sexta-feira, 26 de junho de 2015

PERDIDA NA NOITE

PERDIDA NA NOITE

Num canto escuro de uma esquina mal-cheirosa, agarrada nos tijolos de um prédio sujo, ela vomitava. Suas pernas manchadas de bexigas roxas demonstravam a falta de cuidado que tinha para consigo. Um homem bêbado passou perto e disse alguns gracejos enquanto ela jogava fora sua saúde encharcada de álcool pelas noites da vida. Após o pior passar ela levantou os olhos para o céu e viu a lua olhando para sua carcaça desalinhada. Por um breve momento pensou nos sonhos de menina que o tempo tratou de pulverizar. Tinha perdido o juízo; a juventude tão gostosa de ser vivida; os amigos verdadeiros; a família que ela mesma deixara para trás. Caminhou alguns quarteirões até seu quartinho acanhado no hotelzinho de quinta categoria. Abriu a porta e sentiu no nas narinas o cheiro de mofo que dominava o cubículo. Sentou-se na cama e acendeu mais um cigarro, talvez o trigésimo da noite.Tudo à sua volta rodava, os olhos de peixe morto, pálpebras caídas.Após fumar, apagou o venenoso e se deitou sobre o cobertor que já cobrava por limpeza. Apagou. Mais uma noite de trabalho encerrada, mais um dia vivido sem alegria no coração.

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