domingo, 14 de junho de 2015

Rodrigo Constantino- O desabafo de um empreendedor frustrado

Recebi a carta abaixo e a transcrevo aqui, pois o desabafo desse empreendedor é também o de milhares de outros Brasil afora, que tentam empreender para criar riquezas e empregos, mas precisam enfrentar todos os obstáculos criados pelo governo, que acreditam nas promessas de ajuda do mesmo governo, apenas para depois serem traídos, abandonados. O governo que não atrapalha, muito ajuda!
Olá, Rodrigo.
Escrevo essa carta por dois motivos: o primeiro é um apelo a todos os empreendedores desse país (pequenos, médios ou grandes), não precisa ser empresário, “detentor do grande capital” e nem milionário. Se você apenas tem um grande sonho e quer concretizá-lo, já me sinto à vontade de dizer que está transformando seu esforço. O segundo é informação para aqueles que se sentem perplexos quando uma promessa não é cumprida. Existem vários adjetivos para descrever esse tipo de pessoa, que seja honesto, probo, seguro, verdadeiro. Todos vocês, sintam-se também à vontade para ler.
Em dezembro de 2013, o governo do Rio de Janeiro por meio da FAPERJ (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) lançou o edital para o Programa Startup Rio. Esse nome “Startup” significa literalmente “Começar”, é o nome que se dá a uma empresa que está dando início às suas atividades, e também é muito utilizado por empresas de tecnologia que têm esse modelo de até 2 anos de vida. Para exemplificar, o Facebook já foi uma Startup, Google também, e tantas outras. Fato é que eu e meu sócio decidimos aplicar nosso Plano de Negócios (um documento que diz o quê e como fará para sua idéia se tornar uma empresa) para esse edital.
A premissa do programa era simples: transformar a ex-sede da UNE (isso mesmo) em um espaço de escritórios compartilhados para os selecionados no programa Startup Rio que iriam usar o espaço pelo tempo de duração do programa (12 meses), um espaço semelhante para um futuro programa de empresas de biotecnologia e uma grande biblioteca de última geração para os alunos da UERJ. Dessa maneira, conforme nós mesmos escutamos ao início do processo, queriam transformar o Rio de Janeiro na Silicon Beach (uma menção ao Silicon Valley nos EUA). Um grande pólo de empresas de informática que atrairia um ecossistema empreendedor.
Para nós, empreendedores, era como ouvir música: escritório com infraestrutura completa, aporte inicial de 100 mil reais para cada empresa, mentoria com grandes empreendedores, tudo que os melhores programas de aceleração de empresas nos melhores países no mundo têm. Como liberal, pensei duas coisas: a iniciativa é boa, mas essa conversa está boa demais para ser verdade. Mesmo assim, demos prosseguimento ao processo de seleção.
Para ser sincero, o processo seletivo me deixou surpreso e aconteceu tudo exatamente conforme o edital falava até o anúncio das empresas selecionadas. Todas as 50 Startups, sem exceção, são excelentes e não deixam nada a desejar em qualquer quesito. Também não vimos nenhum tipo de favoritismo nas escolhas, apesar do processo não ter sido completamente transparente (até hoje não sabemos quantos se inscreveram).
Depois de anunciados os escolhidos, existiu um tempo de maturação em que simplesmente nada aconteceu, sem nenhum tipo de informação dos responsáveis, ninguém sabia sobre datas, começaram a correr boatos que os que foram selecionados iam ter que abrir mão de 5% das suas empresas (o que não estava anunciado no edital), e ficamos sabendo que os tais 100 mil reais “não eram bem assim”.
O passo seguinte foi o envio de uma série de burocracias totalmente desajustadas com empresas que estão começando, que demandam rapidez de decisões para se adequar. Eram planilhas impossíveis de entender (trabalho como gestor no mercado há anos e não fazia ideia do que eram aqueles palavreados burocráticos), datas desencontradas, avisos de parcerias que não aconteciam, e mais surpresas. Descobrimos que o então aguardado fomento, na verdade, seria aprovado por uma comissão da FAPERJ, uma banca de professores e servidores públicos, e que todo o orçamento “poderia” sofrer cortes (em “estadês”, significa que não cumprirão com o combinado). Até então, para quem não tem nada (pois a grande maioria dos empreendedores não é de família abastada mas sim de pessoas que viram uma oportunidade de financiamento, muito parecido com o FIES), metade é o dobro.
Dado o orçamento já cortado em menos da metade do que foi alardeado em propagandas, então foi combinado que o pagamento seria feito em duas parcelas, com tempo de 6 meses entre elas. Sendo a primeira depositada em julho de 2014, então conte comigo: Edital em dezembro, anunciados em fevereiro os aprovados, julho a primeira parcela, logo a segunda será em dezembro, certo? Errado.
Todo empreendedor coloca seu capital intelectual e financeiro, geralmente poupança do trabalho (eu e meu sócio colocamos muito do nosso próprio bolso também, não somos meros parasitas), em prol de querer atender com sucesso seu público. Existe um planejamento e um cronograma de desembolso necessários para o desenvolvimento do produto que será crucial para o sucesso ou fracasso dessa futura empresa. Em fevereiro deste ano, os integrantes do projeto começaram a se perguntar a respeito do capital, visto que todos assinamos termos de compromisso no início do processo cuja FAPERJ se comprometia com o pagamento e nós com o resultado a ser entregue. Existiam dívidas planejadas para a data prometida, profissionais a serem pagos, fornecedores, dentre tantos outros problemas que é fazer seu produto de fato funcionar.
Quando comecei a me dar conta dos rombos orçamentários do estado do RJ (alguns falavam em 30 bilhões de reais, outros em 13 bilhões, a verdade é que ninguém sabe), começamos a ir atrás de investidores fora do estado e até mesmo fora do país. Vale ressaltar aqui que fazia parte do orçamento uma viagem para amostra da empresa numa feira internacional que não ocorreu devido à falta de verba. A realidade é muito menos bela que o país retratado nas propagandas eleitorais e partidárias. Finalmente, agora, para a minha empresa, as coisas começam a se ajeitar. Conseguimos um parceiro de fora do estado que nos ajuda a conseguir capital necessário para finalizar o produto e começar a andar sozinho.
Ainda brigamos hoje para receber a segunda parcela do financiamento do estado e talvez a pior parte desse processo seja a falta de transparência, o descaso dos responsáveis que nunca deram nota oficial e a tristeza com uma iniciativa que realmente parecia uma guinada a um incentivo aos empreendedores. Para ser sincero, prefiro que consigamos o mais rápido possível chegar ao ponto que não será nem um pouco necessário e lembro que ao chegarmos mais longe na corrida seremos presenteados com a mais nova tributação para grandes empresas.
Há duas semanas tomei um grande tapa ao ler Pare de acreditar no governo, livro de Bruno Garschagen. A cada página parecia que ele falava “PARE!”, e eu respondia “JÁ PAREI!”. Para os que chegaram até esse ponto, fica a reflexão de que se você depende do estado, então faça de tudo para não depender mais dele. Se você é empreendedor, não dependa do estado e procure financiamento privado. Eles cumprem contratos. Se você é empreendedor e depende do estado, você provavelmente estará enrascado e atrasará a chegada do seu sonho.
Sobre o espaço de Coworking? Durante todo o verão do Rio de Janeiro ficou sem ar-condicionado por conta na demora da licitação. Sobre o espaço para empresas de Biotecnologia? Obra parada, sem previsão para retorno ou abertura de edital. Sobre novas turmas do programa Startup Rio? Dizem que haverá, eu prefiro não crer. Sobre a biblioteca de alta tecnologia para alunos da UERJ? Há um ano não vejo uma viva alma trabalhando. A obra não parou; ela sequer começou!
Espero que essa carta sirva de aviso. O Programa Seed (similar ao programa Carioca) do Governo de MG foi fechado por retaliação na troca de governo que tem “visões diferentes”, o Programa Startup Rio está respirando por aparelhos sem nenhum tipo de perspectiva de mudança. O Programa Startup Brasil também não tem previsão de lançamento de edital.
Infelizmente, a imagem que se parecia com água no deserto se provou uma miragem. Lembro a vocês que o ônus é meu de empreender, mas a barreira colocada à frente não foi por minha incompetência, mas sim no meu credo de que realmente havia algo bom por vir. Sempre pensei, mas agora tenho, por experiência própria, que mesmo quando o estado acerta (aparentemente acertou ao incentivar os programas), ele erra.
Deixo aqui também meu sincero boa sorte para todos os que têm coragem para adentrar nessa área de empreendimento, e apenas peço que lembrem SEMPRE que não existe almoço grátis, que a arrogância fatal é o maior crime dos bem-intencionados.
Sinceramente,
Um Empreendedor.

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