domingo, 14 de junho de 2015

Por que gostar do Estado e odiar políticos?

Por que gostar do Estado e odiar políticos?

garshagenO Brasil sofre de muitos ismos. De todos os ismos de que já ouvimos falar, o único que nunca resolveu dar as caras de verdade por aqui é o mais criticado: o tal capitalismo, o palavrão mais tabu da língua.
Tão criticado sem nunca ser precisamente definido, o capitalismo é o sistema em que a sociedade se gerencia sozinha, sem um planejamento centralizado de políticos, que possam proibir o povo de fazer algo, ou tomar seu dinheiro para dar a outras pessoas ou empresas que o povo não daria de livre vontade.
Se políticos são tão detestados – no mundo de hoje, de hegemonia de pensamento coitadista e de explicações “sociais”, é uma ofensa pior do que “ladrão” ou “assassino”, já que estes são desculpados pelas circunstâncias – e se sua atuação é sempre pelo mando, pela proibição ou pela obrigação, como é possível que o Brasil (e boa parte do mundo) goste tanto de “soluções” estatais, se o Estado é justamente a instituição com monopólio de força nas mãos de políticos?
É a contradição fundamental do Brasil, que Bruno Garschagen, um dos maiores intelectuais do Brasil e que até agora era apenas conhecido pelos liberais, destrincha no já best-seller “Pare de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado”, recém-lançado pela editora Record, com orelha de nosso Rodrigo Constantino.
O livro já se torna um dos mais fundamentais para se entender o Brasil. Não pela sociologia de gabinete, que sempre tenta explicar qualquer coisa no país pela clave da “desigualdade”, e nem pela psicologia de botequim, enxergando “preconceitos” a serem corrigidos sempre, justamente, pela força estatal, ou pelo expediente de aderir ao Fla-Flu e supor uma luta de classes entre a “elite” e os “líderes dos pobres”. Garschagen trata justamente de tentar entender de onde vem a mentalidade estatista brasileira, trazendo este gene da contradição em seu próprio ser.
A formação da mentalidade brasileira, algo sui generis em todo o mundo, há séculos precisava de um estudo aprofundado. O livro de Garschagen vai à raiz do problema. Ou antes da semente.
É em Portugal de João Pereira Coutinho (prefaciador do livro) que nossos problemas começam. Como diz Coutinho abrindo o livro, “Quando Bruno Garschagen me contatou por causa deste livro, temi que o autor fosse pedir uma indenização”.
Mas a anatomia de uma mentalidade exige fugir de respostas fáceis. E se nossa história começa com Portugal, a culpa dos portugueses se foi desde antes da chegada da família real em 1808 – bem antes das piadas de português perderem a graça.
Sem respostas fáceis, Garschagen destrói a falcatrua de que fomos um Estado antes de sermos, de fato, um país – puerilidade que muitos liberais e conservadores adoram acusar.
Todavia, a influência portuguesa em nos manter sempre na segunda divisão da relevância mundial é destrinchada em detalhes, como a influência da Universidade de Coimbra, uma FFLCH das antigas, em macaquear do Iluminismo que degolava cabeças na França em uma versão tupiniquim.

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