Desculpem a demora. Fui resolver o conflito Israel-Hamas.
Não dava para esperar a paz através do reconhecimento do Estado de Israel pelos terroristas. Em 2011, o líder Khaled Meshaal já havia prometido que “nunca reconheceremos a legitimidade da ocupação de nossa terra”. Não dava, tampouco, para explicar dia após dia que a morte de civis israelenses e palestinos é desejada pelo Hamas, esclarecendo que a dos primeiros é seu próprio objetivo; e a dos segundos – que eles usam como escudos humanos para si próprios e para seus mísseis, providencialmente escondidos em escolas, hospitais e mesquitas – permite que eles culpem os judeus, com a colaboração da imprensa mundial e suas manchetes sonsas com os números de mortos de cada lado, induzindo o público a debitá-los do lado oposto.
Cansei. Se o maior problema para os jornalistas é a morte de criancinhas palestinas nas reações do exército de Israel aos (2.000) mísseis (só nas duas últimas semanas) disparados pelo Hamas contra as cidades israelenses, a questão é uma só: ainda não há tecnologia bélica suficientemente avançada para prender ou exterminar os terroristas e tomar ou destruir seus armamentos sem causar eventualmente os danos colaterais em que eles investem. Eu não gosto de ver criancinhas mortas. Israel não gosta de ver criancinhas mortas. Mas o Hamas gosta e a imprensa lhe é cúmplice. Como resolver isso, se os jornalistas não querem aprender a fazer manchetes sobre o número de mortos palestinos sem reforçar a propaganda do terror?

Tive de mudar meu projeto. Em termos de tecnologia, seria até mais fácil transformar mísseis em cerveja, por exemplo, mas aí todos implicariam com o álcool servido para as crianças – e eu não desejo exportar a blitz da Lei Seca para ninguém. Ademais, cerveja tem glúten, um inimigo decerto mais perigoso para a imprensa mundial do que qualquer antissemita ao lado de um hospital disparando mísseis contra a “judeuzada”. Descartei então a hipótese de alimentos e bebidas, já que todos fazem mal se alguém disser que faz. Pensei em algo caro aos jornalistas de esquerda, mas o problema de transformar os mísseis em livros do Che Guevara é que as criancinhas teriam mais uma fonte de ódio ao inimigo apontado pelos pais. Finalmente tive um insight: camisinhas! Não tinha como a imprensa não gostar. Os mísseis virariam um baú com camisinhas de vários tamanhos, para que ninguém pudesse falar em reação desproporcional. As crianças palestinas teriam basicamente a mesma educação sexual das brasileiras, com forte incentivo ao sexo casual – e, se os casos de Aids aumentassem por lá, como aqui, bem… Aí a culpa da Aids no mundo inteiro seria dos judeus e meu projeto, um fracasso.
É, não tem jeito. A paz no Oriente Médio depende do reconhecimento do Estado de Israel ou do avanço tecnológico que lhe permita destruir o Hamas e seus armamentos, sem deixar mais vítimas civis – nem coisa alguma em seu lugar: de preferência, nem mesmo estilhaços para não sujar a rua. Enquanto isso, o jeito é cuidar de um projeto bem menos ambicioso: o de transformar os engodos da esquerda dominante na imprensa em algodão-doce para os meus leitores.
Felipe Moura Brasil - http://www.veja.com/felipemourabrasil
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