TRÁGICO
Início da
tarde. Casarão de cor amarela e janelas marrons
na esquina, telhas de barro e um parreiral ao lado. No ar o cheiro de
pastéis, sonhos e outras guloseimas. Era o trabalho de dona Adriana, preparar
quitutes para o filho vender nas ruas da pequena cidade. O dia estava claro,
sem nuvens. Mandou o filho Paulo até o armazém do Alemão para comprar açúcar. O
garoto de 14 anos correu para sua Monark e saiu em disparada, feliz cheio de
assovios. Gostava de pedalar pelas ruas sufocadas pela poeira e raros
automóveis. Fui recebido na porta do pequeno comércio pelo seu Genoíno, sempre
pronto para brincadeiras com a garotada. O garoto comprou açúcar e ganhou uma
bala de hortelã do gentil alemão, que também mandou lembranças para sua
dedicada mãe. Saiu Paulo montado em sua
Monark em ziguezague pela rua deserta, como uma víbora fugindo do calor nas areias
escaldantes do deserto. Assim o bom menino chegou ao cruzamento sem parar,
cabeça criança nas nuvens, só coisas boas no pensar, sem noção do perigo; então
o baque, o corpo caído, o utilitário
parado e o jovem motorista em estado de choque. Do alto da rua desceu uma mãe
correndo e gritando em desespero, descalça e mãos na cabeça. Uma dor que
ninguém pode medir, somente ela. O corpinho inerte foi levado ao hospital em
vão. Um menininho de seis anos da casa
em frente que viu tudo, fechou a porta da sala e foi para o quarto chorar
baixinho.
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