Héctor Schamis, argentino, professor da Georgetown University, em Washington, divagou certa vez sobre a história da Argenzuela, um país imaginário com duas capitais: Buenos Aires e Caracas. O país foi criado por um acordo político entre duas casas “quase reais”, a dos Kirchner e a dos Chávez.
Gente da mesma linhagem e dos mesmos equívocos em política econômica, desprezo pelas instituições republicanas (no sentido amplo da expressão) e o desejo para se perpetuar no poder.
Neste conto de fadas (e de bruxos), a Argenzuela é uma espécie de Império Austro-Húngaro, mas na América do Sul. O império europeu sobreviveu meio século; o sul-americano felizmente não aguentará tanto tempo.
O professor Schamis publicou um texto cerebral e emocionante, ao mesmo tempo, antes do 18F, o 18 de fevereiro agora na quarta-feira que marcou, tanto um mês da morte do promotor argentino Alberto Nisman em circunstâncias nebulosas, como um ano da prisão do líder oposicionista venezuelano Leopoldo López.
No 18F, centenas de milhares de pessoas na Argentina e no resto do mundo marcharam sob chuva em silêncio estrondoso (mas, com alguns gritos pedindo justiça), denunciando a impunidade.
Nisman morreu um dia antes de apresentar no Cogressso argentino as evidências das suas denúncias de que a monarquia Kirchner acobertou, em troca de acordos comerciais, iranianos envolvidos no atentado de 1994 contra o centro comunitário judaico que deixou 85 mortos.
Na Caracas ensolarada, em manifestação mais modesta foi o dia de lembrar encarcerados sem motivos plausíveis e aqueles assassinados nos protestos antichavistas de fevereiro do ano passado. Foi dia de pedir paz, liberdade e justiça, ou seja, tudo que está ainda mais em falta na Venezuela do que na Argentina.
A prova foi no day after: no final da tarde quinta-feira, o Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência) prendeu Antonio Ledezma, o prefeito oposicionista da capital.
Na pantomina previsível, falando mais tarde em cadeia de rádio e televisão, o presidente Nicolás Maduro acusou Ledezma ao lado de Leopoldo López e da líder oposicionista Maria Corina Machado de tramarem um golpe inspirado pelos EUA. Maduro, o desgovernante que suga cada vez mais o tesouro e a alma do país, rotulou Ledezma de “vampiro”.
Schamis escreve que o 18F desafia o kirchnerismo e o chavismo sem credibilidade. “É o espanto de dois governos que cada vez mais se parecem com uma coleção de organizações criminais, em que se perpetuar no poder é a maneira de assegurar sua impunidade”.
São cenas patéticas e tenebrosas de dois governos que ainda se “exibem com orgulho, ameaçam com arrogância e atuam com impunidade”. Na Argenzuela, estamos testemunhando a agonia imperial, com sofrimento disseminado que infelizmente vai persistir até o final.
No entanto, o dia chegará e Héctor Schamis poderá iniciar uma pensata em tom de conto de fadas com a inevitável frase era-uma-vez-a-Argenzuela…
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