quarta-feira, 5 de agosto de 2015

“Zum, zum, zum” e outras dez notas de Carlos Brickmann


CARLOS BRICKMANN
Agosto começou com muitas novidades. E as novidades vão aumentar a partir de agora. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, PMDB, promete instaurar duas CPIs: dos Fundos de Pensão e do BNDES. Se vão dar caldo, é cedo para dizer; mas o aroma que exalam é inconfundível. Do BNDES, quer-se saber quais os financiamentos a empresas escolhidas pelo governo para crescer internacionalmente, conhecidas como “campeãs nacionais” ─ todas, a propósito, generosas doadoras de campanha. Dos Fundos de Pensão, bom exemplo é o Postalis, dos Correios. Seu presidente, Antônio Carlos Conquista, está com os bens bloqueados pela Justiça. O presidente do Conselho e o diretor-administrativo também. 

Há um acordo partidário para que o PT não comande nenhuma dessas CPIs. O DEM deve presidir a dos Fundos de Pensão, tendo um relator do PMDB; a do BNDES deve ter presidente do PSDB, com o PP na relatoria. Há uma terceira CPI no forno: a dos crimes de Internet. Quem a propôs foi o líder petista Sibá Machado, que pensava ser esperto. Mas quem vai tocá-la pretende investigar a máquina de Internet do governo para atacar adversários e elogiar Dilma e Lula. 
Pouco? Espera-se a delação premiada de Renato Duque, que foi diretor de Serviços da Petrobras, indicado por José Dirceu. E há a nova prisão de Dirceu ─ aquele a quem Lula chamava de “o capitão do time”. Acima de Dirceu, quem?

O título desta nota se refere a um sucesso de Paulo Soledade e Fernando Lobo, Carnaval de 1951: “Oi zum zum zum zum zum zum zum, tá faltando um”.
A música da cartomante

Do bom jornalista James Akel, lembrando a canção “do profeta Ivan Lins”: Cai o rei de Espadas, Cai o rei de Ouros, Cai o rei de Paus, Cai não fica nada.

O som do silêncio

Quando José Dirceu foi preso pelo Mensalão, sorria para as câmeras e erguia o braço com o punho cerrado, em sinal de desafio. O PT o defendeu com todas as forças, até criando o lema “Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro”. Lula ficou quieto, mas alguém já ouviu Lula defender qualquer companheiro ameaçado?

Agora, José Dirceu foi preso com expressão sombria, não fez gestos para a torcida, e a nota do PT foi contidíssima, sem sequer citar seu nome. O único a manter sua posição anterior foi Lula ─ malocado em cima do muro, qual tucano.

Ruído na comunicação

Há quem diga que João Santana, marqueteiro do PT, deveria cobrar em dobro pelo programa de TV do partido, nesta quinta. Levar Dilma à TV já era complicado; após o episódio Dirceu, fica mais difícil ainda. Mas não haverá problema: Santana pode criar o que quiser. 

Com o panelaço, ninguém mesmo vai ouvir.

A frase definitiva

Quem melhor retratou o que esta semana está sendo para Dilma e aliados foi o chargista Duke, do jornal O Tempo, de Belo Horizonte. 

Um assessor diz a Dilma: “Ufa, temos uma boa notícia. Treze de agosto vai cair numa quinta-feira!”

O silêncio de ouro

José Dirceu, Capitão do Time, que chamou Dilma de “camarada de armas”, está em situação difícil. Mas temos de lembrar que a antipatia que desperta nos adversários é política, não pessoal. Ninguém, por menos que goste dele, deve se alegrar com seus problemas pessoais. Há horas em que é preciso pensar num drama humano, a que todos estamos sujeitos, e lembrar que a prisão, seja ou não merecida, é sempre trágica. Ficar longe da filha pequena é trágico. Não importa se fez ou não por merecer. 

É um ser humano; e tudo que é humano nos atinge.

Ossos do ofício

Um grande primeiro-ministro inglês, Benjamin Disraeli, ensinava: Never explain, never complain. Nunca explique, nunca se desculpe. 

Questão de opinião.

De Graham Bell a Bill Gates

A história de Romário ir à Suíça para desmentir que tenha depósitos no banco é curiosa. Se não tem a conta, para que ir até lá? O ônus da prova cabe a quem citou o depósito. Ir à Suíça é um prazer, a paisagem é linda, a comida é ótima. 

Mas alguém precisa contar a Romário que já existe banco pela Internet.

A festa dos números

Dizem que já há 131 mil confirmações na Internet para as passeatas Fora Dilma do dia 16. Muito, pouco? Nem muito nem pouco: esse número não quer dizer absolutamente nada. Ter grande número de adesões na Internet é mais ou menos como ficar rico no Banco Imobiliário. O número efetivo de participantes depende do que vai acontecer nas duas próximas semanas: os desdobramentos da Operação Lava Jato, o êxito (ou não) do panelaço no horário do programa político do PT, as primeiras repercussões das novas CPIs, as novas delações premiadas, se chove ou não no dia marcado. 

Até lá, para os dois lados, vale a cautela.

Da cor do mar

Da presidente Dilma Rousseff, no churrasco noturno que ofereceu a 80 deputados, com direito a brinde de champagne: “Nós, como governantes que somos, não podemos nos dar ao luxo de não ver a realidade com olhos muito claros”. 

Enfim, surge neste país a líder da elite branca de olhos claros.

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