segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sergio Praça- A viagem antidemocrática de Oded Grajew



O empresário Oded Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos e ex-assessor de Lula em 2003, escreveu um artigo hoje na Folha de S. Paulo criticando partidos políticos. Afirma também que o fato de governo e oposição se engalfinharem “em uma luta pela sobrevivência e poder, dificulta a adoção de medidas necessárias para tirar o pais desse atoleiro”. Pede que lideres nacionais, “independentes de partidos, exerçam seu poder para que os interesses do pais prevaleçam sobre a luta pelo poder”.


Grajew demonstra não entender o básico sobre democracia. Quem são os lideres nacionais que deveriam resolver os problemas do governo? Abilio Diniz, que sugeriu encontro entre FHC, Lula e Michel Temer para consertar a crise? Roberto Setubal, do Itaú, que defende a permanência de Dilma Rousseff na presidência? Lideres de movimentos sociais?


O que todos esses sujeitos ocultos por Grajew tem em comum eh a falta de votos. Democracia se faz, segundo a clássica definição de Robert Dahl, com eleições livres, competição politica e mecanismos de controle mutuo entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Notem a ausência conspícua do poder econômico nesta definição.


Espantosamente, Grajew também diz que “partidos políticos, quando no poder, não incorporam as propostas da oposição”. Antes de mais nada, a afirmação é empiricamente errada. Afinal, FHC, Lula e Dilma negociaram, sim, importantes projetos de seus governos com parte dos partidos de oposição através de seus deputados federais e senadores. (Vejam o excelente livro de Marcus André Melo sobre reformas constitucionais no Brasil para vários exemplos. Também escrevi sobre o assunto.)


Além disso, haveria algo de errado na democracia se isso não ocorresse? Claro que não. Estranho seria se um presidente eleito incorporasse plenamente propostas da oposição derrotada nas eleições!


Mas empresários e ativistas que propõem “pactos nacionais” de salvação se esquecem que democracia se faz com votos. Que PT, PSDB e PMDB se engalfinhem até o fim. São partidos que tem se aproximado, para o bem e para o mal, de lideres sociais (empresários ou não). É assim que qualquer solução democrática será construída. O resto é golpismo ou ingenuidade.

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