domingo, 14 de dezembro de 2014

Caio Blinder- Poxa, querido Caio, mais Venezuela & Cia?

A leitora Teresa Batista (cansada de guerra?) disparou um comentário bem humorado na coluna sobre a desgovernada Venezuela conduzida por Nicolás Maduro: “Poxa, querido Caio, chutando cachorro morto? Gastando bits com a Venezuela? Use o seu repertório intelectual para temas mais importantes”.
Vou seguir o conselho da querida Teresa Batista e ampliar o repertório, colocando a Venezuela no contexto da vizinhança. Faço isto com ajuda de Juan Cristóbal Nagel, do site Caracas ChroniclesEle começa o seu texto, relembrando a situação soturna do cachorro morto. Explica que Nicolás Maduro precisa se adaptar para sobreviver, o que é improvável.
E não me tratem como cachorro quando trago o argumento de Nagel de que os vizinhos, entre eles Dilma Rousseff, estão fazendo um trabalho melhor do que o de Maduro para sair do buraco graças a uma combinação de medidas pragmáticas e deslocamentos para o centro político. Achei tudo muito elástico no raciocínio de Nagel. No entanto, vamos lá.
Nagel elabora que no Brasil, Dilma Rousseff faz o deslocamento para o centro, após ser reeleita no sufoco, escolhendo um ministro da Economia “conservador” (Joaquim Levy). Poxa, Juan Cristóbal, o Brasil é mais complicado do que uma troca de cadeiras no convés do Titanic. O Brasil hoje é o Brasilbrás.
Vamos a outros vizinhos. Os companheiros bolivarianos de Maduro, o boliviano Evo Morales e o equatoriano Rafael Correa, ainda são populares, pois o desempenho econômico em seus respectivos países ainda é melhor na região. Eles abusam da lenga-lenga esquerdista, mas suas políticas econômicas têm sido notavelmente ortodoxas e nos dois países o setor privado está se saindo bem.
Na Argentina, a impopular Cristina Kirchner não tem boas relações com o setor privado. Os resultados são recessão e inflação. Rainha Cristina, no entanto, está saindo de cena no ano que vem com as eleições presidenciais. Não podemos chamar isto de pragmatismo. Está mais para final desolador.
Dá para concordar com Juan Cristóbal Nagel que a resposta de Maduro para a crise tem sido negar os problemas e rechaçar mudanças substantivas. As bravatas chavistas são cada vez menos escutadas no mundo. O lobby de Caracas na OPEP fracassou para que a produç ão de petróleo do cartel fosse reduzida para conter a queda dos preços e o ministro da Economia Roldofo Marco retornou de Pequim sem conseguir mais empréstimos.
Não há muito para fazer a não ser que seja removida a essência do chavismo, que são distorções dos preços e abusos cada vez mais além da conta para injetar as receitas petrolíferas nos programas assistencialistas. O cenário de distorções de preços, com múltiplas conversões cambiais, favorece setores militares que estão profundamente envolvidos no mercado negro. Existem os bolsões chavistas sinceros (a linha dura que leva a sério os devaneios ideológicos do socialismo no século 21), mas o risco para Maduro seria mexer com os interesses destas alas militares “mais pragmáticas”.
Juan Cristóbal Nagel também bate no cachorro morto. Ele diz que profundas crises econômicas conduzem a mudanças políticas. Na Venezuela, pode significar violência. O suspense, portanto, não é se haverá mudanças, mas quando e como.
Poxa, querida Teresa Batista, mais decepção com o meu repertório?

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