sexta-feira, 5 de junho de 2015

MOVIMENTO NÃO FOI ACIDENTE- Conversando sobre o luto – parte 1



O Movimento Não Foi Acidente criou desde 2012 um grupo de apoio à pessoa em luto para atender as pessoas que perderam entes queridos. Nosso objetivo é compartilhar experiências, bem como, informar sobre o que é luto e seus sintomas.



Conversando sobre o luto – parte 1

Rosmary Mariano*

Luto é uma reação esperada diante de uma grande perda, um rompimento de vínculo significativo. O luto pode acontecer por perdas de pessoas, coisas e animais. Nosso enfoque será neste texto a perda de pessoas.

Em qualquer busca pela internet usando a palavra luto, você poderá encontrar o que Elizabeth Kubler-Ross, definiu como fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Kubler-Ross nunca escreveu que as fases acontecem de forma linear, uma em seguida da outra, mas assim foi entendida, na verdade mal entendida. As pesquisas de Kubler-Ross datam dos anos 60 e foi feita com pacientes em fase terminal. Quando Kubler-Ross fala em aceitação, ela quer dizer que você sabe que o que aconteceu ou está acontecendo é real, isso é a aceitação da realidade da perda.

Ao longo dos anos, outras pessoas escreveram sobre o luto e há modelos que acreditamos ser mais adequados quando falamos de luto nos dias de hoje, um deles fala sobre as oscilações entre “restauração” e “perda”. Há momentos em que estamos mais voltados a perda e outros a restauração e ao estar voltado à restauração não significa ter se esquecido da perda. Este é o Modelo do Processo Dual do Luto de Stroebe e Schut. Iremos falar mais sobre esse modelo oportunamente.

Worden escreveu sobre as tarefas do luto, para ele, o luto está elaborado quando se consegue falar do morto sem que uma dor intensa seja despertada. Iremos abordar mais a respeito das pesquisas de Worden oportunamente.

Há a abordagem feita por Bowlby e Parkes que colocam que, existem 4 etapas do luto que, não são lineares, podem acontecer ao mesmo tempo e também podem acontecer mais de uma vez e acontecem de forma cíclica. Não existe um tempo específico de duração para cada uma delas. As quatro etapas são:

- Fase de Entorpecimento: consiste em um período em que a pessoa poderá sentir como se estivesse desligada da realidade, atordoada, desamparada, imobilizada ou perdida. Nesta fase acontece a negação da perda que poderá surgir como uma forma de defesa contra um evento de tão difícil assimilação. A pessoa vive e não registra o que aconteceu. Nada parece real.

- Fase de Anseio e Protesto: caracterizada por um período de emoções fortes, sofrimento psicológico e agitação física. É frequente sentimentos de raiva dirigidos tanto a si próprio como a pessoas significativas. Mesmo tendo conhecimento da morte do ente querido, o enlutado ainda assim, irá procurar pela pessoa que morreu, chegando a procurar a pessoa morta em possíveis locais onde a pessoa pudesse estar quando viva. Também poderá evitar ir a lugares onde a pessoa que morreu frequentava.

- Fase de Desespero: A compreensão de que a morte é real é gradual, ou seja, acontece aos poucos. Uma fase igualmente associada a momentos de apatia e depressão. Por vezes verifica-se um afastamento das pessoas e atividades, falta de interesse, assim como dificuldades de concentração na execução de tarefas rotineiras. Os sintomas somáticos, tais como, insónias, perda de peso e de apetite, são recorrentes. A sensação de que será impossível seguir a vida é alternada com a sensação de que é necessário que a vida seja reconstruída.

- Fase da Recuperação e Restituição: nesta fase emerge uma nova identidade que permite ao sujeito abandonar a ideia de recuperar a pessoa que morreu e adaptar-se ao significado que essa perda tem na sua vida. Uma esposa que perdeu o marido, neste momento, aceita a identidade de viúva. Quem perdeu um filho, não tem um nome para essa identidade… É nessa fase que a pessoa percebe que o ente querido morreu e não tem como voltar. Aqueles barulhos que no início ouvia em casa e pensava ser do ente querido, agora percebe que não significam que ele esteja voltando. É doloroso demais este momento, porque é nessa ocasião que a pessoa desiste da expectativa de encontrar o morto ainda vivo.

Não existe um tempo para as fases, nem mesmo são uma em seguida da outra, como já dissemos, podem acontecer até mesmo juntas. O luto é um sentimento individual, não existe um tempo para passar por ele.

Elaborar um luto não significa esquecer o ente querido, ter um luto elaborado significa que mesmo a perda sendo para sempre, a pessoa consegue retomar as suas atividades cotidianas, não será mais a mesma pessoa, ela precisou se reestruturar com o novo mundo que tem agora. Assim, a vida agora está mais voltada a restauração, mas não deixará de vivenciar a perda também. As oscilações serão menores, mas ainda acontecerão.

Referências:

Parkes, CM – Luto – Estudos sobre a perda na vida adulta, São Paulo, Summus Editorial, 1998.

Para participar de nosso grupo de apoio virtual no Facebook, acesse: https://www.facebook.com/groups/acalmandocoracoes/

*Rosmary Mariano é pedagoga e está se especializando em “Luto – Teoria, Intervenção e Pesquisa” pelo Instituto de Psicologia Quatro Estações

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