segunda-feira, 11 de julho de 2016

O rebolado de Anitta Meirelles

Por Mario Sabino
Li em O Globo que Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta (outra dessas mocinhas calipígias, com o nome igualmente arrebitado por duas letras repetidas) foram convidados para cantar na festa de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, no próximo dia 5. Achei que lia notícia velha, já que faltam apenas 26 dias para o espetáculo. Não, é notícia fresca. E mais: estão na dúvida se cantarão acompanhados por uma orquestra ou apenas por violões.
Mesmo que a música escolhida seja a batida “Isto aqui, ô ô, é um pouquinho de Brasil, iá iá…”, de Ary Barroso, seria mais prudente que tudo estivesse ensaiado. Tive a felicidade de assistir in loco à abertura dos Jogos de Pequim, em 2008, e garanto que nada daquela maravilha foi de última hora.
A abertura dos Jogos Olímpicos são um show planetário, com um público nunca menor do que dois bilhões de telespectadores. Eu não sei fazer show, mas sei que o mundo vai torcer o nariz ao ouvir Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta cantando Ary Barroso, com ou sem orquestra. O Caetano e o Gil chineses não foram convocados para apresentar-se no Ninho de Pássaro, em Pequim, e duvido que eles tenham uma Anitta. Talvez a nossa Anitta salve um pouco a Pátria se a metade masculina dos dois bilhões de telespectadores a vir rebolando (imagino que ela rebole), preferivelmente de short e salto alto. Se não acabar a luz, claro.
O problema do Brasil não é rebolar com o traseiro e sim com o cérebro. Rebolado de cérebro chama-se improvisação. Parece claro que, a esta altura, vamos improvisar bastante na abertura dos Jogos Olímpicos. Improvisação mata de vergonha e também fisicamente, como demonstra o caso da ciclovia carioca que desmoronou por causa de uma onda. Apesar de toda a vergonha que passamos e todas as mortes que causamos, insistimos em improvisar.
Rebolar com o cérebro pode, ainda, arruinar a economia de uma nação. Eu começo a achar que Henrique Meirelles é a nossa Anitta no ministério da Fazenda. Para começar, ele tem duas letras repetidas. Além disso, embora tenha à disposição uma orquestra de notáveis, parece inclinar-se para o sambinha no violão que fazia a alegria dos petistas. Não o sambinha de uma nota só, mas o de bilhões delas, saídas do bolso dos pagadores de impostos.
Annita Meirelles rebola à nossa frente, repetindo o diagnóstico sobre a situação brasileira que o mundo está cansado de saber e gosta de ouvir. Eu espero que ele termine logo o seu show, pare de gastar nos bastidores e siga o roteiro da austeridade, antes que acabe a luz deste Brasil brasileiro.

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