo e a megalomania que compõem a sua personalidade.
Lula se considera acima do bem e do mal. Entende que, com uma carreira política vitoriosa que superou todos os obstáculos, desde sua origem humilde, conquistou o direito de seguir um código de ética próprio, flexibilizado por doses cavalares de pragmatismo.
Compensa deficiências de instrução formal com uma mente ágil e sensibilidade política deliberadamente dirigidas para as questões sociais, das quais se autoproclama o maior e indisputado defensor.
Ninguém é infalível, porém. E Lula errou feio ao usar seu prestígio popular para eleger a candidata que escolheu para suceder-lhe na Presidência da República.
Desse equívoco ele está com toda a certeza amargamente arrependido, principalmente a partir do momento em que se deu conta de que o “poste” adquiriu vida própria e tem sido capaz de cometer os mais desastrosos erros na condução do governo.
Lula deu o primeiro passo ostensivo na missão que se impôs de salvar o PT – ou a si próprio, o que para ele dá no mesmo – na festa de comemoração dos 35 anos do partido, em Belo Horizonte. Na presença de sua sucessora, começou por incorporar a personagem do pai severo e passou um enorme pito nos correligionários.
Como se não tivesse absolutamente nada a ver com isso, acusou o PT de ter-se tornado “cada vez mais um partido igual aos outros”. E teve a paciência de explicar o que queria dizer: “Cada vez mais deixando de ser um partido de base para se transformar num partido de gabinete”.
E foi implacável com aqueles petistas que dizem o que ele diz e fazem o que ele faz: “Estão cada vez mais preocupados em se manter nos cargos. E essa é a origem dos vícios da militância paga”. O que leva à conclusão inescapável de que, para Lula, “militância paga” é aquela que desfruta, em cargos públicos, à custa do contribuinte, a retribuição por sua dedicação ao partido. Uma prática que também costuma ser chamada de aparelhamento do Estado.

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